quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Emprego na agricultura desce para mínimos históricos


Raquel Martins 04/02/2015 - 19:06 

Sector perdeu 74 mil postos de trabalho no último ano. 
 
Adriano Miranda 


O regresso aos campos que no auge da crise parecia ser uma tendência para ficar, poderá ter sido meramente pontual. Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que a agricultura e pescas foi o sector onde a redução do emprego mais se fez sentir tanto na comparação com 2013 como com o terceiro trimestre de 2014.

 No final do ano passado, a agricultura empregava 348.500 trabalhadores, o número mais baixo desde, pelo menos, 1998. Trata-se de menos 74 mil postos de trabalho do que em 2013 e, nos últimos três meses, a perda chegou quase aos 59 mil.

A sazonalidade própria da actividade pode ajudar a explicar os resultados, uma vez que normalmente o último trimestre do ano é o que apresenta piores resultados. Mas nunca a redução do emprego foi tão elevada como agora, nem mesmo quando a taxa de desemprego em Portugal subiu para níveis históricos e o sector também se ressentiu.

O economista João Cerejeira, da Universidade do Minho, nota que "a diminuição do emprego em termos trimestrais e homólogos dá-se de forma coincidente na agricultura, no emprego de activos com mais de 65 anos e no emprego por conta própria". Estes empregos, diz, "serão associados a ocupações de menor produtividade e inferior qualidade dos contratos de trabalho".

Mas, do outro lado da moeda, destaca "a evolução positiva do emprego", tanto trimestral como homóloga, "nos grupos ou categorias de emprego melhor qualificado e de melhor qualidade contratual". E dá como exemplos a subida do emprego por conta outrem sem termo (3,7% em relação a 2013 e 0,2% face a Setembro) e do emprego de trabalhadores com ensino superior.

A população empregada entre os que terminaram a universidade foi onde se verificou o maior crescimento (11,6% na comparação anual e 2,7% face ao terceiro trimestre), enquanto o emprego entre os trabalhadores que não forma além do ensino básico recuou, tanto em termos anuais como trimestrais.

Mas já quanto ao tipo de contrato, embora a contratação sem termo tenha aumentado 3,7% face a 2013 e 0,2% em relação ao terceiro trimestre, há também a registar um aumento das outras formas de contratação, onde se incluem os recibos verdes (2,8% no ano e 5,1% no trimestre) e uma subida anual dos contratos a termo (6,5%).

Olhando para os outros sectores de actividade no último ano, a indústria viu a sua força de trabalho aumentar (3,3%), assim como os serviços (2,1%) que continuam a ser o principal empregador (ocupando 68% da mão-de-obra). Mas também aqui há a registar um recuo na área do alojamento e restauração, algo que pode estar relacionado com factores sazonais.

O inquérito trimestral do INE não é corrigido das oscilações do mercado de trabalho decorrentes dos picos de actividade e isso é notório quando se olha para as taxas de desemprego por região.

Entre Outubro e Dezembro, as regiões mais sensíveis a estas variações, nomeadamente por causa do turismo, registaram um aumento das taxas de desemprego em comparação com os meses de Verão.

Foi o que aconteceu com maior expressão no Algarve, onde a taxa de desemprego subiu de 11,2% para 14,9% num trimestre. Mas também na Madeira (onde a taxa passou de 13% para 15,1%) e no Alentejo (subiu de 12,6% para 14,5%). Já na região de Lisboa (14%), no Norte (passou de 14,3% para 14,2%) e nos Açores (de 15,7% para 15,5%) as taxas recuaram ou estabilizaram, enquanto no Centro aumentou ligeiramente (de 10,5% para 10,7%), mas foi a única que ficou abaixo da média nacional.

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