quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

É desta que vamos mudar o mundo rural? Então tome nota


13.12.2017 às 18h00
 
Por falta de clarividência estratégica o país não tem sabido aproveitar 2/3 do seu território, referem alguns especialistas

RUI DUARTE SILVA

É preciso levar a sério as questões do povoamento e, em simultâneo, do planeamento, embora Portugal não goste muito de nenhuma delas. É assim que o economista e estratega do território Augusto Mateus olha para o problema. Num estudo sobre desenvolvimento rural hoje apresentado em Lisboa, conclui-se ainda que urgente rever a forma como estão organizados os municípios, bem como as finanças locais

Se houver coragem para colocar na agenda política questões como o povoamento, a valorização dos recursos endógenos, o turismo em espaço rural e a reorganização dos municípios bem como das finanças locais, então estaremos no bom caminho.

É assim que o economista e estratega Augusto Mateus vê o futuro dos territórios de baixa densidade demográfica, normalmente associados ao que há muito se convencionou chamar 'o Interior' do país.

Num estudo hoje apresentado em Lisboa, encomendado pela Câmara Municipal de Idanha-A-Nova, a que o seu presidente resolveu chamar 'Mundo Rural Porque Sim', ficou claro que o choque traumático causado pelos incêndios do verão passado pôs, pelo menos, o país a pensar no drama do abandono dos campos e das poucas pessoas que ainda o habitam, assim como no que se pode fazer a partir do que ali ficou.


LUÍ­S BARRA

Augusto Mateus diz que é preciso levar a sério as questões do povoamento e, em simultâneo, do planeamento, embora Portugal não goste muito de nenhuma delas. Além disso, "para produzir riqueza no mundo rural tenho de ter serviços e de qualidade: boas escolas, creches, hospitais, etc. Caso contrário, como é que convenço alguém a mudar-se para o Interior se não lhe consigo proporcionar os serviços que, também ali, lhe permitam ter uma vida de qualidade?", interroga aquele especialista em questões territoriais. E defende ainda uma política de incentivos públicos que não olhe para trás – para o subsídio ao velhinho que ficou na aldeia – mas sobretudo para a frente, para a captação de valor, de inovação, de conhecimento e de investimento.

Mas, a verdade, é que "por falta de clarividência estratégica o país tem desperdiçado 2/3 do seu território", sublinha ainda Augusto Mateus.

No estudo hoje divulgado publicamente - e que o presidente do município de Idanha-A-Nova fez questão de oferecer ao Governo, "para que se possam fazer políticas a sério para a ruralidade do país" – a principal mensagem é a de que "o progresso do mundo rural não é 'transformar-se' numa cidade". Nada disso. "O progresso do mundo rural faz-se considerando a existência do mundo urbano, estabelecendo com este as necessárias articulações funcionais e temáticas e, sobretudo, atribuindo valorização económica e objetivos de coesão territorial aos trunfos que o diferenciam do urbano.

As quatro alavancas para a mudança do mundo rural, identificadas pela equipa de Augusto Mateus são as seguintes:

- Identidade e recursos endógenos, com o objetivo de povoar, atrair pessoas e criar riqueza para mercados e procuras mais vastas a todos os níveis (local, regional, nacional, ibérico, europeu, mundial)

- Inovação e produção para que assim se consiga atrair empresas e investimento

- Mobilização par o turismo, a cultura e o património, de forma a valorizar uma internacionalização com base na resposta às procuras de consumo centradas na cultura e no património

- Aposta na sustentabilidade ambiental, para explorar e desenvolver o capital natural, os novos serviços públicos ambientais e os novos paradigmas de desenvolvimento sustentável.

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