quinta-feira, 4 de maio de 2017

Só chuva de maio é capaz de salvar a agricultura



GONÇALO VILLAVERDE/GLOBAL IMAGENS


O abril mais quente em 86 anos. Campos agrícolas estão secos e há produções em risco. Chuva é urgente para encher as barragens

As pastagens estão secas e o gado vai começar a ser alimentado à mão já em maio, enquanto a tiragem de cortiça terá de ser antecipada e concluída um mês antes. Já os cereais de sequeiro, tanto de outono/inverno como de primavera/verão, têm quebra anunciada para este ano faltando apurar a extensão do prejuízo, pendente da chuva que possa cair nas próximas duas a três semanas. Eis o resultado do terceiro ano consecutivo de seca generalizada, agravado com o abril mais quente dos últimos 86 anos e a onda de calor. O que faz com que o País esteja com 96% do território em "seca meteorológica".

"O girassol será dos mais afetados. Ainda não choveu nada e isso é fatal para esta produção", alerta Francisco Palma, da Associação de Agricultores de Beja, acrescentando que as pequenas barragens e charcas que não são abrangidas pelos 120 mil hectares de rega do perímetro de Alqueva estão à míngua. "Há 200 mil hectares de sequeiro que estão afetados no Alentejo onde se inclui cevada, trigo, girassol e aveia", contabiliza, alertando que uma boa parte do milhão e seiscentos mil hectares destinados à pastagem também já começam a sentir o efeito da falta de chuva, ficando os produtores de gado condicionados a comprarem alimento para os animais.

António Gonçalves Ferreira, presidente da União da Floresta Mediterrânica, alarga o problema às zonas do interior de Norte a Sul. "O solo é o primeiro a secar e os campos estão completamente secos como se já fosse final de junho. As árvores estão a adaptar-se à falta de água, pelo que se não chover em maio antecipam a paragem vegetativa", explica o dirigente.

Quer isto dizer que, no caso do montado, a tiragem de cortiça terá que começar mais cedo - pelo menos uma semana - mas terminar um mês antes do normal. Seria em agosto, mas terá de ser em julho. As serras de Grândola, Portel e Algarve são as "zonas mais críticas, por exibirem solos com condições mais extremas", justifica, admitindo que os produtores serão prejudicados pelo impacto que uma operação mais célere implica ao nível do stress da árvore. "Demora mais a recuperar. Em lugar de voltar a dar cortiça em nove anos, pode demorar dez", exemplifica o dirigente, que não augura melhorias perante a previsão do tempo para os próximos dias.

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) prevê alguma chuva apenas para amanhã, tratando-se de uma precipitação que deverá representar "muito pouco" face à escassez de água que percorre o país. Fátima Espírito Santo, do IPMA, admite que o cenário é preocupante, apesar de Portugal ainda se encontrar apenas em "seca meteorológica fraca a moderada" em 96% do território. O problema é que este índice serve apenas para medir o que chove e não as necessidades agrícolas ou a falta de água nas barragens e aquíferos. "Se houvesse boas reservas nas barragens hoje não haveria seca, mas como os recursos hídricos são finitos acaba por falta água. O grave é que estamos em maio e depois vem o verão que vai agravar tudo isto", aponta a técnica do IPMA, alertando que o vento que se juntou às temperaturas altas de abril "acelerou a evaporação".

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