terça-feira, 10 de março de 2015

Agricultura moçambicana precisa de banca mais amigável


3/3/2015, 20:20
specialista agrário britânico Gordon Conway considerou que a agricultura moçambicana precisa de uma banca mais amigável, adotando linhas de créditos e juros sustentáveis.


Conway referiu que, no caso da Ásia, "houve muito investimento na área de irrigação"
LUSA/LUSA

O especialista agrário britânico Gordon Conway considerou nesta terça-feira que a agricultura moçambicana precisa de uma banca mais amigável, adotando linhas de créditos e juros sustentáveis para que pequenos agricultores façam uma revolução verde.

Falando em Chimoio, província de Manica, centro de Moçambique, durante uma visita da missão da Aliança para Revolução Verde em África (AGRA) ao país, Gordon Conway disse que a banca em Moçambique ainda se esconde na velha teoria de a agricultura ser uma atividade de risco, contrariamente à de outros países africanos, que financiam e têm retorno dos créditos concedidos.


"De facto, os bancos [em Moçambique] devem ser mais amigos da agricultura", declarou aos jornalistas o britânico Gordon Conway, um dos mentores da "revolução verde" na Ásia, assegurando que a associação das condições agroecológicas com a cadeia de sementes, mercados, sistemas de armazenamentos, e com a vontade política dos decisores, pode tirar o país da constante insegurança alimentar. A "revolução verde", sustentou, "não depende apenas de sementes melhoradas e adubos, depende de alguns financiamentos e investimentos públicos".

Conway referiu que, no caso da Ásia, "houve muito investimento na área de irrigação e os governos jogaram um papel importante", apelando ao executivo moçambicano para se envolver na promoção da agricultura ou estabelecer parcerias público-privadas.

Ao todo, 98% de explorações agrícolas praticam agricultura de sequeiro em Moçambique e na maioria não usam sementes de qualidade e fertilizantes para aumentar o rendimento da terra. O setor familiar domina com 3,7 milhões de pequenas explorações com uma área média de 1,1 hectare por família, sendo que apenas 6% dos agricultores usam sementes de qualidade e 3% fertilizantes.

O corredor da Beira, que inclui as províncias de Manica, Sofala e Tete (centro), é uma porta de entrada para o sudeste africano, mas este potencial continua inexplorado. Dos 10 milhões de hectares de terra arável, menos de 0,3% estão a ser usados de forma comercial, o que mantém a população inteiramente dependente da agricultura de subsistência.

O Governo moçambicano e a Aliança para a Revolução Verde em Africa (AGRA) lançaram em agosto de 2011 o plano de investimento do corredor da Beira, para potenciar os pequenos agricultores e tirar o país da insegurança alimentar.

O instrumento, orçado em 320 milhões de dólares (cerca de 226 milhões de euros), prevê transformar a agricultura de pequena escala em comercial, além de abrir espaço para que os camponeses tenham acesso a sementes melhoradas, fertilizantes adequados a preços baixos e a mercados lucrativos, financiamento acessível e políticas agrárias adequadas.

"Hoje cobrimos 1,5 milhão de agricultores, com um investimento de 40 milhões de dólares nas áreas de sementes, fertilizantes e dos solos, mercados e aconselhamento para políticas agrárias que fazem uma cadeia para o sucesso da revolução verde", disse Paulo Mole, representante da AGRA em Moçambique, acrescentando que foi criada uma rede local de sete empresas de produção de sementes.

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