segunda-feira, 17 de abril de 2017

Biológicos são mais caros, mas produção é mais barata



Alfredo Sendim criou o projeto Partilhar as Colheitas da Herdade do Freixo do Meio, em Montemor-o-Novo 

Estudo conclui que a produção agrícola biológica tem menores custos, apesar de ser vendida a preços mais elevados. Há quem fale em "oportunismo comercial"

A Direção Regional de Agricultura do Norte estudou, ao longo de quatro anos, o cultivo de cebola em dois modos de produção diferentes, numa área idêntica: pelos métodos convencionais e pelas regras da agricultura biológica. E concluiu que esta última tem custos de produção muito mais baixos e até garante maior quantidade de produção, mas chega ao mercado a um preço mais elevado.

A cultura biológica não teve custos com a fertilização do solo, enquanto a convencional registou uma despesa de 5,75euro euros. Para proteção da cultura contra pragas e doenças, na biológica gastou-se 1,84 euros, enquanto na convencional o custo subiu aos 3,19euro euros. No final, obtiveram-se 160,5 quilos de cebolas biológicas, mas apenas 92,3 quilos das que foram produzidas de forma tradicional.

No mercado, os preços dos dois tipos de cebola são bem díspares: uma consulta nos supermercados online mostra que a cebola biológica pode custar, neste momento, 1,99euro euros por quilo, enquanto a convencional se arranja por 32 cêntimos, ou seja, é quase seis vezes mais barata.

Para Rui Rosa Dias, docente do IPAM e especialista em marketing agroalimentar, "o que se passa quando o consumidor paga mais pelos produtos biológicos é apenas uma questão de oportunismo comercial, porque está na moda, e de um mau marketing".

Mas a análise não é consensual. António Lopes Dias, diretor executivo da Associação Nacional da Indústria para a Proteção das Plantas, faz uma leitura diferente, ao defender que "os custos de produção implicam diferentes variáveis". E, contrariando as conclusões do estudo da Direção Regional de Agricultura do Norte, considera que "a agricultura biológica tem uma produtividade menor do que a convencional e, por causa disso, os preços têm de ser mais elevados para compensar a diferença de produtividade". Reconhece, no entanto, que "a agricultura biológica tem vindo a crescer como uma resposta a um nicho de mercado".

O presidente da Confederação de Jovens Agricultores, Luís Miranda, é da mesma opinião, admitindo que os custos de produção sejam menores, mas sublinhando que "a produção também é", apontando essa como "uma das razões para os produtos serem mais caros". Por outro lado, lembra que "os custos de certificação são caros e o embalamento também encarece o produto". Luís Miranda sublinha que a agricultura biológica "é feita, normalmente, em áreas mais pequenas e, só em alguns casos, como nos frutos vermelhos, se consegue um grande rendimento, e até exportar".

Do lado dos produtores biológicos, Alfredo Sendim, responsável pela Herdade do Freixo do Meio, com 440 hectares, em Montemor--o-Novo, afirma que "a agricultura biológica produz 30% do que é consumido". Quanto aos custos, o agricultor biológico sustenta que "são mais baratos do que os industriais, pela não aquisição de químicos". Mas, acrescenta, pela mão-de-obra "é muito mais cara", uma vez que este modo de produção não está mecanizado. "A lógica é da ligação direta do homem à terra."

Mas nem tudo é perfeito no mundo da agricultura biológica. Alfredo Sendim explica que, "em termos mundiais, apenas 20% da produção é biológica e, destes, 80% são em monocultura, que tem os mesmos problemas do que a convencional. Portugal está próximo desta realidade, porque é difícil conviver com a pressão do mercado".

Já o especialista em marketing agroalimentar Rui Rosa Dias acredita que, "com uma estratégia séria, a agricultura biológica, mesmo em pequenos volumes, teria espaço para crescer e medir forças com os grandes operadores, que têm o poder de manipular os mercados".

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