sábado, 17 de outubro de 2015

Uso de órgãos de animais em humanos está mais próximo


JN | 14/10/2015
Uma nova técnica desenvolvida por um professor de Harvard poderá tornar realidade o transplante de órgãos animais para uso em humanos.
 

A técnica CRISPR (Repetições Palindrómicas Curtas Agrupadas e Regularmente Espaçadas, em português) ganhou nome em 2002 e em 2011 percebeu-se que poderia ser uma ferramenta para ajustar o ADN, tornando os tecidos animais aptos a serem recebidos por seres humanos.

A CRISPR começou a ser utilizada na área da engenharia genética e são conhecidos agora os resultados da investigação relacionada com a utilização de órgãos animais, como o do porco, no corpo humano.

George Church, professor da Universidade de Harvard, conseguiu desativar um retrovírus (vírus que afeta principalmente animais vertebrados e que não pode ser combatido por sofrer uma mutação constante) presente no porco através desta técnica inovadora.

O uso deste método em células de porco foi capaz de destruir sequências de ADN potencialmente perigosas em 62 cópias do genoma do animal. Como realça a revista especializada "Science", trata-se do exemplo mais extremo das potencialidades deste método.

"Esta área tem estado estagnada durante 15 anos. Tem havido alguns crentes, mas penso que isto muda o jogo por completo", afirma Church.

Uma das principais preocupações abordadas no artigo da revista norte-americana é a possibilidade do corpo humano rejeitar o órgão ou de ser transmitida uma infeção devido ao vírus presente no organismo do porco.

Caso esta barreira seja transposta, a técnica de Church poderá ser a solução para o baixo índice de doação de órgãos. O porco é o animal que tem os órgãos com um tamanho mais semelhante ao humano, sendo por isso a escolha mais óbvia.

No caso de Portugal, o transplante mais comum é o do rim. A 31 de dezembro de 2014, havia 1970 pessoas à espera de um órgão e, destas, 43 acabaram por morrer por não o receber.

O artigo em questão realça, porém, que serão necessárias ainda mais pesquisas para que se consiga tornar os órgãos animais aptos para uso no corpo humano. Falta ainda encontrar outras moléculas no animal que poderão fazer com que o sistema imunitário humano possa rejeitá-lo.

Todavia, esta descoberta representa uma grande esperança para o uso de órgãos de animais em humanos, o xenotransplante, realça o investigador.

Contudo, este avanço traz consigo questões culturais que serão difíceis de ser ultrapassadas. "Mesmo depois das questões científicas e de segurança serem resolvidas, deveríamos considerar possíveis preocupações culturais e impactos sociais associados ao uso disseminado de órgãos de porcos para transplante humano", refere Sarah Chan, especialista da Universidade de Edinburgo, citada pela "BBC Brasil".

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