domingo, 26 de abril de 2015

Arroz: defender a fileira através da «diferenciação do produto»



 24 Abril 2015, sexta-feira  Ana Clara Cerealicultura
Nos últimos três anos (2012, 2013 e 2014), a produção de arroz em casca em Portugal tem decrescido, devido a anos agrícolas menos favoráveis à cultura. Por esta razão, Pedro Monteiro, diretor geral da Associação Nacional dos Industriais de Arroz (ANIA) estima, em entrevista ao Agronegócios, que em 2015, haja um regresso aos valores médios dos últimos anos (cerca de 180.000t/30.000 ha), com um ligeiro incremento na produção de variedades índicas (agulhas). O responsável considera ainda que só através de «uma diferenciação pela positiva» do produto é possível «defender a fileira nacional das grandes pressões que vem sofrendo ao longo dos anos».
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Pedro Monteiro espera que em 2015, haja um regresso aos valores médios dos últimos anos (cerca de 180.000t/30.000 ha), com um ligeiro incremento na produção de variedades índicas (agulhas), como tem vindo a acontecer desde 2012, fruto de uma reorientação da produção para o mercado de consumo, liderada pela Casa do Arroz, e «uma vez que as variedades japónicas (carolinos) têm vindo a perder quota de mercado em favor do arroz agulha, basmati, vaporizado, etc.».
Nos últimos três anos, diz Pedro Monteiro, a produção de arroz em casca em Portugal «tem decrescido devido a anos agrícolas menos favoráveis à cultura»: (2012 – 187.000 t/31.200 ha, 2013 – 180.200t/30.200 ha e 2014 – 162,100 t/ 28.400 ha).
Tudo isto «apesar de uma gestão eficiente da cultura por parte dos agricultores e do reconhecimento e incentivo» por parte da Casa do Arroz - organização interprofissional da fileira do arroz (da qual a ANIA faz parte), relativamente às melhores variedades a utilizar em cada campanha, refere.
A pior campanha foi a última (2014), afetada «por tempo mais frio e chuvoso, tendo causado quebras principalmente nas regiões mais a norte do país (Mondego), devido ao desenvolvimento de fungos na cultura provocados pelo excesso de humidade».
Pedro Monteiro adianta que o arroz é vendido «tendo em conta os preços do arroz nos mercados internacionais e europeus, uma vez que Portugal, tal como a União Europeia (UE), têm que importar 40% do seu consumo, neste caso de arroz agulha».
Preços

«O preço do arroz carolino nacional é maioritariamente influenciado pelos preços europeus e principalmente pelos preços de Espanha, dada a proximidade geográfica do segundo maior produtor da UE. De salientar que a indústria nacional absorve toda a produção de arroz nacional, que depois armazena para vender durante o ano inteiro o que, como se sabe, traz grandes custos de armazenamento mas também outros custos financeiros associados», esclarece.
E recorda que «o que tem acontecido desde a crise do "subprime" (crise do crédito bancário dos EUA) de 2008, muitos custos de produção, como os combustíveis, a eletricidade, os pesticidas e herbicidas, e adubos, têm crescido muito acima da média da inflação na UE, representado a maior fatia de custos da produção e influenciado negativamente a produtividade das explorações agrícolas nacionais».
Por estas razões, adianta o diretor geral da ANIA, o preço de venda da matéria-prima à indústria «estará sempre condicionado pelos preços internacionais e europeus (principalmente devido às cotações dos índices de Espanha) e pela pressão constante por parte da distribuição para vender sempre um produto mais barato e melhor».
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Promoção é essencial

«A saída para este "espartilho" em que a fileira se vê envolvida passará por uma campanha de promoção do "Arroz Carolino de Portugal", já planeada pela Casa do Arroz, com o intuito de defender a nossa gastronomia nacional, associada ao consumo do arroz carolino e voltar a colocá-lo como líder do consumo, posição que perdeu para o arroz agulha em 2004. Só através de uma diferenciação pela positiva do nosso produto poderemos defender a fileira nacional das grandes pressões que vem sofrendo ao longo dos anos», defende Pedro Monteiro.
Perante todo este panorama, o responsável afirma que «os últimos governos têm tomado um maior conhecimento sobre a cultura do arroz, o que resultou num quadro regulatório favorável à cultura, desde a criação da Organização Comum do Mercado do Arroz (OCM), da reforma da Política Agrícola Comum (PAC) e agora finalmente com a última revisão da reforma com o PDR 2020».
«A cultura do arroz foi sempre acarinhada pelas autoridades nacionais e europeias devido principalmente à sua grande especificidade em termos ambientais e culturais», vinca.
Contudo, há problemas e entraves que se colocam à fileira, «maioritariamente decorrentes das condições económicas que envolvem a cultura, sendo o fator preço o grande fiel da balança, quer para a agricultura, quer para a indústria, que tem que comprar a matéria-prima a preços passíveis de serem repercutidos à posteriori na venda à distribuição, quando esta última opera num clima de grande concorrência pelo fator primordial que é o preço e quando os dois principais operadores têm mais de 50% de quota de mercado».
«A indústria opera num mercado muito concorrencial onde cerca de dez empresas disputam o mercado da oferta e o da procura, funcionando como um amortecedor entre a produção e a distribuição e arcando por isso com a pressão efetuada por esta última ao nível dos preços e condições de pagamento», acrescenta Pedro Monteiro.
Recorde-se que as três principais zonas de produção nacional são as bacias dos principais rios, a Norte a zona do Baixo Mondego, no Centro a zona do Tejo e Sorraia e a Sul a zona do Sado.
«Todas estas regiões são bastante produtivas quando comparadas internacionalmente, no entanto, a Norte, as variedades mais adaptadas são as da família dos japónicas ou carolinos, no centro e sul já temos uma maior prevalência das variedades índicas ou agulhas que necessitam de climas mais quentes e atingem também maiores produtividades (cerca de 8 tn/ ha) quando comparadas com as variedades dos carolinos (cerca de 6 tn/ha)», complementa Pedro Monteiro.
O diretor geral da ANIA realça ainda que o aumento da produção não será tanto pelo aumento das áreas produtivas, «pois há sempre o problema da salinização dos terrenos e da quantidade de água necessária à cultura, mas antes, pela melhor gestão da cultura e pela criação e seleção de variedades mais adaptadas às nossas condições edafoclimáticas, e claro pelo clima de cada ano».
Parceria estratégica

«Para conseguirmos atingir este objetivo, a Casa do Arroz e o COTArroz (Centro Operativo e Tecnológico do Arroz) têm trabalhado numa parceria estratégica que visa precisamente criar as variedades nacionais mais adaptadas ao nosso clima e preferidas pelo consumidor», diz.
Recorde-se que a ANIA foi fundada em 1975 quando sucedeu ao Grémio Nacional dos Industriais de Arroz e, desde então, trabalha ao serviço do setor dos industriais de arroz.
Leia também a radiografia feita recentemente ao Agronegócios pela APOR.
Fotos: ANIA

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