segunda-feira, 26 de outubro de 2015

No próximo domingo o relógio atrasa uma hora. Mas, porquê?


24 Outubro 2015, 15:00 por Inês F. Alves | inesalves@negocios.pt


No próximo domingo termina a hora de Verão e os relógios andam para trás 60 minutos. As tardes vão parecer mais pequenas, pelo menos nos primeiros dias. Mas afinal, qual é a importância – e o impacto – desta mudança?
A adopção da hora de Verão tornou-se "standard" em toda a Europa nos anos 1980, mas já havia sido aplicada em situações excepcionais por diversos países, como por exemplo durante a I e a II Guerra Mundial. A primeira directiva europeia sobre o tema surge em 1980, determina uma data comum para o início da hora de Verão e duas datas possíveis para o fim. Esta situação manteve-se até 1994, altura em que uma nova directiva determinou uma data comum para o termo da hora de verão, com efeitos a partir de 1996, permitindo – 16 anos depois – a harmonização total do calendário. 

Assim e tal como acontece hoje em dia, a hora de Verão começa no último domingo de Março e termina no último domingo de Outubro. A regra mantém-se até hoje e tem uma vigência indeterminada.

Um estudo, publicado em Setembro 2014 pela delegação de Mobilidade e Transportes da Comissão Europeia, assinala que 11 dos 18 Estados Membro que participaram neste relatório disseram que "não estão a ser consideradas presentemente alterações à hora de Verão". O impacto desta medida, porém, e especialmente a sua uniformização entre os vários Estados-membro, tem vindo a ser analisada ao longo do tempo.

No sector agrícola, análises mais recentes "tendem a concluir que actualmente não há impactos significativos na agricultura" da hora de Verão, o que poderá estar relacionado com "o desenvolvimento da tecnologia aplicada ao sector", pode ler-se no relatório. Alguns Estados identificaram porém algumas questões, nomeadamente as alterações "no biorritmo dos agricultores e dos animais, que afectam negativamente o fluxo de trabalho e a produtividade durante semanas"; o facto de a mudança de hora permitir "um uso mais eficiente das primeiras horas da manhã e de fim de tarde nas actividades agrícolas durante o Verão, especialmente nos períodos mais quentes"; e, por outro lado, as "poupanças de energia possíveis graças ao facto dos agricultores poderem trabalhar mais ao fim do dia sem terem de usar luz artificial".

No sector dos transportes, que emprega mais de nove milhões de pessoas na União Europeia, o relatório aborda o impacto sobretudo no sector aéreo e ferroviário. Diz este estudo que "as companhias aéreas ajustaram as suas práticas e tem sistemas a funcionar que garantem a continuidade das suas operações". Se os países tivessem diferentes datas para aplicar a hora de Verão "as operações de transporte seriam mais caras e complicadas", algo que é comum aos diferentes sectores. Todavia, a mudança de hora obriga as empresas a ajustar horários, a comunicar essas alterações aos vários intervenientes, a garantir que não há interferências entre diferentes serviços, etc.

Uma das principais razões que conduziu à implementação de uma hora de Verão nos diferentes Estados Membro nos anos 1970 estava directamente relacionada com a redução do consumo de energia. No entanto, um relatório de 2007 da Comissão das Comunidades Europeias conclui que "as poupanças efectivamente obtidas são difíceis de determinar e, de qualquer modo, são relativamente limitadas". Passados sete anos, continua sem haver consenso em torno desta questão, mostra o estudo mais recente publicado pela delegação de Mobilidade e Transportes da Comissão Europeia.

No que concerne o sector do turismo e lazer, este relatório refere que quatro representantes de Estados-Membro consultados destacam que a hora de Verão permite ampliar o horário de funcionamento dos espaços comerciais e de lazer, aumentando o número de consumidores e, consequentemente, as receitas. Por outro lado, dizem, a hora de Verão pode gerar "um maior sentimento de segurança" entre os turistas, uma vez que há luz natural até mais tarde. A maior preocupação está em torno da importância de uma harmonização entre Estados-Membro, já que "a ausência de uma sincronia poderia causar confusão entre os consumidores que viajam pelos vários países da União Europeia".

No sector das telecomunicações, "o tempo é definido por programas informáticos, que têm de ter a capacidade de acomodar as mudanças de hora", sendo que os "custos resultam da necessidade de reconfigurar ou reprogramar" esse software. De referir, porém, que "mudanças de hora podem afectar processos baseados em automatismos", o que significa que o impacto é extensível a diferentes áreas de actividade, como a banca, os transportes, energia, entre outros.

Quanto ao sector bancário, salienta-se aqui que a mudança de hora é "bem percebida pelos agentes e as empresas conseguem facilmente lidar com isso". Além disso, "as mudanças de hora acontecem durante a noite, o que não tem impacto nas operações realizadas durante o dia". Há algumas pesquisas que analisam a "relação entre a hora de Verão, a disrupção no sono e a volatilidade dos mercados", diz este relatório, salientando porém que as conclusões destes estudos são "mistas".

O impacto da alteração da hora tem também vindo a ser estudado ao nível da segurança rodoviária, da saúde e da criminalidade, sendo que em todas estas rúbricas não há consenso quanto aos reais impactos, positivos e negativos. 

Assim, quando forem duas horas da manhã no continente e no arquipélago da Madeira, os ponteiros atrasam uma hora, passando a ser 1h00. Nos Açores, que tem uma hora a menos que o continente, é a mesma coisa: à 1h00 os relógios atrasam e fica meia-noite.

Uma coisa é certa, de sábado para domingo pode contar com mais 60 minutos de sono. Bom proveito.
 (notícia corrigida no primeiro parágrafo às 23h05)

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