sexta-feira, 12 de junho de 2015

Amendoim português consumido em snacks na Holanda vai finalmente entrar no mercado nacional


Pioneira na cultura do fruto "escondido" com destino à exportação industrial, a Torriba não largou mais o amendoim. Três anos depois preparam-se para abastecer Portugal. A partir de outubro. Acompanhe nas próximas semanas as histórias de produtores e produtos inovadores que estão a surgir e a evolução dos distinguidos no Prémio Intermarché Produção Nacional 2014, que este ano volta a ser um projeto do Expresso e da SIC Notícias.

Raquel Pinto
RAQUEL PINTO
Ao contrário de outros frutos secos, a cultura do amendoim é subterrânea. Da planta leguminosa nasce uma flor, da flor um espigão que se coloca na terra e se desenvolve enterrado. Os registos históricos desta produção em Portugal recaem no Algarve, particularmente em Aljezur. O amendoim é ali designado de Alcagoita. Outrora importante naquela região, hoje sem expressão. Da criação na década de 80 de uma associação nacional de produtores de amendoim,  passou-se ao abandono do cultivo e a organização desapareceu. Há quem ainda produza para consumo próprio e venda em mercearias biológicas. 

A única produção de dimensão assinalável em Portugal está a quilómetros a norte do Algarve, nas mãos da Torriba. Mas segue toda para exportação. Dentro de meses, esta realidade vai mudar. "É um ensaio de cerca de um hectare e meio e que está a ser feito em campos de dois agricultores nossos. Estamos a falar na ordem das seis toneladas", revela o engenheiro Gonçalo Escudeiro, diretor executivo desta organização de produtores de hortofrutícolas localizados essencialmente no Ribatejo. "Vamos ter pela primeira vez amendoim com casca para comercializar no mercado nacional. Devemos chegar em Outubro". 

Criada em 1997 para dar resposta à comercialização do tomate, a Torriba voltou-se em 2000 para a diversificação. Da sua lista, destaca cinco produtos chapéu: o tomate, batata para indústria, ervilha, pimento e amendoim. Gonçalo Escudeiro já ali está desde a fundação. Trabalham com 130 agricultores. No início eram 57 e faziam aproximadamente 500 hectares. Duplicando o número de agricultores, tiveram um aumento de área em cinco vezes. 


Portugal com mais potencial que a Roménia 
A aventura no amendoim aconteceu em 2011. Uma aventura porque está longe de ser uma cultura da região. A multinacional de produtos alimentares e bebidas Pepsi CO, presente em Portugal, estava à procura de parceiros numa estratégia de fomentar o desenvolvimento da cultura na Europa e lançou o desafio à Torriba. No primeiro ano foi feito um teste em Portugal e outro na Roménia. "O resultado correu francamente melhor no nosso país e, a partir daí, entenderam que a Península Ibérica poderia ser uma opção neste projeto", explica Gonçalo Escudeiro. Perante o potencial da nossa terra, no ano seguinte experimentaram a cultura já com o objetivo de "poder ser desenvolvida não só em Portugal, mas também no sul de Espanha". 

A atividade teve um arranque difícil com alguma falta de adaptação das variedades. Com o acerto dos ciclos de produção "tem sido um sucesso nestes três últimos anos e vindo a crescer", garante. Esta alternativa localiza-se no Vale do Sorraia, no concelho de Coruche e Vale do Tejo, nos concelhos de Almeirim, Salvaterra de Magos e Benavente. Do núcleo fazem parte 15 agricultores. 

Testadas várias variedades, a opção pendeu para a do tipo "runner", que tem um crescimento mais rasteiro. Há dois anos fizeram 75 hectares, no ano passado 130 e este ano aumentam para 320. Da parceria, conseguiram mecanizar a cultura, com máquinas de colheita provenientes dos EUA, e obter apoio de técnicos também dos EUA e ainda da Argentina. 

O amendoim pode ter outras finalidades, como extração de óleo, rações ou até produção de plásticos. O produto que nasce em Portugal destina-se à Holanda, para ser branqueado (retira-se a casca e a pele castanho-avermelhada) e misturado com vários frutos secos com vista à distribuição de snacks. 

Solos a 18.º graus 
Falamos de uma cultura rústica, feita em terrenos arenosos, sendo necessária uma estrutura de regadio, embora não precise de rega diária. "O custo para produzir anda na ordem dos 2000 a 2500 euros por hectare. É um custo muito parecido com o da produção de milho", salienta o diretor da Torriba. Quando as temperatura dos solos rondam os 18.º graus assumem a temperatura ideal para que as sementes germinem. 

Normalmente, as sementeiras ocorrem entre abril e maio, sendo colhidos em finais de setembro e início de outubro. É importante que o amendoim não sofra com a chuva, por isso, um dos segredos é que só pode ser arrancado seco. Esta cultura apresenta vantagens sustentáveis: pode entrar na rotação com outras culturas e como fixa o azoto atmosférico através das raízes, consegue distribuir os nutrientes e praticamente não necessita de adubos, sendo melhoradora do solo. 

A variedade que vai chegar ao mercado nacional é a do tipo virgínia, um amendoim maior, próprio para a comercialização do produto com casca.

Sem comentários:

Enviar um comentário