quinta-feira, 4 de junho de 2015

Algarve tem menos 10% de apoios à agricultura do que o resto do país


IDÁLIO REVEZ 03/06/2015 - 10:11

O sol algarvio "produz" turistas mas não dá para semear couves e alfaces em concorrência leal. Os agricultores, diz o PS, são discriminados em relação aos colegas de outras regiões

 
Cerca de 14% do solo agrícola do Algarve está ao abandono, enquanto que a média nacional ronda os 2%. A direcção regional de agricultura e pescas, nas campinas de Faro, dá o exemplo do desinvestimento no sector, deixando estufas em queda livre. O Partido Socialista, numa preparação para o programa eleitoral, fez uma análise ao Programa de Desenvolvimento Rural (PDR) 2020. A conclusão a que chegou foi que o sector agrícola algarvio foi "penalizado pelo Governo" no que diz respeito ao acesso aos fundos comunitários.

O deputado Miguel Freitas, durante uma audição parlamentar realizada anteontem em Tavira, criticou a "discriminação" que o Algarve continua a sofrer pelo facto de ser considerada uma região "rica". Só que o é apenas numa curta faixa do litoral. O apoio ao investimento agro-florestal, disse, "recebe menos 10% do que o resto do país". O corte, acrescentou, "não é uma questão de regulamento comunitário, mas um erro de desenho das medidas".

A Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve poderia ser apontada como o retrato do estado a que chegou a agricultura. À entrada de Faro, no Patacão, possui 12 hectares onde funcionou um campo experimental. Agora, as estufas estão a cair aos bocados, o pomar de citrinos resiste a muito custo e os abacateiros, com 40 anos de idade, lutam pela sobrevivência. Os cortes orçamentais reduziram os serviços ao mínimo. Neste encontro, o director regional, Fernando Severino, destacou, em contraponto, a nova cultura dos frutos vermelhos, que está a ter grande sucesso na região, tendo como protagonistas jovens agricultores: " 90% da produção é exportada", sublinhou.
 
Os dirigentes das principais confederações portuguesas do sector agrícola, convidados pelo PS a participarem neste debate, reconhecem que a agricultura tem vindo a melhorar nos últimos anos, com um aumento do número de jovens agricultores. Mas recomendam alguma "moderação" quando se fala de sucesso. Entre os oradores que participaram na iniciativa do PS, a quinta que o partido realiza no Algarve, esteve Firmino Cordeiro, da Associação de Jovens Agricultores Portugueses (AJAP), que criticou a obrigatoriedade de haver investimentos mínimos para conseguir financiamento através do PDR.
Os jovens agricultores têm de "investir 55 mil euros para no máximo receberem um financiamento de 15 mil", situação que contrasta com o quadro comunitário anterior, no qual o valor do montante "poderia ser de 35 mil para um investimento de 75 mil". Por conseguinte, acha que a "fasquia foi colocada demasiado" alta quando foi gizado o PDR. "Subiu-se demasiado a fasquia e fez-se uma distinção entre jovens agricultores ricos e jovens agricultores pobres", lamentou.

Por outro lado, Luís Mira, da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), considera que o PDR 2020 tem como aspectos positivos o facto de ter sido um dos primeiros a ser aprovado ao nível europeu, de ter criado uma fase intermédia que permitiu usar recursos para financiar projectos que vinham do quadro anterior, de ter reduzido burocracia ou de se ter colocado mais foco na área agro-ambiental. No capítulo dos problemas, identificou "a cada vez maior dificuldade em realizar investimentos no regadio", situação que contrasta com a de Espanha, que vai requalificar 700 mil hectares de regadio. No Algarve, disse o presidente da Associação de Regantes de Perímetro de Rega do Sotavento, Luís Sabbo, só estão a ser cultivados metade dos 8 mil hectares abrangidos pelo perímetro, criado há 20 anos. Por seu lado, a ex-gestora do Programa de Desenvolvimento Rural (Proder), Gabriela Ventura, lembrou que é "sexy" a designação de jovem agricultor, mas lembrou que esta é uma actividade de risco: "Não é agricultor quem quer, mas quem pode e quem sabe".

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