quarta-feira, 10 de junho de 2015

Era investigadora na Torre do Tombo. Agora faz caviar de caracol



10.06.2015 16h461
 
Ana Ferreira tem canudo. Licenciou-se em História
Ana e Daniel mudaram a vida profissional para a helicicultura e rumaram a Alenquer. Tiveram de recomeçar do zero ao fim de dez meses de projeto. Levantaram-se, tiveram novos percalços, mas mantêm-se e a crescer. Acompanhe nas próximas semanas as histórias de produtores e produtos inovadores que estão a surgir e a evolução dos distinguidos no Prémio Intermarché Produção Nacional 2014, que este ano volta a ser um projeto do Expresso e da SIC Notícias.

Raquel Pinto
RAQUEL PINTO
Ana Ferreira e Daniel Oliveira são um casal. Ela era investigadora e analisava documentos na Torre do Tombo, o maior arquivo nacional com mais de 600 anos. Licenciada em História, a instabilidade dos recibos verdes que vislumbrava como futuro, fizeram-na abrir outro leque de opções, aos 23 anos, juntamente com o atual companheiro. Ele, na altura com 27, engenheiro alimentar, também não estava satisfeito com os desafios profissionais e contratos a prazo e iniciaram uma odisseia em março de 2009. De Lisboa a Alenquer. Para a helicicultura. Que é como quem diz... criar caracóis para fins comerciais.

Começaram de raiz. Encontraram um terreno e foram à banca pedir financiamento, numa altura em que os apoios comunitários estavam fechados. Só mais tarde se candidataram ao PRODER.

Três hectares com uma área de produção de 7000 metros de estufas. Além da rentabilidade, conseguem ter maior controlo do que se fosse ao ar livre . A ActiveGarden é um dos  maiores produtores.

Três anos a viver em Lisboa, com 50 quilómetros diários pela frente, dez a 14 horas diárias de trabalho, para levar a diante um negócio próprio. O desgate fê-los mudar para Torres Vedras. Ficam agora a menos de 18 quilómetros.


Ana destaca o clima mais ameno da região Oeste como propício ao desenvolvimento deste tipo de produção. Além disso, ter familiares nesta zona era uma vantagem. Porém, as intempéries tem sido um calcanhar de aquiles. Os percalços começaram dez meses após o início da atividade. Um temporal em Dezembro de 2009 arrasou com a exploração. Perderam tudo. Mesmo tudo. Voltaram à estaca zero. 

Sobreviveram a uma segunda tempestade de vento em janeiro de 2013, com menos área afetada. Voltaram a reconstruir. E como se não bastasse, mais tarde, foram atingidos também por um incêndio. "Não tem sido fácil", desabafa. Dos obstáculos fizeram desafios. E a luta diária deu frutos. Cresceram e hoje conseguem manter dois funcionários. "Vendemos para revendedores e não temos problemas em escoar os produtos".


Animais hermafroditas 
Controlam todo o processo, desde a produção à transformação e ainda dão formações e consultadoria. E de que produtos falamos? "Criamos os caracóis bebés (alevins) de Helix aspersa maxima, que vão para as estufas crescer, depois apanhamo-los. Uma parte vendemos e a outra voltamos a usar como reprodutores". 


Estes animais são hermafroditas, ou seja, machos e fêmeas ao mesmo tempo. A repodução é feita numa sala fechada em armazém, com temperatura controlada. Entre o dia que copulam até largarem os ovos demoram 15 a 20 dias. São precisos mais 20 a 25 para que nasçam os bebés. A maior parte dos caracóis morre durante a desova, mas não se trata de um desperdício relevante, salienta Ana Ferreira, "tendo em conta que um deu origem entre 100 a 150 ovos".

Desenharam a sua fórmula de farinha para a engorda dos caracóis e vendem-na. Além da ração, os caracóis também se alimentam de ervas. Inovaram com a transformação. O primeiro produto foi o caviar de caracol, que tem tido resultado em variadas experiências na cozinha de autor. 


Um quilo para revenda pode custar até 900 euros. Frascos de 30 gramas custam 50 euros para o público. Só funcionam com encomendas de forma a garantir a máxima frescura do produto, com um prazo de validade até quatro meses. Inovaram também com edições limitadas de caviar com vinho do porto e vinho da madeira. Na panóplia, caracol recheado com ervas aromáticas e manteiga (à francesa), miolo de caracol ultracongelado e patés. 

Ana Ferreira admite ter na manga outros subprodutos, mas recusa divulgá-los, porque o segredo é a alma do negócio. Um negócio que exporta seis toneladas para Espanha. E porque a imaginação não tem limites para esta iguaria, que se adora ou odeia, a Active Garden dá duas sugestões:

CARACOL À BRÁS 
Ingredientes 
- Azeite 
- Alho, cebola e louro 
- Batata palha 
- Ovos 
- Miolo de caracol 
- Sal e pimenta 
- Salsa e coentros 

Confeção 
Fazer refugado com azeite, alho, cebola e louro. Deixar apurar e juntar o miolo de caracol. Deixar apurar mais um pouco. Juntar as batatas, envolver bem e juntar os ovos já mexidos. Juntar sal e pimenta a gosto. Decorar com salsa e coentros e servir.

OU... 

ARROZ DE CARACOL 
Ingredientes 
- Arroz 
- Alho, cebola e azeite  
- Tomate aos pedaços e em polpa 
- Louro, coentros 
- Chouriço e bacon 
- Miolo de caracol 

Confeção 
Fazer um refugado do azeite, alho e cebola. Deixar apurar um pouco e juntar o bacon, chouriço, louro e tomate. Deixar apurar mais um pouco e juntar o arroz e água. Deixar cozer durante cerca de 7 minutos e juntar o miolo de caracol. Deixar o arroz acabar de cozer, juntar sal e picante a gosto, os coentros e servir.  

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