sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Crescei e multiplicai-vos


Nove olivicultores de Trás-os-Montes juntaram-se na marca YEP para promover azeites genuinamente portugueses. Se a ideia crescer por outras regiões DOP, estaremos perante uma pequena revolução no mundo do azeite. Oxalá!

Edgardo Pacheco
05 de agosto de 2017 às 13:00

Comecemos a provocar. Alguém imagina a sua vida civilizada à mesa a provar, dia sim, dia sim senhor, o mesmo vinho, o mesmo peixe ou carne, o mesmo queijo, o mesmo enchido, um só vegetal, uma única variedade de fruta e um único tipo de pão? A resposta é um rotundo não e levará muita gente a interrogar-se sobre o estado de saúde de quem fez a pergunta, certo? Certo.

Agora vamos ao que nos interessa. Alguém imagina a sua vida civilizada à mesa a provar, dia sim, dia sim senhor, uma única marca de azeite? E mais em concreto. Alguém imagina ser possível, para uma salada de atum, para um peixe cozido, para uma carne assada, para um linguine de camarão, para uns legumes grelhados ou para uma mousse de chocolate usar sempre o mesmo azeite? O mesmo perfil de azeite? De uma única região e feito sempre com as mesmas variedades de azeitona? Ah, pois é, aqui a resposta já não é linear, certo? Certo. Se calhar, muita gente baixará a cabeça e assobiará para o lado. 

E aqui é que começa a grande contradição. Sim, sabemos todos que os vinhos se adequam em função daquilo que comemos, porque, lá está, a riqueza das nossas castas e a matriz das nossas regiões vitivinícolas força-nos a isso. Mas, caramba, o que fazemos nós com as nossas seis Denominações de Origem Protegida (DOP) de azeite? O que fazemos com as nossas dezenas de variedades de azeitona cultivadas em Portugal? Muito pouco. E, caros leitores, digo-vos uma coisa: nem fazem ideia do que perdem.

É evidente que tudo isto tem razões longínquas no tempo, mas as determinantes são estas: primeiro, as empresas que criam azeites DOP têm uma estrutura empresarial tão limitada que as impede de promover os seus azeites junto dos consumidores; segundo, o Estado não se interessa minimamente pelo assunto; e, terceiro, este estado de coisas - a falta de promoção dos azeites DOP - até calha bem aos dois embaladores nacionais que dominam cerca de 65% do mercado e aos investidores que plantaram dezenas de milhares de hectares de olival no Alentejo com variedades estrangeiras.

Ora, quando neste cenário nove olivicultores decidem juntar-se para, debaixo de uma única marca, promover seis azeites transmontanos de grande categoria, isso, caros leitores, é razão suficiente para acreditarmos que, provavelmente, estamos a assistir a um virar de página na promoção e no conhecimento de azeites genuinamente portugueses - os azeites DOP. Temos orgulho na nossa Touriga Nacional, no Alvarinho, na Baga ou no Arinto? Pois vamos ter agora orgulho na Cobrançosa, na Verdeal ou da Madural. 

O agrupamento dos nove olivicultores chama-se YEP, uma sigla inglesa que resume Young Evoo Producers, sendo que Evoo é a designação inglesa para azeite virgem extra. Donde, os YEP são jovens produtores de azeite virgem extra, no caso transmontanos.

Os aventureiros são Francisco Mendonça e Moura e Bernardo Eiró pela marca 2 à Tua, Edgar Morais pelo azeite Caixeiro, os irmãos Francisco e António Pavão com Casa Santo Amaro, a mesma relação familiar de Conceição e António Manso na marca Casa de Valpereiro, Pilar Abreu e Lima pelo Magna Olea e Francisco Rocha Pires com o azeite Mont'Alverne.

Sabemos que os azeites transmontanos têm uma identidade vincada, perceptível pelos aromas e sabores marcadamente verdes, frescos, amargos e picantes. Mas o que é curioso neste sortido YEP é que, por via do conceito de micro terroir, estamos perante azeites diferenciados. Embora inseridos na categoria "verde médio", temos aqui algumas marcas que se apresentam com notas maduras e outras com aromas e sabores bastante mais verdes. Ou seja, há azeites adequados a uns peixes cozidos (Mont'Alverne e 2 à Tua), azeites indicados para saladas compostas (Caixeiro), azeites para peças de carne acabadas de sair do forno (Casa de Santo Amaro e Casa Valpereiro) e um azeite que faz um figuraço com chocolate, o Magna Olea. 

Como é evidente, esta é a minha interpretação dos azeites. Se o leitor leva a sério este universo, se aprecia a mais saudável das gorduras criadas pelo Homem, pode, da próxima vez que for às compras, substituir a tal marca que usa há anos por uma ou outra da selecção YEP e fazer as suas próprias experiências em casa. Se gostar, repete. Caso contrário, passa à frente. É como no vinho. 

Seja como for, em nome do seu bom gosto e do bom gosto dos amigos que frequentam a sua mesa, experimente, prove e comente novos azeites à mesa. Nessa matéria, a infidelidade educa-nos. E, se hoje falamos de azeites YEP transmontanos, é bem possível, e desejável, que daqui a um ano se fale de YEP do Alentejo, das Beiras ou do Ribatejo. Isso, sim, seria uma revolução e tanto. 

Javalis à solta nas cidades são ameaça para a saúde pública



Populações de javalis estão a aumentar  |  FERNANDO FONTES / GLOBAL IMAGENS
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Direção Geral de Alimentação e Veterinária revela que 7% dos javalis abatidos entre 2011 e 2016 eram portadores da doença

As populações de javalis estão a aumentar todos os dias em várias zonas do país, aproximando-se de cidades, vilas e aldeias à procura de comida e água, mas as autoridades alertam que representam uma séria ameaça para a saúde pública. São portadores de tuberculose e estão a pôr a vida humana em "risco", segundo alerta Eduardo Correia, do Sindicato de Médicos Veterinários (SMV), enquanto a Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) revela que 7% dos javalis abatidos nos últimos cinco anos de caça eram portadores da doença.

Os dados oficiais da DGAV - só em percentagem, pois não revelou o número de animais - sublinham a gravidade do problema. Entre 2011 e 2016 foram notificados aos serviços casos positivos de carcaças contagiadas com tuberculose em 28% das jornadas de caça na região Centro e 12% no Alentejo, após as respetivas confirmações laboratoriais.

José Manuel Batista, dirigente do Movimento Caçadores Mais Caça, relata ao DN que deixou de comer carne de javali há três anos, quando uma carcaça de um animal abatido numa montaria já revelava contágio de tuberculose. "O problema é que nessa montaria a tuberculose deu positivo porque havia um veterinário que analisou o animal, mas grande parte de outras montarias e batidas não têm médico", alerta, admitindo que muita carne esteja a chegar ao consumidor "sem ser sujeita à despistagem da doença", porque, segundo denuncia após vários contactos com as autoridades de saúde, "o país não tem veterinários em número suficiente".

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E o sindicato dos veterinários confirma. Eduardo Correia revela que o contágio de tuberculose de que são alvo javalis e veados já foi tema de conversa com a DGAV, para se tentar encontrar uma solução que permita garantir inspeção a todos os animais abatidos, mas ainda não há resposta. "É um problema de saúde pública e temos que saber como devemos estar organizados, mas receio que não estejamos a fazer um bom trabalho, sobretudo na raia", admite, apoiando Jorge Cid, bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários, que, citado pela Vida Rural, defendeu recentemente a criação de um corpo nacional de inspetores e a aprovação da carreira de inspetores sanitários para que todas as espécies de consumo público fossem analisadas.

O bastonário considerou "um problema grave de incidência de tuberculose nos veados e javalis", alertando que já existem casos de transmissão da doença a espécies pecuárias, existindo riscos para as pessoas, pelo que o sindicalista Eduardo Correia diz ser chegada a hora do Estado "formar mais gente. Não basta dizer que não há e deixar as pessoas ao risco. Este problema é muito sério para ser tratado assim".

A DGAV avança que não existe obrigatoriedade das montarias serem acompanhadas por um médico veterinário. A legislação em vigor na União Europeia obriga apenas a que pelo menos uma pessoa de um grupo de caçadores, designada "pessoa devidamente formada", tenha os conhecimentos de doenças de espécies cinegéticas "e seja capaz de reconhecer os problemas de saúde dos animais caçados. Esta pessoa pode ser um caçador ou o gestor de caça, acrescentando ainda este organismo que desde 2010, têm sido organizados e ministrados cursos de formação para habilitar essa "pessoa formada".

Ainda assim, diz a DGAV, na zona raiana entre Idanha-a-Nova e Barrancos, desde 2011 tem vindo a ser aplicado um plano especial de controlo da tuberculose em caça maior (javalis, veados, gamos, corços), confirmando que "foi concebido precisamente para evitar a propagação da tuberculose na zona geográfica identificada como de maior risco para transmissão da doença.

A tutela alerta ainda para o chamado Plano de Controlo e Erradicação da Tuberculose que está em aplicação desde 2011. Consiste na programação das montarias, sendo designado um médico veterinário oficial (da DGAV ou das autarquias) para observar os órgãos e as carcaças dos animais abatidos, procedendo ao exame das peças capturadas e à colheita de amostras para diversas doenças, como tuberculose, brucelose ou peste suína.

Jacinto Amaro, presidente da Fencaça (Federação Nacional de Caçadores), que tem vindo a acompanhar a evolução do fenómeno junto das autoridades, refere que é na linha de fronteira com Espanha, na larga extensão entre Idanha a Nova e Moura, que reside o maior risco epidemiológico. "Tanto em javalis como em veados e pode chegar aos animais domésticos como já acontece na Estremadura espanhola", refere, justificando que a doença existe em maior escala na região de Cáceres, na serra de São Pedro, tendo cruzado a raia nos últimos anos.

"Os animais selvagens movimentam-se sem controlo à procura de comida e chegaram cá. Na Estremadura espanhola - que faz fronteira com o Alentejo - aproximaram-se de bovinos e caprinos, que também começaram a aparecer doentes. É outro risco que corremos em Portugal", diz o dirigente.

"Procuram alimento e é no Alentejo e Ribatejo que conseguem encontrar pivôs de milho que têm a comida, água e a cobertura ideal que para eles", diz, alertando ainda para os acidentes que têm vindo a provocar nas estradas, sobretudo nas vias de Coruche, Arraiolos, Montemor-o-Novo e Vendas Novas. "É rara a semana que não temos notícia de mais um carro que embateu num javali", conta.

600 abatidos na Arrábida

Os 600 javalis que anualmente têm sido abatidos na serra da Arrábida, segundo dados oficiais avançados pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), pelos donos dos terrenos onde os animais procuram comida, atestam o boom que a espécie alcançou nesta região. Por aqui proliferou nos últimos sete anos entre os concelhos de Setúbal, Palmela e Sesimbra, tendo este verão sido vistos alguns animais na praia da Fonte da Telha, já no concelho de Almada.

Mas mas nem as chamadas "correções de densidades" levadas a cabo pelos proprietários e as associações de proprietários têm logrado travar o avanço da espécie na Arrábida, onde já é adjetivada de "praga". Este ano, o calor levou vários exemplares a refrescarem-se na praia de Galapinhos, indiferentes às dezenas de banhistas, enquanto em setembro dois javalis aproveitaram a calada da noite para tomarem de assalto o restaurante do Clube Naval Setubalense (Âncora Azul), deixando o estabelecimento parcialmente destruído.

Contactadas pelo DN, as câmaras de Setúbal e Sesimbra preferiram não comentar o assunto, alegando não ser da sua competência, mas o presidente da Clube da Arrábida, Pedro Vieira, reclama "mão pesada" ao ICNF no combate à invasão destes suínos selvagens, "antes que haja más notícias, com ataques a pessoas, por exemplo", diz. O dirigente, recorda que as batidas promovidas pelas autoridades e caçadores para correção de densidades, há dois anos, não resultaram, tal como viria a acontecer em 2016 com as capturas de animais vivos, com recurso a capturadores.

"É preciso investir noutras modalidades, como a espera noturna", sugere Pedro Vieira, revelando que esta estratégia tem resultado no lado norte da serra com os proprietários que dispõe de licença de uso e porte de arma e a quem o ICNF tem passado as credenciais que os habilitam a disparar sobre os animais que invadem os seus terrenos.

Ninguém sabe explicar ao certo como apareceram os primeiros javalis na serra Arrábida, onde estiveram décadas sem darem sinais de vida, mas recentemente passou a ser cenário recorrente encontrar javalis à procura de comida junto a um contentor do lixo ou até debaixo da mesa da esplanada de um qualquer restaurante no Portinho da Arrábida.

Agricultura. Assunção Cristas considera que o novo regime simplificado é “trágico para o mundo rural”


JORNAL I
01/11/2017 09:26

Para a líder do CDS, as alterações ao IRS são "ataque brutal" aos trabalhadores independentes

A líder do CDS alertou ontem para que o Orçamento do Estado (OE) implica um "agravamento nos impostos de dimensão impensável" para os agricultores. Para Assunção Cristas, a alteração do regime simplificado do IRS será "trágica para o mundo rural".

epois da reunião com a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Cristas disse aos jornalistas que "o regime simplificado e o ataque que está a ser feito são muito negativos para os trabalhadores independentes". "Se considerarmos que 85% dos agricultores estão nesse regime, é, de facto, trágico para o mundo rural e da agricultura", afirmou.
Perante este cenário, a líder centrista deixou a promessa de que irá lutar contra aquilo a que chama "ataque brutal ao regime dos trabalhadores independentes".

O presidente da CAP, Eduardo de Oliveira e Sousa, não aceita qualquer recuo do governo em relação à simplificação dos recibos verdes. Há "agricultores que verão os seus valores a pagar de IRS multiplicados por cinco ou por seis, ou seja, 500 ou 600%", afirmou o representante dos agricultores, lembrando que o regime simplificado foi feito a pensar "na particularidade do setor agrícola".

Eduardo de Oliveira e Sousa mostrou-se, no entanto, esperançado na decisão da Assembleia da República: "Estamos em crer que, agora, os senhores deputados, no parlamento, terão em conta a especificidade do setor e não será levada por diante essa matéria tal como está desenhada", apelou.

Assunção Cristas, já no dia anterior, no final do encontro com a UGT, tinha criticado "este ataque que o OE faz aos trabalhadores independentes", penalizando a tributação de pessoas que são "muitas vezes empreendedores que trabalham por conta própria".

Medidas pecam por tardias A presidente do CDS deixou ainda críticas às medidas do governo para a agricultura, que considerou tardias e morosas. "As medidas que ouvimos e vamos tendo nota aparecem tarde, aparecem a desoras e demoram muito tempo a ser aplicadas", explicou. "E nenhuma delas tem um reforço de verbas por parte do OE, é tudo feito com fundos comunitários, com linhas de crédito, que são empréstimos aos agricultores, não é dinheiro a fundo perdido."

Sobre os atrasos, o presidente da CAP contou que, este ano, um pedido enviado para que houvesse pastoreio em abril só teve resposta em julho, três meses depois. "Esse tipo de atrasos é que não é compatível com a urgência das medidas", afirmou, pedindo ao governo celeridade.

Sobre o financiamento, o presidente da CAP apelou a apoios em vez de créditos, porque estes podem ser prejudiciais para os agricultores. "Uma linha de crédito pode dar origem a um prejuízo porque ela tem de ser repaga e tem de ser devolvida", o que é complicado para quem, "neste momento, não tem rendimento."

Capoulas Santos: "Há risco de uma corrida à plantação de eucalipto"


Ministro da Agricultura admite que pode haver uma corrida à plantação de eucaliptal até fevereiro do próximo ano, mas diz que está a cumprir a lei e nada pode fazer contra isso. Capoulas Santos remete para o Parlamento a decisão de adiar até 2018 a entrada em vigor da nova legislação que vai substituir a "lei Cristas" - "o governo não tem nenhuma responsabilidade nisso". Para o ano haverá 170 milhões para a floresta. Para já avançam apoios a pequenos agricultores.

Iniciou-se hoje [ontem] a discussão do Orçamento do Estado para 2018. Que medidas vão ser tomadas no próximo ano no setor da floresta?

O Ministério da Agricultura está profundamente empenhado em cumprir o programa do governo e, naturalmente, a reforma da floresta, que iniciámos em agosto de 2016. Os vários instrumentos de que a reforma se compõe estão todos aprovados, ainda não estão todos em vigor. Por exemplo, o diploma que trava a expansão do eucalipto só entrará em vigor em fevereiro de 2018, por decisão do parlamento. E sobre isso gostaria de dizer que tenho ouvido uns comentários engraçados por parte da Quercus...

A Quercus e a Acréscimo dizem que o atual governo é responsável pela autorização de 57% dos quase dez mil hectares de eucaliptos plantados desde 2013. Mais do que o anterior executivo.

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Este governo está a cumprir a lei que existe. Tal como se comprometeu, alterou-a. Só que essa alteração, por decisão do Parlamento, só entra em vigor daqui a vários meses e, enquanto isso não acontecer, o governo tem de cumprir as leis em vigor. Nós somos, contra a nossa vontade, obrigados a cumprir a lei Cristas, que de alguma forma liberalizou a plantação de eucaliptos.

E a lei que entrará em vigor em fevereiro não podia ter sido aprovada mais cedo?

Gostaria de a ter aprovado mais cedo, mas não é uma lei do governo, é do Parlamento. O governo aprovou esta legislação em março, em Conselho de Ministros, remeteu-a ao Parlamento, que a aprovou em julho e decidiu que apenas entraria em vigor seis meses depois. O governo não tem nenhuma responsabilidade nisso.

O governo está em funções desde o final de 2015. Porque é que lei não foi aprovada antes?

Roma e Pavia não se fizeram num dia. Como calcula, não chegamos ao governo num dia e cumprimos o programa no dia seguinte. Ao fim de um ano de legislatura já tínhamos o pacote da reforma florestal feito. Seria ótimo que qualquer governo pudesse cumprir o seu programa numa semana, mas os compromissos são uma legislatura e fizemos isto no primeiro terço da legislatura.

A Quercus diz que há o risco de haver uma corrida à plantação de eucaliptal até fevereiro. Esse risco existe?

Esse risco existe, efetivamente.

E o governo não tem nenhum mecanismo que permita travá-lo?

O único mecanismo que governo tem é cumprir a lei. Estamos num Estado de direito, o governo é o primeiro a ter a responsabilidade de cumprir a lei.

Portanto, está a dizer que não pode fazer outra coisa senão aprovar a plantação de novos eucaliptos?

Por não concordarmos com a lei que estava é que propusemos a sua alteração. O Parlamento é soberano, o governo respeita as decisões do Parlamento.

Já tem orçamento para as medidas da reforma florestal?

O orçamento final será aquele que decorre da aprovação no Parlamento. O que agora está em discussão é a proposta orçamental do governo que, naturalmente, sofrerá alterações.

Mas vai ter um reforço de verbas?

Sim. Para a execução da reforma da floresta e para dar resposta às decisões que foram tomadas no Conselho de Ministros de 21 de outubro, o Orçamento contemplará, no que ao Ministério da Agricultura diz respeito, as necessidades financeiras para executar essas medidas. Entre fundos nacionais e comunitários - parte das verbas destinadas à agricultura estão contempladas no PDR 2020 [Programa de Desenvolvimento Rural 2014-2020], que para ser executado precisa de uma comparticipação nacional. O que está no Orçamento é a comparticipação nacional que alavanca os fundos comunitários. No conjunto das medidas - e estou convencido de que haverá ainda algum acréscimo - o Ministério da Agricultura tem para a floresta, no próximo ano, cerca de 170 milhões de euros.

Com que apoios podem contar no imediato, da parte do Ministério da Agricultura, as pessoas afetadas pelos incêndios deste verão?

Os agricultores contarão com duas medidas de apoio, como já sucedeu em Pedrógão, e cujos pagamentos já estão na generalidade efetuados. Para os pequenos e muito pequenos agricultores haverá um processo muito simplificado, que será financiado pelo orçamento da Segurança Social, mas cujos processos serão organizados pelo Ministério da Agricultura. Até aos 1053 euros haverá um processo muito simplificado que permitirá indemnizar 100% dos prejuízos sofridos por estes agricultores. Entre os 1053 euros e os 5000 euros iremos aplicar uma medida que consta no programa de Desenvolvimento Rural (que é cofinanciado pela União Europeia) e que permite cofinanciar a reposição do potencial produtivo - a substituição daquilo que ardeu - a 100%. Acima desse montante haverá um financiamento a 50%.

Já tem uma solução alternativa à criação de um banco de terras sem dono, que foi chumbado no Parlamento?

Essa foi a única proposta que o Parlamento rejeitou. Esse banco de terras tinha duas componentes - florestal e agrícola. A componente agrícola é, infelizmente, irreparável, ou dificilmente reparável. A componente florestal nem tanto. Esta visava integrar no banco de terras os terrenos que vierem a ser identificados como sendo sem dono conhecido, para que o Estado possa assumir a posse administrativa e geri-los diretamente ou atribuir a sua gestão a outras entidades. Isso pode ser feito sem o banco de terras, uma vez que, através do Código Civil, um bem declarado como sem dono pode ser apropriável pelo Estado. Portanto, o Código Civil permitir-nos -à contornar o banco de terras. Já na componente de terrenos agrícolas vai ser mais difícil, senão mesmo impossível, porque o que se pretendia era que todo o património do Estado fosse incluído nesse banco, fosse distribuído a agricultores, primeiro por arrendamento, durante um período, e depois por venda, se se comprovasse que havia uma boa gestão. E o dinheiro desse arrendamento e dessa venda revertia para esse fundo, para comprar novas terras, para voltar a distribuir. Uma vez que o banco não foi aprovado, o ministério fica impossibilitado de obter essas receitas, e sem elas não pode adquirir terras. A inexistência do banco de terras é um impedimento para a distribuição de terras a novos agricultores e a jovens agricultores.

E é isso que o governo pretende fazer, aplicar o Código Civil?

É isso que o governo irá fazer, a partir do momento em que o cadastro permitir identificar o que não tem dono. No que for identificado como terreno sem dono, o Estado vai assumir a posse administrativa.

O Presidente da República tem apelado a consensos quanto à floresta. Esse entendimento deve ser procurado sobretudo com os parceiros da esquerda ou com o PSD?

O problema da floresta é nacional, não é apropriável pela esquerda ou pela direita. Subscrevo integralmente os sucessivos apelos que têm vindo a ser feitos pelo senhor Presidente da República quanto a esta matéria, que deveria merecer um esforço genuíno para o estabelecimento de um pacto de regime.

Pacto de regime normalmente quer dizer PS/PSD...

Falo num consenso nacional amplo, envolvendo todas as forças políticas.

Como tem visto a atuação do presidente da República nesta questão dos incêndios?

Tenho visto uma intervenção dentro do seu estilo próprio, muito interventivo, com muita presença no terreno e muita afetividade com as pessoas.

Também ficou chocado com a intervenção do presidente?

Não costumo exteriorizar os meus estados de alma.

Governo dos Açores suspende transformação de beterraba em açúcar na Sinaga


Imagem de Arquivo  |  DR
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"Mesmo nos anos em que houve boas condições para a produção de beterraba, os resultados de exploração foram negativos", disse o responsável pela pasta da Agricultura nos Açores

O Governo dos Açores vai suspender a transformação de beterraba em açúcar na Sinaga, que possui um passivo de 26 milhões de euros, segundo declarou hoje o responsável pela pasta da Agricultura do executivo açoriano.

"A solução de suspensão da atividade, como a própria palavra indica, é transitória, havendo que aguardar e perceber o que vai acontecer no futuro, em termos de preços do açúcar, não sendo possível fazer previsões a médio e a longo prazo", declarou João Ponte aos jornalistas, no final de um encontro com os trabalhadores da Sinaga.

De acordo com o governante, a produção de açúcar a partir de beterraba representa apenas oito por cento, uma vez que "neste momento a Sinaga já compra muito açúcar a granel que depois é empacotado e embalado nos Açores, tirando rentabilidade deste negócio".


A unidade industrial mantém a componente da comercialização e de refinação.

O Governo Regional dos Açores anunciou em fevereiro de 2010 a aquisição, por 800 mil euros, de 51 por cento do capital da açucareira Sinaga, que é a única empresa transformadora de beterraba existente em Portugal.

O secretário regional da Agricultura e Florestas considerou que a administração da indústria açucareira "tem agora que se concentrar" na negociação do seu passivo com banca, fornecedores e Estado, que considerou ser preocupante.

João Ponte acrescentou que a Sinaga deve ainda apostar na rentabilização dos seus ativos, bem como das suas instalações, fábrica do álcool, no concelho da Lagoa, e terrenos que possui, visando gerar liquidez para que "seja possível, no futuro, garantir a sua sustentabilidade".

"Mesmo nos anos em que houve boas condições para a produção de beterraba, os resultados de exploração foram negativos, não fazendo sentido manter e prolongar esta situação de atividade de transformação. Seria caminhar para o abismo", sustentou.

João Ponte afirmou ser importante a unidade industrial concentrar-se, agora, na comercialização do açúcar, sendo a refinação "vista em função das condições do mercado".

O governante referiu que 26 trabalhadores vão manter-se na Sinaga nesta nova fase da sua existência e os 48 restantes transitam, com os seus direitos salvaguardados, para a administração pública regional.

João Ponte admitiu a possibilidade dos operários que o desejarem, pela idade avançada, avaliarem com a administração da empresa situações como o recurso a reformas antecipadas.

Isaura Amaral, do Sindicato das Indústrias Transformadoras, declarou, por seu turno, temer que esta "seja uma suspensão definitiva", destacando que "os sindicatos lutaram durante imensos anos para que isso não acontecesse".

A sindicalista acredita que há condições para viabilizar a Sinaga, como atestado por um estudo desenvolvido pelo Governo Regional, em 2009, tendo acrescentando que "houve má gestão da empresa para chegar ao ponto a que chegou".

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Portugal leva maior delegação de sempre a feira de fruta de Madrid

A maior delegação portuguesa de produtores nacionais vai tentar até sexta-feira, em Madrid, aumentar as vendas internacionais dos subsetores das frutas, legumes e flores numa das principais feiras empresariais da Europa.

"O objetivo é sempre reforçar os acordos comerciais já existentes e, por outro lado, aumentar as exportações", disse à agência Lusa Gonçalo Santos Andrade, presidente executivo da Portugal Fresh, a maior associação nesta área de produtores nacionais.

Portugal tem cerca de 41 empresas na Fruit Attracion 2017, a segunda maior feira europeia do setor onde, segundo a organização, vão estar 60 mil profissionais de 110 países.


Gonçalo Santos Andrade explicou que, comparando com 2016, a presença portuguesa aumentou 46%, tendo também a área ocupada pela Portugal Fresh crescido 10% face à edição passada, para 417 metros quadrados.

Espanha é o principal destino das exportações de frutas, legumes e flores nacionais, absorvendo 30,3% das vendas internacionais em 2016. Segue-se França (11,9%), Reino Unido (9%), Países Baixos (8,4%) e Alemanha (6,4%).

Tudo isto "mostra que há dinâmica das nossas empresas e empresários para se internacionalizarem", defendeu o secretário de estado da Agricultura e Alimentação.

Luís Medeiros Vieira visitou hoje a feira, dia em que foi inaugurada, principalmente os pavilhões de produtores portugueses.

As exportações de frutas, legumes e flores aumentaram em média 10% ao ano nos últimos dez anos e atingiram os 1.310 milhões de euros em 2016.

Segundo Gonçalo Santos Andrade, "o objetivo é atingir os 2.000 milhões de euros de exportações em 2020, o que seria um marco histórico para o setor.

Quando visitava a feira, o secretário de estado da Agricultura e Alimentação cruzou-se com a ministra espanhola da Agricultura e Pesca, Alimentação e Meio Ambiente, Isabel García Tejerina a quem transmitiu as condolências do Governo português pelos quatro mortos ocorridos na Galiza que também sofreu uma série de fogos.

"Ela [a ministra] também me deu as condolências em relação aos acontecimentos trágicos que aconteceram no nosso país", disse Luís Medeiros Vieira.

Numa breve conversa com os jornalistas portugueses, Isabel García Tejerina explicou que durante o verão Espanha pôde "atender a alguns pedidos de ajuda" de Portugal por causa dos incêndios, mas que nos últimos dias isso não foi possível.

Caça proibida ou limitada nas zonas afectadas pelos incêndios

A caça vai ser interditada ou reduzida nas zonas afectadas pelos incêndios, afirmou esta terça-feira o secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural à agência Lusa, depois de se reunir com associações de caçadores.

31 de outubro de 2017 às 21:27

"Tivemos hoje a oportunidade de discutir, com as organizações do setor da caça, aquilo que consideramos mais importante nesta altura para a interdição da caça nas zonas ardidas", disse Miguel Freitas.
 
As medidas incluem a interdição absoluta da caça em todo o perímetro de grandes incêndios, acima de mil hectares, e da caça sedentária nos concelhos onde arderam mais de 50% da área.
 
Já nos distritos mais afectados, é reduzido o número de dias de caça às espécies migratórios de três para dois. Destes dias, um será domingo, o outro as associações escolhem, adiantou o secretário de Estado
 
Miguel Freitas acrescentou que o Governo também decidiu "estimular as associações de caçadores" para tomarem uma posição de autogestão.
 
"Algumas associações já nos comunicaram que tomaram a decisão de não caçar. Nestes casos, vamos isentá-las do pagamento de taxas ao ICNF" (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas), revelou. 

Curva de Keeling está imparável e o dióxido de carbono bate novo recorde

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

Os registos contínuos da concentração de dióxido de carbono na atmosfera começaram em 1958. Desde aí, a curva de Keeling, como é conhecido o gráfico que mostra essa concentração, não tem parado de subir. Em 2016, atingiu-se um valor que a Terra já não conhecia entre há três e cinco milhões de anos.

TERESA SERAFIM 30 de Outubro de 2017, 10:56 actualizado a 30 de Outubro de 2017, 19:29 

A concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera alcançou um novo recorde em 2016, segundo os dados divulgados esta segunda-feira pela Organização Mundial de Meteorologia (OMM). O principal gás com efeito de estufa atingiu as 403,3 partes por milhão (ppm), ultrapassando as 400 ppm alcançadas em 2015. Temos de recuar no tempo três a cinco milhões de anos – quando a Terra era dois a três graus Celsius mais quente do que hoje e o nível do mar era dez a 20 metros mais alto – para encontrarmos valores idênticos de CO2 na atmosfera.

Para percebermos bem o aumento da concentração de CO2 na atmosfera, temos uma referência: a curva de Keeling. Em 1958, o químico norte-americano Charles Keeling quis medir de forma rigorosa a quantidade de dióxido de carbono na atmosfera. Já nessa altura se suspeitava que o CO2 estava a aumentar na atmosfera devido à queima de combustíveis fósseis, mas as medições eram insuficientes.

Charles Keeling fez então aparelhos para medir o CO2. Depois, colocou-os no topo do vulcão Mauna Loa, no Havai, a mais de três mil metros de altitude. Um aparelho semelhante foi também instalado na Antárctida. Nesse ano, concluiu-se que havia uma concentração de CO2 de 316 ppm, o que quer dizer que para cada milhão de moléculas de diferentes gases na atmosfera 316 eram de dióxido de carbono. Surgia assim a curva de Keeling, que não tem parado de subir.

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É de salientar que esse gráfico tem uma linha com altos e baixos em forma de serra: correspondem à diferença entre o Inverno e o Verão no Hemisfério Norte, onde há mais florestas na Terra. No Inverno, como as árvores estão sem folhas e não absorvem tanto CO2, os níveis deste gás têm valores maiores. Na Primavera, quando as plantas acordam, absorve-se mais CO2 e os níveis voltam a descer. Mesmo assim, os valores do ano seguinte têm ficado sempre acima dos valores do ano anterior. Se em 1970 a concentração de CO2 chegava às 327 ppm, em 1990 já alcançava as 354 ppm, e em 2005 (ano em que Charles Keeling morreu) as 379 ppm.

Em 2015 atingiu-se mesmo a meta das 400 ppm. E, no ano passado, chegou-se às 403,3 ppm, valor que a Terra não conhecia há cerca de três a cinco milhões de anos, segundo o boletim sobre os gases com efeito de estufa da OMM agora divulgado, onde estes resultados estão publicados. No período pré-industrial (antes de 1750), a concentração era de 280 ppm.

E o planeta aquece, aquece, aquece...
E o planeta aquece, aquece, aquece...
Entre as principais causas apontadas para esta subida em 2016, além das actividades humanas, como o uso de combustíveis fósseis, a agricultura intensiva e a desflorestação, está ainda o El Niño (fenómeno de transporte de uma massa de água quente desde a Austrália até às costas da América do Sul, por altura do Natal). O aumento dos níveis de CO2 e de outros gases com efeito de estufa podem causar assim "mudanças sem precedentes" nos sistemas climáticos e levar a "graves perturbações ecológicas e económicas", refere o boletim.

Números que não mentem
"Sem um corte rápido no CO2 e noutras emissões de gases com efeito de estufa, iremos enfrentar aumentos de temperatura perigosos até ao fim deste século, bem acima do definido no Acordo de Paris", avisa Petteri Taalas, secretário-geral da OMM num comunicado da organização. Estabelecido em 2015 na conferência sobre o clima da ONU, no Acordo de Paris 195 países comprometeram-se a limitar a subida da temperatura abaixo dos dois graus Celsius, ou, preferencialmente, dos 1,5 graus. 

"Os números não mentem. Continuamos a emitir em excesso e isso precisa de ser revertido", afirma no comunicado da OMM Erik Solheim, director do Programa das Nações Unidas para o Ambiente, a propósito de um relatório da ONU que vai ser publicado esta terça-feira e no qual se analisam os compromissos políticos dos países para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e como é que isso irá ser posto em prática até 2030.

"Nos últimos anos, temos visto a enorme aceitação das energias renováveis, mas devemos redobrar os esforços para assegurar que estas novas tecnologias de baixo carbono possam prosperar. O que precisamos agora é de novas políticas globais e de um novo sentido de urgência", frisa Erik Solheim. A nova conferência sobre o clima irá decorrer de 6 a 17 de Novembro, em Bona (Alemanha), e esses dois relatórios "fornecem uma base científica" para as negociações que se farão nesses dias, frisa o comunicado.

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Também Pedro Viterbo, director do Departamento de Meteorologia e Geofísica do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), considera estes dados "muito preocupantes". Em declarações à agência Lusa, explicou que os países europeus "estão a 'puxar a carroça' [para] não aumentar demasiado as emissões de poluentes, mas depois há o resto do mundo, há o Vietname, há a China" e há também o Presidente Donald Trump, que duvida das alterações climáticas e que quer que os Estados Unidos saiam do Acordo de Paris. "[A Índia] está a aumentar muito as emissões e neste momento é provavelmente o país que está a aumentá-las mais depressa", salientou ainda. 


"As gerações futuras irão herdar um planeta muito mais inóspito. O CO2 permanece na atmosfera durante centenas de anos e nos oceanos por muito mais tempo. As leis da física sugerem que enfrentaremos um clima mais quente e mais extremo no futuro. Não há uma varinha mágica para remover este CO2 da atmosfera", considera Petteri Taalas.

Afinal, as últimas medições para 2017, do Instituto de Oceanografia Scripps (EUA), com data de 28 de Outubro, indicam que já se atingiram as 403,98 ppm. E assim vai subindo a curva de Keeling.


terça-feira, 31 de outubro de 2017

Governo apela: portugueses têm que fazer "uso parcimonioso" e autarquias devem limitar água


Vai arrancar, nos meios de comunicação social, uma campanha para promover o uso cuidadoso da água.

LUSA 30 de Outubro de 2017, 14:50 Partilhar notícia

Os portugueses têm que fazer "uso parcimonioso" da água e as autarquias devem limitar o uso da mesma em lavagens de ruas e regas a situações inadiáveis. O ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, em conferência de imprensa com o seu colega da Agricultura, Capoulas Santos, avisou "que ninguém se iluda" quanto à gravidade da seca que afecta o país.

"Não é por chover dois ou três dias que a situação se vai inverter", salientou, indicando que vai arrancar, nos meios de comunicação social, uma campanha para promover o uso cuidadoso da água por toda a população.

Quase metade das albufeiras abaixo de 40%
João Matos Fernandes apontou o exemplo do município de Nelas, que encerrou as suas piscinas, como seguidor de "uma orientação que é para todo o país" e que está a ser "assumida pelas autarquias".

"Quanto mais se agravar [a seca] mais essas medidas terão de ser assumidas", admitiu o ministro do Ambiente.

Questionado sobre a campanha de abastecimento com camiões cisternas em curso em vários municípios do distrito de Viseu, Matos Fernandes afirmou que o Governo "não tem expectativa" para já de que a medida tenha que ser repetida em outras zonas do país.

A primeira prioridade na poupança de água é reservá-la para o consumo humano, indicou, afirmando que nos últimos lugares de prioridade estão a rega de jardins, o enchimento de piscinas e o funcionamento de fontes ornamentais.

Quer Portugal quer Espanha estão a cumprir os valores mínimos de caudais exigidos a ambos os países na gestão de rios internacionais, como o Tejo.

O ministro da Agricultura, Capoulas Santos, destacou a alimentação e a água para o gado como as principais prioridades no sector agrícola nesta altura e anunciou a abertura de uma linha de crédito para tesouraria dos agricultores no valor de cinco milhões de euros.

Ministro do Ambiente acredita que não faltará água nas torneiras, apesar da seca
"O uso sustentável da água tem que ser uma preocupação dos portugueses", não só na situação de urgência que se vive hoje, mas também para o futuro, "num tempo mais lato", sublinhou Capoulas Santos.

Capoulas Santos diz ter pena do "constante azedume" do PSD


Diana Tinoco
FILIPA TRAQUEIA
27/10/2017 11:39


O ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural terminou o debate com um apelo ao consenso

Na mensagem final do debate sobre o relatório da Comissão Técnica Independente, o ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural afirma ter "muita pena que o PSD insista nesta sua posição de constante azedume mesmo nestas circunstâncias".

O início da declaração foi interrompida pela bancada social-democrata que exigia ao ministro que pedisse desculpa aos portugueses.

Capoulas Santos afirmou que "não é possível evitar catástrofes no futuro sem que estas duas propostas avancem". O ministro relembrou que Marcelo Rebelo de Sousa tem apelado à criação de um pacto do regime e, "em nome do governo", apelou também "que pelo menos uma vez e perante um problema que a todos nos verga e nos envergonha seja possível aquilo que o país exige de nós" para que "tragédias como estas não voltem a acontecer", concluiu.

“Um barril de pólvora”. Distribuição dos fundos comunitários deixa técnicos florestais pessimistas


31 jul, 2017 - 10:00 • Cristina Nascimento

Estado português deixa várias dezenas de projectos de valorização da floresta sem fundos comunitários.

Os técnicos florestais estão pessimistas após a divulgação dos resultados da distribuição de fundos comunitários para o sector, no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural 2020 (PDR 2020). Um pouco por todo o país foi ditada a sentença para milhares de hectares de floresta. Ao fim de um ano e meio de espera, para muitos a resposta foi: não há "dotação orçamental" para aprovar o projecto.

É o caso de Pedro Gomes, engenheiro florestal e funcionário da associação Secretaria de Baldio de Trás-os-Montes e Alto Douro. Só nesta associação lançaram 33 projectos, correspondente a cerca de 1.300 hectares em áreas como Montalegre, Boticas, Chaves, Vila Pouca de Aguiar, Vila Real e Amarante, e nem um foi aprovado.

"É uma frustração enorme", diz Pedro Gomes, que perante o desalento escreveu uma carta aberta na rede social facebook, expondo as razões do seu desânimo. Não é só por ver "milhares de horas gastas" em vão. É também por perceber que estão a ser desperdiçadas oportunidades para recuperar a floresta e fixar pessoas no interior.

"A nível florestal, quem está no terreno são pouquíssimas pessoas e estão completamente abandonadas no meio rural", descreve. Este engenheiro florestal garante que não faz sentido a forma como a floresta está a ser pensada e queixa-se que, quem anda no terreno, não tem quem os oiça.

"Não existe gente do Estado, está tudo concentrado em Lisboa, não ouvem as pessoas e a mim dá-me quase vontade de lhes dizer que como não aprovaram estes projectos, então venham ver ao terreno o que é que eles acabaram de fazer", desabafa.

Incêndios que podiam ser evitados

Os projectos que foram a concurso serviam para financiar várias intervenções, entre as quais limpeza da floresta e realização de aceiros. Com tanto tempo de espera e com tantos projectos por financiar, o medo também é que grandes incêndios como os que têm acontecido este Verão, voltem a acontecer.

"Ninguém se pode admirar com uma coisa destas [fogos]. Não tem havido investimento. Se a intervenção que estava prevista era para melhoria dos caminhos, abertura dos aceiros, limpeza e desramação das árvores, qualquer técnico florestal lhe vai dizer que esse povoamento estaria em melhores condições de resistir a qualquer situação de incêndio", garante, acrescentando que só na zona abrangida pela associação onde trabalha "vários projectos arderam" enquanto esperava uma resposta.

Pedro Gomes mostra-se também indignado com a desproporção de investimento que existe, quando comparado com as verbas gastas no combate às chamas.

"Uma hora de um helicóptero kamov custa 35 mil euros. Eu pergunto-me: será que a maioria das pessoas tem a noção de que uma equipa de sapadores anual que dá emprego a cinco famílias no meio rural custava o mesmo que uma hora de helicóptero kamov? Isto faz sentido? Uma manhã de um helicóptero kamov dá emprego a cinco famílias, durante cinco anos", sublinha.

Esperar, esperar, (des)esperar

Mais a sul, no Alentejo, o desânimo é semelhante. Fernando Alves é técnico florestal numa empresa de prestação de serviços florestais, com uma área de intervenção entre o Baixo Alentejo e o nordeste algarvio.

Na sua empresa submeteram 25 projectos e apenas quatro foram aprovados.

"O investimento na floresta está a ser residual. A operação cujos resultados foram conhecidos agora [Melhoria da Resiliência e do Valor Ambiental das Florestas] tinha uma dotação de 21 milhões e meio de euros: nove milhões para as novas candidaturas e 21 milhões para as candidaturas que tinham sido submetidas ao abrigo do anterior quadro comunitário e que transitaram para este concurso", explica. O problema, garante, é que houve um interregno de quase dois anos para a aprovação de projectos e por isso o número de candidaturas foi muito superior.

Investimento de 20 anos em risco

Fernando Alves receia pelo futuro de uma área que começou a ser planeada há 20 anos.

"Esta foi das zonas mais florestadas na década de 90, início de 2000. Foram plantados milhares de hectares de pinheiro manso", explica, transformando uma área que era de agricultura em floresta.

"O argumento usado foi que os solos ficaram esgotados com a campanha cerealífera e ficaram empobrecidos. Uma forma de recuperarmos o solo era fazer plantações com pinheiro manso que é uma espécie muito resistente e com a lenta decomposição das agulhas, fazem com que exista uma recuperação do solo", descreve.

No entanto, a floresta não tem o tempo dos homens. "Não podemos abandonar o processo a meio. Estamos a falar de uma floresta que demora a crescer", recorda.

"Findos estes 20 anos é preciso fazer intervenções, sobretudo operações de desbaste para reduzir a carga combustível nesses povoamentos florestais", diz Fernando Alves, acções que seriam financiadas pelos projectos que agora não têm como sair do papel.

"Estamos a falar de pessoas já de uma certa idade, algumas já reformadas, que há 20 anos assumiram esse compromisso. Se não houver apoio, o que pode acontecer é abandono e um aumento muito grande do risco de incêndio", garante Fernando Alves.

"São povoamentos que estão a ser abandonados, não estão a ser desramados, não estão a ser desbastados, têm densidades em que as copas dos pinheiros tocam-se umas nas noutras, têm continuidade vertical e horizontal de combustível. Pode estar a tornar-se um barril de pólvora… basta haver uma ignição e os incêndios podem tomar grandes proporções", receia.

Números oficiais
De acordo com a documentação tornada pública no site do PDR 2020, só na operação 8.1.5 - Melhoria da Resiliência e do Valor Ambiental das Florestas foram apresentadas 624 candidaturas, das quais mais de metade (374) ficaram pelo caminho. Não está ainda tornada pública a lista final com a classificação atribuída a cada um dos projectos, nem a sua hierarquização, informação que as autoridades esperam divulgas nas próximas semanas.

Segundo a Autoridade de Gestão do PDR 2020, os titulares de projectos que não conseguiram agora financiamento podem fazer nova tentativa em dois outros concursos que estão actualmente abertos. No entanto, nem todos estarão em condições de transitar, uma vez que houve alterações, por exemplo, ao nível do tipo de espécies plantadas nos terrenos elegíveis para as candidaturas agora abertas.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Crise da manteiga chega ao governo e ameaça croissant



Fabricantes já ameaçaram aumentar o preço do croissant
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A tonelada de manteiga, paga a 2500 euros em 2016, passou para os 7000 este ano

Prateleiras de supermercados vazias e o preço do croissant a subir. Estas são algumas das consequências da crise da manteiga em França. O caso já chegou ao governo, com o ministro da Agricultura, Stéphane Travert, a garantir que a escassez "não vai durar". Os agricultores do sector, esses, duvidam.

Mas afinal, como começou esta crise? A origem parece estar na China, onde a procura de leite e de produtos à base de manteiga, como a doçaria, dispararam nos últimos anos. Após três décadas de desdém por parte dos nutricionistas , as matérias gordas animais foram também reabilitadas e consideradas essenciais para um estilo de vida saudável. O consequente aumento na procura coincidiu com a quebra na produção de leite na Nova Zelândia, primeiro exportador mundial. E na Europa, onde o fim das quotas na produção de leite, há dois anos, provocou uma sobreprodução seguida da quebra dos preços, que levou os agricultores a reduzir a produção.

França, mais do que qualquer outro país europeu, foi apanhada neste problema global, com alguns produtores e intermediários do sector alimentar a pararem as entregas e a considerarem aumentar os preços de revenda.


As pastelarias que fabricam croissants, nos quais a manteiga representa um quarto dos ingredientes, já explicaram que podem ter de aumentar os preços. Tudo porque a tonelada de manteiga, paga a 2500 euros em 2016, passou para os 7000 euros desde o verão.

Com uma grave quebra na produção de leite nos últimos anos, os franceses são os que mais têm sofrido com esta crise. Então porque não aumentar a produção? Não é tão simples assim. França é de facto um dos principais produtores europeus de manteiga, mas não é autossuficiente e importa cerca de 200 mil toneladas por ano. Além disso, se aumentar a produção de leite, isso não afeta apenas a manteiga. Um litro de leite contém 42 gramas de matéria gorda, que serve para fazer manteiga - e 33 gramas de proteínas - usadas para o leite líquido e em pó. Ora este sector é excedentário, com a Comissão Europeia a ter criado um mecanismo de regulação do mercado, obrigando a armazenar centenas de toneladas de leite em pó.

A solução, garantem os produtores, só pode passar pelo aumento dos preços da manteiga no supermercado e, a médio prazo, por uma mudança nas técnicas de criação do gado.

Esta crise vem confirmar a dificuldade do governo Macron para honrar a promessa de mudar as práticas na cadeia alimentar em benefício dos agricultores. E se o mercado começa a mostrar sinais de ajuste, com a época das festas aí à porta, quando a procura de doçarias atinge o pico, muitos franceses temem que lhes falte o croissant ou o tradicional tronco de Natal.

E por que não tentarmos salvar os sobreiros?

É urgente contrariar o acentuado declínio dos montados em curso na parte Sul do território nacional.

FRANCISCO AVILLEZ

28 de Outubro de 2017, 6:30 

Era este o título de um artigo publicado pelo Armando Sevinate Pinto no PÚBLICO em Janeiro de 2015, do qual vale a pena relembrar a seguinte citação:

"[...] Os povoamentos de sobreiros e os ecossistemas que lhes estão associados são, sem sombra de dúvida, um dos mais importantes activos naturais que possuímos. Importantes, pela riqueza que geram: somos o maior produtor mundial de cortiça, uma das mais polivalentes matérias-primas naturais conhecidas e exportamos anualmente mais de 800 milhões de euros de produtos transformados com valor acrescentado 100% nacional. Importantes, pelos postos de trabalho directos que a sua conservação e exploração justificam e que ascendem a muitas dezenas de milhares, quer junto à produção, quer em cerca de 600 empresas de transformação. Importantes, porque os povoamentos de sobreiros são os elementos centrais de um dos mais ricos, complexos, estáveis e multifuncionais ecossistemas das regiões mediterrânicas pobres, que constituem uma grande parte do nosso território. Temos mais de 700 mil hectares ocupados com sobreiros, que fixam carbono, protegem e enriquecem os solos, modulam o clima e abrigam e alimentam ricos habitats de flora (140 espécies aromáticas, medicinais e melíferas) e fauna silvestre (a mais rica fauna da Europa, sobretudo de vertebrados, de que se conhecem 55 espécies correntes), favorecendo a diversidade biológica [...]."

Ao recordar este artigo do Armando pretendo, no essencial, alertar a opinião pública e as autoridades públicas e privadas competentes para a urgência de se virem a tomar medidas capazes de contrariar o acentuado declínio dos montados provocado pelo processo de desertificação em curso na parte Sul do território nacional.

Consequência ou não das alterações climáticas, os últimos três anos de seca têm criado condições extremamente difíceis para extensas zonas em que os respectivos povoamentos de sobreiros são os elementos centrais do seu tecido económico e social e da sua sustentabilidade ambiental.

Essas medidas vão passar, inevitavelmente, por investimentos que assegurem não só um aumento da capacidade de rotação da água dos solos em causa, como também a possibilidade de se poder vir a criar uma maior disponibilidade de água que permite salvar um número crescente de sobreiros de diferentes idades que estão em perigo eminente de virem a morrer.

Como estes investimentos envolvem montantes elevados e têm um retorno que só será concretizado a muito longo prazo, é fundamental que a reprogramação do PDR 2020, actualmente em discussão, considere como prioritário a aprovação de tudo aquilo que contribua para que possamos tentar salvar os nossos montados de sobro.

Como o Armando dizia nesse seu artigo, sou de opinião que "[...] alguma coisa terá de ser feita para alterar este estado de coisas. Será impensável continuarmos, como até aqui, a fechar os olhos à realidade, como se nada estivesse a acontecer [...]".

Os dez melhores vinhos portugueses segundo a mais respeitada critica mundial


23 OUT 2017 16:08 // SABORES // NOTÍCIAS

Jancis Robinson, considerada a mais influente jornalista e "Master of Wine" no Reino Unido e uma das mais eminentes do Mundo, anunciou este 23 de outubro, em Lisboa, os dez vinhos portugueses que mais a marcaram na última década.

A revelação do Top 10 dos melhores vinhos portugueses, na opinião da conceituada Jancis Robison, fez-se no decurso da Conferência organizada pela Revista de Vinhos e que decorre na capital a 23 de outubro. Para a crítica e "Master of Wine" (título que apenas poucas centenas de personalidades alcançaram nos últimos 60 anos), nos últimos dez anos destacaram-se em terras lusas:
- Soalheiro Primeiras Vinhas 2016, branco, da região dos Vinhos Verdes. Um Alvarinho elaborado em Melgaço, a partir de uvas colhidas manualmente em vinhas com mais de 40 anos;

- Quinta dos Roques 2007, branco, da região do Dão. Produzido entre Mangualde e Nelas;

- Luís Pato Vinha Barrosa, 2005, tinto, da região da Bairrada. Proveniente de uma vinha velha com mais de 90 anos, da freguesia de Aguim;

- Barca Velha 1999, Casa Ferreirinha, tinto, do Douro Superior;

- Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa 2005, Quinta do Crasto, do Douro. Proveniente em exclusivo da vinha centenária Maria Teresa, cultivada a cotas extremamente baixas;

Os dez melhores vinhos portugueses segundo a mais respeitada crítica mundial
- Niepoort Batuta 2007, Niepoort Vinhos, tinto, Douro. produzido a partir da vinha do Carril, com mais de 70 anos;

- Poeira 2011, Jorge Moreira, tinto, Douro. Um blend de Vinhas Velhas, com assinatura de Jorge Moreira.

- Espaço Rural Bojador Vinho da Talha 2015, Espaço Rural, tinto, Alentejo;

- Barbeito Ribeira Real Tinta Negra, lote 1, 20 anos, Vinhos Barbeito, Vinho Madeira. Produzido nas vinhas do Ribeiro Real, que se espalham pela costa sul da ilha, a uma cota de 200 metros de altitude.

- Graham´s Single Harvest Tawny Port 1972, Symington Family Estates, Vinho do Porto. Com assinatura da família Symington, produtores de Vinho do Porto desde o século XIX.

Recorde-se que Jancis Robison, com mais de 40 anos de carreira profissional, consultora para a adega da monarca Isabel II, é apontada como responsável por ter colocado os tintos portugueses, de 1999 a 2012, no pódio mundial em termos de pontuações médias gerais, conforme artigo escrito no jornal "Financial Times", onde é colunista.

A crítica britânica é autora de algumas das mais aclamadas publicações sobre vinho, como o "The World Atlas of Wine", já na 7ª edição.

Jancis Robison publica regularmente na sua página de Facebook.

Em Portugal Jancis tem publicado o livro, "Especialista de Vinhos em 24 Horas".

35% dos municípios que mais arderam sem planos anti-fogo


Entre os 57 municípios mais afectados pelos incêndios dos últimos meses, 35% não tinham um plano contra incêndios aprovado pelo ICNF. Não existe nenhuma penalização pela ausência deste plano.


29 de outubro de 2017 às 22:00

A vaga de incêndios que atingiu Portugal entre Junho e Outubro afectou várias dezenas de concelhos. A área ardida, de acordo com estimativas do sistema europeu de informação de fogos florestais (EFFIS), já atingiu até à passada sexta-feira um total de 560 mil hectares. 

Na ausência de dados oficiais do Instituto de Conservação da Natureza e Floresta (ICNF) sobre a área ardida, o Negócios fez um levantamento não exaustivo e concluiu que, dos 57 municípios mais afectados, 35% não tinha um plano municipal de defesa da floresta contra incêndios.
O ICNF fez um levantamento dos municípios com plano anti-incêndios florestais a 31 de Julho e nessa lista surgem 20 concelhos que acabariam por ficar entre os mais fustigados pelas chamadas no Verão e em Outubro. Pedrógão Grande é, naturalmente, o principal destaque nesta lista, por ter sido palco, em Junho, do maior incêndio de sempre em Portugal. Entre os municípios com maior área ardida e sem plano anti-fogo estão ainda Alijó, Melgaço, Monção, Pombal, Condeixa-a-Nova ou Castanheira de Pêra.

Alguns destes municípios que surgem na lista como não tendo plano aprovado estavam a aguardar aprovação. São os casos de Condeixa-a-Nova, Vieira do Minho, Vila Nova de Gaia, Murça, Melgaço, Monção e Valença. Por outro lado, apesar de não surgir qualquer indicação nesse sentido no documento do ICNF, o vice-presidente da câmara de Alijó disse à Renascença em Agosto que o plano contra incêndios do município havia sido aprovado em 2014, mas ainda não tinha recebido luz verde do ICNF.

No final de Julho, tal como já havia sido denunciado pela Quercus, havia no total 72 concelhos sem plano contra incêndios florestais aprovado, de acordo com o referido levantamento do ICNF. O Porto está dispensado de o apresentar e vários outros concelhos pediram essa dispensa, que estava em análise no instituto (São João da Madeira, Amadora e Matosinhos).

Ausência de plano sem consequências
Os planos municipais de defesa da floresta contra incêndios são obrigatórios, mas não há sanções caso eles não existam. "A legislação não prevê nenhuma penalidade para os municípios que não cumprem esta obrigação legal, para além de não poderem ter acesso a fundos comunitários destinados à prevenção de incêndios e protecção da floresta", afirmou, em Agosto, a Quercus através de comunicado.

Estes documentos definem qual é a "estratégia municipal de defesa da floresta contra incêndios (DFCI), através da definição de medidas adequadas para o efeito e do planeamento integrado das intervenções das diferentes entidades". Todos os planos devem seguir a mesma estrutura: o primeiro caderno deve conter o diagnóstico; o segundo o plano de acção; e o terceiro o plano operacional municipal.  

É nestes planos, que têm uma vigência de cinco anos, que os municípios definem quais as áreas que devem ser limpas em cada ano e identificam as zonas florestais onde existe maior risco de incêndio.

No levantamento do Negócios, a maioria dos municípios mais afectados pelos incêndios, 37, tinha um destes planos, incluindo a Marinha Grande, Pampilhosa da Serra e Oliveira do Hospital. 

Os concelhos sem planos

• Pombal 
• Pedrógão Grande
• Castanheira de Pêra
• Cantanhede
• Coimbra
• Condeixa-a-Nova
• Aveiro
• Vieira do Minho
• Fundão
• Vila de Rei 
•  Caldas da Rainha 
•  Trofa
• Valongo
• Vila Nova de Gaia
• Sabrosa
• Alijó
• Murça
• Melgaço
• Monção
• Valença

António Costa. "Houve uma subestimação dos riscos da primeira quinzena de outubro"



29 out, 2017 - 20:46 • Carlos Calaveiras

Já sobre a relação com Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro reafirmou que há uma "relação de excelente cooperação institucional com o Presidente da República" e que, da sua parte, "não há crispação" e "há uma relação franca e leal".

O primeiro-ministro António Costa admite que "houve uma subestimação dos riscos da primeira quinzena de Outubro" e que "houve, seguramente, carência de meios".

Em entrevista à TVI, em Pampilhosa da Serra, António Costa referiu que "temos a noção da excepcionalidade do que aconteceu de 15 para 16 de Outubro. Houve avisos do IPMA, da Protecção Civil na sexta-feira. Mas houve subestimação dos efeitos do furacão Ophelia. Houve muitos avisos nos Açores, mas houve subestimação. A força dos ventos foi devastadora, os meios aéreos chegaram a estar impedidos de actuar."

No entanto, "nalguns casos, na primeira intervenção, [os meios aéreos] podiam ter feito diferença", admite Costa

O governante referiu que, agora, "aquilo que é prioritário é o esforço que temos de fazer para reconstruir e reparar".

Costa diz que as "pessoas exigem respostas concretas, mais do que palavras" e, por isso, "temos de fazer reforma da floresta". "Senti muita determinação por parte das pessoas, em fazer face à situação e resolvê-la para melhor".

Na primeira entrevista depois da tragédia de 15 de Outubro, o primeiro-ministro não respondeu à pergunta sobre se Constança Urbano de Sousa ainda seria ministra se não fosse o discurso do Presidente da República. "Não lhe vou responder a essa pergunta", disse Costa ao jornalista Pedro Pinto.

"A ministra da Administração Interna fez o trabalho que tinha combinado fazer e entendeu que não tinha mais condições de exercer as suas funções e assim foi", acrescentou.

Já sobre a relação com Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro não quis dizer se tinha ficado chocado com as declarações do Chefe de Estado, reafirmou que há uma "relação de excelente cooperação institucional com o Presidente da República" e que, da sua parte, "não há crispação" e "há uma relação franca e leal".

"Um dos contributos que um primeiro-ministro deve dar é não comentar a actividade do Presidente. Seria uma enorme perda para o país que fosse prejudicada essa boa relação", referiu.
No entanto, sempre foi dizendo que "o primeiro-ministro não faz análise política e que as conversas com o Presidente da República não são para ser tornadas públicas, nem agora, nem num futuro livro", num "toque" ao Presidente Cavaco Silva.

Quanto à situação no terreno, o chefe do Governo lembra que em Pedrógão já "cerca de 70 casas estão reconstruídas, 90 estão em obra".

"Aquilo que temos de fazer [após incêndios de Outubro] é o mesmo: pôr mãos à obra".

Questionado sobre o impacto dos fogos nos empregos dos habitantes das zonas afectadas, Costa lembrou que "temos um conjunto de mecanismos para a manutenção dos postos de trabalho" de empresas afectadas e que "estão abertas linhas de apoio ao emprego até 25 milhões de euro até Janeiro".

"Estamos convictos [que os apoios aos incêndios] não vão afectar o défice", mas "a última das preocupações é essa", referiu. "Não podemos, em nome do défice, deixar de apoiar as populações e as famílias", reforçou.

Já sobre a rede SIRESP, Costa não deu novidades mas lembrou que é um sistema que já tem 10 anos e pode ser modernizado. "Nos próximos dois anos vamos enterrar mil quilómetros de cabos".

A última pergunta da TVI foi sobre se o primeiro-ministro poderia garantir que tragédias destas não se iriam repetir. Costa respondeu: "Vamos tudo fazer para que nada se repita e para que nada fique como antes".

Exportação mundial de vinho com a maior queda desde 1961


RTP24 Out, 2017, 14:40 | Mundo

Exportação mundial de vinho com a maior queda desde 1961Tendo em conta os vários paises, é possível verificar que a produção de vinho diminuiu em Itália, França, Espanha e Alemanha | Reuters Staff
As condições ambientais desfavoráveis na Europa provocaram estragos na viticultura. Com a maior área de produção mundial de vinhas destruída, a produção de vinho desceu para o nível mais baixo desde 1961. Em França, a produção de vinho foi vastamente afetada, com uma projeção que aponta para os valores de produção mais baixos das últimas décadas.

Durante a conferência de imprensa na Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), o Diretor-Geral Jean-Marie Aurand referiu que este ano houve uma queda íngreme na produção de vinho de cerca de 246.7 milhões de hectolitros (mhl) - um hectolitro representa 100 litros -, uma queda de 8,2 por cento comparativamente ao ano de 2016.

Tendo em conta os vários paises, é possível verificar que a produção de vinho diminuiu em Itália (39.3 mhl), França (36.7 mhl), Espanha (33.5 mhl) e Alemanha (8.1 mhl).

Em França, a produção de vinho foi afetada nas maiores regiões, incluindo as cidades de Bordeaux e Champagne, com uma projeção do Governo que a produção vai ser a mais baixa das últimas décadas.

Estima-se ainda que a produção de vinho no Reino Unido diminuirá para os valores registados há 36 anos, devido às geadas na primavera e ondas de calor no verão.

Comparando os valores deste ano com os de 2016, Portugal (6.6 mhl), Roménia (5.3 mhl), Hungria (2.9 mhl), Aústria (2.4 mhl) e Estados Unidos (23.3 mhl) são os únicos países com um aumento da produção de vinho.

Ainda assim, na América do Sul a produção aumentou ligeiramente tendo em conta os níveis baixos do ano passado, particularmente na Argentina (11.8 mhl) e no Brasil (3.4 mhl). No Chile, a produção permaneceu baixa, com 9.5 mhl.

O sul de África (10.8 mhl) e a Nova Zelândia (2.9 mhl) mantiveram os níveis de produção.
"Top três" registam os valores mais baixos

França, Itália, Espanha, Estados Unidos, Alemanha, África do Sul e Portugal são alguns dos maiores produtores de vinhos no mundo. Os primeiros três países referidos são o "top três" dos produtores de vinho mundialmente, e foram os que registaram os valores mais baixos, tendo em conta o período homólogo do ano passado.

A projeção da Organização International da Vinha e do Vinho, que exclui o sumo e novos vinhos, revela que a produção de vinho em Itália reduziu para 23 por cento, nos 39.3 mhl, França com uma produção que caiu para os 19 por cento (36.7 mhl) e a produção em Espanha reduziu para os 15 por cento, nos 33.5 mhl.

Tendo em consideração estes valores de produção de vinho, em países como França - o principal exportador do mundo - os produtores apontam para produzir menos vinho, mas que seja de qualidade.

Nestas primeiras projeções faltaram dados de alguns países, nomeadamente da China, pelo que a OIV assume uma produção semelhante à do ano passado, com 11.4 mhl.

Como a madeira queimada acaba nas nossas casas


25.10.2017 16:02 por Ana Catarina André e Bruno Faria Lopes 2811

A madeira ardida nos incêndios deste ano tem valor, está a entrar num ciclo que emprega milhares de pessoas – e vai acabar em produtos que usamos todos os dias.
 

Ricardo Pereira
Na serração Progresso Castanheirense, uma das 40 empresas destruídas pelo incêndio de Pedrogão Grande que em Junho provocou 64 mortes e deixou mais de 150 desalojados, já há máquinas a trabalhar, empilhadores a transportar matéria-prima e camiões carregados e prontos a sair. "Aos poucos, vamos pondo tudo a funcionar", diz Sandra Carvalho, gestora da empresa familiar situada no concelho de Castanheira de Pera. "Estamos a trabalhar com madeira queimada, mas claro que ninguém gosta", desabafa. 

As serrações e os madeireiros são elos de um circuito industrial que usa a madeira de pinheiros e eucaliptos que ardeu nos incêndios. Esta madeira serve para fabricar as paletes de madeira que transportam os produtos que consumimos, para os aglomerados que estão dentro das portas e dos móveis que compramos, para o papel onde escrevemos e lemos, para a construção, para móveis de madeira maciça, para pellets que aquecem casas e dão energia às empresas.

"Há muita madeira queimada nas nossas casas", observa João Gonçalves, director da Centro Pinus, a associação que reúne em Portugal todos os protagonistas da chamada "fileira do pinho", que emprega mais de 50 mil pessoas.  Ao contrário do que a imagem dramática de uma floresta em chamas pode sugerir, a madeira ardida com diâmetro suficiente pode manter intacta a sua validade técnica e comercial.

Aproveitar e valorizar esta madeira é algo visto pelos empresários e peritos da área como um imperativo num país em que, antes de ter ardido este Verão o equivalente ao distrito de Viseu, já havia défice de madeira. Antes dos incêndios recorde deste ano, a Centro Pinus estimava que em Portugal faltava madeira de pinho para cobrir 43% do consumo industrial.