domingo, 31 de maio de 2015

Da aula para o prato: Estudantes já doaram 40 toneladas ao Banco Alimentar

Alunos do Instituto Superior de Agronomia transformam a teoria em prática e já conseguiram doar 40 toneladas de comida ao Banco Alimentar

Muguel Judas
8:00 Segunda feira, 25 de Maio de 2015 |

Mãos na terra «Somos só um pequeno grupo de estudantes», diz Afonso Bulhão (à direita). Mas fazem a diferença

Mãos na terra «Somos só um pequeno grupo de estudantes», diz Afonso Bulhão (à direita). Mas fazem a diferença

José Carlos Carvalho

Depois de nos ensinarem, como saber se realmente aprendemos? Praticando. Testando os conhecimentos. Pondo as mãos na terra no caso, literalmente. Foi essa uma das motivações de um grupo de estudantes do Instituto Superior de Agronomia (ISA) para fundar o Solidarisa. A outra, como se percebe pelo nome do projeto, foi a solidariedade.

"A ideia passava por usar o terreno e a maquinaria do instituto para colocar em prática a teoria aprendida nas aulas, mas com uma componente social, em que tudo o que fosse produzido seria doado a instituições de solidariedade", explica Afonso Bulhão, 24 anos, um dos elementos do núcleo fundador do Solidarisa, que, desde 2011, já rendeu mais de 40 toneladas de alimentos ao Banco Alimentar Contra a Fome - num valor superior a 22 mil euros, segundo os preços praticados pelo mercado de distribuição. "Decidimos, avançámos e o resto veio por acréscimo", conta Afonso, que este ano, quando terminar o mestrado em engenharia agronómica, vai passar o testemunho aos mais novos. "A ideia foi de dois colegas mais velhos, que já terminaram o curso, e eu entrei logo a seguir, mas com o tempo foram muitas mais as pessoas e as empresas que se envolveram", explica o estudante. Logo nesse primeiro ano, cem voluntários, entre alunos e professores, ajudaram a colher a primeira cultura: quase duas toneladas de grão seco, que renderam cerca de 20 mil porções ao Banco Alimentar.

Um caso de estudo que começa a ser replicado

À "vertente solidária", o grupo do ISA acrescenta ainda "o desenvolvimento de competências-chave na área da agronomia" e "a interação com a realidade empresarial", por via de uma lista de 14 patrocinadores, que inclui, entre outros, o Banco Santander Totta e a Galp, além de diversas empresas do setor agrícola, que apoiam ao nível dos adubos, das sementes ou dos sistemas de rega. "São três pontos fundamentais, que nos ajudam a crescer como futuros profissionais do setor agrícola", sustenta Afonso. Ao grão, acrescentaram depois mais culturas, como a couve e o trigo, que, com o apoio da Cerialis, a empresa produtora das massas Nacional, foi transformado em esparguete, para posterior entrega ao Banco Alimentar. "Por questões logísticas e de facilidade de conservação, não podemos fugir muito a estes produtos", explica Afonso Bulhão. E há ainda os imponderáveis, inerentes à atividade agrícola. "Este ano, a produção de couve não correu tão bem, porque tivemos um problema com uma infestante e o clima não ajudou". Certo é que o projeto se tornou num caso de estudo, que está já a ser replicado noutras universidades internacionais, como Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, em São Paulo, no Brasil, e a Universidade de Córdoba, em Espanha.

Entretanto, a área de cultivo aumentou de um hectare, em 2011, para os atuais 7,5 hectares.

"Às vezes, penso que estamos a dar um passo maior que a perna", confessa Afonso, lembrando que são só "um pequeno grupo de estudantes, a cultivar uma imensa área, em pleno centro de Lisboa". Mas, para muita gente, estes alunos fazem uma grande diferença.


Sem comentários:

Enviar um comentário