quarta-feira, 8 de julho de 2015

“Agricultura, pescas, turismo e minas são oportunidades para empresas portuguesas”


06 Jul 2015 Tiago Freire

O governante salienta o muito que há por fazer no seu país e a oportunidade que isso significa para as empresas.

"Agricultura, pescas, turismo e minas são oportunidades para empresas portuguesas"
No momento em que se comemora o primeiro aniversário do actual Governo da Guiné-Bissau, vários factores confluíram para reforçar os laços entre este país e Portugal. Este fim-de-semana foi inaugurada a delegação da AICEP, em Bissau, e hoje começa a visita do primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho. Em entrevista, o ministro guineense da Economia e das Finanças fala das relações económicas entre os dois países e explica o plano para o desenvolvimento do país.

Como classifica o momento da relação entre os dois países?

As relações entre Portugal e a Guiné-Bissau estão numa onda muito positiva. Entre os dois países há um potencial enorme e a abertura da AICEP, em Bissau, vai modificar profundamente esta dinâmica. O nosso desejo é, agora, dimensionar, acelerar, aprofundar e tornar mais visível o relacionamento empresarial entre as duas partes. A nossa expectativa é realmente muito grande.

Quais os sectores que podem chamar a atenção dos empresários portugueses?

Um país como a Guiné-Bissau, em que praticamente tudo está por fazer, é uma grande oportunidade de negócios. Em todas as áreas, praticamente, não há investimentos de vulto. Por exemplo, na área da construção civil, de pequenos serviços, gráfica, pequenas indústrias farmacêuticas... são áreas em que as empresas portuguesas podem perfeitamente ocupar um espaço, sobretudo as pequenas e médias empresas. Estas têm 'know-how', capital, capacidade produtiva, podem perfeitamente vir para cá, trabalhar connosco e ajudar-nos também. Esta é a altura certa das empresas portuguesas começarem a vir trabalhar essas potencialidades.

África é um continente atraente para investidores, sobretudo asiáticos. As empresas portuguesas têm sido as mais decididas no mercado da Guiné-Bissau?

No nosso caso estamos numa fase inicial de atracção de investimento e temos sentido que, de facto, há uma grande dinâmica e entusiasmo dos empresários e empresas portuguesas. Estive em Braga, falei com cerca de 100 empresários que manifestaram claramente a intenção de vir. Portugal e a Guiné-Bissau têm laços muito fortes, são países irmãos, que partilham a mesma língua. E essa é uma vantagem comparativa muito forte das empresas portuguesas. O ambiente de negócios não é o mais adequado, mas estamos a trabalhar no sentido de o melhorar e tornar o país mais atractivo para o investimento estrangeiro.

A instabilidade política já não afugenta os investidores?

Depois das últimas eleições, há um ano, os investidores começam a perceber que há uma nova realidade. Há sinais claros de que o país entrou definitivamente na rota da estabilidade política, o que é importante para a atracção de investimento privado, sobretudo estrangeiro. Poderá haver alguns pequenos percalços, o que é normal numa democracia ainda incipiente e que está a procurar o seu caminho. Mas as coisas estão a mudar e creio que é essa a leitura dos empresários.

A Guiné-Bissau tem recursos naturais importantes. Quais os que serão alvo de um desenvolvimento mais forte?

No nosso plano estratégico, que acabámos de fazer, vemos o desenvolvimento da Guiné-Bissau como uma casa em construção. Este plano é ambicioso, a dez anos, e vai levar-nos a um cenário em que a Guiné-Bissau será um país de desenvolvimento médio, ainda que médio-baixo, com um PIB per capita que estimamos em dois mil dólares.

Como querem chegar lá?

Numa primeira fase, criar os fundamentos como um bom ambiente de negócios e investimento público em infraestruturas - energia, por exemplo, telecomunicações, portos, estradas. Vamos trabalhar também na preservação da nossa biodiversidade e desenvolver o capital humano. E são estes fundamentos que vão, depois, libertar os motores do crescimento da economia. Identificámos quatro motores com enorme potencial: agricultura e agroindústria; pescas; turismo; e minas.

A economia hoje é dominada pela produção de caju...

Somos o quarto produtor mundial - 200 mil toneladas por ano -, mas o maior em termos per capita. O caju é exportado em bruto e o nosso objectivo é gradualmente começar a trazer valor acrescentado, através da sua transformação cá. É um nicho importante, porque a transformação do caju é praticamente zero. Queremos ter, em 2025, pelo menos 40 a 45% do caju para exportação já sob a forma de amêndoa. Isto pressupõe a criação de fábricas. Outra área agrícola importante é o arroz. Nos anos 50 e 60, a Guiné-Bissau era um exportador de arroz e hoje importamos 40% do que consumimos. Até 2020, queremos ser auto-suficientes. É preciso investimento para que, em 2025, o país passe a exportar o arroz. Temos as condições naturais, é preciso é investimento, tecnologia e organização.

E nas outras áreas?

As riquezas são enormes, o nosso mar é dos mais ricos em peixe na zona de África Ocidental. É preciso criar as condições infraestruturais, como um porto de pesca, que acolha o pescado e faça a sua transformação para exportação. Na área do turismo, identificámos dois períodos. No primeiro, até 2020, vamos concentrar-nos apenas nas ilhas Bijagós, para as transformar num destino turístico internacionalmente conhecido nos segmentos da pesca desportiva e do ecoturismo. Não vamos à procura daquele turismo de massas. Bijagós precisa de ser preservado. Numa segunda fase, a partir de 2020, trabalhar também no turismo de média-gama no continente,para que, em finais de 2025, a Guiné-Bissau possa acolher pelo menos 300 mil turistas por ano. Nesta área, Portugal tem também muita experiência, incluindo na construção de hotéis.

E nas minas?

Temos duas reservas identificadas e comprovadas. A reserva de bauxite e a reserva de fosfato. Fala-se de petróleo, mas são reservas não confirmadas. Nas minas, vamos criar primeiro o quadro legal e regulamentar que possibilite a exploração transparente desses recursos. A exploração poderá começar a partir de 2020 mas vai exigir grandes investimentos.

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