sábado, 3 de junho de 2017

Já se prefigura seca “terrível” para a agricultura no Alto Alentejo

Há 20 anos, a água potável que existia no planeta, por habitante, era "quatro vezes mais do que a que temos hoje" alertou, em Beja, o comissário europeu Carlos Moedas.

CARLOS DIAS 2 de Junho de 2017, 19:07 Partilhar notícia

O que se previa há pouco mais de um mês, está a confirmar-se no Alto Alentejo. A região enfrenta um período de "seca terrível", reconheceu ao PÚBLICO, Fermelinda Carvalho, presidente da Associação Agricultores do Distrito de Portalegre (AADP).

No último Inverno, a precipitação foi diminuta e as culturas arvenses de Outono/Inverno foram irremediavelmente afectadas. "Os agricultores semearam na expectativa de que chovesse". Mas a precipitação acabou por ser muito escassa e agora "as searas estão muito curtas e por isso não vai haver palha nem grão". Já se antecipa uma produção cerealífera "muito baixa" descreve a presidente da AAPD, dando ainda conta do que está a suceder ao pasto que resta: no período estival, o aumento do calor vai deixar nos prados um alimento "sem qualidade" para o gado.

Nestas circunstâncias, a realidade, a curto prazo, pode ser dramática. A possibilidade de alimentar os animais à mão com forragens e palhas é tida como muito provável, dada a escassez de alimento na região, mas a sua aquisição pode atingir valores proibitivos.

Os produtores pecuários temem ainda que a falta de água, que já é patente, venha a colocar em causa o abeberamento do gado. No campo das opções e colocados perante situações extremas, os agricultores "preferem não cultivar as terras adeixar o gado sem água", vinca Fermelinda Carvalho, igualmente preocupada com a falta de humidade no solo, circunstância que "potencia a deflagração de incêndios", impedindo os agricultores de fazer as searas de Primavera/Verão.

As consequências da ausência de chuva, no norte alentejano, vão além do cenário já descrito: "as barragens e charcas particulares estão sem água e os furos artesianos "não rebentam" ou seja, estão secos", observa a dirigente associativa.

Nas circunstâncias actuais salvaguardam-se, até ver, as explorações agrícolas que recebem água das barragens públicas, como a do Caia, por armazenar alguma água. No entanto, as barragens do Xévora e Abrilongo apresentam baixos níveis de armazenamento, obrigando a limitar o fornecimento de água para os regadios.

Fermelinda Carvalho constata que "há 20 anos havia um ano mau de tempos a tempos" mas, ao longo da última década, "a maioria dos anos foram maus" em termos de escassez de água e de temperaturas

Ao contrário do que se possa pensar, a água do Alqueva "não chega ao Alto Alentejo", lamenta a presidente da associação de agricultores, advogando a construção de mais reservas de água na região para contrariar os efeitos "dramáticos" associados às alterações climáticas que, na sua opinião, "são um facto incontornável".

Na sua mais recente deslocação a Beja, em meados de Maio, o comissário europeu Carlos Moedas, responsável pelas pastas da Investigação, Ciência e Inovação, destacou dois temas "importantes para o futuro": Alimentação e água. "Como vamos resolver o problema da água, que é dos mais complexos que temos à nossa frente" é o desafio que a União Europeu vai enfrentar, sobretudo nos países mediterrânicos, realçou Carlos Moedas, explicando que "há 20 anos, a água potável que existia no planeta, por habitante, era quatro vezes mais da que existe hoje".

O melhor do Público no email
Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público.
Subscrever×
Assim, os Governos de Portugal e Espanha vão dar corpo ao projecto PRIMA que envolve um investimento de 400 milhões de euros (a União Europeia vai disponibilizar 220 milhões de euros), para desenvolver tecnologia e inovação nas áreas da produção agro-alimentar e da água.

"Se não resolvermos os temas da água e da alimentação no futuro vamos ter um dos maiores problemas que a humanidade pode enfrentar, ou então como diz Stephen Hawking, vamos ter que descobrir outros planetas para viver, dentro de 100 anos" alertou o comissário europeu.

A AADP já enviou um ofício ao ministro da Agricultura, Capoulas Santos, a inteirá-lo do que se passa no distrito de Portalegre. "Não pretendemos a concessão de subsídios", sublinha Fermelinda Carvalho, frisando que os agricultores pretendem apenas a abertura de programas no PDR 2020, que possibilitem a "abertura de furos e a aquisição de equipamentos para assegurar o abeberamento do gado". E, sobretudo, que a comissão de seca já anunciada por Capoulas Santos "dê resposta rápida aos problemas que já existem", apela a presidente da AADP, uma associação de que fazem parte 3800 agricultores do distrito de Portalegre e ainda dos concelhos de Vila Velha de Ródão, Idanha-a-Nova e Penamacor, no distrito de Castelo Branco.

terça-feira, 30 de maio de 2017

Primeira fábrica de farinha de trigo de Angola quer potenciar agricultura

Primeira fábrica de farinha de trigo de Angola quer potenciar agricultura

A primeira fábrica de farinha de trigo angolana, inaugurada esta sexta-feira em Luanda após um investimento de 90 milhões de euros, vai permitir incentivar a produção nacional de milho, ainda reduzida, perspectivaram hoje os promotores.


26 de maio de 2017 às 15:51

Instalada no porto de Luanda, numa área de aproximadamente 30.000 metros quadrados, a unidade da Grandes Moagens de Angola (GMA) vai produzir 1.200 toneladas de farinha de trigo por dia, das quais 260 toneladas em farelo para complemento de ração animal, trabalhando 24 horas por dia, todo o ano.
 
"É uma indústria com tecnologia de ponta destinada a satisfazer a procura local", explicou o administrador da GMA, César Rasgado, acrescentando que a fábrica vai permitir satisfazer 60% da farinha de trigo que é consumida em Angola, avaliada anualmente em cerca de 500.000 toneladas.
 
"Estamos a falar já com as entidades para incentivar e promover os produtores de trigo localmente e com a disponibilização de farinha de trigo no mercado vamos permitir que o seu acesso por indústrias de massas, biscoitos e de panificação industrializada", acrescentou o responsável.
 
Diminuir a importação de farinha de trigo em Angola e promover a produção de farinha de trigo e dor próprio trigo localmente é o objectivo dos promotores, que numa primeira fase terão de importar matéria-prima diretamente na Europa, América e Ásia.
 
Na inauguração da fábrica, que garante 150 postos de trabalho directos, o ministro da Economia de Angola, Abraão Gourgel, considerou que com a nova indústria de farinha de trigo no país o preço do pão no mercado será mais estável.
 
"Garantir uma certa estabilidade de fornecimento de farinha de trigo aos panificadores, por isso o preço do pão, vai, não diria reduzir, mas vai certamente ser mais estável", disse.
 
Com a fábrica a funcionar em pleno, o Governo angolano prevê cortar em 60% nas importações de farinha de trigo, estimando uma poupança anual de 100 milhões de dólares (90 milhões de euros).
 
"Acho que é uma grande redução e é uma grande contribuição para a diminuição das importações", disse, por seu turno, a ministra da Indústria, Bernarda Martins. "É evidente que não vamos cobrir a importação de farinha de trigo na sua totalidade mas na velocidade do cruzeiro nós vamos conseguir ter um mercado coberto", apontou ainda.
 
A governante defende que esta fábrica vai fomentar o surgimento de pequenos produtores de trigo a nível do país. "Temos a certeza que este projecto não vai ficar por aqui, ele vai continuar a trabalhar sendo que é um projeto que depende neste momento de matéria-prima e vai fomentar outras iniciativas, essencialmente com os pequenos produtores de trigo no país", realçou Bernarda Martins.

Floresta não é um problema e “tem de ser uma oportunidade”


LUSA / COIMBRA / 27 MAI 2017 / 17:55 H.

Foto Lusa

O primeiro-ministro, António Costa, realçou hoje que o país não pode só ouvir falar de floresta quando se chega ao verão e começam os incêndios, sublinhando que esta tem de ser encarada como uma oportunidade.

"O país só ouve falar de floresta quando chegamos ao verão e começam os incêndios. A floresta não é um problema. A floresta tem de ser uma oportunidade de criação de valor", disse o primeiro-ministro, que falava na inauguração do BLC3, campus de tecnologia e inovação de Oliveira do Hospital, no distrito de Coimbra, que se foca na conversão de mato inculto e resíduos agroflorestais em substitutos de petróleo.

Para o líder do Governo, "há que reconstruir uma economia com base na floresta".

Se hoje a população já não usa "os gravetos", pequenos pedaços de madeira das matas para cozinhar, há que encontrar "novas formas de aproveitar" esses gravetos, "toda essa biomassa", notou.

Exemplo disso é o BLC3, que trabalha em desenvolvimento de tecnologia que possa transformar a biomassa "em combustível", apontou António Costa.

Essa transformação "permite dar um novo valor económico", ao mesmo tempo que assegura a limpeza das florestas e poupa "ao país muito dinheiro", que gasta na importação de combustível, vincou o primeiro-ministro.

"É um excelente exemplo de como podemos casar tudo: investimento com conhecimento, a valorização desse conhecimento do ponto de vista económico - desenvolvendo o que está por desenvolver - e ainda conseguir com isto um melhor equilíbrio energético" e tornar o país "menos dependente da importação de combustível fóssil, afirmou.

Durante o discurso na cerimónia de inauguração, António Costa voltou a repetir várias das ideias que já tinha espelhado em Góis e Tábua, falando da necessidade de emprego qualificado, da importância do investimento em infraestruturas rodoviárias e da necessidade de uma economia forte.

Também neste discurso, e pela terceira vez hoje, António Costa pediu emprestadas as palavras ditas por Jorge Sampaio em 2003, na cerimónia do 25 de Abril, realçando que também o BLC3 é uma prova de que "há bastante mais vida para além do orçamento".

"Em vez de dizermos para [os jovens] irem para fora procurar o vosso futuro, é essencial criar condições para ficarem e construírem o vosso futuro, o nosso futuro, o futuro do país aqui, em Portugal", frisou, considerando que tal "é possível e é possível em territórios que podiam ser considerados mais frágeis".