segunda-feira, 18 de abril de 2016

Furtos em supermercados. Até há grupos a exportar os bens



Em cinco anos, um bando pilhou estabelecimentos em todo o país e enviava os produtos para a Roménia. Em Sintra, o gangue de mulheres As Primas ainda está no ativo

Os grupos que atacam em supermercados e centros comerciais para praticar furtos em grande escala estão a revelar grande organização e eficácia, apesar das detenções que têm sido efetuadas. Os furtos em supermercados aumentaram 38,4% em 2015, passando de 1159 casos denunciados para 1604.
Apesar de muitos lesados preferirem não apresentar queixa quando os bens furtados são inferiores a 102 euros (as superfícies têm de se constituir como assistentes no processo, o que obriga a gastar 200 euros), aumentaram as denúncias no ano passado. Precisamente um ano em que até foram aplicadas penas de 15 anos de prisão a ladrões profissionais a atuar em grupo nestes estabelecimentos, como lembrou fonte judicial.

Há grupos de portugueses, romenos, africanos e de outras origens a viver apenas disto. E até há um bando só de mulheres conhecido na zona de Sintra como As Primas, com um núcleo duro de cinco elementos, que há pelo menos sete anos andam a "limpar" supermercados, lojas e farmácias daquele concelho. O nome do bando deve-se a relações de parentesco que existem entre os membros. Só uma delas chegou a ter 52 ocorrências de furto registadas pela PSP. Algumas já foram presas, outras continuam no ativo.

Com muita atividade no Grande Porto, a vida fácil acabou no início do ano para um bando de 27 elementos de origem romena. A acusação contra o grupo foi divulgada nesta semana pelo Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) do Porto.

Durante cinco anos o bando viveu deste crime, chegando a enviar para a Roménia vários produtos furtados em Portugal em supermercados e centros comerciais de norte a sul do país, e que eram depois vendidos naquele país. Roupa, cosméticos, eletrodomésticos, computadores, foram alguns dos artigos levados às dezenas pelos 14 homens e 13 mulheres da rede. A maior parte dos produtos eram "exportados" para a Roménia, com uma periodicidade semanal. O grupo usava sacos forrados no interior a folha de alumínio para escapar aos detetores de alarmes.

Um líder, 12 carros e 141 crimes

Aos 14 homens e 13 mulheres do grupo organizado foi imputada a prática de 141 crimes de furto qualificado, dois na forma tentada, e de 28 crimes de furto simples, um na forma tentada. A procuradora Teresa Morais indica no despacho que o grupo tinha um líder, Manuel Iunescu, que escolhia os locais--alvo, os objetos a furtar e o seu escoamento, como também selecionava e arrendava casas para o grupo. Os operacionais dividiam-se por zonas. Segundo o MP, os mandantes iram recrutando novos elementos, fazendo regressar alguns dos antigos à Roménia ou integrando-os noutros grupos espalhados pela Europa. Assim despistavam as autoridades portuguesas.

Quando foram detidos, os elementos do bando indicaram várias moradas falsas às autoridades, mas que os ligam entre si, em sítios tão díspares como Amadora, Oeiras, Póvoa de Santa Iria ou Vila Nova de Gaia. Tinham também 12 automóveis ao serviço. Além de se fixarem apenas de forma sazonal, para melhor enganar as polícias, cometiam "pequenos" furtos em grandes superfícies comerciais, onde passariam mais despercebidos e podiam misturar-se . Por vezes até pagavam alguns produtos baratos, enquanto outros saíam com objetos de maior valor sem pagar. Se um deles fosse detido com um artigo barato, sabia bem que este crime depende da queixa apresentada pelo representante da empresa - e este está muitas vezes ausente.

Pequenos grupos de portugueses

O intendente Hugo Palma, porta-voz da Direção Nacional da PSP, esclarece que "não é possível falar de um perfil-tipo dos detidos por furto em superfícies comerciais", mas nas áreas metropolitanas a polícia continua a sinalizar "pequenos grupos - entre duas a cinco pessoas, jovens, portugueses - que regularmente se deslocam a diferentes superfícies comerciais para furtar peças de valor". No geral, há desde jovens que furtam roupa e pequenos acessórios "a grupos mais ou menos organizados que fazem da prática do furto uma atividade regular".

Um outro gangue de supermercados, com 38 pessoas oriundas do Leste Europeu, registou no Porto condenações a penas que foram até 15 anos de prisão por furto qualificado. O valor elevado do conjunto dos artigos que levaram e o facto de viverem do crime levou a que a justiça tivesse mão pesada.

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