domingo, 8 de fevereiro de 2015

Portugal Fresh, Grécia cool?


04.02.2015
MANUEL SERRÃO


Revisitando aquele slogan velhinho que gritava "nem mais um soldado para as colónias", apetece-me "gritar" aqui hoje, desta tribuna, nem mais um euro para a Grécia. Nem mais um euro do meu soldo para pagar a preguiça dos gregos, a falta de competitividade de um povo que se julga no direito de viver à nossa custa.A solidariedade é uma palavra bonita, mas até a beleza tem limites de decência. Tal como a liberdade de cada um termina quando começa a liberdade dos outros, também o dever de solidariedade entre as diferentes nações europeias tem de terminar quando ser solidário começa a parecer-se com ser otário.A cultura europeia não pode afirmar-se no pressuposto indiscutível de que o Norte paga as contas do Sul. Se é verdade que uma reforma dourada a viver no Sul pode ter os seus encantos para muitos europeus do Norte, as contas não podem resumir-se aos dois simples movimentos "contabilísticos" com que sonham os gregos: o Sul emite a fatura e o Norte paga-a. E nem bufa!É evidente que a União Europeia que junta os dois polos do continente tem de ter os seus custos. A entrada do euro nos países do Sul nunca foi prometida como um jardim de rosas, nem se esperava que fosse tão fácil como faca quente a entrar na manteiga. Quando os países mais ricos decidiram abrir o clube aos colegas mais pobres, já sabiam que essa entrada ia configurar uma penetração dolorosa, mas dispuseram-se a pagar por esse prazer de ter uma Europa inteira reunida à volta de uma mesa e de uma só moeda. (Ainda não chegamos a esse desiderato, mas o sonho permanece). Regressamos aos limites da decência e o prazer de ter a Grécia na nossa União Europeia já atingiu todos os limites da cedência. Se é verdade que mais de 70 % dos gregos não querem sair da União Europeia, alguém tem de lhes dizer que era bom que começassem a trabalhar para isso.Na manchete do nosso JN de ontem ficamos a saber que as nossas exportações podem ser seriamente afetadas por regras novas que Alemanha, França e Bélgica querem impor às nossas empresas transportadoras e aos nossos camionistas. Nem de propósito, começa hoje em Berlim, a Fruit Logística 2015, com Portugal como país convidado daquela que é a maior feira europeia para produtos hortícolas. Várias dezenas de produtores portugueses estão lá a dar o seu melhor, numa participação recorde promovida pela associação Portugal Fresh.As medidas ontem anunciadas vão prejudicar fortemente as exportações destes agricultores portugueses. A pergunta que sobra é muito simples: Portugal não pode ser "Fresh", mas a Grécia pode continuar a ser "cool"?

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