sexta-feira, 10 de abril de 2015

Futura política OGM – Reflexão Secretário-geral da IACA


Abril 09
09:48
2015

O que era "oficioso" na semana passada, designadamente quando demos conta aos nossos Associados do ponto de situação – e das preocupações – quanto ao dossier dos OGM, é agora oficial.

O Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, é a favor da proposta de nacionalização das autorizações das importações, dando maior poder aos Estados-membros nesta matéria. Depois do cultivo, segue-se, eventualmente, para as importações de eventos transgénicos, a mesma metodologia, ou seja, os Estados-membros poderão decidir autorizar a importação de milho ou soja transgénico no respetivo território, caso venha a ser aprovada esta opção.

O documento está a ser ultimado pelos serviços de Bruxelas, depois de terem sido consideradas outras opções como o fim da maioria qualificada, sendo as aprovações por maioria simples.

Apesar de todas as reuniões e ações de sensibilização que muitas organizações, entre as quais a IACA (em nome da Plataforma Pecuária e Agroalimentar) e o COPA/COGECA fizeram junto de vários Comissários e Direções Gerais e das pressões efetuadas ao mais alto nível pelos EUA, Brasil, Argentina e Canadá, parece ter vingado a tese do Presidente Juncker, que sempre defendeu, desde a sua posse, que os países devem ser mais ouvidos, tendo em conta a expressão das suas "opiniões públicas", para além (ou sobrepondo-se) à avaliação científica da parte da EFSA.

Uma eventual decisão neste sentido – feita a proposta há que esperar pela discussão ao nível dos Estados-membros e Parlamento Europeu – pode levanter inúmeros problemas em termos de trocas comerciais entre países da União Europeia, pondo em causa o Mercado Interno, e na OMC, da parte dos países exportadores. O TTIP pode estar em risco, no quadro das negociações entre os EUA e a União Europeia.

Os eventuais países "bloqueadores" (França, Alemanha, Polónia, Grécia…?) terão de justificar seguramente as razões porque poderão proibir as importações. E os agentes económicos, ficam em situações de desvantagem competitiva, muitos deles como os de Leste, com uma pecuária muito fortíssima como é sabido.

Como será, por exemplo, o comércio de alimentos compostos de um país que autoriza a utilização de OGM para outro que proibe a importação? Que custos terão as formulações sem soja transgénica, quando é tão dificil encontrar matéria-prima não OGM no mercado mundial? Tanto mais que se sabe que o déficit europeu em proteína é elevado e esta é uma questão estratégica para a Europa. Para além de outras questões legais que temos de analisar quando a proposta for conhecida.

Estas são, para já, questões elementares, sem demagogia.

Espera-se que os serviços de Bruxelas tenham tido em conta todos estes impactos, de natureza sócio-económica, para além das questões sociais e ambientais e que tenham sido coerentes na sua análise e conclusões. Sobretudo que os Comissários e DG (Comércio, AGRI, SANTE) a saibam defender e que não nos venham dizer depois que "não era esta a opção que defendiam" ou refugiando-se nas competências para não responderem ás nossas questões.

Nas recentes reuniões em Bruxelas deixámos tudo isto bem claro, as consequências para a Fileira, os acordos comerciais, o papel da EFSA, o conhecimento e inovação, a liberdade de escolha mas também a avaliação científica e assumir as aprovações, informando e formando a opinião pública, sem demagogias. Aparentemente, parece que se vai optar pelo caminho mais fácil….Veremos…. estaremos aqui para defender os interesses da nossa Indústria e da Pecuária porque não será fácil legislar contra uma parte importante do tecido empresarial europeu que também está legitimamente representado, sobretudo numa grande coligação Feed & Food. Afinal, onsde está a Sociedade Civil? Mede-se pelas sondagens, petições? A biotecnologia é motivo de debate e de programa politico dos governos? Se sim, proibam-se também as importações de produtos animais dos países em que os efetivos são alimentados com essas matérias-primas.

O Colégio de Comissários vai debater este dossier – cada vez mais complexo – e a proposta, na reunião de 15 ou 22 de abril.

A "moeda" de troca pode ser a aprovação dos 17 eventos geneticamente modificados, sublinhe-se, com parecer científico favorável da EFSA, que esperam autorização, na sua maiaoria, desde junho de 2014.

Na prática temos uma moratória e veremos, no curto prazo, se as teses do Presidente Juncker, numa linha de democratização dos temas europeus "fraturantes" conseguem ter suporte legal e, o mais relevante, se são suficientemente coerentes para serem aplicadas a outros dossiers da União Europeia.

Em nossa opinião, a Comissão, a confirmar-se esta posição, corre o risco de abrir uma autêntica Caixa de Pandora…. Mas que a Europa e os decisores europeus estejam à altura de assumir as consequências.

Com verdade, sem demagogies e com a consciência do dever cumprido, perante uma opinião pública que se quer informada.

Não nos obriguem depois a "apanhar" os cacos de decisões erradas e apenas com efeitos mediáticos e assumam de uma vez por todas uma posição clara sobre a Biotecnologia agrícola.

 

        Jaime Piçarra

      (Engº Agrónomo)

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