sábado, 1 de julho de 2017

Produção da silvicultura aumenta 4,2% em valor e 3,5% em volume em 2015, aponta INE

28/6/2017, 15:02
A produção da silvicultura aumentou 4,2% em valor e 3,5% em volume em 2015, mantendo um crescimento que tem sido sobretudo dinamizado pela produção de cortiça, divulgou esta quarta-feira o INE.

Partilhe

Em 2015, o rendimento dos fatores e o rendimento empresarial líquido da silvicultura e exploração florestal aumentaram 4,9% e 3,9%, mantendo a tendência de crescimento observada desde 2009


A produção da silvicultura aumentou 4,2% em valor e 3,5% em volume em 2015, mantendo um crescimento que tem sido sobretudo dinamizado pela produção de cortiça, divulgou esta quarta-feira o INE.

Segundo as contas económicas da silvicultura relativas a 2015 do Instituto Nacional de Estatística (INE), o Valor Acrescentado Bruto (VAB) da silvicultura registou em 2015 um aumento de 5,8% em valor e de 3,8% em volume, tendo sido determinante o comportamento da produção de cortiça (+9,1% em valor e +6,0% em volume) e, "em menor grau", de madeira (+3,3% em valor e +3,7% em volume).

Segundo o INE, o VAB da silvicultura representou em 2015 cerca de 0,6% do VAB nacional e apresenta uma tendência crescente desde 2010, tendo registado entre 2011-2015 um acréscimo médio de 3,4% em valor e de 1,9% em volume.

Em 2015 face a 2014, a produção da silvicultura aumentou em valor (+4,2%) e em volume (+3,5%), com destaque para as subidas na produção de cortiça (+9,1%) — que foi "o produto com maior impacto no aumento da produção" da silvicultura em 2015 – de madeira (+3,3%) e de serviços silvícolas (+2,0%).

Em termos estruturais, a cortiça assume-se como "o produto com maior destaque no período de 2000 a 2004, com um peso relativo de 46,2%, tendo sido superada, nos anos seguintes, pela madeira para triturar (42,7% em 2015).

No que se refere à madeira para serrar, registou um aumento de 1,1% em volume e uma subida de 4,9% do preço, devido à insuficiência de toros provocada pelos incêndios e pela diminuição das plantações nos últimos anos.

Já a madeira para triturar, proveniente de espécies resinosas e folhosas como o eucalipto, retomou em 2015 o crescimento registado entre 2009 e 2013 e interrompido em 2014, progredindo 4,7% devido ao aumento da capacidade produtiva da indústria de pasta de papel, mas vendo os preços caírem 2,4%.

Quanto à produção de serviços silvícolas, aumentou em valor (+2,0%) e diminuiu em volume (-0,2%), sendo este recuo em volume atribuído ao decréscimo de 8,9% na florestação e reflorestação, em particular de sobreiro e pinheiro manso.

Em 2015, o montante de ajudas pagas à atividade silvícola (subsídios ao produto, outros subsídios à produção e transferências de capital) aumentou 13,0%, com subidas de 11,4% nas ajudas pagas à produção e de 18,3% nas ajudas a ações de investimento na atividade silvícola (transferências de capital).

Nesse ano, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) na silvicultura decresceu em valor (-2,7%) e em volume (-3,8%), sobretudo penalizada pelo recuo de 6,5% em valor e de 9,0% em volume da FBCF em florestação e reflorestação. Segundo o INE, em 2015 a FBCF em florestação e reflorestação foi constituída por 13,2% de sobreiro, 9,5% de pinheiro manso e 77,3% de eucalipto.

Em 2015, o rendimento dos fatores e o rendimento empresarial líquido da silvicultura e exploração florestal aumentaram 4,9% e 3,9%, mantendo a tendência de crescimento observada desde 2009.

Numa análise comparativa entre Estados membros da União Europeia (UE), em 2014 (último ano com informação disponível para a UE), Portugal posicionou-se em 10.º lugar em termos de importância relativa do VAB da silvicultura e exploração florestal no VAB da economia nacional.

Ainda a propósito de incêndios: não nos precipitemos. A pressa é má conselheira


João Filipe Bugalho

1/7/2017

Não são catadupas de diplomas legais, imanados de São Bento ou do Terreiro do Paço para todo o pequeno, mas tão diverso, território nacional que poderão resolver o problema da floresta e dos incêndios

Recebi quinta-feira, 29 de Junho de 2017, enviado pela Comissão da Agricultura e Mar da Assembleia da Republica um conjunto de oito projectos de diploma pedindo que, por escrito, me pronuncie sobre eles até dia 5.

Muito se tem falado na sequência da catástrofe de Pedrogão, ouvindo-se abundantemente as opiniões dos que não têm, ou têm pouco, conhecimento de causa em detrimento de alguns que são profissionais competentes na área da gestão florestal e da prevenção dos incêndios em meio rural.

Parece, de momento, haver uma opinião generalizada, de bom senso comum, sobre a necessidade de, urgentemente, se tomarem medidas de emergência. De facto, ainda oficial ou legalmente, não começou a época de incêndios (!) e já tivemos aquele que, desde que há registos, originou maior número mortos em Portugal e, segundo parece, no Mundo. Os grandes incêndios, segundo os dados estatísticos que existem, ocorrem no nosso país num período de pouco mais do que dez dias, em geral nos fins de Julho, ou início de Agosto, isto é, segundo as probabilidades, ainda teremos até ao final do Verão um grande número de incêndios, dos quais, também dizem as estatísticas, mais de 90% são combatidos eficazmente, mas da pequena percentagem dos que escapam ao controle é que resultam as enormes extensões de áreas ardidas. E aí podem conseguir proteger-se as pessoas mas não se salva a riqueza florestal.

É pois necessário, tomar medidas urgentes para acudir às situações de maior emergência e garantir, no mínimo, a confiança e segurança das populações existentes nas áreas mais críticas de elevado risco.

Este é um primeiro nível de actuação. Trata-se de pôr em marcha imediatamente soluções de recurso. Mas estas não são soluções estruturais.

Há pois um segundo nível de actuação muito distinto: o das soluções estruturais. Só estas poderão dar garantias de resolver o problema de forma sustentável e a longo prazo, mas têm que ser desenvolvidas de forma prudente, meditada, com muito conhecimento e bom senso. Nunca precipitadamente, para acorrer aos momentos de crise.

Para que se alcancem os resultados desejáveis, terão que assentar na investigação, na correcção técnica e na aplicabilidade prática, bem como nos legítimos anseios e aspirações das pessoas que vivem, ou sobrevivem, nas regiões mais vulneráveis.

E, em minha opinião, não são catadupas de diplomas legais, imanados de São Bento ou do Terreiro do Paço para todo o pequeno, mas tão diverso, território nacional que poderão resolver o problema. Se atentarmos bem, toda a legislação já publicada pelo menos desde 2006 teria permitido corrigir, se tivesse sido aplicada de forma operacional, um grande número das situações mais perigosas existentes.

Há um conjunto de medidas que têm de facto âmbito nacional (por exemplo: emparcelamentos, incentivos fiscais, simplificação do cadastro, etc.) mas no que diz respeito à prevenção dos incêndios só serão eficazes as concebidas para regiões concretas, aplicadas a nível municipal e intermunicipal, por vezes a nível distrital ou regional. Uma medida correcta para a vertente noroeste da Serra de São Mamede poderá não funcionar sequer na mesma serra do lado Sul ou Poente. Uma medida conveniente para o Alto Minho poderá não ser eficaz em Trás-os-Montes ou na Beira Interior, etc. Estas medidas têm também que ser tomadas depois de ouvidas as pessoas, as juntas de freguesia, as associações de produtores florestais, de agricultores, de caçadores, auscultando os seus conhecimentos, explicando os objectivos, garantindo a sua cooperação.

As leis existentes, algumas com mais de dez anos, já definiam as atribuições das comissões distritais e municipais de defesa da floresta contra incêndios. Mas estas funcionaram?

Conseguiram estas comissões, ou os seus dirigentes, que sapadores e bombeiros, em conjunto com o SEPNA, funcionassem de forma articulada e sob um comando, garantindo que os bombeiros tinham conhecimento do trabalho feito ao longo do ano pelos sapadores e estes actuando, para além do plano genérico da sua acção, conforme as recomendações das brigadas de fiscalização que lhes dessem os contactos dos proprietários com necessidade de ajuda para a limpeza dos seus terrenos ou para a realização das necessárias queimadas?

Os serviços do INCF e do Ministério da Agricultura já têm ou podem ter, só por si ou em colaboração com as Universidades e o IPMA, meios para cartografar no país as áreas segundo as Classes de Risco de Incêndio. Essa cartografia pode e deve ser disponibilizada aos Gabinetes Florestais Municipais, que provavelmente serão mais eficazes se trabalharem inter-municipalmente, os quais em conjunto com sapadores, bombeiros e a GNR, serão capazes de definir as áreas e os modos prioritários de actuação. Para isso não é preciso nova legislação. É preciso sim, conhecimento, disciplina, capacidade de organização, determinação na execução e responsabilidade no comando. E meios, ou utilização racional dos disponíveis.

A legislação produzida em Portugal sobre esta matéria – como se pode ver na tese de doutoramento do Tiago Oliveira que vai ser defendida no próximo dia 6 no ISA — tem sido directamente proporcional (!) à intensidade dos incêndios mas não tem resolvido o problema. Pelo contrário, a prática demonstra-o, estes têm vindo a agravar-se.

Mais leis estão agora a ser elaboradas. Imagine-se que nas propostas de diplomas legais actualmente em apreciação até se determina que os matos não possam ter mais do que 50 cm de altura! É preciso não conhecer o campo ou a natureza, nem ecologia, nem silvicultura. Os matagais, nos terrenos mais pobres, são necessários e desempenham funções ecologicamente importantes, contrariando a erosão, melhorando a infiltração da água no solo, fazendo sombra ao renovo do arvoredo, ajudando algumas espécies cinegéticas, escondendo da vista de predadores as crias mais vulneráveis, dando abrigo e comida a muitas aves e mamíferos, garantindo a sobrevivência de algumas espécies protegidas, permitindo a manutenção de regimes silvo-pastoris fundamentais para criadores de gado em particular de caprinos e bovinos. Mas também os matos precisam de ser racionalmente geridos, constituindo mosaicos na paisagem, de variada estrutura e idade, frequentemente com o recurso a queimadas que, se forem feitas na época e de forma adequada servirão para suster os grandes incêndios no Verão.

Quando há mais de quarenta anos, na sequência da aprendizagem que fiz com o grande pioneiro da "Ecologia do Fogo", Edwin Komarek, o consegui trazer por várias vezes a fazer conferências e seminários em Portugal, deu-se início a acções de prevenção dos incêndios com base em programas de fogo controlado. Realizei os primeiros fogos controlados que se fizeram no Século XX no âmbito dos Serviços Florestais, pelo que fui superiormente admoestado e até ameaçado de prisão! Foi em seguida que o colega e amigo, Eng. Moreira da Silva conseguiu realizar planos de fogos controlados numa escala apreciável quer no âmbito da Circunscrição Florestal do Porto quer no Parque Nacional da Peneda-Gerês. Estes trabalhos entusiasmaram jovens estudantes da altura entre os quais o Francisco Castro Rego.

Já então foi dito e escrito que combater os incêndios é o último recurso. Por vezes não se conseguem mesmo combater e é desumano colocar bombeiros na frente de incêndios que desenvolvem temperaturas capazes de tudo derreter, até jantes de automóvel.

Porque é que o Estado português gasta dez vezes mais em meios de combate do que em prevenção?

Os incêndios previnem-se e para isso é preciso ordenar a paisagem, criar mosaicos de biodiversidade, alternar superfícies florestais com culturas agrícolas, quebrar a continuidade dos combustíveis, se necessário queimando-os de forma competente durante as épocas em que é possível fazer "fogos frios". Fogos em que se liberta fumo branco (carregado de humidade) e não fumo preto. Fogos em que as chamas atingem pouca altura e são fáceis de controlar. Fogos com os quais realmente se aprende a lidar com o fogo. Komarek disse-nos vezes sem conto: se não fizerem fogos terão grandes incêndios. Os nossos antepassados sabiam-no. Poucos são hoje os que ainda sabem, mas há já felizmente entre nós quem saiba. Que vimos nas imagens televisivas de Pedrogão? Centenas de bombeiros, com risco da própria vida, generosamente, "regando" chamas alterosas e estas imparáveis, a progredir para as copas, para a as estradas, para as casas. Que vimos quando chegaram os sapadores espanhóis? Com o apoio de uma máquina pesada, distanciados do incêndio mas em posição estratégica, abrindo um aceiro para iniciar um contra-fogo. Aí viria mais tarde a morrer a frente do incêndio. Mas não são só os espanhóis que sabem. É assim que actuam as equipes de sapadores das empresas de celulose que tem sido tão subestimadas.

Que foi feito dos GAUF (Grupos de Análise e Uso do Fogo) que apresentavam resultados tão promissores?

Usar o fogo pode ser, em muitos casos, a forma mais económica e ecologicamente mais adequada de reduzir o risco de incêndio. O conhecimento entre nós existe, a capacidade para o aplicar também. O Professor Francisco Castro Rego doutorou-se nos EUA e, há cerca de trinta anos, deu início na UTAD ao desenvolvimento dos estudos e investigação nesta área. Vários colegas (Hermínio Botelho, Paulo Mateus, Paulo Fernandes, António Salgueiro entre outros) são silvicultores muito competentes, fruto desse começo. Um pouco mais tarde, no Instituto Superior de Agronomia, o Professor José Miguel Cardoso Pereira, depois de se doutorar também nos EUA, tem vindo a constituir equipas internacionais com grande capacidade e reconhecida competência nas áreas da detecção remota e prevenção de incêndios nos espaços rurais, dominando e sabendo aplicar com eficácia as mais modernas tecnologias, utilizando satélites e Sistemas de Informação Geográfica.

Aproveite-se eficaz e racionalmente o conhecimento destes profissionais e de outros existentes nas nossa Universidades que com eles colaboram e caminhar-se-á com mais segurança no sentido de, a prazo, prevenir os incêndios no espaço rural.

Mas não se deixe que se promovam demagogias, muito menos através de legislação.

Está em curso uma campanha assanhada contra o eucalipto a qual, já vem de longa data, mas não assenta em qualquer conhecimento fundadamente científico. Um bosque de essências florestais endógenas, como um carvalhal ou carrascal denso, poderá constituir maior perigo de incêndio que um eucaliptal bem implantado e profissionalmente gerido. O mal dos pinhais e eucaliptais de Pedrogão não adveio das espécies que os constituíam, mas do estado desordenado em que se encontravam. Como os que se encontram em muitas outras áreas sobretudo do centro e norte do país, do Alto Alentejo ou de partes das serras do Algarve. Até o tão propalado mito de que o eucalipto seca tudo em seu redor vem sendo contrariado por minuciosa investigação científica. A azinheira ou a esteva poderão explorar a água do solo de forma pelo menos tão eficaz como o acusado.

Note-se que não estou a defender o eucalipto (que necessita de quem o defenda, dado ser matéria prima muito importante para o nosso PIB, para garantir uma parte importante das nossa exportações, grande número de postos de trabalho e constituir a única receita de muitos habitantes do interior, só sendo útil se existir sob a forma de matas ordenadas) mas sim a chamar a atenção para a irresponsabilidade das afirmações que assentam apenas em preconceitos (ou propositadas distorções da realidade) e não são fundamentadas nem no conhecimento, nem nas prioridades das pessoas e do país. O Henrique Pereira dos Santos propôs, e essa é, em minha opinião, uma solução inteligente e muito interessante, não a proibição pura e simples de novos eucaliptais mas que a instalação destes obrigue à plantação proporcional de espécies endógenas ou à conservação de espaços naturais, à semelhança do que já se faz com os "bancos de carbono". Seria assim, e cito-o, a criação de "créditos de biodiversidade", em que as espécies produtivas como eucalipto, pinheiro bravo, pinheiro manso e sobreiro suportariam a gestão das espécie "não-comerciais". Um pouco como o mercado de carbono, mas para floresta nativa. Uma fábrica que emite CO2 tem de comprar créditos de carbono; uma floresta comercial pode ter de comprar créditos de floresta de conservação. Quem planta 10 ha de floresta de produção tem de ter ou financiar 1 ha de floresta de conservação. Assim, o investimento florestal impulsiona a conservação da floresta. Em vez de proibir, promove-se o equilíbrio."

Bem melhor que proibir, é ouvir, compreender, ajudar, ensinar, colaborar, estimular e resolver…

Uma última nota. Creio que pela primeira vez na minha vida profissional ouvi os meios de comunicação portugueses referir que o fogo teve origem em fenómeno natural. Desta vez tem-se falado menos nos incendiários. De facto, os estudos da PJ mostram que os fogos de origem criminosa são menos de 3%. Mas tranquiliza e irresponsabiliza as consciências ter um bode expiatório.

No entanto mais de 80% dos fogos nascem a menos de 500 metros de uma estrada ou de uma povoação, isto é, são de origem humana, por descuido, falta de educação ou negligência. Quer isto dizer que desde que haja combustível acumulado em excesso há uma forte probabilidade de, mais cedo ou mais tarde, eclodir um fogo. E se este escapar ao controlo, não sendo dominado nos primeiros minutos, a probabilidade de degenerar num incêndio incontrolável é muito grande. Portanto, para além de se alertar e educar a população para práticas mais cuidadosas, há sobretudo que reduzir os combustíveis, diversificar a paisagem, construir um mosaico equilibrado e harmonioso mais propício à segurança e defesa de pessoas e bens, mais conveniente para a conservação da natureza e dos recursos naturais.

Em resumo: os diagnósticos estão feitos e refeitos. Há conhecimento técnico, existem muitos meios disponíveis. A legislação é em grande parte mais do que suficiente (há quem diga que excedente). Mas o fulcro tem estado fora do sítio. Falta sobretudo capacidade para coordenar, gerir e comandar. Para selecionar e promover os agentes de acordo com o saber e o mérito. Avaliando os resultados. Tem faltado aptidão para governar. É necessário agirmos sim, não apressadamente, mas com sabedoria, talento, ponderação, competência e muita determinação.

Lisboa, 30 de Junho de 2017

Engenheiro silvicultor, antigo quadro dirigente da Direcção-Geral de Florestas

Alqueva não tem capacidade para fornecer água a todos os sistemas de rega em período de seca


Sistema de captação dos Álamos de onde parte água para o sub-sistema de rega do Alqueva tem capacidade instalada para seis electrobombas mas só duas é que estão a funcionar.

CARLOS DIAS 28 de Junho de 2017, 21:26 Partilhar notícia


O período de seca que está a afectar toda a região Alentejo, aliado à publicação tardia do novo tarifário que estabelece o preço da água destinado a rega em Alqueva, acabou por provocar inesperadas dificuldades no fornecimento de caudais. Pressionadas pelos baixos níveis de armazenamento na maioria das albufeiras que servem os 12 blocos de rega do sub-sistema Alqueva, (71 mil hectares), as associações de regantes, assim que foi anunciado o novo tarifário da água, solicitaram os volumes de água de que tinham necessidade para as culturas Primavera/Verão. E de repente a Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas dos Alqueva (EDIA) foi confrontada com um volumoso pedido de água a que não está conseguir responder.

Manuel dos Reis, presidente da Associação de Beneficiários da Obra de Rega de Odivelas (ABORO), disse ao PÚBLICO que a EDIA se comprometeu com programa de transferências de água da albufeira de Alqueva e Alvito para Odivelas, acordado entre as duas entidades para 2017, mas que "não está a ser cumprido". Esta situação "é preocupante" uma vez que põe em causa o fornecimento de água pela associação aos regantes, nos próximos meses de Julho e Agosto, afectando cerca de 9000 hectares de culturas neste perímetro de rega, referiu Manuel dos Reis, frisando que "neste momento está a sair mais água para a rega que aquela que entra enviada pela EDIA", acusando este entidade de "má gestão".

As razões desta situação anómala, descreve o presidente da ABORO, "deve-se ao facto de só estarem duas electrobombas a captar água" quando a capacidade instalada é para seis.

Capacidade insuficiente
O presidente da EDIA, Pedro Salema, adiantou ao PÚBLICO que, de facto, "não é possível abastecer o sistema de rega em simultâneo e em período de seca", confirmando que a estação de captação dos Álamos, de onde é bombada a água para irrigar os 71 mil hectares do sub-sistema Alqueva, "só tem em funcionamento duas electrobombas" que se revelam insuficientes para fornecer em "simultâneo" a água que é solicitada.

Pedro Salema acrescenta que a EDIA já abriu um concurso internacional para o fornecimento de mais duas electrombas, que só serão entregues dentro de dois anos e vão custar, os dois equipamentos, 13 milhões de euros. "Até lá, vamos ter que viver com duas", adiantou. O presidente da EDIA recusa a acusação de Manuel dos Reis, garantindo que "não há má gestão" do sistema de rega mas "não se pode esperar milagres" quando "toda a gente pede água ao mesmo tempo". A estrutura de fornecimento do sistema "não foi pensada para fornecer a água toda ao mesmo tempo", admite o presidente da EDIA, lembrando o articulado do despacho que fixa o novo tarifário onde se apela às associações de regantes para pedir água "atempadamente".

Acontece que os agricultores a solicitaram quando poderiam fazê-lo. Por exemplo, a ABORO apresentou o pedido a 19 de Abril (oito dias após a publicação do despacho) e pretendia ter toda a água de que necessitava, na barragem de Odivelas, até ao final do mês de Maio, um pedido que a EDIA considerou impossível de satisfazer. Ficou acordado que a entidade fornecedora debitaria 7,5 hectómetros cúbicos por mês entre Abril e Julho. Mas Manuel dos Reis alega que não está a entrar na albufeira a água que foi acordada. Pedro Salema contrapõe que no último mês foram enviados 7,1 hectómetros. Para a associação, a situação que se vive é "muito preocupante".

Apesar da redução do preço da água, os agricultores consideram que este ainda está elevado, obrigando-os a reduzir áreas de cultivo ou a optar por culturas que exijam menos água.

Manuel dos Reis descreve também o que se passa nos blocos de rega de Campilhas e Alto Sado, onde os produtores de arroz "deixaram de cultivar uma área significativa" por causa do custo da água.


Entretanto, a Federação das Associações de Agricultores do Baixo Alentejo (FAABA), em comunicado enviado ao PÚBLICO na tarde desta quarta-feira, refere que já enviou ao ministro da Agricultura, Pescas e Desenvolvimento Rural uma carta alertando para a necessidade de implementação de "medidas imediatas" que possam "contrariar os impactos negativos da seca prolongada que já se estão a fazer sentir por todo o Alentejo".

Aquela organização representativa das associações de agricultores garante que o esgotamento das reservas hídricas no Alentejo "são visíveis e muito preocupantes", afectando as culturas de sequeiro, como os cereais, as oleaginosas, as pastagens e forragens, os sistemas de abeberamento dos efectivos pecuários e o regadio. A situação que se está a viver exige a aplicação "urgente" de medidas de apoio para "abeberamento dos animais, através da abertura de furos, construção de charcas, aquisição de cisternas, e instalação de bombagens", assinala a FAABA.

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Engenharia Florestal é formação em vias de extinção


Almerinda Romeira
 Ontem 19:00
Em Portugal há três cursos na área da Engenharia Florestal, mas muitas vagas ficam às moscas. Num país de floresta mal gerida, corre-se o risco de, no futuro, não haver quadros qualificados. Outra tragédia que se anuncia?


Há três escolas em Portugal onde se pode estudar Engenharia Florestal ou equivalente. E até estão bem distribuídas na geografia: Instituto Superior de Agronomia, da Universidade de Lisboa, na capital; Escola Superior Agrária, que se insere no Instituto Politécnico de Coimbra, no centro do país; e Universidade de Trás-Os-Montes e Alto Douro (UTAD), no Norte. Os professores e investigadores são, regra geral, de qualidade, como de qualidade é o conhecimento aí produzido. E os alunos? "A procura dos alunos é inexplicavelmente baixa", refere Domingos Lopes, diretor do departamento de Ciências Florestais e Arquitetura Paisagista da UTAD ao Jornal Económico. Em setembro de 2016, um artigo do jornal Público punha o dedo na ferida. Num país de florestas, apenas 23 alunos escolheram Engenharia Florestal. A UTAD, em Vila Real, no nordeste do país, é a mais penalizada. Aí resiste-se à aridez da procura tentando manter vivo um curso que se considera fundamental para o futuro da região e do país.

O desinteresse dos jovens é tanto mais difícil de entender quanto vai na razão inversa à da importância que a floresta tem para o país. Às suas funções de pulmão para a biodiversidade e para a conservação do solo e da água, a floresta junta a riqueza que lhe é inerente: madeira, resina… A floresta é o petróleo de Portugal. O petróleo verde, como se costuma dizer. "Em muito poucos momentos, a floresta foi realmente vista como o recurso natural que é", diz Domingos Lopes, fundamentando: "É essencial perceber não só o que é, mas também o que pode vir a ser e o que se perde se não a soubermos gerir bem".

O potencial económico da floresta é tremendo, salienta. Basta olhar para o exemplo da cortiça e até para o da fileira do papel. Embora salvaguardando que toda a monocultura é indesejável na perspetiva da prevenção de incêndios, há no setor do papel "um conhecimento aplicado, engenheiros florestais a trabalhar, um acompanhamento que "nos deveria obrigar a refletir sobre as consequências da boa gestão e de como esta pode gerar rendimento, que não pode ser apenas explicado pelo mais baixo período de revolução da espécie".

Afinal, por que razão fogem os jovens da Engenharia Florestal? "Ainda não conseguimos imprimir a esta fileira a necessária dinâmica económica e ecológica… A fileira ainda não conseguiu ser suficientemente dinâmica para mostrar todo o seu potencial", afirma Domingos Lopes. A questão é estrutural e é nessa perspetiva que tem que ser colocada. Que futuro queremos para Portugal? O que vamos fazer do interior desabitado e envelhecido? Só uma verdadeira política para a floresta evitará o colapso futuro. "Todos os engenheiros florestais serão necessários. Ao ritmo a que os estamos a formar não serão suficientes", diz Domingos Lopes, que vê na falta de qualificações um handicap ao desenvolvimento.

Qual é a empregabilidade dos cursos? Onde se trabalha? Quando Domingos Lopes se formou há uma vintena de anos, também na UTAD, o Estado era o principal empregador. Desde então, muita coisa mudou. Hoje são sobretudo gabinetes técnico-florestais, estruturas de prevenção de incêndios, associações de produtores florestais, microempresas da indústria da madeira. "Há sempre saídas", diz. Diferente é saber se são bem remuneradas. "Temos de tudo. No geral, não penso que seja muito diferente de qualquer jovem que se forme hoje em dia".

Além da licenciatura, a UTAD ministra um mestrado em Engenharia Florestal. Tem uma disciplina que, para o professor, é "a disciplina": Ordenamento Florestal. Silvicultura pura. "O conhecimento está próximo de nós. Muitas vezes não o sabemos é ver", sublinha. Porém, quem tem responsabilidades no país tem a obrigação de o procurar.


quinta-feira, 29 de junho de 2017

Ministro da Agricultura quer região Centro como "laboratório" da reforma da floresta

28 jun 2017 13:32

O ministro da Agricultura defendeu hoje, no parlamento, que os concelhos da região Centro afetados pelos incêndios sejam um "laboratório" da reforma da floresta para mostrar o resultado, a prazo, dos objetivos do Governo.

 
Apesar de a propriedade dos concelhos ser privada, pelo que "qualquer intervenção deverá contar com os principais interessados", o ministro Luís Capoulas Santos acredita que "esta tragédia deveria e poderia levar a iniciar a reforma da floresta precisamente naqueles municípios".

"Não sendo a reforma [da floresta] visível de imediato à escala nacional, se concentramos todas estas medidas, de forma antecipada, naquele território e transformá-lo num laboratório daquilo que a prazo pode ser a floresta portuguesa bem gerida e bem ordenada", afirmou aos deputados da Comissão da Agricultura e do Mar da Assembleia da República.

O ministro da Agricultura garantiu ainda estarem a ser dadas ajudas aos agricultores afetados pelos incêndios registados no Centro do país, pormenorizando os apoios dados na alimentação animal.

"É com muita satisfação que estamos a coordenar a logística da distribuição dos alimentos para os animais, que na sua maioria foram doados por organizações de agricultores, produtores de leite e 16 empresas agroalimentares, que ofereceram várias dezenas de toneladas de rações", afirmou o governante na comissão parlamentar de Agricultura.

Capoulas Santos acrescentou que o seu ministério integrou a lista de doadores, através da Companhia das Lezírias, tendo disponibilizado até agora 90 toneladas de alimentos para "acudir aos primeiros dias".

"Sei que o ministério da Administração Interna está também a preparar, a exemplo do que fizemos no ano passado, um conjunto de medidas para dar apoio financeiro para alimentação animal, porque desde esta data até que venham as primeiras chuvas não existirão pastagens no terreno", explicou.

Aos deputados, Capoulas Santos referiu ainda que o apoio passará também pela recuperação do potencial produtivo, referindo a possibilidade de alocação a fundos perdidos para pagar entre 50% a 80% do valor dos bens e equipamentos perdidos.

O governante admitiu ainda que possam ser mobilizados recursos extraordinários do Orçamento de Estado.

Luís Capoulas Santos criticou ainda quem procura utilizar as consequências dos incêndios da região centro em "benefício próprio".

"Neste momento quem usar a tática política, quem procurar utilizar este tema em benefício próprio vai-lhe suceder exatamente o contrário, como o triste episódio protagonizado pelo líder do seu partido [o líder do PSD, Pedro Passos Coelho]", afirmou o governante, numa resposta ao deputado social-democrata Maurício Marques.

Na comissão parlamentar de Agricultura e do Mar, Capoulas Santos começou por defender que nas "questões vitais para o país exige-se a todos os decisores políticos que façam um esforço", como o Governo está a fazer e a "dialogar com todos sem procurar 'fait-divers'".

O ministro da Agricultura disse estar disponível para "acolher todas as propostas", que no caso do PSD "foram zero". "Vou recusar neste debate e em qualquer outro que politizemos ou que partidarizemos este tema e a recomendação que faria é: vamos todos discutir a floresta, vamos discutir as propostas e o que faz falta", instou.

Na resposta a estas palavras, Maurício Marques referiu que "não entraria no estado de espírito" do ministro e solicitou uma "discussão séria". "É isso que estamos fazer, contrariamente ao senhor ministro, que está a dizer que a colaboração e prestação do meu partido foi zero, mas entrou neste parlamento uma proposta subscrita pelo PSD e CDS-PP para uma das reformas que está hoje em discussão: o sistema nacional de informação cadastral", sublinhou.

Na segunda-feira de manhã, após uma visita ao quartel dos bombeiros de Castanheira de Pera, distrito de Leiria, o presidente do PSD acusou o Estado de falhar no apoio psicológico às vítimas do incêndio de Pedrógão Grande, dizendo ter tido conhecimento de que um suicídio ocorreu por falta desse apoio. No final desse dia, Passos Coelho pediu desculpas por ter usado "informação não confirmada" ao falar num suicídio, depois desmentido, e o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Pedrógão Grande, João Marques, assumiu ter dado uma informação errada ao líder social-democrata sobre um alegado suicídio na sequência dos incêndios.

Os incêndios que deflagraram na região Centro no dia 17, e que demoraram uma semana a serem extintos, provocaram 64 mortos e mais de 200 feridos. Mais de dois mil operacionais estiveram envolvidos no combate às chamas, que consumiram 53 mil hectares de floresta, o equivalente a cerca de 75 mil campos de futebol.

A área destruída por estes incêndios - iniciados em Pedrógão Grande, no distrito de Leira, e em Góis, no distrito de Coimbra - corresponde a praticamente um terço da área ardida em Portugal em 2016, que totalizou 154.944 hectares, segundo o Relatório Anual de Segurança Interna divulgado pelo Governo em março.

Das vítimas do incêndio que começou em Pedrógão Grande, pelo menos 47 morreram na Estrada Nacional 236.1, entre Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, concelhos também atingidos pelas chamas.

O fogo chegou ainda aos distritos de Castelo Branco, através da Sertã, e de Coimbra, pela Pampilhosa da Serra. O incêndio de Góis atingiu ainda Arganil e Pampilhosa da Serra, sem fazer vítimas mortais.

Capoulas Santos garante que agricultores afectados pelos incêndios estão a ser ajudados

O ministro da Agricultura garantiu no Parlamento estarem a ser dadas ajudas aos agricultores afetacdos pelos incêndios registados no Centro do país, nomeadamente com apoios dados na alimentação animal.

28 de junho de 2017 às 13:47

"É com muita satisfação que estamos a coordenar a logística da distribuição dos alimentos para os animais, que na sua maioria foram doados por organizações de agricultores, produtores de leite e 16 empresas agroalimentares, que ofereceram várias dezenas de toneladas de rações", afirmou esta quarta-feira, 28 de Junho, Capoulas Santos na comissão parlamentar de Agricultura.
 
O ministro acrescentou que o seu ministério integrou a lista de doadores, através da Companhia das Lezírias, tendo disponibilizado até agora 90 toneladas de alimentos para "acudir aos primeiros dias".
 
"Sei que o ministério da Administração Interna está também a preparar, a exemplo do que fizemos no ano passado, um conjunto de medidas para dar apoio financeiro para alimentação animal, porque desde esta data até que venham as primeiras chuvas não existirão pastagens no terreno", explicou.
 
Aos deputados, Capoulas Santos referiu ainda que o apoio passará também pela recuperação do potencial produtivo, referindo a possibilidade de alocação a fundos perdidos para pagar entre 50% a 80% do valor dos bens e equipamentos perdidos. O governante admitiu ainda que possam ser mobilizados recursos extraordinários do Orçamento de Estado.
 
Os incêndios que deflagraram na região Centro no dia 17, e que demoraram uma semana a serem extintos, provocaram 64 mortos e mais de 200 feridos. As chamas consumiram 53 mil hectares de floresta, o equivalente a cerca de 75 mil campos de futebol.
 
A área destruída por estes incêndios - iniciados em Pedrógão Grande, no distrito de Leira, e em Góis, no distrito de Coimbra, - corresponde a praticamente um terço da área ardida em Portugal em 2016, que totalizou 154.944 hectares, segundo o Relatório Anual de Segurança Interna divulgado pelo Governo em Março.

ASAE apreende leite com água oxigenada para fabrico de queijo


MARKO DJURICA/ REUTERS (ARQUIVO)

 29.06.2017 12h45

A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) apreendeu leite com água oxigenada, destinado ao fabrico de queijo. As investigações decorreram nos últimos dois meses e foram dirigidas a vários produtores de leite. As investigações iniciaram-se com a deteção de uma viatura para transporte do leite sem qualquer sistema de refrigeração.

As análises realizadas às amostras ao leite revelaram adição de água oxigenada. As autoridades suspeitam que estaria a ser utilizada para ocultar a má qualidade higiénica do leite, em vez da utilização de refrigeração, facto confirmado pela temperatura medida no momento das inspeções.

De acordo com o comunicado da ASAE, como resultado da ação "foi instaurado um processo por suspeita de crime contra a genuinidade, qualidade ou composição de géneros alimentícios, em concurso com infrações de natureza contraordenacional, nomeadamente o incumprimento dos requisitos de temperatura durante o processo de produção, recolha e transporte de leite cru e a falta de requisitos de higiene do leite".

As investigações da ASAE levaram também à apreensão de 830 litros de leite cru e 40 litros de água oxigenada, num valor que ronda os 800 euros. 

Alimentos vendidos como biológicos tinham afinal pesticidas proibidos e químicos tóxicos


Revista Visão mandou analisar 113 produtos. Um em cada cinco estavam contaminados.

CATARINA REIS 29 de Junho de 2017, 13:20 Partilhar notícia

"Nem tudo o que parece é", diz o velho ditado e poderia aplicar-se agora a uma investigação sobre produtos biológicos, divulgado pela revista Visão. A revista testou 113 alimentos rotulados como biológicos em laboratório. Quase um em cada cinco, ou seja 20% dessa amostra, continha vestígios de pesticidas sintéticos proibidos e outros químicos tóxicos. Entre eles, uma substância que a Agência Internacional de Pesquisa em Cancro da Organização Mundial de Saúde acredita ser "provavelmente cancerígeno", o glifosato.

O presidente da Associação Portuguesa de Agricultura Biológica, Jaime Ferreira, disse à Lusa estar surpreendido com os resultados e que, a confirmarem-se, se está perante "um caso de saúde pública". Entre a lista de alimentos analisados encontram-se produtos como arroz, esparguete, óleo de girassol, fruta e vinho. A maioria de origem ou de marcas portuguesas. Alguns apresentavam níveis de vestígios 12 vezes acima daquilo que é permitido por lei. "Estamos a falar de um assunto tão sério que terá de ser verificado por outras instâncias a veracidade do trabalho feito", frisa o mesmo responsável, defendendo a intervenção das autoridades face à investigação realizada.

A luta da Monsanto para defender o glifosato
A luta da Monsanto para defender o glifosato
Frescos, embalados, nacionais e estrangeiros, comprados em diferentes lojas. Vinte e um dos produtos analisados pelo Labiagro, um laboratório acreditado e independente de controlo de qualidade e segurança alimentar, continham químicos de síntese, 17 dos quais com pesticidas excluídos da lista de produtos permitidos na agricultura biológica — na qual o cultivo só é feito com recurso a produtos naturais, normalmente extraídos de plantas.

A investigação determinou também que muitos dos produtos encontrados em lojas e secções de venda biológica não continham o selo "bio", mas etiquetas com designações como "natural", "saudável" e "eco", que em nada estão relacionadas com a agricultura biológica.

O laboratório encontrou ainda butóxido de piperonilo em quatro destes 17 alimentos, um químico frequentemente utilizado em champôs antipiolho e, assim como o glifosato, considerado "possivelmente cancerígeno" pela Agência de Protecção Ambiental dos EUA.


Apesar das suspeitas e queixas em torno do glifosato, a Comissão Europeia vai propor o alargamento por mais dez anos da autorização do uso de glifosato, encontrado em herbicidas de aplicação corrente como o RoundUp, da empresa Monsanto, depois de a Agência Europeia de Produtos Químicos ter considerado que o glifosato não era cancerígeno. Uma conclusão que é contestada pela associação portuguesa Quercus.

LER MAIS
Comissão Europeia quer renovar a licença do glifosato por mais dez anos
Agência europeia diz que glifosato não é cancerígeno. Quercus contesta
O caso controverso do glifosato
Toma, glifosato
Em Portugal, os ambientalistas querem ver a substância banida. E do lado do Governo, houve uma iniciativa, em Dezembro de 2016 para proibir a utilização do glifosato em locais públicos como "jardins infantis, jardins e parques urbanos de proximidade e nos parques de campismo", mas também "nos hospitais e noutros locais de prestação de cuidados de saúde ou lares e residências para idosos", nas escolas e estabelecimentos de ensino, sendo a excepção os dedicados às ciências agrárias.

A Visão sustenta que fez o primeiro estudo independente desta dimensão em Portugal sobre alimentos biológicos.

Incêndios, eucaliptos ou a ignorância e arrogância do Bloco (e do dr. Louçã)

José Manuel Fernandes

28/6/2017, 21:34700

A obsessão do Bloco com o eucalipto não é uma preocupação com a floresta, é só preconceito e ignorância. Mais: sem o contributo do eucalipto dificilmente teremos recursos para recuperar o mundo rural.

Ainda antes de escrever a primeira linha deste texto já sei do que vou ser acusado – até já estou a ver as frases que encherão as caixas de comentários, onde serei de imediato condenado como um miserável avençado das empresas de celuloses. É isso que dita a habitual arrogância moral da esquerda e, sobretudo, da extrema-esquerda, aquela que dispara antes de pensar e insulta em vez de debater.

E sei muito bem porque é que isso vai acontecer: porque vou contrariar a ideia feita de que os grandes males da floresta portuguesa são todos obra da sua "eucaliptização". Depois da tragédia de Pedrógão Grande, esclarece o sumo sacerdote e eterno ideólogo do Bloco, o prioritário não é determinar como foi possível um tal colapso do Estado na sua primeira missão de protecção dos cidadãos, nem apurar responsabilidades políticas, nem sequer tentar perceber, no terreno, como possível que o fogo se propagasse tão depressar nalguns terrenos ao mesmo tempo que deixava, aqui e além, umas manchas verdes. Para Francisco Louçã a "agenda do rescaldo" nunca passa por pedir contas a quem nos governa, antes por condenar quem está na oposição e, sobretudo, por "ter cuidado" com "as empresas do eucalipto" que estarão "a mover-se para proteger o seu baú".

Como? Na cabeça conspirativa do nóvel conselheiro de Estado essas empresas irão aproveitar "a necessidade de posse administrativa dos terrenos abandonados para um movimento de concentração da propriedade, à espera de um novo governo que lhes favoreça a eucaliptização". Por isso, acrescenta, é preciso pois ter cuidado com os "eucaliptocratas", razão pela qual não há dirigente, deputado ou bota-faladura do Bloco que não fale do eucalipto mesmo sem saber daquilo que fala.

Infelizmente fazem-no em terreno fértil: primeiro, porque as empresas de celulose são ricas e dão lucro, e isso é pecado em Portugal; depois porque o eucalipto tem, sempre teve, muito má imprensa – às vezes com razão, outras sem ela. Quando a Catarina ou uma das manas Mortágua investe contra a chamada eucaliptolândia, os jornalistas que seguram os microfones quase acenam com as cabeças e depressa se esquecem de confrontar a sua doçura de hoje (quando morreram 64 pessoas num incêndio florestal) com a lendária agressividade dos tempos em que até as suas unhas encravadas eram culpa de Passos Coelho.

Infelizmente, acrescento ainda, porque o ministro da Agricultura, Capoulas Santos, também cede à demagogia e ainda agora prometeu no Parlamento que "não haverá mais um único hectare de eucalipto em Portugal".

Mas adiante, que o que conta é que o Bloco cavalga um preconceito – que é também o preconceito de muito renomado comentador, acrescente-se – e fala sem saber, o que não seria grave se a sua nova cruzada não pudesse ter como consequência uma floresta ainda mais miserável do que aquela que temos. Por isso, muito devagarinho e da forma mais didática possível, deixem-me explicar porque é que investir contra os alegados "eucaliptocratas" não é tão inocente e pueril como investir contra os moinhos de vento do Quixote. Bem pelo contrário.

Comecemos pelo princípio: se todos estamos de acordo que na origem da tragédia de Pedrógão Grande está uma floresta mal ordenada e mal tratada num território desertificado, a questão que temos de colocar é dupla: como contrariar a desertificação e como tornar a floresta uma fonte de riqueza capaz de ajudar à fixação de populações que a cuidem e tratem.

A resposta dos ignorantes é que terras como as de Pedrógão Grande estão desertificadas porque foram abandonadas ao eucalipto (alguns, menos cegos, talvez acrescentem que também foram abandonadas ao pinheiro-bravo), mas essa é uma resposta errada. Não só o abandono começou muito antes da chegada das grandes plantações de eucalipto, como para muitos do que ainda aí residem em meio rural o rendimento que tiram do eucalipto é dos poucos que lhes sobram. Tal como é o rendimento do pinheiro-bravo, de que vendem a madeira e de que ainda exploram a resina (cada vez menos).

E porque é que as pessoas plantam eucaliptos? Afinal nos três concelhos inicialmente afectados não há plantações das empresas de celulose (há uma quinta da Altri na região, mas é já no concelho de Góis). Há várias razões. Primeiro, o retorno do investimento no eucalipto é mais rápido: em oito a dez anos é possível cortar e vender as árvores. O rendimento é mais baixo do que o do pinheiro, mas quando estamos em áreas onde as florestas ardem de 12 em 12 ou de 15 em 15 anos (o tempo necessário para se acumular o material combustível que as transformam em barris de pólvora), o investimento também é mais seguro: é cada vez mais raro ver um pinhal crescer até aos 25 anos, idade boa para um corte.

Por outras palavras: não é necessário que os "abutres das celuloses" andem a rondar para as populações plantarem eucaliptos, às vezes a par com pinheiros, às vezes em todos os hectares disponíveis. Se quisermos que mudem de comportamento temos de encontrar os incentivos correctos, mas não se imagine que o Estado seria melhor proprietário e gestor, pois não é raro encontrarmos terremos públicos ao abandono (bem pelo contrário).

Mais: se conhecermos o terreno saberemos que as áreas melhor tratadas são, por regra, as que são geridas pelas empresas de celuloses. E com resultados, pois raramente ardem, quando ardem é sobretudo porque sofrem o impacto de fogos vindos de terrenos contíguos e, mesmo assim, registam uma relação área plantada/área ardida de 0,3%, cerca de dez vezes mais baixa à registada na média nacional se considerarmos apenas os povoamentos florestais.

Isto acontece porque nessas florestas "das celuloses" (e apenas um quinto das plantações de eucalipto pertencem directamente a essas empresas) se trabalha no Inverno e na Primavera para prevenir os fogos de Verão, porque há zonas de descontinuidade e porque há corpos profissionais de bombeiros que conhecem o terreno e sabem exactamente onde podem parar um fogo. Ainda agora neste grande incêndio vimos os bombeiros à espera do fogo nas estradas ou na protecção das aldeias, enquanto as equipas da única empresa afectada estavam na floresta, curiosamente apoiados pelos bombeiros galegos que estavam encostados e sem fazer nada porque, como disse a ministra, não havia missão para lhes entregar. Resultado: dos 600 hectares de plantação da Altri em Góis (400 de eucalipto, 200 de pinheiro), apenas arderam 14.

E só mais uma nota: quem já esteve no terreno depois do incêndio notou (e eu já vi as fotografias) que entre as raras manchas verdes que resistiram numa paisagem totalmente negra estão algumas plantações recentes de eucaliptos. Estranho? Não se pensarmos que nesses terrenos há menos combustível acumulado e houve cuidado para que as árvores novos pudessem crescer.

Servem estes exemplos apenas para sublinhar um ponto: nunca conseguiremos reformar, reordenar e tratar a floresta portuguesa se quisermos destruir, ou mesmo apenas diabolizar, a única fileira florestal integrada e a que gera mais dinheiro e recursos. Ou seja, necessitamos do eucalipto e das suas receitas não apenas para que não desapareça totalmente a economia do interior despovoado, como necessitamos dos recursos que a exploração do eucalipto pode gerar para investir noutro tipo de floresta.

E escrevo tudo isto sem nenhuma espécie de simpatia pelo eucalipto, espécie que importámos da Austrália e me é estranha – escrevo-o antes na convicção de que sem esses recursos o que está abandonado mais abandonado ficará, e que em vez de eucaliptos e pinheiros veremos as nossas serras cobertas pela pior das espécies invasoras, as acácias, que não só alimentam o fogo como se alimentam dele.

Claro que tudo isto faz imensa confusão ao Bloco e deve fazer ainda mais confusão ao dr. Louçã, pois significa envolver empresas, e empresas grandes, e empresas que exportam, e empresas que dão lucro e criam emprego. Porém se escutarmos as poucas vozes sensatas que ainda se vão ouvindo no meio de toda esta vozearia até encontramos algumas sugestões inteligentes sobre como isso poderia ser feito.

Foi isso mesmo que encontrei num post de um especialista, Henrique Pereira dos Santos, em que este cita um responsável florestal da Altri, o holandês Henk Feith, que alvitra algo que me pareceu bastante sensato: a criação de "créditos de biodiversidade". A sua ideia é que o plantio e exploração de espécies "comerciais" – como o eucalipto, mas também como o pinheiro-bravo, o pinheiro-manso e até o sobreiro – suportaria o plantio de espécies nativas "não comerciais". Seria, explica ele, "um pouco como o mercado de carbono, mas para floresta nativa. Uma fábrica que emite CO2 tem de comprar créditos de carbono; uma floresta comercial pode ter de comprar créditos de floresta de conservação. Quem planta 10 hectares de floresta de produção tem de ter ou financiar um hectare de floresta de conservação. Assim, o investimento florestal impulsiona a conservação da floresta. Em vez de proibir, promove-se o equilíbrio."

É viável? Não vejo porque não. E o que sei é que o proibicionismo cego dos "eucaliptofobos" não resolve problema nenhum, antes se arrisca a agravar ainda mais os que já temos. Escrevo sobre fogos e floresta há mais de 30 anos, cheguei a percorrer o país com a intenção de demonstrar os males do eucalipto (uma das minhas derradeiras investigações para o Expresso, no longínquo ano de 1989), nunca recebi um tostão de qualquer empresa de celuloses (esta deixo aqui só para os que estão a espumar desde o primeiro parágrafo), mas prefiro o conhecimento ao preconceito. E, até porque não ando à cata de votos fáceis, não entro em demagogias. Não posso dizer o mesmo das carinhas larocas do Bloco, e até peço desculpa a Jerónimo de Sousa por assim o citar.

Investigadores anunciam nova categoria de vinho "Pinking"


PUB
Uma investigação com origem na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) identificou uma categoria de vinho "nova" e "única no mundo", o "Pinking", que tem pedido de patente registada, anunciou hoje a academia transmontana.

Segundo explicou a UTAD, localizada em Vila Real, o "Pinking" teve origem num trabalho de investigação de mestrado em Enologia, tem já um pedido de patente nacional e internacional e vai ser lançado pela Adega Cooperativa de Figueira de Castelo Rodrigo a 07 de julho.

"O que se pensou inicialmente ser um defeito de produção, afinal deu origem a uma nova categoria de vinho única no mundo", afirmou, em comunicado, Jenny Silva, enóloga da Adega Cooperativa de Figueira de Castelo Rodrigo.

Foi esta especialista que, em 2014, como estudante de mestrado de Enologia na UTAD, identificou o fenómeno "Pinking" em conjunto com Fernando Nunes e Fernanda Cosme, docentes e investigadores do Centro de Química da UTAD.

Trata-se, de acordo com Fernando Nunes, de um "defeito" historicamente conhecido pelo processo de "aparecimento de uma cor rosa-salmão em vinhos produzidos exclusivamente de uvas de castas brancas".

"É um processo natural e está relacionado com as condições climáticas, nomeadamente a temperatura média dos dez primeiros dias do mês de outubro, processo coincidente com o final de maturação das uvas brancas nesta região", explicou.

São precisamente estas condições que tornam, segundo o investigador, esta categoria de vinho "tão rara e passível de não poder ser produzida todos os anos, já que, em caso de temperaturas médias altas ou pluviosidade neste período, o fenómeno não ocorre ou ocorre em menor escala".

Esta "nova categoria de vinho", que adotou o nome do fenómeno, vai ser lançada a 07 de julho pela Adega Cooperativa Figueira de Castelo Rodrigo, que entretanto adquiriu a patente à UTAD, e tem precisamente como enóloga responsável Jenny Silva.

O vinho Castelo Rodrigo Pinking 2016 é um DOC, exclusivamente vinificado a partir da casta branca Síria, a casta de eleição na Região Demarcada da Beira Interior, apresentando "aroma frutado e boca equilibrada com final harmonioso".

Esta cooperativa estava confrontada com um problema comum naquela região, a cor rosada do vinho branco, cujo tratamento implicava um processo de estabilização associado a elevados custos, e, por isso, deu "luz verde" à UTAD para estudar e identificar a base daquela instabilidade.

O processo foi publicado na revista científica internacional "Journal of Agricultural and Food Chemistry" e, segundo a UTAD, está a despertar o interesse de produtores italianos, confrontados com o mesmo problema.

"No fundo transformámos um defeito numa nova categoria de vinhos, que irá para o mercado a par dos Brancos, Tintos e Rosés", concluiu a enóloga.

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Associações querem responsabilidade criminal para quem não cumpre lei da floresta

28/6/2017, 15:10

A Quercus e a Acréscimo consideram que o problema dos fogos se deve à falta de vontade política dos governos para ações práticas e defendem a responsabilidade criminal para quem não cumpre a lei.

"A expansão de culturas lenhosas em regime de monocultura tem tido impactos desastrosos no território e nas populações", alertam a Quercus e a Acréscimo
PAULO NOVAIS/LUSA


A Quercus e a Acréscimo consideram que o problema dos fogos florestais se deve à falta de vontade política dos governos para ações práticas e defendem a responsabilidade criminal para quem não cumpre a lei da defesa das florestas contra incêndios.

O problema dos fogos florestais em Portugal persiste por não ter havido ainda vontade política por parte dos sucessivos governos em implementar ações práticas e eficazes e cuja necessidade é consensual na sociedade portuguesa", apontam as duas associações, em comunicado divulgado esta quarta-feira.
A associação de defesa do ambiente Quercus e a Acréscimo – Associação de Promoção ao Investimento Florestal listaram 12 medidas que vão apresentar na Assembleia da República e pedem que sejam concretizadas com urgência.

As medidas incluem alterações à legislação de Defesa da Floresta Contra Incêndios (DFCI), instrumentos de ordenamento do território "fáceis de cumprir", ações de reestruturação fundiária e regras relacionadas com o licenciamento industrial e mercados.

As associações apontam que a legislação portuguesa de DFCI "é bastante completa e poderia, se fosse cumprida, ser um fator importante com implicações na redução de combustíveis", o que seria "relevante" para a diminuição de frequência de fogos de grande dimensão e intensidade.

As duas entidades propõem a atribuição de responsabilidades cíveis e criminais a quem não a cumpra e a quem não a faça cumprir e lembram que "o combate à ilegalidade é um imperativo nacional, também no que respeita à floresta, e o país não pode mais deixar impunes quem coloca comunidades inteiras em risco de vida".

Na lista está a criação de instrumentos de ordenamento do território fáceis de cumprir para "combater a predominância das monoculturas florestais e de modo a quebrar o círculo vicioso de expansão do eucalipto".

Aliás, defendem mesmo a "proibição total de novas áreas com plantações de espécies de rápido crescimento, em particular de eucalipto" e a responsabilização criminal de quem faça ações de arborização ou rearborização sem licença.

Para a Quercus e a Acréscimo deve ser obrigatória a plantação de plantas folhosas pouco combustíveis ao longo da rede viária, tanto municipal, como nacional, numa faixa de, pelo menos, 20 metros de cada lado.

Defendem que as manchas de folhosas autóctones pouco combustíveis e a vegetação ribeirinha devem ter proteção legal ao mesmo tempo que apontam a obrigatoriedade de licenciamento para todas as arborizações, com parecer vinculativo da autarquia, tornando obrigatório que 20% da área seja de folhosas.

As associações querem que seja igualmente obrigatório o emparcelamento florestal, promovido pela Administração Central, em algumas freguesias, podendo ter incentivos à instalação de culturas florestais, para madeira ou fruto, que não o eucalipto.

"Ampliar o património florestal público no interior de áreas protegidas e classificadas, através de compras e/ou expropriações", para garantir a segurança ou em locais com ecossistemas florestais relevantes para a conservação da biodiversidade é outra das propostas.

Para aquelas entidades também é necessária a criação de um sistema de rastreio à comercialização de materiais de reprodução florestal para permitir uma fiscalização eficiente quanto ao seu destino final.

"A expansão de culturas lenhosas em regime de monocultura tem tido impactos desastrosos no território e nas populações", alertam a Quercus e a Acréscimo, defendendo que os recursos da floresta devem ser geridos de modo sustentável e que todos os cidadãos têm a responsabilidade de conservar a floresta.

terça-feira, 27 de junho de 2017

FAO financia projetos para uso de águas residuais na agricultura em Cabo Verde


A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) vai financiar com cerca de 350 mil euros a execução em Cabo Verde de projetos para o uso de águas residuais na agricultura.

Os projetos-piloto, que beneficiarão os concelhos de Tarrafal de Santiago e São Vicente, visam aumentar a disponibilidade e a qualidade da água usada na agricultura, segundo um protocolo assinado hoje, na cidade da Praia, pelo representante da FAO em Cabo Verde, Rémi Nono Womdim, e pelo ministro da Agricultura e Ambiente, Gilberto Silva.

O ministro da Agricultura e Ambiente, citado pela agência cabo-verdiana de notícias Inforpress, destacou a importância destes projetos num país onde a escassez, obriga a adotar boas políticas de gestão da água.

Gilberto Silva considerou que a gestão da água no arquipélago tem de incluir necessariamente a reutilização das águas tratadas, tendo apontado como exemplo o caso de Israel, um país também marcado pela escassez de água e que utiliza 86% das suas águas residuais tratadas na agricultura.

Por seu turno, o representante da FAO considerou que pelo seu clima tropical seco, uma baixa precipitação média anual (250 mililitros) e com limitações de água doce, Cabo Verde deve socorrer-se de recursos hídricos não convencionais para o desenvolvimento da agricultura.

Rémi Nono Womdim assegurou que as águas residuais, quando bem tratadas, constituem um "recurso valioso e inexplorado" que pode ajudar o país no desenvolvimento da agricultura e da silvicultura.

As três grandes contradições entre os relatórios sobre o SIRESP



O relatório da Proteção Civil e o da empresa que gere o SIRESP contam duas realidades. Não acertam nos factos, nem nas conclusões. Para ANPC houve muitas falhas, para a "SIRESP, SA" correu tudo bem.

Os dois relatórios entregues ao Governo que abordam o desempenho SIRESP no fogo de Pedrógão Grande apresentam contradições entre si. As conclusões e pressupostos apresentados pela empresa SIRESP, SA — que gere o serviço — e a Autoridade Nacional da Proteção Civil, que o utiliza, não coincidem. Um diz que houve falhas no SIRESP, outro diz que não. Um diz que as estações móveis estavam avariadas, outro ignora esse facto. Um diz que a estação por satélite começou a funcionar a uma hora, outro garante que foi noutra. As perguntas são iguais, as respostas, diferentes.

O SIRESP falhou em Pedrógão?
O relatório da Autoridade Nacional da Proteção Civil (ANPC) diz claramente — na resposta enviada ao primeiro-ministro António Costa — que houve falhas na rede SIRESP, pelo menos, durante quatro dias. Ora, no relatório da SIRESP, SA — empresa que gere a rede — diz que "esteve à altura" e que o serviço nunca foi interrompido.

O que disse a ANPC:

Poder-se-á inferir que, desde as 19:45 do dia 17 de junho até ao dia 20 de junho, se verificaram falhas na rede SIRESP no TO (Teatro de Operações). Por forma a minimizar as falhas da rede SIRESP, foram utilizadas as comunicações de redundância, nomeadamente, REPC – Rede Estratégica de Proteção Civil e ROB – Rede Operacional de Bombeiros, conforme se pode constatar na fita do tempo do sistema SADO (Sistema de Apoio à Decisão Operacional)
O que disse a SIRESP SA:

Não houve interrupção no funcionamento da rede SIRESP, nem houve nenhuma Estação Base que tenha ficado fora de serviço em sequência do incêndio"
As estações falharam?
A ANPC referiu que três antenas foram destruídas e que, por isso, pediu o envio de uma estação móvel para o local (com comunicação por satélite). Segundo a SIRESP SA, houve cinco estações que estiveram em "modo local" — quando as comunicações ficam restritas ao teatro de operações –, mas isso não impediu o sistema de funcionar.

O que disse a ANPC:

Entre as 21h12 e as 21h16, a ANPC recebeu três comunicações da SIRESP a dar conta da queda de três sites, a saber, Serra da Lousã, Malhadas e Pampilhosa da Serra, facto este que afetou as comunicações. (…) No dia 18 de junho, às 00h51: além dos sites supra referidos, encontrava-se igualmente inoperacional o site de Pedrógão Grande, ficando na área de intervenção quatro sites SIRESP sem comunicações entre si, facto que alargou a área de inoperacionalidade daquela rede. (…) Às 04h12: O site localizado em Figueiró dos Vinhos ficou inoperacional; Às 09h58: não havia previsão de reposição de linhas devido a corte por incêndio florestal."
O que disse a SIRESP SA:

Das 16 estações base que cobrem a zona de incêndio verificou-se que cinco destas entraram em modo local (LST — Local Site Trunking), em virtude da destruição pelo incêndio, dos cabos de fibra ótica e outros da rede de telecomunicações que asseguram contratualmente a interligação da Rede. (…) [Ainda assim, devido à tecnologia TETRA] mesmo em situações extremas como a que se verificou em Pedrógão Grande, fica demonstrado que a Rede SIRESP funcionou de acordo com arquitetura que foi desenhada para esta rede. Durante o dia 17, primeiro dia do incêndio, as situações de congestionamento não foram significativas, particularmente até às 23h00."
O que se passou com a estação móvel e quando ficou operacional?
De acordo com a ANPC, a estação móvel foi pedida logo às 21h29 do dia 17 de junho, o sábado do grande incêndio, mas só terá entrado em funcionamento no dia seguinte às 18h19, até porque, entretanto, a estação de Pedrógão Grande ficou "operacional" durante a manhã de dia 18 de junho.

Pode haver aqui dois conceitos distintos de "operacionalidade", mas há outra coisa que não bate certo: as horas. A SIRESP, SA diz que a estação móvel começou a funcionar às 09h32 de domingo, dia 18, na zona de Pedrógão. As estações fixas só foram desligadas horas depois (a SIRESP SA faz questão de dizer que "por solicitação da SGMAI", a secretaria-geral do Ministério da Administração Interna).

A ANPC afirma que existiam duas estações móveis: uma estava inoperacional e outra em manutenção. Segundo a ANPC, esta viatura foi alvo de uma ordem de recolha já depois das três da manhã da madrugada de dia 18.

O que disse a ANPC:

Perante isto, às 21h29, a ANPC solicitou à SIRESP a mobilização de duas estações móveis, tendo sido informado que a estação móvel I, pertencente à GNR, se encontrava inoperacional e que a estação móvel 2, pertencente à PSP, se encontrava em reparação na empresa UNIVEX, pelo que, não era possível, no momento, a mobilização da mesma para a zona de Pedrógão Grande.
Às 03h17, a secretaria-geral do MAI solicitou o levantamento da viatura da Estação Móvel 2 SIRESP das instalações da empresa UNIVEX e determinou que a mesma ficasse localização no PCO da ANPC em Pedrógão Grande, com hora prevista de chegada ao TO pelas 05h50.
No dia 19 de junho, às 12h00, a ANPC recebeu por parte do SIRESP a informação de que a estação base de Pedrógão Grande ficou operacional. Verificando-se ainda falhas de cobertura no TO, às 12h04, a ANPC solicitou a deslocação da estação móvel do SIRESP para a zona de Avelar, onde estava instalado o PCO. A estação começou a funcionar em Avelar às 18h19."
O que disse a SIRESP:

Na sequência da decisão do COG/SGMAI de mandar avançar com a Estação Móvel que está a cargo da PSP, foi solicitado à SIRESP, SA o suportetécnico necessário para a sua posterior colocação ao serviço. No dia 18, às 09h32 a Estação Móvel foi colocada em funcionamento na zona de Pedrógão Grande.

Luís Souto Barreiros coordena novo grupo de trabalho de cereais



O engenheiro Luís Souto Barreiros vai coordenar o grupo de trabalho que deverá propor uma "estratégia nacional e o plano de ação para a promoção do desenvolvimento da cultura dos cereais", segundo um despacho publicado hoje em Diário da República.

Segundo o despacho do ministério da Agricultura, a coordenação do grupo pertencerá ao engenheiro Luís Souto Barreiros, em representação do Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP).

Do grupo de trabalho irão ainda fazer parte o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, a Associação Nacional de Produtores de Cereais e a Associação Nacional de Produtores de Milho e Sorgo.

Na base da criação do organismo, está a "acentuada diminuição da produção de cereais que se tem constatado nas últimas décadas", a importância dos cereais na dieta alimentar e o "potencial da produção cerealífera em termos territoriais e o seu papel nos mecanismos de planeamento civil de emergência".


Na lista de justificações estão ainda as "oportunidades acrescidas para a produção cerealífera decorrentes do Plano Nacional de Regadio que o Governo pretende executar até 2020" e a "discussão da futura Política Agrícola Comum (Pós-2020)"

Assim, por "ser urgente identificar os principais estrangulamentos e propor as medidas adequadas, visando inverter a tendência de diminuição da produção", o ministério determinou a criação de um grupo de trabalho para a "promoção da produção nacional de cereais".

No passado dia 10, o ministro da Agricultura, Luís Capoulas Santos, anunciou, em Santarém, a criação de um grupo de trabalho para delinear "uma estratégia e um plano de ação para a recuperação da produção de cereais em Portugal".

Na inauguração da 54.ª Feira Nacional da Agricultura/64.ª Feira do Ribatejo, o governante afirmou haver "um conjunto de constrangimentos naturais, que é necessário ultrapassar", pois o país tem "condições para trabalhar para nichos de mercado de qualidade, de forma muito interessante".

O ministro referiu que o grupo terá um prazo de três meses para apresentação de um primeiro documento de trabalho, que entrará em execução depois de ser aprovado em Conselho de Ministros, adiantou.

Reforma florestal prevê proibição de novas plantações de eucaliptos


O Ministério da Agricultura esclareceu hoje que na proposta de reforma florestal são proibidas novas plantações de eucaliptos, "excepto em áreas de povoamentos já existentes e mediante planos de gestão e ordenamento previamente aprovados".

Reforma florestal prevê proibição de novas plantações de eucaliptos

25 de junho de 2017 às 17:12

Em comunicado, o gabinete do ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural veio hoje esclarecer que "a política florestal do Governo determina que os apoios à florestação ou reflorestação só são concedidos se os projectos estiverem integrados em povoamentos geridos e ordenados".
 
O Ministério sublinha que na proposta de lei remetida pelo Governo à Assembleia da República em Abril "proíbem-se novas plantações de eucaliptos, excepto em áreas de povoamentos já existentes e mediante planos de gestão e ordenamento previamente aprovados, ou em compensação da redução de área desordenada por área ordenada, em dimensão equivalente".
 
Aliás, "foi nesse sentido que, recentemente (12 de Junho), no âmbito da execução do PDR2020 (Programa de Desenvolvimento Rural], o Governo abriu três concursos no montante global de 27 milhões de euros para promover o ordenamento da área existente de eucalipto (nove milhões de euros), para promover ordenamento do pinheiro bravo (nove milhões de euros) e para promover o adensamento e a expansão do montado de sobro e azinho (nove milhões de euros)".
 
Por isso, prossegue o gabinete do ministro Capoulas Santos, "causa estranheza que todas as notícias se refiram exclusivamente ao eucalipto, transmitindo a ideia de que o Govenro se prepara para apoiar novas plantações de eucalipto, ideia que não corresponde minimamente à verdade".
 
"Considera-se igualmente estranho o facto de o mesmo Governo que ao longo do último ano foi permanentemente fustigado na comunicação social por ter aprovado uma proposta legislativa que visa travar a expansão da área de plantação de eucalipto, tal como está previsto no seu programa, tenha passado a ser considerado defensor da plantação de novas áreas de eucaliptos apenas no espaço de uma semana, sem que isso mereça qualquer reflexão por parte dessa mesma comunicação social", critica.
 
No sábado, a coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, afirmou que o partido apoia as linhas de financiamento para ordenamento florestal, contestando que se destine nove milhões de euros para a plantação de eucaliptos.
 
Os incêndios que deflagraram na região Centro, há uma semana, que provocaram 64 mortos e mais de 200 feridos, e só foram dados como extintos no sábado, trouxeram ao debate a reforma florestal do Governo, aprovada em Março em Conselho de Ministros.
 
Mais de dois mil operacionais estiveram envolvidos no combate às chamas, que consumiram 53 mil hectares de floresta, o equivalente a cerca de 75 mil campos de futebol.
 
A área destruída por estes incêndios - iniciados em Pedrógão Grande, no distrito de Leira, e em Góis, no distrito de Coimbra - corresponde a praticamente um terço da área ardida em Portugal em 2016, que totalizou 154.944 hectares, segundo o Relatório Anual de Segurança Interna divulgado pelo Governo em Março.

domingo, 25 de junho de 2017

ESCLARECIMENTO SOBRE ALEGADOS APOIOS À PLANTAÇÃO DE EUCALIPTOS

NOTA À COMUNICAÇÃO SOCIAL


Nos últimos dias a comunicação social tem vindo a transmitir múltiplos comentários sobre alegados apoios a novas plantações de eucaliptos, que importa esclarecer:

1. A política florestal do Governo determina que os apoios à florestação ou reflorestação só são concedidos se os projetos estiverem integrados em povoamentos geridos e ordenados.

2. Na Proposta de Lei que o Governo remeteu em abril à Assembleia da República, proíbem-se novas plantações de eucaliptos, exceto em áreas de povoamentos já existentes e mediante planos de gestão e ordenamento previamente aprovados, ou em compensação da redução de área desordenada por área ordenada, em dimensão equivalente.

3. Foi nesse sentido que, recentemente (12.06.2017), no âmbito da execução do PDR2020 (Programa de Desenvolvimento Rural), o Governo abriu três concursos no montante global de 27 milhões de euros para promover o ordenamento da área existente de eucalipto (9 milhões de euros), para promover ordenamento do pinheiro bravo (9 milhões de euros) e para promover o adensamento e a expansão do Montado de sobro e azinho (9 milhões de euros).

4. Nessa medida, causa estranheza que todas as notícias se refiram exclusivamente ao eucalipto, transmitindo a ideia de que o Governo se prepara para apoiar novas plantações de eucalipto, ideia que não corresponde minimamente à verdade.

5. Considera-se igualmente estranho o facto de o mesmo Governo que ao longo do último ano foi permanentemente fustigado na comunicação social por ter aprovado uma proposta legislativa que visa travar a expansão da área de plantação de eucalipto, tal como está previsto no seu Programa, tenha passado a ser considerado defensor da plantação de novas áreas de eucaliptos apenas no espaço de uma semana, sem que isso mereça qualquer reflexão por parte dessa mesma comunicação social.

Lisboa, 25 de junho de 2017

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, FLORESTAS E DESENVOLVIMENTO RURAL ESTÁ NO TERRENO PARA APOIAR EXPLORAÇÕES PECUÁRIAS AFETADAS PELOS INCÊNDIOS

NOTA À COMUNICAÇÃO SOCIAL

O Ministério da Agricultura está a coordenar a distribuição de alimentação para os animais das zonas afetadas pelos incêndios nos concelhos de Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Góis, Pampilhosa da Serra e Pedrogão Grande.
Em articulação com as Câmaras Municipais, o Ministério procedeu de imediato ao levantamento de necessidades e à identificação dos locais de entrega dos donativos (fardos de palha e feno e alimentos compostos para animais) disponibilizados por diversas entidades representativas do setor agrícola (CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal, IACA – Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais e OMV - Ordem dos Médicos Veterinários e Companhia das Lezírias).
A Companhia das Lezírias e a CAP disponibilizaram já 60 toneladas de fardos de palha e feno, enquanto A IACA disponibilizou 50 toneladas de alimentos compostos, fornecidos por 16 empresas associadas, alimentos que se destinam a animais de produção e também a animais de companhia.
As entregas continuarão a ser efetuadas em função das necessidades dos concelhos, prevendo-se que a Companhia das Lezírias e a CAP venham a disponibilizar a curto prazo mais 90 toneladas de fardos de feno nos concelhos onde se verifiquem as maiores carências neste domínio.
Entretanto, os técnicos do Ministério da Agricultura encontram-se no terreno, a proceder ao levantamento dos prejuízos por forma a que o Governo possa acionar o mais rapidamente possível as medidas de apoio aos agricultores e à floresta que estão ser desencadeadas na sequência da situação de catástrofe verificada no terreno.
NOTA À COMUNICAÇÃO SOCIAL
Os locais de recolha dos bens alimentares para animais são os seguintes:
Pampilhosa da Serra - Estaleiro Municipal
Pedrogão Grande - Armazém /Junta de Freguesia
Gois - ADIBER
Castanheira de Pera - Pavilhão Gimnodesportivo Municipal
Figueiró dos Vinhos - Cooperativa
As empresas que estão a participar nesta iniciativa através da IACA são as seguintes:
 Alimentação Animal NANTA
 Rações Zêzere
 De Heus
 Bongado
 Agrolex
 Racentro/Lusiaves
 Ovargado
 Petmaxi (petfood)
 Rações Avenal (petfood)
 Cevargado
 Rações Valouro
 Sorgal
 Tecnipec
 Porto Alto
 Alirações
 Raporal
 Cargill
Lisboa, 22 de junho de 2017

GOVERNA ANTECIPA PERÍODO CRÍTICO DE INCÊNDIOS

NOTA À COMUNICAÇÃO SOCIAL

Foi hoje publicada a portaria que define o período crítico no âmbito do Sistema de Defesa da Floresta contra Incêndios, que habitualmente vigora entre 01 de julho e 30 de setembro, antecipando o seu início para 22 de junho.
Durante o período crítico de incêndios, nos espaços florestais ou agrícolas, é proibido:
 fumar, fazer lume ou fogueiras;
 fazer queimas ou queimadas;
 lançar foguetes e balões de mecha acesa;
 fumigar ou desinfestar apiários, salvo se os fumigadores estiverem equipados com dispositivos de retenção de fagulhas;
 fazer circular tratores, máquinas e veículos de transporte pesados que não possuam extintor, sistema de retenção de fagulhas ou faíscas e tapa-chamas nos tubos de escape ou chaminés.

Lisboa, 22 de junho de 2017

Pedrógão Grande. Lei de proteção de estradas e casas não está a ser cumprida

24/6/2017, 16:44
A Proteção Civil disse que não está a ser cumprida a lei relativamente às áreas de proteção para estradas e habitações em Pedrógão Grande, afetado pelo incêndio que provocou a morte a 64 pessoas.


A Proteção Civil disse este sábado que não está a ser cumprida a lei relativamente às áreas de proteção para estradas e habitações em Pedrógão Grande, afetado pelo incêndio que começou no dia 17 e que provocou a morte a 64 pessoas.

"Há falta de cumprimento com as áreas de proteção, quer de vias, quer de habitações", disse o chefe da Divisão de Verificação e Fiscalização (DVF) na área da segurança contra riscos de incêndios em edifícios da Proteção Civil, Carlos Souto, que já está há vários dias no terreno com uma equipa de três elementos a fazer um levantamento dos fatores que contribuíram para o resultado final do incêndio que afetou o interior norte do distrito de Leiria.

Questionado pela agência Lusa, Carlos Souto recordou que a lei prevê uma área de proteção de 50 metros à volta das habitações e dez metros no caso de estradas. Do relatório que irá apresentar, estará lá a falta de cumprimento dessas medidas preventivas.

Carlos Souto contou que esteve numa localidade em que encontrou "uma casa branca, impecável, rodeada pelo incêndio", e que no espaço da habitação "não aconteceu nada" porque o proprietário "teve o cuidado de limpar, cortar, molhar" a área circundante.

O responsável da DVF da Proteção Civil para a área de segurança contra riscos de incêndios sublinhou também que em "90% dos incêndios que entraram pelos telhados" verificou-se que tal aconteceu porque a estrutura de suporte das telhas "é madeira".

Para além da falta de limpeza à volta das estradas e das habitações, faltam também pontos de água que permitam "uma primeira intervenção da população".

"Eles querem defender o que é deles. Não têm falta de coragem", constatou, sublinhando que os meios que usam, nomeadamente baldes de água ou mangueiras com calibre pequeno, são ineficientes.

Para isso, seria necessário existir, nas aldeias, pontos de água, com dois lances de mangueira e uma agulheta para uma maior eficiência da defesa das habitações.

Carlos Souto notou ainda que também se verificou "falta de água". "As estações elevatórias deixaram de funcionar", face ao corte de eletricidade, sublinhou, defendendo que é necessário que estas mesmas estações elevatórias da rede de abastecimento de água tenham "meios alternativos de emergência", para garantir que as populações têm água para combater o fogo.

Dois grandes incêndios, que provocaram a morte a 64 pessoas e ferimentos a mais de 200, deflagraram no dia 17 na região Centro, tendo obrigado à mobilização de mais de dois milhares de operacionais.

Estes incêndios, que deflagraram nos concelhos de Pedrógão Grande e Góis, consumiram cerca de 53 mil hectares de floresta [o equivalente a 53 mil campos de futebol] e obrigaram à evacuação de dezenas de aldeias.

O fogo que deflagrou em Escalos Fundeiros, em Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, alastrou a Figueiró dos Vinhos e a Castanheira de Pera, fazendo 64 mortos e mais de 200 feridos.

As chamas chegaram ainda aos distritos de Castelo Branco, através do concelho da Sertã, e de Coimbra, pela Pampilhosa da Serra, mas o fogo foi dado como dominado na quarta-feira à tarde.

O incêndio que teve início no concelho de Góis, no distrito de Coimbra, atingiu também Arganil e Pampilhosa da Serra, sem fazer vítimas mortais. Foi extinto hoje, às 13h00.

Constança Urbano de Sousa: “Tirarei naturalmente as devidas ilações”


25/6/2017, 1:25
7
Horas antes de ser conhecido o relatório da Proteção Civil sobre a atuação do SIRESP em Pedrógão Grande, a ministra da Administração Interna diz que só se demite se António Costa pedir a sua saída.

Em entrevista ao Diário de Notícias/TSF, gravada na última sexta-feira (horas antes de ser conhecido o relatório da Proteção Civil que dava conta de uma falência grave do SIRESP que se prolongou por quatro dias) e publicada este domingo, a ministra da Administração Interna admite retirar consequências das investigações à operação em Pedrógão Grande que estão em curso. "Tiraremos as devidas ilações e eu tirarei naturalmente as devidas ilações", diz Constança Urbano de Sousa.

A ministra fala de uma "grande tragédia" mas recusa retirar "conclusões precipitadas" sobre as investigações em curso. E ressalva: "Neste momento, eu acho que é muito prematuro estar aqui a seguir pelo caminho que é fácil, era o caminho mais fácil a seguir, ia satisfazer uma certa apetência que alguns têm pelo sangue, se quisermos. Mas ia resolver algum problema pergunto-lhe a si eu agora?".

Com a época de incêndios ainda agora a chegar ao período mais crítico, Constança Urbano de Sousa considera, no entanto, que retirar consequências práticas de eventuais erros cometidos, seria "fragilizar" a estrutura da Proteção Civil. "Acho que, neste momento, numa altura em que o país precisa de tantas respostas, em que o país necessita de regressar à normalidade, nós temos que ter também a coragem para enfrentar os problemas". Questionada diretamente sobre se pondera apresentar a demissão, a ministra recua:

Enquanto eu tiver a confiança política do senhor primeiro-ministro, não me demito, mais uma vez o digo, essa seria a via mais fácil", reitera a governante, na entrevista ao Diário de Notícias/TSF.
Não correu tudo bem no combate ao incêndio de Pedrógão Grande. A própria ministra reconhece-o. Mas também considera que "não é o momento para repensarmos o sistema em toda a sua globalidade, porque este é o momento do combate e nós temos que ter o país preparado para um combate que ainda temos que enfrentar nos próximos dois, três meses".

Sobre a origem do incêndio que vitimou 64 pessoas, e considerando as declarações do presidente da Liga de Bombeiros — Jaime Marta Soares, que defendeu ter havido "mão criminosa" no fogo –, Constança Urbano de Sousa diz que ao ministério nunca chegou essa indicação. "Não, nunca recebi nenhum tipo de informação", garante.

Investigador. “O Estado recuou demais, debilitou-se, na sua função de gerir a floresta”


23 Junho 20171.124

Ana Suspiro


Cardoso Pereira, professor do ISA, diz que o Estado tem perdido a capacidade de intervir na floresta. É resultado da falta de prioridade política dada à prevenção. O dono do fogo é a proteção civil.

Partilhe
José Miguel Cardoso Pereira foi um dos especialistas envolvidos na proposta para a defesa da floresta, onde se defendia o foco na prevenção. Este plano foi metido na gaveta em 2005 pelo Governo em que António Costa era o ministro da Administração Interna que lançou a reforma dos serviços de proteção civil e bombeiros. O investigador do Instituto Superior de Agronomia (ISA) diz que "nas últimas décadas, tem-se enfraquecido a capacidade do Estado para intervir e agora acordamos para o facto de que se foi longe demais e que era bom que tivéssemos um serviço florestal mais interveniente".

O professor do ISA desvaloriza o "sucesso" do sistema de combate aos incêndios. "Quando a época de incêndios corre bem, o mérito é do sistema, quando corre mal a culpa é da meteorologia". Ainda que as condições climatéricas sejam apenas uma parte do problema, fazem toda a diferença em áreas com muito combustível (vegetação para arder), explicam até dois terços da variação na área ardida. É essa conjugação que ajuda a perceber porque é que Portugal arde mais que os seus vizinhos. E como se deve resolver o problema? Com uma gestão da floresta feita durante todo do ano. Mas falta dinheiro para a prevenção, porque "as prioridades políticas" têm sido outras e porque o "dono do fogo é a proteção civil".

Concorda com os que defendem, primeiro-ministro incluído, que o sistema nacional de combate aos incêndios tem sido eficaz?
Pode parecer eficaz, excetuando este evento excecional. Existiu uma combinação de fatores complicada e pouco comum. A excecionalidade que reconheço no caso de Pedrógão Grande foi o número de mortos. As circunstâncias naturais podem não ser comuns, mas não há ali nada de inédito, excecional ou extraordinário. Mas não era nada de que nunca se tivesse ouvido falar. O excecional foi a infeliz maneira como várias circunstâncias, naturais e as associadas à intervenção humana, levaram à morte daquelas pessoas.

Excluindo este evento, visto do ponto de vista da proteção civil, o sistema funciona razoavelmente bem. Normalmente morrem poucas pessoas a ardem poucas casas em Portugal. E quando morrem pessoas são frequentemente os bombeiros, cujo esforço e dedicação nunca é demais salientar, mas desse ponto de vista o sistema até funciona.

A excecionalidade que reconheço no caso de Pedrógão Grande foi o número de mortos. As circunstâncias naturais podem não ser comuns, mas não há ali nada de inédito, excecional ou extraordinário.
E onde é que falha?
Há números que mostram que não perceber a natureza do problema leva a soluções erradas. Em 2003, houve 20 mil fogos e arderam 440 mil hectares. Só 1% dos fogos ultrapassou os cem hectares. Esse 1% queimou 400 mil hectares. Temos um sistema que consegue manter abaixo dos 100 hectares 99% dos fogos, mas deixa escapar 1%, e que ainda assim, permite anos absolutamente trágicos (2005, 2003, 1998).

É razoável esperar que o sistema passe à perfeição? Dos 99% aos 100? Ou será melhor fazer o investimento, trabalhar o território, gerir a floresta, fazer a gestão do combustível para que o 1% que escapa não tenha consequências tão desastrosas? António Salgueiro (especialista no combate aos fogos em entrevista à Renascença) diz uma coisa que faz todo o sentido. Há situações em que não é possível combater os fogos. Não há meios, nem aéreos. A intensidade é de uma tal escala que a única coisa a fazer é recuar e salvaguardar as casas e as pessoas.

Foi o que aconteceu neste caso?
Não olhei para o problema, nem tenho as competências para isso. Mas António Salgueiro diz que se tentou ainda combater numa altura em que se devia estar a recuar e a defender as pessoas. Há situações em que o fogo é intratável e o que se deve fazer é pòr as pessoas a salvo, incluindo os bombeiros, e esperar por melhor oportunidade – menos combustível ou porque se prevê que vai ficar mais fresco.

Mandar água para um fogo desta dimensão e com estas temperaturas se calhar não funciona.
Não funciona, mas há uma tentação de mostrar e de sentir que se está a fazer alguma coisa. Em alguns casos, será para mostrar. O poder político não quer parecer pacífico, é preciso fazer alguma coisa. Noutros casos é porque as pessoas não conseguem estar paradas a ver sem fazer nada. Pode ser um risco e desperdício de recursos. É um fenómeno estudado na psicologia. Um psicólogo israelita que estudou estas matérias concluiu que se o guarda-redes estivesse quieto quando é marcado um pénalti defendia mais do que atirando-se para a bola. Imagine os adeptos verem isto. Era impensável.

Mandar água para um fogo desta dimensão -- Pedrógão Grande -- "não funciona, mas há uma tentação de mostrar e de sentir que se está a fazer alguma coisa. Em alguns casos, será para mostrar. O poder político não quer parecer pacífico, é preciso fazer alguma coisa. Noutros casos é porque as pessoas não conseguem estar paradas a ver sem fazer nada". 
Muitos jornais estrangeiros questionaram porque é que o nosso país arde mais do que os vizinhos do mediterrâneo. Há respostas para isso?
Também intriga os investigadores, embora tenhamos algumas ideias sobre de onde vem essa diferença. Temos uma conjugação de situações que é particularmente problemática.

A propósito deste evento, tem-se falado muito de meteorologia e de condições excecionais e o IPMA (Instituto Português do Ar e da Atmosfera) tinha previsto risco máximo, mas a meteorologia é uma só uma parte da história, e eu diria que uma parte razoavelmente secundária, se estivermos a falar do problema geral. Se o determinante fossem as condições meteorológicas estávamos preocupados com fogos em Mértola, Barrancos e Amareleja, onde praticamente não há fogos.

O que mais faz a diferença?
Temos condições bastante boas para a vegetação crescer, em boa parte do país, basicamente grande abundância de água e temperaturas que não limitam esse crescimento. No Noroeste, no Minho, temos o máximo da produtividade florestal, é onde o país é mais verde. O canto oposto é mais quente e seco. O máximo de incidência do fogo não acontece nesses extremos. O Minho acumula muita vegetação, mas não tem ondas de calor frequentes. O sudeste alentejano está muitas vezes quentíssimo, mas é seco, acumula pouca vegetação, e tem poucas pessoas.


Mapa das zonas afetadas pelo fogo de Pedrógão Grande. Imagens de satélite da NASA trabalhadas pelo ISA

Onde encontramos as situações mais desfavoráveis? No centro, centro norte, onde se acumula vegetação suficiente, e onde há verões quentes e secos relativamente longos. Em Espanha, a Galiza é a região com mais fogos, mas tem bastante menos do que nós. É muito mais fresca e húmida, a densidade populacional é muito menor e os fogos são essencialmente originados pela atividade humana.

Mas há outras razões?
Sim. Têm a ver com a atividade da população, que é geradora de ignições e com o sistema que lida com o problema, na componente do ordenamento e do combate. Ainda usamos muito o fogo para numerosas atividades no território. O pastores usam fogo para garantir a vegetação tenra para o gado miúdo (ovelhas e cabras), há queimas de resíduos da exploração agrícola. Na minha região, em Anadia, que é vinícola, o maior pico de fogos é no fim de setembro e outubro, quando já passou o auge do verão, é depois das vindimas. Temos um território, uma paisagem, que do ponto de vista do fogo é complicada e difícil de gerir. Outro problema é relação entre os aglomerados de populacionais e a floresta.

As aldeias no meio das serras…
É o interface urbano rural, a zona onde o casario contacta com a vegetação perigosa do ponto de vista do fogo. Em países como os Estados Unidos e a Austrália, essa interação vem das áreas urbanas, sítios ricos e dinâmicos onde as pessoas vão construindo casas no campo (segunda habitação), em zonas do tipo mediterrânico, bonitas e cheirosas. Em Portugal temos um bocadinho disso, em Sintra, na Arrábida. Mas temos outro processo, associado ao abandono rural. Nos nossos campos deprimidos é o contrário. A floresta e o mato têm vindo a aproximar-se e envolver o casario. Há muitas situações perigosas de grande proximidade entre os principais valores a proteger e a vegetação que é vista como uma ameaça.

Um membro do Governo dizia: "Assumidamente a primeira prioridade é proteger as pessoas, a segunda prioridade é proteger as casas, a terceira é proteger a floresta". Concordo e partilho a hierarquia de valores. Mas não posso deixar de interrogar. Porque é que o sistema se chama de defesa da floresta contra incêndios? Se a floresta é a terceira prioridade, não faz sentido esta designação. 
Como lidar com esse problema?
Um membro do Governo dizia: "Assumidamente a primeira prioridade é proteger as pessoas, a segunda prioridade é proteger as casas, a terceira é proteger a floresta". Concordo e partilho a hierarquia de valores. Mas não posso deixar de interrogar. Porque é que o sistema se chama de defesa da floresta contra incêndios? Se a floresta é a terceira prioridade, não faz sentido esta designação. O sistema é de defesa das pessoas e das casas contra incêndios na floresta. Era mais transparente ter uma designação do tipo sistema nacional de proteção civil, porque o chamado sistema nacional de defesa da floresta contra incêndios tem a floresta como terceira prioridade. Estão-se a criar falsas expetativas nos produtores florestais e a induzir as pessoas em erro.

Devíamos separar as duas prioridades?
Ou integrar mais. Era essa a proposta do plano técnico de defesa da floresta apresentado em 2005 (por uma equipa do Instituto Superior de Agronomia) e que defendia a criação de uma estrutura única. Outra solução seria ter dois corpos separados, um para proteger o casario e as pessoas e outro para defender a floresta. Mas não me parece que fosse fácil articular o seu funcionamento no terreno. Faria mais sentido uma maior integração e um corpo pessoal técnico que trabalhasse na questão do fogo o ano inteiro. Uma parte do ano, fazia a gestão florestal. Na outra parte, apoiava os bombeiros no combate. Estamos a falar de profissionais com conhecimento técnico de risco de propagação e capacidade de previsão.

Onde estão esses profissionais? Parecem estar dispersos por várias entidades (sapadores florestais, ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e Florestas, guardas florestais).
A sua leitura está correta. O plano previa ir buscar esse pessoal a vários corpos – guardas florestais, corporações de bombeiros, sapadores – para construir uma estrutura única de resposta ao problema. Há gente dispersa que vai tendo essas funções, mas são em estruturas que não têm dedicação exclusiva. E essas funções estão a ser realizadas a uma taxa muito abaixo do que seria seria desejável por questões orçamentais. E depois entra-se num círculo vicioso. Não há empresas na área, gente treinada. A estrutura (proposta em 2005) integrava a prevenção e o combate. Essa estrutura trabalharia o ano todo, fora da época dos incêndios faria o controlo do combustível na primavera e outono, tal como no inverno, faria trabalhos de silvicultura, gestão florestal e limpeza de caminhos.


Mas não falta só organização, falta também dinheiro para a prevenção? Para o combate aos fogos, parece haver sempre dinheiro.
Falta dinheiro porque as prioridades políticas são outras, porque há falta de vontade de alocar verbas a essa área. No plano de desenvolvimento rural há instrumentos financeiros que poderiam ser usados para dar mais apoio à gestão florestal. Muitas destas medidas, como o tratamento de combustíveis (vegetação que ajuda a propagar o fogo) acabam por ser atribuídas a zonas que não são prioritárias. Um estudo da minha colega , Maria João Canadas, chama a atenção para uma coisa importante. A dimensão concebida para estas zonas (ZIF), oscila entre os 500 e mil hectares, é pensada na lógica de ser uma área grande para produzir resultados à escala de fogos que temos, Não é com intervenção de cinco ou dez hectares que se resolve alguma coisa.

Mas aí emerge um paradoxo complicado. Nas zonas onde o risco de fogos é maior, a propriedade é muito fragmentada, a população é envelhecida e mobilizar um número suficiente de proprietários para fazer uma gestão florestal partilhada de 500 ou mil hectares é extremamente difícil. É mais fácil na grande propriedade do Sul, mas não é onde está o maior risco de incêndio.

Uma proposta da reforma da floresta em cima da mesa aponta para o Estado tomar conta das terras sem dono. O que acha disso?
O cadastro dos terrenos (saber quem é o dono) é útil por muitas razões, nomeadamente fiscais. Mas também há concelhos que têm cadastro e não é por isso que deixaram de arder. Em teoria, não me parece má ideia, mas com o Estado debilitado na sua capacidade de intervir, é uma equação simples. Se damos mais competências ao Estado, o que inclui as autarquias, temos de dar mais meios. Nas últimas décadas, tem-se enfraquecido a capacidade do Estado para intervir e agora acordamos para o facto de que se foi longe demais e que era bom que tivéssemos um serviço florestal mais interveniente.

Mas a reforma proposta pelo Governo não vai nesse sentido.
Não. E o organismo com essas funções (ICNF) tem vindo gradualmente a assumir os seu decréscimo de protagonismo. As pessoas são sensatas e têm a noção da magnitude e dificuldade do problema. Não vão querer ser donos do problema do fogo quando percebem que entretanto foram incapacitados para lidar com ele. O dono do fogo é a proteção civil.

O secretário de Estado das Florestas chamava a atenção, e com razão, para o facto da floresta que temos ter sido construida ao longo do último século e que não é rapidamente que se altera, o que para mim só quer dizer uma coisa: já devíamos ter começado há muito tempo.

António Costa justificou que há dez anos fez a reforma da proteção civil para comprar tempo para fazer a reforma da floresta, mas não explicou porque não foi feita. Qual é o seu comentário?
Essa é uma lógica muito falha. O combate e a prevenção não são atividades antagónicas em que se possa trabalhar desarticuladamente. Agora fizemos uma coisa e ficamos à espera que os outros venham ter connosco. Precisamos de ter melhor prevenção e melhor gestão florestal para que o combate seja mais fácil e mais eficaz.

Um pinheiro precisa de 30 a 40 anos para render o máximo. Há uma grande parte do nosso território que não está 30 a 40 anos sem ter um fogo. Um eucaliptal chega à idade de render em oito a dez anos, e portanto as pessoas que tinham pinheiro que ardeu deitam contas à vida. Vou apostar em 30 ou 40 anos de sorte? Vou antes apostar em oito ou dez anos de sorte.
Essa melhor gestão pode ser feita por privados?
Pode ser feita por associações de produtores florestais, no âmbito de zonas de intervenção florestal. Onde vejo dificuldade, e até impossibilidade, é que seja feita por privados isolados. A escala da parcela da terra não é compatível com fogos de milhares de hectares. Não é fácil organizar os proprietários, mas também não tomo por garantido que fosse mais fácil uma solução que envolva o Estado. Não estou a excluir um papel mais ativo do Estado, o que digo é que se for atribuído que sejam também dados os meios, mas acho que não devemos entrar por esta dicotomia: os privados não fazem, o Estado tem de fazer.

Até que ponto a floresta que temos resulta das opções dos privados que querem, legitimamente, ter rentabilidade nas suas terras?
Uma boa parte da expansão do eucalipto nos anos 90 resulta do crescimento da indústria das celuloses que criou procura. Mas em boa parte a opção de reconversão do pinhal para o eucaliptal é uma reação ao risco de incêndio. Quando comecei a estudar no ISA havia cerca de 1,2 milhões de hectares de pinheiro bravo, hoje são 750 a 800 mil hectares. Um pinheiro precisa de 30 a 40 anos para render o máximo. Há uma grande parte do nosso território que não está 30 a 40 anos sem ter um fogo. Um eucaliptal chega à idade de render em oito a dez anos, e portanto as pessoas que tinham pinheiro que ardeu deitam contas à vida. Vou apostar em 30 ou 40 anos de sorte? Vou antes apostar em oito ou dez anos de sorte. O risco real e a perceção do risco, o medo do fogo, são grandes indutores da opção de abandonar o pinheiro bravo e optar pelo eucalipto.

O eucalipto já é a árvore que ocupa a maior área de floresta, mas se sobrepusermos o mapa do tipo de floresta com o mapa anual de área queimada, vemos que em proporção o eucaliptal é menos afetado que o pinhal. O mais importante não são as caraterísticas da espécie, mas sim o grau de gestão da floresta. Uma floresta economicamente mais rentável, mais valiosa, paga mais e permite suportar as suas operações de gestão.

Até acho que o Estado recuou demasiado, debilitou-se demasiado na sua função de gestão da floresta e do espaço rural em Portugal. Reverter isso é um processo tão longo como o de ordenar a floresta. E não há sinal de que esse seja o caminho.
Mas essa gestão florestal poderia também passar por uma maior diversidade de espécies, ainda que não tivessem o mesmo interesse económico.
Era claramente desejável que assim fosse, mas isso pressupunha uma diversificação dos setores económicos e das indústrias que usam a floresta. Porque é que não se plantam carvalhos? A propriedade é privada e as pessoas têm uma perspetiva de rendimento. Se plantássemos essas espécies, quem ia fazer o quê ? É bom que a floresta não arda, mas o objetivo último de ter uma floresta não é não arder, é render bens materiais e serviços ambientais e ecológicos.

Há países europeus que têm território florestal na posse do Estado, em percentagens mais altas. Entre nós até acho que o Estado recuou demasiado, debilitou-se demasiado na sua função de gestão da floresta e do espaço rural. Reverter isso é um processo tão longo como o de ordenar a floresta. E não há sinal de que esse seja o caminho.

Aqui há uns tempos, um autarca dizia que na freguesia dele não há esse problema. Quando não se sabe de quem é uma terra, ele vai lá, põe uma placa a dizer vende-se e coloca o seu número de telefone. E diz que dois ou três dias, aparece o proprietário furioso a perguntar. Seu desgraçado, quem é você que está a tentar vender a minha terra. É uma caricatura, mas mostra que há um maior conhecimento sobre os donos das terras a nível local
Qual é a sua opinião sobre o pacote florestal?
Há uma medida que me parece boa, mas que poderia ser melhor que é o plano para o uso do fogo controlado. Urge acabar com o slogan Portugal sem fogos, senão estamos numa contradição curiosa de políticas públicas. Não vejo razão especial para privilegiar o fogo cruzado, isto é o contra-fogo, faria mais sentido pensar num plano nacional de gestão dos combustíveis, para poder ir buscar dinheiro para roçar mato e ter rebanhos de cabras a comer arbustos. O cadastro de terras é útil, mas não sei se é uma condição necessária.

Aqui há uns tempos um autarca dizia que na freguesia dele não há esse problema. Quando não se sabe de quem é uma terra, ele vai lá, põe uma placa a dizer vende-se e coloca o seu número de telefone. E diz que em dois ou três dias aparece o proprietário furioso a perguntar: "Seu desgraçado, quem é você que está a tentar vender a minha terra". É uma caricatura, mas mostra que há um maior conhecimento sobre os donos das terras a nível local do que por vezes se diz.

Faria sentido hoje voltar à plano técnico que o grupo de trabalho técnico apresentou em 2005 e criar uma entidade única com meios que incorporasse prevenção e combate?
Acho que é cada vez mais pertinente. O secretário de Estado das Florestas disse recentemente que essas questões foram sendo atendidas, colocando competências nos corpos dos bombeiros. Esperar que os corpos de bombeiros façam a gestão florestal não me parece a melhor solução. Alguns detalhes e a estrutura fina da proposta teriam que ser revistas, até porque um dos fatores que alterou a conjuntura foi a incorporação de algumas medidas da proposta técnica que estão em curso.

Essa estrutura era o instrumento de implementação de toda a proposta. Era o braço armado, não era um acessório como jantes de liga leve.

Tivemos dez anos de sucesso em que ardeu menos floresta, lembrou António Costa. Mas o problema voltou em 2016 e 2017. Há quem diga que o sistema foi vítima do seu sucesso.
É uma situação clássica que os americanos identificaram primeiro. A seguir à segunda guerra mundial ficaram disponíveis aviões que foram convertidos para o combate aos incêndios. E tiveram uns anos de esforço concentrado na supressão e umas décadas depois vieram a pagar as consequências. Com uma aposta intensiva na supressão o que é que se está a fazer? Não há fogo, mas a vegetação vai-se acumulando. E quando é que as coisas correm mal? Tipicamente quando as piores condições meteorológicas possíveis acontecem. Andamos décadas a acumular combustível (vegetação) para o ver arder nas piores condições.

Sobretudo na parte Norte do incêndio de Pedrógão Grande, que garantidamente não ardia desde 1995. Havia zonas que não ardiam há mais 22 anos (...) Mas há outro aspeto menos biofísico e que está relacionado com as interpretações. Quando a época de incêndios corre bem, o mérito é do sistema, quando corre mal a culpa é da meteorologia.
Vimos isso nos incêndios desta semana?
Sobretudo na parte Norte do incêndio de Pedrógão Grande, que garantidamente não ardia desde 1995. Havia zonas que não ardiam há mais de 22 anos. Na parte sul, uma parte tinha ardido em 2002 mas outra em 2005, também tinham 12 a 14 anos de combustível. Mas há outro aspeto menos biofísico e que está relacionado com as interpretações. Quando a época de incêndios corre bem, o mérito é do sistema, quando corre mal, a culpa é da meteorologia.

O verdadeiro sucesso seria uma época de incêndios correr bem com más condições climatéricas?
Há estudos que mostram que entre dois terços a três quartos de variação na área queimada se explicam à custa das variações da meteorologia. Estamos vulneráveis às condições do tempo. Tudo o resto que fazemos – quantos aviões, quando foi declarada a época de incêndios, quantas pessoas estiveram nas torres de vigia – explicam apenas um terço ou um quarto da área queimada.

E como se resolve essa vulnerabilidade?
Tendo paisagens que num tempo quente e seco não ardam tão ferozmente. Ou pelo menos que não ardam na proximidade das casas se formos assumir a inevitabilidade da lógica do Governo.