sábado, 11 de novembro de 2017

Seca: Autarcas e agricultores do Alto Alentejo insistem no avanço da Barragem do Pisão


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Autarcas e agricultores do Alto Alentejo retomaram hoje a exigência de construção da Barragem do Pisão, no Crato, projeto hidroagrícola reivindicado há dezenas anos, com forma de resolver os problemas de falta de água na zona.

A barragem já foi anunciada por três primeiros-ministros, Mário Soares, António Guterres e Durão Barroso, mas continua por construir perto da pequena aldeia do Pisão, no concelho do Crato, distrito de Portalegre.

O presidente da Câmara do Crato, Joaquim Diogo, disse hoje à agência Lusa ter solicitado recentemente audiências aos ministérios da Agricultura e do Ambiente para "sensibilizar" o Governo para a necessidade de ser concretizado o projeto hidroagrícola.

A tomada de posição do autarca socialista do Crato surge na sequência de "algum desagrado" ao observar que o Orçamento do Estado para 2018 não contempla "rigorosamente nada" para a construção da Barragem do Pisão, que também não faz parte do Plano Nacional de Barragens.

Para Joaquim Diogo, este projeto hidroagrícola, além de permitir o abastecimento público de água, poderia ser a "grande alavanca" para a "mudança de paradigma" do concelho do Crato, mas também de toda uma região que sairia beneficiada.

"Iríamos ter aqui uma vertente agrícola que podíamos explorar, bem como indústrias de transformação de produtos que fossem cultivados no regadio e outro tipo de indústria que necessite da água como fonte fundamental para a sua atividade, além da vertente turística", disse.

O autarca lembrou que a albufeira já foi "assumida" pela empresa Águas de Portugal como um projeto "fundamental" para o abastecimento público de água.

Contactado hoje pela Lusa, o presidente da Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo (CIMAA) e também presidente da Câmara de Campo Maior, o socialista Ricardo Pinheiro, afirmou que o projeto hidroagrícola do Pisão deve ser encarado como "uma questão prioritária" e um "investimento estratégico" para o Alto Alentejo.

"Ao Alto Alentejo já lhe foi tirado tudo, era o que mais faltava, numa altura profunda de alterações climáticas, nós não termos acesso sequer à água em condições para ser fornecida às populações. Este é o grande ponto de ordem", defendeu.

"Aquilo que é necessário fazer, para já, é sensibilizar os ministros do Ambiente, da Agricultura e do Planeamento e Infraestruturas de que este investimento é estratégico para poder garantir o abastecimento de água às populações, além da sua importância na vertente agrícola", acrescentou.

A presidente da Associação de Agricultores do Distrito de Portalegre (AADP), Fermelinda Carvalho, também defendeu a construção da Barragem do Pisão, numa altura em que a região está a passar por um "momento terrível" devido à seca.

"Esta barragem mudaria a agricultura na região, permitiria fazer outro tipo de culturas e melhorar a produção e a rentabilidade", explicou.

Em junho de 2013, os autarcas dos 15 concelhos do distrito de Portalegre sugeriram ao Governo que tomasse as "medidas necessárias" para angariar verbas provenientes de fundos comunitários para que a obra avançasse.

O último projeto desenvolvido para a construção da barragem, em 2013, segundo a CIMAA, previa que a albufeira abrangesse uma área de 3.200 hectares, com as componentes de abastecimento público de água e de regadio, mas obrigaria à submersão da pequena aldeia do Pisão, com cerca de 100 habitantes.

O projeto apontava para uma capacidade de armazenamento de 100 milhões de metros cúbicos de água e o perímetro de rega poderia beneficiar cerca de nove mil hectares dos concelhos do Crato, Alter do Chão, Fronteira, Portalegre e Avis.

Caso de exploração laboral descoberto após atropelamento de ovelha



Foto: Rui Manuel Ferreira/Global Imagens/Arquivo


08 Novembro 2017 às 17:37

Um homem de 64 anos, alegadamente vítima de exploração laboral numa herdade no concelho de Portel (Évora), foi detetado pela GNR e encaminhado para uma instituição de acolhimento social.

Em comunicado, o Comando Territorial de Évora da GNR divulgou que o caso foi detetado na terça-feira, na sequência de um acidente de viação, envolvendo o atropelamento de uma ovelha.

Chamados ao local, militares do Posto da GNR de Portel, no distrito de Évora, identificaram o condutor do veículo automóvel envolvido no acidente e o pastor responsável pelo rebanho de ovelhas.

No âmbito do processo, segundo a GNR, os militares constataram que o pastor, de 64 anos, estava "a trabalhar numa exploração agrícola" naquele concelho alentejano, que "não era detentor de documento de identificação" e que estava, "alegadamente, retido pelo patrão".


Depois de procederem a diversas diligências, com vista a esclarecer a situação, a GNR averiguou que "o indivíduo era vítima de exploração laboral" e residia "numa casa cedida pela entidade patronal" e "sem as mínimas condições de habitabilidade".

"A vítima ainda informou que não auferia qualquer vencimento, sendo-lhe apenas disponibilizada, esporadicamente, alimentação enlatada e vinho", pode ler-se no comunicado.

O proprietário da exploração agrícola, de nacionalidade portuguesa, mas cuja idade não foi divulgada pela GNR, foi identificado pelos militares da guarda por tráfico de pessoas, tendo o caso sido remetido para o Ministério Público.

Contactado pela agência Lusa, o capitão Bruno Ribeiro, do gabinete de imprensa do Comando-Geral da GNR, elogiou o trabalho dos militares mobilizados para o acidente de viação.

"Tratou-se de um atropelamento animal, como acontecem muitos no Alentejo, mas a história não batia certo" e os militares "notaram que o homem estava debilitado e maltratado em termos de aspeto".

Por isso, continuou, decidiram "ir mais além, no sentido de perceberem quem era aquele indivíduo", e conseguiram "detetar o caso de exploração e retirar a vítima" da herdade.

Segundo a mesma fonte, o pastor foi transportado para o Posto de Portel, onde os militares lhe forneceram uma refeição, e, posteriormente, foi encaminhado "para uma instituição, fora do Alentejo, que apoia vítimas de exploração e tráfico de pessoas".

"O homem já está a ser tratado e acompanhado por especialistas da instituição, que reabilita pessoas que foram vítimas deste tipo de exploração", acrescentou.

Prolongamento do uso de glifosato sem acordo entre Estados-membros da UE



Em protesto, a Greenpeace instalou em frente à sede da Comissão Europeia um posto de consulta para quem quiser fazer análises para verificar eventuais vestígios de glifosato no sangue.


 09.11.2017 10h39

Os Estados-membros da União Europeia não chegaram a acordo quanto à proposta da Comissão para renovar a licença de uso do herbicida glifosato por mais cinco anos. A proposta hoje rejeitada será apresentada no final deste mês perante o comité de recurso, uma instância destinada a apoiar a tomada de decisões em casos sensíveis e problemáticos.

Bruxelas não conseguiu reunir a maioria qualificada necessária para a aprovação da proposta, anunciou a Comissão Europeia.

Uma maioria de 14 países pronunciaram-se a favor da proposta, mas essa votação favorável não é representativa de 65% da população, requisito necessário para a sua aprovação, refere em comunicado a Comissão Europeia.

"A maioria dos Estados-membros (14) apoiou a proposta da Comissão, tendo havido nove votos contra e cinco abstenções" na reunião de peritos do Comité Permanente da Cadeia Alimentar e da Saúde Animal.
O resultado da votação foi de imediato divulgado nas redes sociais pela ministra do Ambiente luxemburguesa, Carole Dieschbourg, e pelo o ministro da Agricultura belga, Denis Ducarme.

 
A autorização para a utilização de glifosato expira no próximo 15 de dezembro. Há mais de 1 ano, a Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou este produto como "carcinogénio provável para o ser humano e carcinogénio provado para animais de laboratório".

O Governo de Paris já tinha anunciado ontem a oposição a esta proposta de Bruxelas. .

"A França tem como posição os três anos", disse o ministro do Ambiente Nicolas Hulot em entrevista à rádio RMC, sublinhando que se a proposta for diferente, Paris iria "votar contra".

Combate ao desperdício alimentar terá plataforma e regime de doação mais simples

Estima-se que um milhão de toneladas de alimentos sejam anualmente desperdiçados, diz ministro.


LUSA 8 de Novembro de 2017, 19:18 Partilhar notícia


A criação de uma plataforma electrónica e a simplificação do regime de doação de alimentos estão entre as medidas da Estratégia Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar, nesta quarta-feira apresentada em Lisboa pelo ministro da Agricultura.

"Estima-se que um milhão de toneladas de alimentos sãos sejam anualmente desperdiçados e esse desperdício verifica-se em todas as cadeias do processo, desde a exploração agrícola até ao consumidor final, digamos do prado ao prato", afirmou Capoulas Santos.


"Temos que criar novas maneiras de comer"

O governante, que falava à agência Lusa após a apresentação da estratégia nacional e do Plano de Acção do Combate ao Desperdício Alimentar, acrescentou que "as maiores perdas verificam-se na origem e no consumidor final".

A estratégia nacional, que envolveu 10 áreas governativas, aponta para nove objectivos operacionais e 14 medidas que visam colocar a sociedade portuguesa no caminho do "desperdício zero".

"Estas 14 medidas vão desde a educação, a formação, à criação de plataformas, à criação de mecanismos que facilitem a doação, à criação de sites que permitam pôr em contacto aqueles que têm o excesso de produção com aqueles que dela necessitam, à articulação com a sociedade civil, designadamente com os bancos alimentares", frisou.

O ministro revelou que a comissão nacional criada para elaborar a estratégia nacional, constituída por representantes da administração pública, da federação dos bancos alimentares e associações de autarquias, vai continuar em funções, para "monitorizar" o plano de acção.

Segundo Eduardo Diniz, coordenador da comissão nacional, a estratégia tem como principais objectivos "prevenir, reduzir e monitorizar" o desperdício de alimentos.

Nesse sentido, o país pretende contribuir para a redução do desperdício alimentar, apontada pelas Nações Unidas em 50% até 2030, e pela União Europeia em 30% até 2025.

O debate público relacionado com a proposta de estratégia nacional, que decorreu até Setembro, contou com mais de três centenas de participantes, incluindo empresas e instituições.

"A questão da sensibilização e da formação foi das questões mais adiantadas [no debate], quer para a população em idade escolar, quer também dos próprios intervenientes ao longo da cadeia, desde os produtores da indústria agroalimentar", vincou Eduardo Diniz.

Código de conduta para organizações
A criação de uma plataforma electrónica colaborativa, para identificar a disponibilidade de géneros alimentícios e quem deles necessita, facilitando a doação, é uma das medidas previstas, para estar em funcionamento em 2019, com um projecto-piloto até Outubro de 2018.

A facilitação do regime de doação de alimentos deverá ser concretizada a partir de 2018, enquanto a promoção de locais específicos em lojas, para venda de produtos alimentares próximos da data limite de validade, deverá ser adoptada em 2019.

A criação de um selo distintivo para as organizações que adiram a um código de conduta também está contemplada na estratégia.

Outra medida respeita à instituição de um prémio de excelência anual, para incentivar os operadores da cadeia agroalimentar, no sentido de desenvolver iniciativas pioneiras e criativas no combate ao desperdício.

A sensibilização dos consumidores para os prazos de validade dos géneros alimentícios, ou do modo de conservação, e o envolvimento dos jovens, criando projectos-piloto nas escolas, estão igualmente entre as medidas apontadas.

Na apresentação da estratégia nacional, que contou com a presença do secretário de Estado da Agricultura e Alimentação, Luis Medeiros Vieira, foram destacados os projectos Fruta Feia, de venda de cabazes alimentares, e Restolho, de recolha de produtos deixados nos campos, como exemplos de combate ao desperdício alimentar que já estão no terreno.

A maior plantação de canábis em Portugal já está a ser cultivada

Web Summit


Empresa instalou produção de canábis no Parque Tecnológico de Cantanhede, no distrito de Coimbra
Foto: Arquivo Global Imagens


09 Novembro 2017 às 14:00

A maior plantação de canábis para fins medicinais começou a ser cultivada em Portugal há duas semanas e, em breve, serão mais de cem mil plantas.

Depois de um ano a viajar por todo o mundo, a Tilray escolheu o Parque Tecnológico de Cantanhede, no distrito de Coimbra, para instalar a sua produção de canábis. No verão, a empresa canadiana teve luz verde do Governo para avançar com o projeto que, há duas semanas, começou a ganhar forma.

Meta da empresa é ter "mais de cem mil plantas" para exportar
"Começámos a plantar há duas semanas, mas as plantas ainda são muito pequenas. Têm cerca de dez centímetros", contou à Lusa Brendan Kennedy, diretor-executivo da Tilray, no final da sua apresentação na Web Summit, que começou na terça-feira em Lisboa e termina esta quinta-feira.

Dentro de poucos meses, contou, estas plantas "terão entre um a dois metros" e a meta da empresa é ter "mais de cem mil plantas" para exportar para países que a queiram usar para fins medicinais.

Alemanha, Croácia e Chipre são alguns dos países que em breve vão começar a importar canábis plantada em Cantanhede.

A Tilray vai investir cerca de 20 milhões de euros até 2020 num negócio que deverá criar cem empregos.

Também presente na Web Summit, João Moura, presidente do Parque Tecnológico de Cantanhede, o Biocant, acredita que a empresa canadiana poderá vir a contratar investigadores portugueses.

Neste momento, acrescentou João Moura, a Tilray já utiliza os laboratórios do parque para fazer investigação. "A Biocant tem cerca de 300 quadros altamente qualificados e esperamos que a Tilray aproveite esta mais-valia", disse à Lusa o responsável parque tecnológico.

Portugal tem "o clima ideal para o crescimento da planta"
A existência de trabalhadores com formação na área da produção agrícola, assim como a comunidade de investigadores, que "pode levar a cabo investigação nas áreas da biotecnologia e das ciências da vida" foram duas das razões apontadas por Brendan Kennedy para escolher Portugal. A outra razão foi "o clima ideal para o crescimento da planta".

A Web Summit decorreu esta semana no Altice Arena (antigo Meo Arena) e na Feira Internacional de Lisboa (FIL) e termina esta quinta-feira.

Viegas pressiona Governo a revelar capítulo secreto de relatório de Pedrógão


10.11.2017 22:45 

O investigador da Universidade de Coimbra deu uma data-limite: um mês.
  
 Viegas pressiona Governo a revelar capítulo secreto de relatório de Pedrógão
Xavier Viegas deu um mês ao Governo para que revele o capítulo mantido secreto do relatório acerca do incêndio em Pedrógão Grande. De acordo com a RTP, se o executivo não o fizer, o investigador do centro de Estudos sobre Incêndios Florestais da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra tomará a iniciativa.

O Governo sustenta que o capítulo 6 contém a identidade de algumas pessoas, e por isso foi pedido um parecer à Comissão Nacional de Protecção de Dados. Mas Xavier Viegas desmente que haja dados pessoais: são é apontadas falhas graves no socorro às vítimas, avança a RTP.

A Associação das Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande quer que o capítulo seis seja revelado. Houve um acordo em como este seria tornado público depois de apagados os nomes das vítimas. 

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Especialistas debatem no Porto como a cortiça favorece as vendas de vinho


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Investigadores e especialistas dos Estados Unidos e da China analisam hoje, no Porto, como as exportações de vinho beneficiam de vedantes naturais, o que a Associação Portuguesa da Cortiça (APCOR) assegura estar comprovado por vários estudos.

A discussão vai decorrer no âmbito de um ciclo de conferências promovido pela APCOR, que, representando cerca de 80% da produção nacional de cortiça e mais de 85% das exportações, quer "demonstrar que a rolha natural acrescenta valor ao vinho, quer em termos sensoriais, quer em termos materiais".

Para João Rui Ferreira, presidente da APCOR, disso resulta que, em agosto deste ano, as exportações de vedantes em cortiça se situassem na ordem dos 470 milhões de euros, o que representará um aumento de cerca de 4,5% relativamente ao período homólogo de 2016.

"Os consumidores de todo o mundo reconhecem que há uma ligação entre a cortiça e a qualidade do vinho e isso tem contribuído para uma melhor performance nas vendas", explicou, acrescentando que, "como a tendência mundial tem sido para se consumir menos e, em alternativa, se consumir melhor, estas são boas notícias para o universo do vinho, cuja 'premiunização' vai favorecer também o setor da cortiça".


Idêntica perspetiva têm os considerados "gurus do vinho" que hoje conduzem as conferências da APCOR: o norte-americano Mike Veseth, autor do "The Wine Economist", já distinguido como o melhor blog vínico do mundo, a também americana Rebecca Bleibaum, especialista em investigação sensorial e em estudos sobre hábitos de consumo, e a chinesa Dorian Tang, diretora executiva da empresa líder na importação e distribuição de vinhos na China.

Estes oradores aconselham o uso da cortiça, em concordância com as conclusões de vários estudos recentes desenvolvidos pela APCOR, como um em que a Universidade de Oxford demonstrou que o som da rolha natural ao libertar-se da garrafa aumenta em 15% a perceção do consumidor quanto à qualidade do vinho contido nesse recipiente.

Outra investigação concluiu que "beber vinho selado com cortiça aumenta o prazer do consumidor, que está disponível para pagar mais por um vinho assim vedado".

Esta posição tem-se revelado, aliás, transversal a diferentes mercados, de acordo com os resultados de inquéritos que, desenvolvidos por diferentes agentes, concluem que, tanto nos Estados Unidos como na China, por exemplo, 97% dos consumidores acredita que as rolhas de cortiça são "um sinal da alta ou muito alta qualidade do vinho".

Confiantes nessa perceção, os produtores têm apostado mais no vedante natural: sete em cada dez garrafas de vinho são vedadas com rolha de cortiça, "mantendo todas as suas qualidades intactas durante séculos", 95% do 'Top 100' dos vinhos mais vendidos na China estão selados com esse produto natural e 95% do 'Top 100' dos melhores vinhos avaliados pela revista Wine Spectator também apostam nesse vedante.

Essa preferência reflete-se também no que a APCOR descreve como "a melhor performance económica" dos vinhos em garrafa com cortiça, tanto ao nível dos preços individuais como do volume global de vendas.

No primeiro caso, uma garrafa com rolha natural em espaços de hotelaria e restauração pode chegar a custar mais sete dólares do que uma que exiba vedante sintético. No Reino Unido esse diferencial será de dois dólares, em Espanha de 2,61, nos Estados Unidos 3,87 e na China 5,15.

Já quanto a volume de negócios, a APCOR realça que, só no mercado americano, as caixas de vinhos com rolha de cortiça registaram entre 2010 e 2017 um aumento de 43% nas vendas, enquanto o crescimento dos que utilizam vedantes artificiais se ficou pelos 16%.

Governo reforça verbas a agricultores e envia toneladas de açúcar para abelhas



08 nov, 2017 - 10:24

São anúncios feitos pelo ministro da Agricultura na Manhã da Renascença, onde Capoulas Santos levantou o véu sobre a Estratégia Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar, apresentada esta quarta-feira.

O Governo vai reforçar o apoio aos agricultores afectados pelos incêndios de Outubro.

Perante as queixas de morosidade e falta de recursos para atender as necessidades mais urgentes, o ministro da Agricultura anuncia mais apoio financeiro e a fundo perdido.

"Aos muito pequenos agricultores – aqueles que não estão sequer registados e que sofreram prejuízos mais pequenos, mas muito importantes para as suas vidas – vamos atribuir uma medida que vai indemnizar até 1.053 euros todas as despesas a 100%. É uma medida que será financiada pelo Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social", indicou Capoulas Santos na Renascença.

"Para os agricultores propriamente ditos, com actividade declarada, vamos adoptar um conjunto de medidas que é o seguinte: a partir dos 1.053 euros e até aos 5 mil euros, os prejuízos são pagos integralmente a 100%; os prejuízos até 50 mil euros, serão pagos a 85%; no último escalão, entre os 50 mil euros e os 400 mil euros, serão efectuadas indeminizações a 50%", prosseguiu.

As candidaturas a estes fundos deverão ser abertas em breve. "Esta semana serão publicadas em Diário da República as respectivas portarias, abrir-se-á um período de candidaturas – de duas a três semanas para os pequenos prejuízos e de cerca de um mês para todos os outros – e logo que estejam formalizadas, serão apreciadas e mediatamente pagas", garantiu o ministro.

100 toneladas de açúcar para alimentar abelhas

No que respeita à alimentação dos animais, Capoulas Santos anunciou também um reforço nas rações, nomeadamente para as abelhas.

"Hoje mesmo começam a ser distribuídos alimentos para um efectivo pecuário muito especial que são as abelhas. Vamos fornecer à Federação dos Apicultores e às suas 23 organizações, 100 toneladas de açúcar, uma vez que é através do açúcar que se faz o melaço, que é o alimento alternativo para as abelhas quando não existe flora", explicou.

O ministro da Agricultura lembrou depois que já estão a ser distribuídas, "desde há várias semanas, cerca de cinco mil toneladas de rações", na sequência de um acordo com a Indústria Portuguesa de Rações, "a que se juntam muitas toneladas de doações feitas pelo Movimento Associativo dos Agricultores e outros doadores", pelo que, "até agora, está longe de estar esgotada esta disponibilidade".

"Abrimos ainda uma linha de crédito até 5 milhões de euros para as explorações de maior dimensão poderem também financiar-se para alimentação animal, atribuindo-se o montante de 140 euros por bovino e cerca de 40 euros por ovino", adiantou também.

Portugal viveu, em Outubro, a segunda tragédia no âmbito dos incêndios florestais no espaço de poucos meses , depois de um grande incêndio em Pedrógão Grande ter matado 64 pessoas.

O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) indica que o fogo consumiu, só este ano, mais de 418 mil hectares, sendo que cerca de metade da área florestal ardeu na primeira quinzena de Outubro. 
14 medidas para combater o desperdício alimentar

O Governo apresenta, ao meio-dia desta quarta-feira, a Estratégia Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar. São 14 medidas com o objectivo de chegar ao desperdício zero, resultantes do trabalho realizado por um grupo constituído por elementos de "nove áreas de governação, dos governos regionais da Madeira e dos Açores, a Federação de Bancos Alimentares e autarcas".

O grupo de trabalho "produziu o documento de Estratégia e o plano de acção", que vai "incidir em três patamares: prevenção, redução e monitorização", anunciou o ministro da Agricultura.

Entre as medidas previstas estão a criação, nos supermercados, de zonas destinadas a produtos perto do fim do prazo de validade a preços mais baixos, a criação de uma plataforma que permita reunir quem tem para dar e quem precisa de receber e ainda campanhas de sensibilização, a começar pelas escolas.

Cada português desperdiça, em média, 96,9 quilos de alimentos por ano – o peso médio de um porco. Ao nível europeu, estamos a falar de 173 quilos.

O desperdício alimentar "é, de facto, um tema muito actual que nos deve fazer, não só reflectir, como agir", afirma Capoulas Santos.

"Num mundo em que há cada vez mais bocas para alimentar, em que a humanidade cresce a um ritmo impressionante e em que haverá, em 2050, quase 10 mil milhões de habitantes, quer dizer que teremos de praticamente duplicar a produção de alimentos à escala mundial", diz, acrescentando que "nalgumas áreas, a situação social e económica vai melhorando, o que induz a novos padrões de consumo de produtos que são, eles próprios, lesivos do ambiente, porque implicam desflorestações cada vez maiores para haver terrenos agrícolas capazes de satisfazer essas necessidades".

A ONU pretende, por isso, reduzir, até 2030, até 50% do actual desperdício. "A União Europeia tem, no contexto da chamada nova política da Economia Circular, objectivos um pouco mais modestos", revela o ministro.

"Quando falamos em desperdício alimentar, estamos a falar numa cadeia de valor que vai desde a produção ao consumidor final. Estima-se que, ao nível da agricultura, da pecuária, das actividades da pesca, se perca um terço dos alimentos, cerca de 32%; depois, na indústria, essa perda é à volta de 7,5%; na distribuição, portanto na cadeia de comércio, estima-se que se voltem a perder mais 30%; e no consumidor final cerca de 30%", indica.

"Uma boa parte do problema esta na nossa despensa e na nossa cozinha", resume Capoulas Santos.

Agricultores pedem apoios ao Governo para minimizar efeitos dos incêndios e da seca


8/11/2017, 18:00

A Confederação Nacional da Agricultura instou o Governo a incluir no Orçamento de Estado verbas destinadas ao apoio aos agricultores que foram afetados pelos incêndios e pela seca persistente.

A Confederação Nacional da Agricultura instou esta quarta-feira o Governo a incluir no Orçamento de Estado para 2018 verbas destinadas ao apoio aos agricultores que foram afetados pelos incêndios e pela seca persistente.

Em comunicado, o CNA sugere à tutela a aplicação de um conjunto de medidas com vista à minimização dos efeitos dos incêndios e da seca e a prevenção de fenómenos semelhantes.

Uma das medidas defendidas pela CNA para o combate aos fogos florestais é que o Governo assuma, em colaboração com as autarquias e com os produtores florestais, a criação e gestão dos parques de receção e comercialização das madeiras "salvadas" dos incêndios.


"Será uma forma de conseguir algum rendimento aos pequenos e médios produtores florestais afetados e também uma forma de limpar as matas para defender o Ambiente e outros recursos como a água e os solos", sublinham.

Por outro lado, os agricultores defendem a promoção de "faixas limpas de matagais" e a "floresta devidamente controlada, até um quilómetro fora dos perímetros urbanos e também áreas limpas dentro destes".

"De uma vez por todas, muito convém que se assuma a necessidade estratégica de intervir na floresta nacional, desde logo a nível governamental, de forma completamente diferente daquela que tem sido seguida por sucessivos Governos, com os trágicos e desastrosos resultados que se veem", apontam.

Relativamente à seca persistente, que tem vindo a assolar o país, a CNA pede um "apoio extraordinário" para os agricultores, nomeadamente a reposição do reembolso "pelo menos de parte do valor do consumo de energia elétrica nas explorações agrícolas, a isenção (temporária) do pagamento de taxas hídricas e a criação de linhas de crédito bonificado à lavoura".

A CNA defende ainda que Portugal se candidate ao "Fundo Europeu de Solidariedade" da União Europeia para obter "apoios excecionais" para as pequenas e médias explorações familiares e ainda medidas estruturais de combate à erosão e à desflorestação.

O ministro da Agricultura anunciou hoje que os processos para apoio aos agricultores afetados pelos incêndios florestais serão iniciados "ainda esta semana", com medidas para prejuízos de pequena dimensão e outras até 400 mil euros.

"Tenciono pôr em execução ainda esta semana, através da publicação das correspondentes portarias e despachos no Diário da Republica, as medidas que o Governo decidiu finalmente concluir relativamente aos apoios aos agricultores", disse Capoulas Santos, em declarações à Lusa.

Agricultores esperam que sejam travadas alterações ao regime simplificado


3/11/2017, 15:13

A Confederação dos Agricultores de Portugal espera que sejam travadas alterações ao regime simplificado de IRS, considerando que o que está proposto representa "uma catástrofe" para os agricultores.

A Confederação dos Agricultores de Portugal espera que sejam travadas as alterações ao regime simplificado de IRS, considerando que o que está proposto no Orçamento do Estado para 2018 representa "uma catástrofe" para os agricultores.

"O que está previsto ao nível do regime simplificado para os agricultores é uma catástrofe", afirmou esta sexta-feira o presidente da CAP, Eduardo Oliveira e Sousa.


O responsável falava aos jornalistas à margem de uma reunião do conselho consultivo da CAP de Trás-os-Montes, que juntou, em Carrazedo de Montenegro, concelho de Valpaços, dirigentes associativos regionais.

"Nesta região, onde entre cerca de 80 a 90% dos agricultores estão abrangidos pelo regime simplificado, estes ficarão numa situação muito complicada em termos daquilo que será o agravamento fiscal em termos de IRS", salientou o dirigente.

Enquanto em Lisboa se discutia na generalidade o Orçamento do Estado para 2018, em Trás-os-Montes, Eduardo Oliveira e Sousa alertava para os impactos que as alterações previstas ao regime simplificado podem ter nos agricultores e disse acreditar que esta questão será resolvida em sede de debate na especialidade da proposta de OE.

Na quinta-feira, o primeiro-ministro, António Costa, reconheceu que as alterações propostas ao regime simplificado de IRS levantam um "problema" e garantiu que está disponível para mudar.

"Tenho esperança que tenha sido talvez um pouco de falta de atenção na forma como o assunto foi pensado e que agora seja feita a alteração que permita recuperar a situação que estava em vigor", frisou o presidente da CAP.

É que, a concretizar-se esta alteração, há agricultores que poderiam ver o seu "IRS aumentar 400 ou 500%". "Isto não é pensável", sustentou Eduardo Oliveira e Sousa.

Portugal é o país da União Europeia com mais agricultores com mais de 64 anos


Portugal é o quinto país com mais emprego na agricultura em toda a União Europeia, mas também é o país com a maior percentagem de agricultores com mais de 64 anos.

Sara  Antunes Sara Antunes saraantunes@negocios.pt
08 de novembro de 2017 às 11:18

Em 2015, cerca de 10 milhões de pessoas trabalhavam na agricultura na União Europeia, segundo os dados divulgados esta quarta-feira, 8 de Novembro, pelo Eurostat. Este número corresponde a 4,4% do total de emprego existente na região.
 
O país com maior percentagem de emprego na agricultura é a Roménia, com mais de 25%, seguida da Bulgária, com cerca de 18%. Os dados referem-se a 2015, com Portugal a surgir como o quinto país da União Europeia com mais emprego na agricultura (cerca de 9%).
 
O Eurostat revela ainda que cerca de 60% das pessoas que trabalham na agricultura têm entre 40 e 60 anos, 32% têm menos de 40 anos e 9% têm mais de 64 anos.
 
Portugal destaca-se nesta questão. 42% das pessoas que trabalham na agricultura têm mais de 64 anos. É o país onde a percentagem de pessoas com mais de 64 anos no activo é maior. O segundo país onde a percentagem de pessoas com mais de 64 anos a trabalhar é mais elevada é a Irlanda, com 22%. O Reino Unido é o terceiro, com 19%.

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Santini lança gelado de castanha

07.11.2017 15:03 

O São Martinho está a chegar e a gelataria Santini decidiu celebrá-lo com o lançamento de um gelado de castanha, disponível nas lojas a partir de 10 de Novembro
A gelataria Santini decidiu criar para o São Martinho um gelado de castanha, disponível nas lojas a partir de 10 de Novembro. 

Esta edição é limitada e destina-se apenas à celebração do Magusto, época em que, segundo Eduardo Santini, administrador e responsável pela produção da Santini, "os clientes costumam perguntar pelo sabor de castanha", como disse em comunicado enviado às redacções.

O sabor foi criado em colaboração com a Frusantos, que produz castanha Saudade – uma variedade de castanha produzida em Sernancelhe, Viseu, e conhecida por ser mais doce, brilhante e fácil de descascar.

A marca Santini é conhecida por inovar nos seus produtos, tendo já criado sucessos como as bombocas de gelado, os bombons recheados de gelado ou o pirilampo dos gelados - um gelado que brilha no escuro. 

O sabor a castanha está disponível em todas as lojas da marca de 10 a 19 de Novembro. Até 12, quem comprar gelados com este sabor recebe um cartuxo com castanhas Saudade e uma receita à base de castanha para experimentar em casa. 

Organização de produtores e marca própria podem valorizar mel do Algarve


A criação de organizações de produtores e de marca própria que valorize o mel do Algarve são metas que estiveram hoje em foco no X Encontro Regional de Apicultura, em Faro, disse o diretor regional de Agricultura e Pescas.

O responsável máximo da Direção Regional de Agricultura e Pescas (DRAP) do Algarve, Fernando Severino, fez um balanço positivo da iniciativa que juntou na sede do organismo decisores, técnicos e produtores e disse à agência Lusa que o setor "vive com saúde" na região, onde "existe o menor número de apicultores, mas estão localizados os de maior dimensão".

"Estão registados 10.000 apicultores em Portugal, no Algarve nós temos este ano 744. E estes 744 apicultores no Algarve têm 8.291 apiários e um total de 120.000 colmeias. Ora, estima-se que estas colmeias produzirão mel com um valor à volta dos 10 milhões de euros", quantificou o diretor regional.

Fernando Severino acrescentou que, "considerando os subprodutos, como o pólen ou a cera", a apicultura no Algarve tem "um valor à volta dos 15 milhões de euros", o que faz da atividade um "setor bastante importante para a agricultura regional".


"[A apicultura] É um setor que respira saúde. Sofre aqui um problema, porque é uma pena não termos ainda uma organização de produtores que possa fomentar uma maior concentração da produção, porque muito deste mel é exportado e há importância de dinamizar a existência de uma marca associada ao Algarve", analisou o diretor regional de Agricultura.

Fernando Severino referiu que "não há problemas de escoamento" e disse que "o mel se vende bem e a bons preços", porque "é um mel de qualidade o algarvio".

"Agora, em termos de futuro e de mercado competitivo, era importante este mel e os apicultores, consequentemente, se organizassem de uma forma mais estruturada em termos de organizações e promovessem uma marca associada à região", reiterou.

Os dados do anterior quadro comunitário de apoio (PRODER) refletem que na região mais a sul de Portugal apostaram por produzir mel "metade dos jovens agricultores que investiram no Algarve", destacou Fernando Severino, precisando que "o número total foi de 500, portanto 250 agricultores investiram na apicultura".

"Nas nossas estimativas dinamizaram qualquer coisa como 400 postos de trabalho na região", congratulou-se o responsável pela agricultura e pescas do Algarve, salientando a necessidade de aproveitar ainda mais o "potencial enorme deste produto para exportação", porque o mel do Algarve "lá fora é considerado de elevada qualidade".

Fernando Severino considerou que é também importante "trabalhar a valorização da parte comercial" do produto e apostar no "mel biológico" para poder haver "acréscimo do preço por quilo sem aumentar produção".

"Temos as alterações climáticas, não podemos fugir a isso, e com a seca não há tanta riqueza florística", advertiu, sublinhando que há margem para crescer em rentabilidade mesmo com a diminuição das condições de produção no terreno por força da mudança nos padrões meteorológicos.

O diretor regional de Agricultura e Pescas qualificou o encontro de hoje como um dos "pontos mais altos da apicultura em termos regionais e até nacionais", devido à relevância dos participantes para o setor.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Agricultura deve investir na luta contra a irregularidade do clima

5/11/2017, 14:00

O professor catedrático António José Monteiro alerta para o facto de os agricultores terem de investir em sistemas que combatam a irregularidade climática.

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JOSÉ COELHO/LUSA

Os agricultores devem investir crescentemente em sistemas que permitam "lutar contra a irregularidade" climática, sobretudo ao nível da rega, alertou o professor catedrático António José Monteiro, referindo que o país irá "sofrer muito" se o inverno for seco.

Em declarações à Lusa, o engenheiro e professor do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa sublinhou que a irregularidade do clima dificulta em muito a gestão agrícola, porque a produção está preparada para uma determinada variação — ter chuva ou calor em certos períodos – e "quando tudo se inverte as plantas reagem muito mal".

Este ano, exemplificou, houve "reações na vinha e nos pomares". A "situação de seca global" no território português afeta todas as culturas típicas do verão.

As culturas que consomem mais água, como a horticultura, vão ser "penalizadas" por terem um custo acrescido se a precipitação não for suficiente neste inverno, embora a previsão das alterações climáticas ainda não aponte rigorosamente se vai haver menos ou mais chuva, mencionou o professor catedrático.

O que parece certo, no seu entender, é que "a irregularidade do clima aumenta, isto é, os fenómenos excecionais aumentam". É exemplo desses fenómenos o facto de o mês de outubro passado ter sido o mais quente dos últimos 87 anos.

"Se tivermos um inverno muito seco, vamos todos sofrer muito, porque vai ser o segundo, a seguir ao inverno passado", recordou.

Num clima como o de Portugal, mediterrânico — em que chove quando está frio e não quando está quente, o que "é mau para as plantas" -, é necessário acumular água no inverno, nas albufeiras, nos sistemas de regadio ou nos solos (águas subterrâneas que se utilizam nos poços).

"Nós cada vez temos de investir mais em sistemas que nos permitam lutar contra a irregularidade, nomeadamente os sistemas de rega. Aqui há 20, 30 anos faziam-se muitas culturas a que chamamos de sequeiro — não se regava, confiava-se que vinha chuva. Como o clima está muito mais irregular, um agricultor não pode confiar só na chuva, tem de ter ferramentas — um sistema de rega, outros sistemas de intervenção – para poder acorrer à cultura quando o clima não está de acordo", afirmou António José Monteiro.

O especialista reconhece que estas medidas requerem um grande investimento, mas lembra que a agricultura é hoje uma atividade que movimenta milhões e com vários apoios, além de ser cada vez mais rigorosa, com um crescente domínio da gestão da água.

"Enquanto não tiver vindo a precipitação normal do outono e do inverno, há razão para estarmos preocupados", afirmou.

Ainda assim, quer-se "muita chuva, mas devagarinho, para a água ter tempo de se infiltrar no solo" – se a precipitação for muito intensa começa a haver escorrência "e este ano, com os incêndios, isso era dramático".

Nas zonas que registaram fogos florestais há cinzas que poderão ir para os rios e albufeiras.

"Como ainda não choveu, não há vegetação herbácea que proteja as cinzas. Se chover intensamente, vai ser uma lavagem terrível", perspetivou.

Criadores de gado do Alentejo distribuem água e comida “de manhã à noite”


5/11/2017, 14:07163
Criadores de gado como Joaquim Martinho são obrigados a distribuir comida e água de manhã à noite. A culpa é de uma seca muito grande, como nunca antes tinham visto.

O dia ainda não "despertou" e já Joaquim Martinho, produtor pecuário na zona de Pavia, no concelho de Mora (Évora), anda pelo campo, a carregar e a distribuir água e comida pelos animais, devido à seca.

Em pleno outono, numa altura em que o gado já devia estar a comer erva crescida na herdade, se a chuva tivesse caído em abundância e o tempo não tivesse estado tão quente, a azáfama do agricultor é marcada pela seca e começa antes do nascer do Sol, repetindo-se várias vezes ao longo da jornada de trabalho.

Com recurso a tratores, Joaquim e os seus trabalhadores, espalham pelos solos, ainda áridos, suplementos alimentares comprados, como feno e luzerna, que o rebanho das 2.600 ovelhas de raça Merino Preto se apressa a comer.

As charcas estão secas e, de regresso ao monte, os homens carregam para depósitos água tirada de um dos furos que subsistem e fazem nova viagem, para outro ponto da herdade, para dar de beber ao resto do rebanho.

"Nunca tinha visto uma seca tão grande. Houve já secas, mas tínhamos água e alimento para os animais. Este ano, desde agosto, setembro e agora outubro, tenho estado sempre a dar feno, luzerna, tacos, aveia, farinha, porque senão os animais não conseguem. E tenho que andar com cisternas a carregar água para os gamões [bebedouros] para elas poderem beber", conta à agência Lusa Joaquim Martinho.

Um dos seus trabalhadores, Manuel Pires, relata a "mesma labuta, de manhã à noite".

"A gente podia andar um bocadinho mais folgados, mas não, tem que ser todo o dia a carregar água e comida. Isto está mau, muito mau", assinala.

A situação de Joaquim Martinho, o maior criador mundial de ovelhas Merino Preto, que possui também 230 cabras serpentinas e 40 vacas, encontra "eco" nos outros produtores pecuários da região, que vivem os mesmos tempos difíceis da seca, que a chuva recente não resolveu.

Com a totalidade do território de Portugal continental, no final de outubro, em seca severa (24,8%) e extrema (75,2%), segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), o Alentejo é das zonas mais afetadas.

"Normalmente, em 10 anos, vêm dois ou três anos complicados. Só que nós, embora saibamos que, ciclicamente, vêm esses anos, queremos ver se eles não vêm", diz o agricultor José Maria Vaz Freire, que tem mais de 200 bovinos de raça Mertolenga pura e cruzada com Limousine, numa herdade na "fronteira" entre os concelhos de Évora e Viana do Alentejo.

O ano de 2016 "foi terrível" e, este ano, assiste-se à "continuação do tempo de seca", conta o criador. Os furos vão dando para o abeberamento do gado, mas a sua barragem, na bacia do Sado, "a mais grave a nível nacional", está com 10% de água, o que inviabilizou a rega dos 12 hectares com culturas para os animais comerem: "É uma miséria, o regadio transformou-se em sequeiro".

A sua produção de feno e de outros produtos para alimentar os animais teve um corte para metade, mas, apesar disso, tem chegado, graças a alguma "ginástica".

"Só começo a dar alimento às vacas à base de feno, à mão, em finais de setembro. Este ano, comecei em junho e, por isso, temos que dividir a alimentação de quatro meses por seis ou sete. É um exercício que estamos a fazer. Não queremos engordar as vacas, mas sim mantê-las", sem perdas de peso, explica.

Obrigados a soluções alternativas para manterem o gado em boas condições, os produtores "estão a braços" com despesa acrescida: "Este ano a pastagem foi muito curta, são mais dois ou três meses de gastos e não sei como é que isto vai acabar", diz José Maria Vaz Freire.

"Tenho andado a juntar algum dinheirinho e gastei-o agora, nestes dois últimos meses. Já passa dos 20 mil euros, só em feno, luzerna e tacos e aveia e farinha. E ainda vou gastar mais", vinca Joaquim Martinho, que tem borregos já vendidos, mas cujo encaixe financeiro "não dá para pagar a alimentação dos meses anteriores".

Num ano tão seco, a chuva dos últimos dias é bem-vinda, mas a atenção dos agricultores continua voltada para o céu. Para alívio dos dias atarefados da seca, tem de chover por um período mais longo e sem muita intensidade, para não causar enxurradas que provoquem a erosão dos solos, "despidos" de vegetação

"Temos aqui um aparelho para medir o que vai chovendo ao longo dos anos e é insignificante, mesmo insignificante, o que choveu este ano. Nem para molhar as pessoas deu, nem para lavar a cabeça", brinca José Maria Vaz Freire, que acredita que as coisas vão melhorar: " Os agricultores são pessoas que têm muita fé e vamos trabalhando na esperança de que um dia venha a chuva".

Alentejo já pensa em alterar culturas para "fintar" a seca



Braço do Guadiana, no Alandroal, totalmente seco  |  NUNO VEIGA/LUSA
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Perante a seca severa que afeta mais de 80% de Portugal, investigadores defendem a necessidade de a agricultura alentejana apostar em culturas tradicionais que gastem menos água

Se em vez de produzir milho nos cerca de cinco hectares que detém próximo de Alqueva Jorge apostasse em culturas de inverno, como trigo ou cevada, estaria a poupar mais de 30 mil metros cúbicos de água por ano. É que enquanto o hectare de milho, cultura de primavera-verão, consome entre seis mil e 9 mil metros cúbicos anuais, as outras culturas rondam os 500.

"Claro que conheço esta realidade, mas temos a questão do rendimento, que no milho é maior. Quem nos paga essa aventura?", questiona este agricultor alentejano, numa altura em que alguns dos seus colegas e investigadores já defendem que, perante a seca severa, é hora de investir em culturas sustentáveis, com menor consumo de recursos hídricos, para aproveitar melhor a água e aumentar a produção.

"Se pretendemos resolver o problema da seca com a rega, nunca vamos ter água suficiente", alerta Mário Carvalho, professor no departamento de Agricultura da Universidade de Évora, que se tem dedicado à investigação deste fenómeno, apontando que o caminho do Alentejo passa pela "maximização da produtividade da água", alegando que por ser escassa e cara tem de garantir elevadas produções. "Se a utilizarmos para regar culturas de outono-inverno conseguimos produtividade quatro a cinco vezes superiores às de regadio de primavera-verão", diz. Mas para que esta estratégia resulte em pleno é preciso garantir uma boa drenagem dos solos, para evitar que em anos de muita chuva não se perca produção nos regadios devido ao encharcamento dos campos.


O professor revela que o sistema está testado e que funciona em pleno entre o grupo de agricultores com quem tem vindo a trabalhar. "Tudo decorre de forma estável. Em anos de muita água a produtividade é garantida com consumos baixos e nos anos de menos água temos de aumentar consumos, mas estamos sempre a falar no máximo de 1500 metros cúbicos", diz o investigador, reportando-se, por exemplo, à produção de trigos, que compara aos 9 mil metros cúbicos consumidos pelo milho num ano seco como este. Mas também as forragens - alimentação para o gado - asseguraram uma produção acima dos valores médios do país. "Temos reservas alimentares suficientes para fazer face a esta seca", assegura.

E quanto à rentabilidade? Mário Carvalho responde que na zona de Alqueva o milho é facilmente trocado pelas culturas de outono-inverno, garantindo produções "muito altas", dando depois abertura à necessária rotatividade da terra que assegura a biodiversidade e o equilíbrio ao ecossistema. "Pode rodar com culturas forrageiras e depois com culturas hortícolas que gastam menos água e têm um valor económico superior", explica.

As garantias levam a própria reitora, Ana Costa Freitas, licenciada em Agronomia, a defender o regresso às culturas tradicionais de sequeiro do Alentejo (ver entrevista) para evitar que o ecossistema se torne muito dependente de água, enquanto Bernardo Albino, dirigente da Associação Nacional de Produtores de Cereais, também se coloca ao lado da proposta da academia alentejana.

"Tem futuro do ponto de vista do enquadramento ambiental e regional", diz, revelando que tem vindo "a acabar com culturas mais gastadoras de água", acrescentando que o efeito multiplicador é maior em culturas com menos necessidades hídricas. O dirigente diz que "mesmo a pessoa mais urbana percebe que numa região onde não chove a partir de abril uma cultura de primavera-verão terá água 100% artificial", admitindo que "faz mais sentido olhar com atenção para as culturas que utilizam água de forma natural. Depois há que represar a outra água e metê-la nas plantas seis meses mais tarde".

Joaquim Manuel Lopes, técnico agrícola da Associação de Agricultores do Distrito de Setúbal, também concorda com a recuperação de culturas tradicionais, mas admite ser difícil explicar as vantagens desse passo aos agricultores. "Vão exigir alternativas rentáveis", diz, avisando que o Estado deve entrar em cena e explicar aos produtores as vantagens de apostarem, por exemplo, no "trigo barbela", com uma história ancestral em Portugal.

Quatro histórias de sucesso



António Silvestre Ferreira, da Vale da Rosa
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São todas empresas exportadoras de frutas e legumes e estão a responder ao aumento da procura com vontade de aumentar as áreas de produção através da compra ou do aluguer de terrenos, onde contam investir muitos milhões. Há também planos para diversificar negócios ou instalar produção e fábricas de embalamento no mercado externo. Os hábitos de consumo, com o biológico a crescer 30%, leva-os a acreditar que vale a pena lançar sementes neste tipo de produção.

Vale da Rosa: duplicar produção, turismo e fábrica

"Temos uma ambição e um sonho: em cinco anos queremos duplicar a nossa área de produção para 500 hectares e 15 mil toneladas de uva", revela Ricardo Costa, responsável de comunicação da Herdade Vale da Rosa. "Temos área própria que nos irá permitir concretizar esses objetivos e reforçámos 110 hectares com um acordo de 25 anos." Uma aposta que, com a plantação e a criação de estruturas de armazenamento e frio, poderá implicar um investimento de 25 milhões de euros, refere Ricardo Costa. Nos atuais 250 hectares da herdade em Ferreira do Alentejo são produzidas seis mil toneladas de uva, valor que em dois ou três anos poderá aumentar para oito mil toneladas, já que cerca de 25% do terreno ainda não está em plena produção. Mercados europeus como França, mas também Angola ou Malásia, absorvem entre 25% e 30% da produção da herdade, conhecida pelas uvas sem grainha. Diversificar está ainda nos planos da Herdade Vale da Rosa. Com a portuguesa Paladin lançou o vinagre com sabor a uvas Vale da Rosa. Uma parceria com a empresa da Golegã que querem dar continuidade. "Criámos uma empresa detida 50%-50%, a Sturnus, que tem a finalidade de transformar produtos vindos da terra", diz Ricardo Costa, em vinagres e não só. Há planos para lançar passas Vale da Rosa, tendo para isso seis hectares de terreno. O projeto para a fábrica está previsto para 2018 e deverá implicar 1,5 milhões de euros de investimento. A empresa quer potenciar o enoturismo: anualmente recebem quatro mil visitas, mas querem, através da Vale da Rosa Turismo, avançar no próximo ano com pacotes turísticos que incluem almoços debaixo da ramada. A faturação ronda os 12 milhões.

Luís Vicente: duplicar produção em Portugal


O grupo Luís Vicente, os donos da marca de frutos tropicais Plumb e da fruta desidratada Frubis, tem um novo mercado na mira. "Estamos a analisar Marrocos para irmos de corpo e alma: com presença permanente, um parceiro local, para criarmos uma operação de referência de frutas e legumes", diz Miguel Barbosa, diretor-geral da Luís Vicente. Casablanca e Rabat são as zonas estudadas para o projeto que vai da produção ao embalamento e distribuição e que deverá arrancar no primeiro trimestre de 2018 e implicar um investimento de 1,5 milhões. Angola (350 hectares), Costa Rica (500 hectares), Brasil e Portugal são algumas das geografias onde o grupo tem produção, assegurando ainda a comercialização de 60 mil toneladas de fruta por ano. Em Portugal - onde têm 200 hectares de terreno próprio, bem como 460 hectares através da Globalfrut, organização que reúne 80 produtores - produzem 15 mil toneladas/ano e o objetivo é crescer. "Até 2022 vamos duplicar volume de produção em Portugal de 15 para 30 mil toneladas", adianta Miguel Barbosa. Como? Ou pelo alargamento da base dos atuais 80 produtores, ou pela "aquisição/arrendamento de áreas de produção em que possamos produzir diretamente", podendo duplicar a área de produção própria, explica o diretor-geral. "Estamos à procura de várias possibilidades para aumentar os atuais 200 hectares", situados na Herdade Penique, em Ferreira do Alentejo. "Não necessariamente no Alentejo, zona oeste ou no Sul, no Algarve", são possibilidades. Aumentar o volume de produção passa ainda por alargar a base de produtos da Luís Vicente, com muitos pomares de pera rocha e maçãs. "Pensamos investir na produção de abacate, mais na zona do Algarve", admite Miguel Barbosa. Que investimento esta vontade de fazer crescer a produção vai exigir, o diretor-geral da Luís Vicente não revela. "Comprar ou alugar terrenos implica investimentos diferentes. Temos capacidade para o fazer", assegura. A Luís Vicente conta fechar este ano com 60 milhões de euros de faturação, um crescimento de 8% em relação a 2016.

Lusomorango: Faturar o dobro daqui a 5 anos

Os planos da Lusomorango são ambiciosos. "Queremos duplicar o volume de negócios em cinco anos", adianta Gonçalo Santos Andrade, vice--presidente da organização de produtores de pequenos frutos como framboesa, mirtilo e amoras. "Queremos chegar a 2022 com um volume de negócios acima dos 90 milhões", reforça o responsável da Lusomorango. Um crescimento empurrado pelas exportações para os mercados nórdicos, Benelux, Espanha e Reino Unido, "o país europeu com maior consumo per capita de pequenos frutos". Colocam a produção, que resulta de uma parceria com a gigante californiana Driscoll"s, nas principais cadeias de distribuição, sobretudo no mercado externo, que representa mais de 97% do volume de negócios. Quando arrancou em 2005 não era assim: as exportações representavam apenas 60%. Desde então muito mudou. O número de produtores associados cresceu de 5 para 34 e o volume de negócios de 5 para 44 milhões de euros em 2016. Ou seja, só a Lusomorango representa 37,6% dos 117 milhões de euros que Portugal exportou em pequenos frutos. Têm plantações em Odemira, Almeirim e Algarve, onde produzem framboesas (390 hectares), mirtilos (82 hectares) e amoras (26 hectares). "90% do volume de negócio é framboesa e tentamos que haja um maior equilíbrio com a de mirtilo. Morango só voltaremos a produzir quando se tornar rentável." O morango, que chegou a representar 80% da produção, já não faz parte da oferta. "Exemplo de que temos de ir ao encontro do que o mercado quer. O plano de negócio tem de partir do mercado para a produção e não desta para o mercado."

Vitacress: Amazon em Espanha pisca olho

Em Espanha, a Vitacress chamou a atenção de um gigante de tecnologia. "O agente que nos representa em Espanha foi abordado pela Amazon para sermos fornecedores", revela José Fradeira, diretor de vendas da Vitacress Portugal. A companhia de Jeff Bezos tem investido em centros de logística no mercado espanhol e depois da compra da Whole Foods espera-se que dê passos concretos no retalho alimentar, situação que poderá ter benefícios para a empresa detida pelo português Grupo RAR. Juntamente com Angola, Espanha é um dos mercados onde a Vitacress coloca produtos com a sua marca, mas também exporta matéria-prima para "países onde não consegue colocar o produto embalado dado a curta validade do produto". As exportações representam 30%. O primeiro mercado é Portugal, onde têm 300 hectares de produção, a maioria (250) em Odemira, onde está a sede e a fábrica de embalamento, mas também no Algarve (23 hectares). Mas a Vitacress quer expandir a área de produção. "Procuramos mais terras", diz José Fradeira. "Queremos aumentar a área de produção e parte dela convertê-la em agricultura biológica." Há que "ler os sinais de evolução do mercado", diz o diretor de vendas. "O mercado [dos frescos] tem crescido bem mais de 10% e no biológico 30%." Em 2016 faturaram 26 milhões de euros "crescemos 16%. Neste ano devemos manter as taxas de crescimento. Em 2018 contamos chegar aos 30 milhões.

Empresa ocupou terreno privado em Avis para captar água destinada a regar olival intensivo


Tribunal ordenou que o sistema de bombagem fosse removido, mas a extracção prossegue. Visados na acusação alegam ter-se equivocado. Julgaram estar em terreno municipal.
CARLOS DIAS 4 de Novembro de 2017, 8:14 Partilhar notícia
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A água está a esgotar-se nas pequenas barragens e charcas particulares em muitos pontos do Alentejo, e as consequências começam a suscitar conflitos, como o que ocorre, neste momento, na vila de Avis. A pacata comunidade do Norte alentejano assiste incrédula ao dirimir de um contencioso entre a proprietária de um terreno localizado junto à albufeira do Maranhão e os gestores de duas explorações de olival intensivo, a empresa Agrícola Vale de Poente, Lda e a Suinilis, Suinicultura S.A. Estas duas sociedades, juntamente com a empresa AquaMaranhão, são acusadas de terem "invadido, ocupado e destruído bens" numa propriedade privada, denominada Cerca do Convento, que se estende ao longo de uma das ramificações da albufeira da barragem do Maranhão, em plena vila de Avis. Objectivo da "ocupação": instalar um sistema de captação de água para encher a barragem que dá suporte ao regadio de olival intensivo nas duas explorações.

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Tudo foi feito sem autorização de Maria Cecília Vieira Lopes, proprietária da Cerca do Convento, que não sabia do que se passava até que foi avisada por um seu funcionário. O marido, Joaquim Vieira Lopes, disse ao PÚBLICO que a esposa "participou os factos à GNR e solicitou a sua ida ao local". Os militares identificaram os indivíduos e informaram-nos de que não estavam autorizados a entrar na propriedade. Sem êxito. Entre Junho e Setembro, "a GNR foi chamada pelo menos seis vezes", mas a cena repetia-se: a autoridade identificava-os e dizia-lhes que não podiam permanecer no local. "Logo que a guarda virava costas, os invasores voltavam a ocupar a propriedade e a prosseguir na construção" do sistema de captação de água, queixa-se Vieira Lopes.

Impotente para fazer prevalecer os seus direitos, Maria Cecília Vieira Lopes foi obrigada a recorrer a um procedimento judicial cautelar contra a AquaMaranhão — que instalou o sistema de bombagem e que foi constituída pelas empresas agrícolas já referidas — no Juízo de Competência Genérica do concelho de Fronteira.

Obras destrutivas
A instância judicial confirmou na sentença proferida no dia 12 de Outubro, facultada ao PÚBLICO, que a AquaMaranhão "fez entrar pela propriedade adentro, nos últimos dias de Maio, máquinas pesadas. Movimentaram terras numa faixa de mais de dez metros de largura e mais de 30 metros de comprimento. Podaram uma azinheira de grande porte que está nas proximidades do muro destruído, mutilando a árvore que entretanto secou, devido às lesões no tronco". Após esta intervenção, "construíram uma plataforma de cimento dentro da propriedade, junto à margem da albufeira do Maranhão, e nessa plataforma instalaram equipamentos para bombagem de água".

Ficou também provado em tribunal que a AquaMaranhão, "apesar de diversas vezes avisada de que não poderia invadir terreno alheio e das diversas queixas apresentadas à GNR, que se deslocou ao local, não teme a presença da autoridade policial e muito menos os avisos e a oposição da requerente".    

Os administradores das empresas Agrícola Vale Poente, Lda e Suinilis, Suinicultura, S.A, Pedro Fialho e Francisco Javier Fernandez Parladé, garantiram ao PÚBLICO que julgavam estar a intervir em terreno municipal. Com efeito, tinham solicitado à Câmara de Avis, em Fevereiro de 2017, autorização para o "atravessamento e ocupação permanente" do subsolo das parcelas de alguns prédios rústicos, que tinham autorizado a passagem da conduta, assinalando que uma dessas parcelas se "localiza no prédio rústico artigo matricial 088-A, que é propriedade do município de Avis". Requereram ainda que fosse permitida "a circulação de pessoas, máquinas e viaturas nos caminhos de acesso necessários" para a instalação do circuito hidráulico, com cerca de sete quilómetros de extensão e um diâmetro com cerca de 60 centímetros, e as respectivas infra-estruturas de captação de água.

A autarquia, através de deliberação do executivo municipal de 14 Junho, considerou viável a instalação de uma "conduta de água" no prédio rústico inscrito na matriz sob o artigo 88-A da freguesia de Avis, o qual "é propriedade do município", bem como a autorização para a circulação de pessoas, máquinas e viaturas para a realização das obras. Só que o terreno onde é feita a captação, confinante com o terreno municipal, já é privado.

Para Pedro Fialho, esta deliberação induziu a AquaMaranhão num equívoco: nem todo o terreno onde estava prevista a intervenção era municipal. Diz que procurou junto da proprietária obter a necessária autorização, depois de terem iniciado as obras. "Não obtivemos qualquer resposta", salientou o administrador, que admitiu ao PÚBLICO estar "muito preocupado" com a decisão do tribunal. Este já ordenou "a remoção de todas as tubagens, bombas, instalações e equipamentos, sapata de cimento, condutas, cabos e demais equipamentos, desenterrando as tubagens já enterradas, e a repor o terreno e muro no estado em que se encontrava".

É a sobrevivência das duas explorações que "está em causa", frisou por seu turno Francisco Parladé, lembrando que já estão investidos no novo olival "cerca de 50 milhões de euros". Por sua vez, Pedro Fialho descreve a situação crítica em que se encontravam antes de se iniciarem as captações a 15 de Setembro: "A água que tínhamos na nossa albufeira (com capacidade para armazenar cerca de um milhão de metros cúbicos) era menos do que a que está numa garrafa de água das pedras, mas agora já temos uma quantidade razoável de água."

Investimento perdido
O presidente da Câmara de Avis, Nuno Silva, confirmou ao PÚBLICO que o local onde foi instalado o sistema de captação de água "é propriedade" de Maria Cecília Vieira Lopes. Mas o que mais o preocupa é a quantidade de água que está a ser captada da barragem do Maranhão, numa altura em que esta apresenta um dos mais baixos volumes das 14 barragens públicas da bacia do Tejo, "e sobretudo o que vai acontecer no próximo ano se não chover, com as reservas de água tão reduzidas".

Pedro Fialho diz que foram investidos no circuito hidráulico e no sistema de captação cerca de 1,5 milhões de euros. Desmontar tudo e ficar sem saber onde ir buscar água para regar o olival tira-lhe o sono, sublinha.

Entretanto, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) já notificou a AquaMaranhão de uma "eventual condenação pela utilização dos recursos hídricos sem o respectivo título". Referindo-se à emissão de título de utilização dos recursos hídricos para construção da conduta elevatória, salienta que "o mesmo ainda não foi atribuído nem há por agora intenção de o atribuir em virtude de não estarem reunidas todas as condições para o efeito".

A Associação de Beneficiários de Rega do Vale do Sorraia (ABRVS) foi a entidade que autorizou a AquaMaranhão a utilizar a água da barragem do Maranhão. "A Associação de Regantes autorizou a utilização da água para rega e a instalação dos respectivos equipamentos de bombagem a título precário", adiantou ao PÚBLICO José Núncio, presidente da ABRVS. O volume anual de água que vai ser bombeado é de "cinco milhões de metros cúbicos" e cerca de 80% é para consumir entre os meses de Abril e Setembro. Servirá para irrigar cerca de 1500 hectares em quatro prédios rústicos nas freguesias de Casa Branca e Ervedal, propriedade da Sociedade Agrícola Vale de Poente Lda (1050 hectares), e do prédio Herdade de Carreiros, freguesia de Avis, propriedade da Sociedade Suinilis, Suinicultura S.A (450 hectares), também no concelho de Avis.

Esta última exploração tem como representante na constituição da AquaMaranhão Pedro Miguel Barroso Lopes, que é o director da empresa espanhola De Prado Portugal, empresa que foi recentemente acusada pela Direcção Regional de Cultura do Alentejo de ter destruído quase duas dezenas de sítios arqueológicos para plantar quase três mil hectares de amendoal próximo de Beja. Aliás, a sede da Suinilis, Suinicultura S.A. é na Herdade Monte Fonte dos Frades, sede da De Prado Portugal.

O sistema de bombagem instalado na Cerca do Convento continua a funcionar entre as 8h e as 21h.     

O trigo está a ser ameaçado pelas ferrugens

Identificados cenários de propagação mundial da ferrugem-negra, doença fúngica que provoca perdas económicas significativas no trigo. Portugal já sofreu uma epidemia mas de outra ferrugem, a amarela.

RAQUEL DIAS DA SILVA 4 de Novembro de 2017, 9:10 Partilhar notícia

O Iémen é considerado um potencial trampolim para a propagação da ferrugem-negra-do-trigo entre continentes num trabalho científico publicado na revista Nature Plants. Em Portugal, esta doença fúngica não ocorre com frequência, mas a Península Ibérica já sofreu uma epidemia de ferrugem-amarela-do-trigo, que também afecta este cereal.

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Pela primeira vez, foram quantificadas as circunstâncias – rotas, calendários e dimensão dos surtos – em que as estirpes destrutivas da ferrugem-negra-do-trigo representam uma ameaça de longa distância, desde a África Oriental até às grandes regiões produtoras de trigo, como a Índia e o Paquistão.

A ferrugem-negra-do-trigo (Puccinia graminis), assim designada por causa das pústulas negras nos caules de determinadas espécies de cereais (como o trigo e o centeio), é uma ameaça à produção de alimentos e aos meios de subsistência de pequenos agricultores. O trigo é a segunda maior cultura de cereais do mundo (a seguir ao milho) e um alimento básico, usado para fazer farinha e pão, na alimentação de animais e como ingrediente na produção de cerveja.

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Trigo com o fungo da ferrugem-negra CIMMYT
Em Portugal, a ferrugem-negra não tem sido detectada nos últimos anos, segundo Conceição Gomes, da Secção de Melhoramento de Plantas do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV). Ao PÚBLICO, Conceição Gomes explica que tal pode dever-se à ausência da conjugação de três factores primordiais: de esporos virulentos deste agente patogénico no nosso ambiente; utilização de variedades que, na sua constituição genética, preservam genes que lhes conferem resistência; e ocorrência de condições de temperatura e de humidade que não são favoráveis ao desencadear do processo infeccioso. "Não quer dizer que a protecção das nossas culturas cerealíferas esteja assegurada. Basta que esporos do fungo sejam transportados até ao nosso país e ocorram condições ambientais favoráveis para que [a ferrugem] vença a resistência das variedades semeadas e cause infecção", alerta.

Ainda recentemente a estirpe RRTTF foi detectada no Equador, o que representa uma ameaça significativa à produção de trigo no Norte e no Sul da América, pois uma grande proporção das culturas é susceptível ao fungo. Além disso, ainda no ano passado foram destruídos milhares de hectares na Sicília (Itália), num dos piores surtos de ferrugem-negra-do-trigo na Europa em mais de 50 anos. E desde o virar do século que têm surgido novas estirpes agressivas deste fungo – como a Ug99, detectada pela primeira vez em 1999 no Uganda –, que infectam inúmeras variedades de trigo. O receio é que estas novas estirpes virulentas se espalhem, através do vento, a partir de locais onde a sua presença já é conhecida para regiões de cultivo importantes, como Punjab, um estado da Índia.

Em 2013 e 2014, a Etiópia sofreu dois surtos graves, causados não pela Ug99 mas pela estirpe TKTTF, que até então só tinha sido detectada no Médio Oriente. E em 2016 voltou a sofrer um surto de uma nova estirpe de outra doença fúngica, a ferrugem-amarela-do-trigo (Puccinia striiformis), que provocou a perda de dezenas de milhares de hectares de trigo.

Portugal também sofreu uma epidemia em 2013 e 2014, causada por uma outra estirpe de ferrugem-amarela, a Warrior, que é, segundo material de divulgação de 2015 do INIAV, "caracterizada por combinar um largo espectro de virulência que lhe permite atacar tanto o trigo mole como o trigo duro e o triticale", um cereal híbrido, resultante do cruzamento do trigo com o centeio. "Fomos fustigados pela sua virulência", diz ao PÚBLICO Benvindo Maçãs, do INIAV, que explica que a ferrugem-amarela se manifesta "mais cedo no ciclo vegetativo das plantas, por isso numa altura em que há melhores condições para a propagação do fungo".

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Ferrugem-amarela-do-trigo ANDREW DAVIS/CENTRO JOHN INNES
O director da Unidade de Investigação e Serviços de Biotecnologia e Recursos Genéticos do INIAV acrescenta que a ferrugem-amarela faz parte das suas preocupações: "Estamos a trabalhar arduamente em investigação, tanto do lado da genética como do lado da agronomia. Mas não tem sido fácil e ainda não encontrámos o gene de resistência [no trigo] mais adequado para combater a ferrugem-amarela."

A ferrugem-amarela afecta sobretudo os Estados Unidos, a China e a Austrália, segundo o material de divulgação do INIAV. E a Warrior, em particular, para além da Península Ibérica, também afectou o Reino Unido, a França, Alemanha, Dinamarca a Suécia.

Na senda de Norman Borlaug
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) já alertou para a necessidade de vigiar os países da Europa e do Norte de África, para se evitarem eventuais epidemias das ferrugens do trigo. E está a colaborar com o Centro de Melhoramento do Milho e do Trigo (CYMMT), bem como o Centro Internacional para a Investigação Agrícola em Zonas Áridas e a Universidade de Aarhus (Dinamarca), na Iniciativa Global Borlaug para a Ferrugem (BGRI), um consórcio que reúne esforços no combate aos surtos destes fungos.

A BGRI foi criada em homenagem ao cientista Norman Borlaug (1914-2009). Considerado o "pai da agricultura moderna", ganhou o Prémio Nobel da Paz em 1970 por ter dedicado toda a sua vida a melhorar o rendimento dos cereais, desenvolvendo variedades de trigo e de outros cereais que fossem resistentes às doenças, mas também capazes de produzir muito mais do que as variedades tradicionais.

Voltando ao artigo na revista Nature Plants, uma equipa de cientistas da Universidade de Cambridge, dos Serviços Meteorológicos do Reino Unido (Met Office) e do CYMMT adaptou um modelo – previamente usado para prever a dispersão de cinzas de vulcões em erupção e de radiação proveniente de acidentes nucleares – para antever quando e onde é mais provável que a Ug99 e outras estirpes se propaguem.

Para adaptar o modelo, os cientistas usaram levantamentos de campo da doença feitos pelo CYMMT e dados meteorológicos do Met Office e, assim, obtiveram-se as primeiras estimativas de difusão de esporos da ferrugem-negra a longo prazo para diferentes cenários de surtos.

"Novas estirpes de ferrugem-negra ameaçam o trigo por todo o mundo, e precisamos de saber que áreas estão em risco", sublinhou um dos autores do trabalho, Chris Gilligan, da Universidade de Cambridge, em comunicado da universidade.

Os resultados do estudo confirmam o papel do Nepal como um importante emissor da doença em áreas de cultivo de trigo na Índia e indicam o Iémen como um potencial trampolim para a propagação da ferrugem-negra para a África Oriental, o Médio Oriente e o Sul da Ásia.

Se o Irão vier a sofrer um surto moderado de Ug99 – mais de mil hectares –, então é muito provável que os esporos se espalhem para o Afeganistão, e daí até às planícies do Norte do Paquistão e da Índia. A propagação através desta rota só poderá acontecer, contudo, entre Março e Abril, antes das colheitas no Sul da Ásia.

"Por causa do nosso trabalho, acreditamos que se começarmos a detectar a Ug99 ou outra nova estirpe de ferrugem-negra no Iémen no início da Primavera, então é necessário agir imediatamente para mitigar o risco de difusão", afirma Gilligan.

A equipa considera que o modelo que desenvolveu "pode ser aplicado a outras áreas geográficas, adaptado a outros fungos patogénicos e fornecer avaliações de risco quase em tempo real para surtos de doenças". A equipa está agora a criar um sistema de previsão e alerta precoce do risco de propagação da ferrugem-negra na Etiópia, a maior região produtora de trigo da África subsariana.

Texto editado por Teresa Firmino

Produtores de arroz de Alcácer do Sal receiam não poder cultivar em 2018

ALCÁCER DO SAL

A redução da quantidade de água nas barragens de Pego do Altar e de Vale do Gaio nota-se "desde há três anos"

LUSA 6 de Novembro de 2017, 15:32 Partilhar notícia


Os produtores de arroz de Alcácer do Sal, no Vale do Sado, (Setúbal), receiam não poder cultivar em 2018 caso a seca de prolongue, depois de este ano terem reduzido "20 a 30%" da área semeada.

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"Para o ano corremos o risco de não fazer nada", disse  à agência Lusa o director do Agrupamento de Produtores de Arroz do Vale do Sado (Aparroz), João Reis Mendes, preocupado com a quantidade de água armazenada nas barragens de Pego do Altar e de Vale do Gaio, que abastecem os produtores de Alcácer do Sal, no distrito de Setúbal.

A redução da quantidade de água nas duas barragens nota-se "desde há três anos", o que levou à decisão dos produtores de semear arroz em menos "10 a 15%" da área em 2016 e "20 a 30%" em 2017, de um total de "5500 a 6 mil hectares".

Prestes a terminar a campanha de arroz, semeado nos meses de Abril e Maio e colhido entre Setembro e Novembro, a preocupação dos produtores é o próximo ano, em que temem não haver produção.

"Actualmente, a nossa perspectiva (para o próximo ano], se não chover, é zero", afirmou o representante da Aparroz, que conta com 30 sócios e trabalha com "cerca de 170 produtores", maioritariamente de Alcácer do Sal, mas também dos concelhos de Montemor-o-Novo, Grândola e Santiago do Cacém.

João Reis Mendes alertou que, caso a seca se prolongue, os efeitos vão sentir-se não só nos agricultores, "que têm despesas fixas e trabalhadores", mas também podem afectar a "economia regional", através das "actividades em redor do arroz", como oficinas ou fornecedores de adubos, pesticidas e sementes.

Com uma "produção média anual de seis toneladas por hectare" e com "um preço médio de 280 euros por tonelada", o cultivo do arroz é uma das principais actividades económicas de Alcácer do Sal, que, quando explorados os seis mil hectares, pode chegar a valer cerca de "10 milhões de euros".

"Há pelo menos 19 anos" que os níveis de água não estavam tão baixos nas barragens do Pego do Altar e de Vale do Gaio, tendo mesmo ficado descoberta este ano uma ponte, submersa numa das albufeiras, que não era vista fora de água desde 1999.

"A barragem do Pego do Altar tem um indicador muito bom que é uma ponte em rio Mourinho, que só aparece nestas alturas, já não aparecia há 19 anos e está a descoberto", disse à agência Lusa Gonçalo Lince de Faria, coordenador geral da Associação de Regantes do Vale do Sado, entidade que gere as duas albufeiras.

Actualmente, as barragens "estão completamente em baixo, com valores entre os 8 e os 10% da capacidade de armazenamento", indicou Gonçalo Lince de Faria, explicando que isso representa um nível de água disponível de "praticamente zero", uma vez que não se pode "esgotar toda a água da barragem".

A água destas albufeiras é usada maioritariamente por produtores de arroz, que representam "92 a 93% da área de perímetro de rega" e estão nesta altura em fase de colheita.

Caso o Inverno traga "chuva regular e contínua", Gonçalo Lince de Faria acredita que, até à próxima campanha de arroz, que começa em Abril, os níveis de água podem ser repostos.

Embora a barragem de Vale do Gaio possa ser abastecida pela barragem do Alqueva, segundo o mesmo responsável, os sócios da Associação de Regantes do Vale do Sado, entre os quais estão cerca de 200 orizicultores, optaram por não o fazer, argumentando que "o preço [da água] para a cultura do arroz é muito elevado".

A decisão foi ainda justificada por haver "algumas restrições a nível das condutas da EDIA [empresa gestora de Alqueva], que não permite dar resposta a grandes volumes no período da campanha do arroz".

"Aquilo foi tudo montado para que o fornecimento aconteça no período do Inverno, que é quando a rega está parada e as condutas têm disponibilidade para tal, mas é um grande risco pedir água em Outubro, Novembro ou Dezembro e depois começa a chover e temos que jogar água fora àqueles preços, além da evaporação", acrescentou ainda.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

"Alentejo não sabe a água que tem"



Ana Costa Freitas
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Reitora da Universidade de Évora, Ana Costa Freitas, defende que a agricultura pode poupar mais água com algumas alterações

Tem defendido a necessidade da agricultura alentejana apostar em culturas tradicionais que gastem menos água. Esta solução é um passo decisivo para encarar a seca?

Mesmo em Alqueva, que foi uma obra fantástica na região, estamos a fazer culturas de regadio com uma água que é cara e escassa. Provavelmente, teríamos maior eficiência se fizéssemos algum regadio em culturas de sequeiro, que poderiam ter uma produtividade maior com menor gasto de água.

Seria um grande risco para uma região como o Alentejo?


Sim, porque sabemos que uma parte do Alentejo, neste momento, não tem água e que está a ficar cada vez mais abandonado. Depois há Alqueva onde, eventualmente, se estão a produzir algumas coisas a preço mais caro daquele que poderíamos estar a praticar se produzíssemos outro tipo de culturas.

Tem conversado com agricultores, recordando que é licenciada em Agronomia e com experiência na área?

Deixei de fazer investigação há algum tempo, mas acompanho o trabalho do Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas, onde estão os engenheiros agrónomos. As experiências realizadas confirmam o grande aumento da produtividade das culturas tradicionais com pouca rega, que pode ser a solução para agricultura do sul do mediterrâneo.

Além da agricultura, que estratégia definiu a Universidade para ajudar a encontrar uma solução no combate à seca no Alentejo?

Temos falado muito da necessidade de fazermos o cadastro das florestas, mas o cadastro de água no Alentejo também não está feito e é muito necessário. Há zonas afetadas pela seca extrema e o Alentejo não sabe a água que tem, nem em quantidade nem em qualidade. Há métodos de georreferenciação e geofísicos que nos permitem saber quais são os lençóis de água, onde estão e a que profundidades. Como é que podemos ir captar água se isso não está feito?

Da pera rocha aos mirtilos, exportações estão a dar bons frutos



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Exportações subiram 20%. A meta é chegar aos 1,5 mil milhões. Produtores investem na expansão para responder à procura

É caso para dizer: é muita fruta. "Esperamos atingir e até ultrapassar a barreira dos 1500 milhões de euros de exportações do setor hortofrutícola nacional neste ano, um crescimento de 14,5% em relação a 2016", adianta Gonçalo Santos Andrade, presidente executivo da Portugal Fresh. E, com as raízes já fundas na terra, há muitas empresas que já pensam em crescer em novos mercados, como o México e os EUA, mas também a China e a Coreia do Sul.

Os números até agosto parecem sustentar o otimismo. "Nos primeiros oito meses de 2017, as exportações aumentaram 20% em relação ao período homólogo de 2016; no caso da fruta, as vendas para fora de Portugal cresceram 40%", informa o Ministério da Agricultura. Destaque para a força exportadora dos pequenos frutos. No ano passado Portugal exportou 117 milhões de euros. "Em agosto deste já tinham sido ultrapassados os cem milhões." A venda de legumes cresceu na ordem dos 15%.

A procura de produtos nacionais tem aumentado no mercado externo e há empresas, em que a exportação já tem peso relevante, que estão a apostar na expansão das áreas de produção através da compra ou do aluguer de terrenos. É o caso da Herdade Vale da Rosa, que em cinco anos quer duplicar os atuais 250 hectares onde produz uva de mesa, na sua maioria sem grainha. Mas também estão a diversificar os negócios e a apostar em mercados externos com a instalação de unidades de produção como a Luís Vicente. Os donos da marca de fruta tropical Plump, que no primeiro trimestre de 2018 querem estar em Marrocos (ver textos ao lado).

"Demonstra a dinâmica do setor" das frutas, legumes e flores, que "tem reforçado o seu perfil exportador", reconheceu Luís Medeiros Vieira, secretário de Estado da Agricultura, durante a visita à Fresh Fruit, em Madrid.

Neste ano a segunda maior feira europeia de frutas e legumes contou com a "maior presença de sempre de empresas nacionais" - com um aumento de 50% face ao ano passado. Espanha, que representa 30% das exportações nacionais nesta área, é um mercado há muito conhecido dos empresários agrícolas nacionais.

Mas há outras geografias que se estão a abrir. Faltam apenas fechar alguns procedimentos para que a pera rocha e a maçã nacional possam chegar ao México, um mercado de 120 milhões de consumidores. China e Coreia do Sul são geografias que também estão a ser negociadas pelo governo. Os EUA deverão ser o mercado que se segue para peras e maçãs, diz Luís Medeiros Vieira. "Neste ano prevemos ter confirmada esta abertura.

Agricultura e Produção Sustentável? "Considere os Factos!"



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O setor agrícola foi daqueles que registaram um desenvolvimento mais dinâmico nos últimos anos. Mas, apesar de todo este sucesso, que é crucial para a sustentabilidade do nosso país, é necessário não esquecer alguns factos que são de grande importância para este setor.

A atividade agrícola é hoje muito mais atrativa e a prova disso é que muitos jovens apostam cada vez mais num projeto de vida no mundo rural. O agricultor de hoje tem mais formação, as explorações agrícolas ganharam dimensão, organização e capacidade empresarial. Pela importância deste setor, existem diversas entidades preocupadas com o futuro do mesmo e dispostas a ajudar na sua evolução, que vai continuar a trazer muitos dividendos para Portugal.

A Anipla, Associação Nacional da Indústria para a Proteção das Plantas, é uma delas com o apoio da Associação Europeia de Proteção das Plantas (ECPA) e a participação de diversas associações nacionais de produtores, esta associação está a desenvolver uma campanha que pretende informar a população portuguesa para os temas da agricultura, evidenciando os desafios inerentes ao setor e apresentando factos relacionados com a ciência e tecnologia para a proteção das culturas. "Considere os Factos" para a promoção do conhecimento nacional em torno dos temas da sustentabilidade e segurança alimentar agrícola é o mote da mesma.

António Lopes Dias, diretor executivo da ANIPLA, explicou que "nos últimos anos temos assistido ao crescimento do número de movimentos e apelos públicos, baseados em factos pouco claros e com base em perceções vagas, que questionam os métodos e práticas da agricultura, e subestimam a realidade do trabalho e ciência em prole da proteção das culturas agrícolas".

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As mensagens da campanha apresentam factos que visam informar e esclarecer um crescente número de consumidores que pretende, cada vez mais, ser e estar informado sobre a realidade por detrás da produção de produtos alimentares. Informação essencial no momento em que a FAO, a organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, apela à importância do controlo das pragas, doenças e infestantes das culturas, e alerta para as crescentes necessidades de alimentação de uma população mundial que continuará a aumentar até 2050.

Para esta Campanha, que a nível europeu está a ser desenvolvida pela Associação Europeia de proteção de plantas (ECPA) o lema: "With or Without" - o produtor nacional José Palha foi selecionado para integrar uma série de documentários breves sobre a produção agrícola europeia e os desafios na proteção das plantas.


Lançado este ano, o "FitoSíntese" é um espaço de informação aberto ao diálogo, pensado para ser uma "fonte" de conhecimento para todos aqueles que pensam (n)a agricultura.

O FitoSíntese nasce com o objetivo de incentivar a partilha e reflexão que faz falta à agricultura, explorando os mais diversos temas relacionados com a agricultura moderna e sustentável.


Já a Smart Farm é uma quinta de demonstração que nasceu de uma parceria entre a Anipla e a Companhia das Lezírias e apresenta uma proposta de uma exploração agrícola segura e eficiente. Esta quinta-modelo tem como pressuposto a promoção de uma agricultura sustentável, assente em explorações agrícolas que sejam, em todos os momentos, seguras e eficientes. Seguras para o Homem e para o ambiente e eficientes do ponto de vista económico. O agricultor recebe um conjunto de boas práticas que deve aplicar na sua exploração para evitar fontes de poluição difusa ou pontual para a água.


No caso do Cultivar a Segurança, este tem como objetivo promover boas práticas que protegem o agricultor na sua atividade agrícola, a sua vizinhança e terceiros, promovendo assim a saúde de quem permanece e de quem interage com produtos fitofarmacêuticos a exploração agrícola.

PONTOS ESSENCIAIS Reforma florestal avança com cadastro e adia travão ao eucalipto para fevereiro


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A reforma da floresta do atual Governo incluía 12 diplomas, dos quais dez já estão promulgados, um foi rejeitado na anterior sessão legislativa e outro foi aprovado na sexta-feira pela Assembleia da República.

Das 12 propostas do Governo, a proibição de novas plantações da espécie 'eucalyptus' foi um dos diplomas que gerou mais controvérsia, mas acabou por ser aprovado pela Assembleia da República a 19 de julho deste ano e promulgada pelo Presidente da República a 8 de agosto, se bem que só entra em vigor em fevereiro.

Já o Sistema de Informação Cadastral Simplificada entra hoje em vigor como projeto-piloto em dez municípios das regiões Norte e Centro de Portugal continental, permitindo o registo dos prédios rústicos e mistos de forma gratuita durante um ano.

Os prédios rústicos e mistos identificados como sem dono conhecido seriam disponibilizados no Banco Nacional de Terras, o que não irá acontecer, uma vez que o parlamento chumbou a proposta do Governo, com votos contra do PSD, CDS-PP, PCP e PEV e os votos a favor do PS, BE e PAN.


Na presente sessão legislativa, o diploma do Governo para criar benefícios fiscais para entidades de gestão florestal foi aprovado com os votos contra do PCP, BE e PEV e favoráveis das restantes bancadas parlamentares, aguardando agora promulgação do Presidente da República.

Nove diplomas que já estão em vigor:

+++ Equipas de sapadores florestais no território continental +++

Em vigor desde janeiro deste ano, este decreto-lei "reforça a função das equipas de sapadores florestais no contexto das medidas de política florestal", de forma a estabelecer coerência entre a atividade exercida pelas equipas de sapadores florestais e as medidas e ações de proteção e defesa da floresta estabelecidas na Estratégia Nacional para as Florestas e no Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios.

Neste sentido, o montante do apoio anual ao funcionamento das equipas de sapadores florestais atribuído pelo Estado foi aumentado de 35 para 40 mil euros.

+++ Comissão para os Mercados e Produtos Florestais (CMPF) +++

Publicado em Diário da República em abril deste ano, o despacho do Governo visa a criação da CMPF para "conciliar estratégias de regulação de mercado no que respeita aos recursos florestais, designadamente através da monitorização permanente dos recursos florestais disponíveis e do acompanhamento das condições de mercado existentes, de molde a potenciar uma maior valorização dos produtos florestais e, consequentemente, a rentabilidade obtida com os mesmos".

+++ Programa Nacional de Fogo Controlado (PNFC) +++

Em vigor desde maio, o PNFC tem "como objetivo direto o desenvolvimento de ações de prevenção estrutural duráveis e sustentáveis, promovendo a compartimentação dos espaços e, como objetivo indireto, o reforço do quadro de técnicos credenciados, contribuindo para o uso da técnica de fogo controlado na gestão silvícola e da paisagem".

De acordo com o diploma, compete à Autoridade Florestal Nacional (AFN) o delineamento de um plano nacional de fogo controlado que concretiza os objetivos do Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios (PNDFCI).

+++ Novas centrais de biomassa florestal +++

Em vigor desde junho, a lei define "um regime especial e extraordinário para a instalação e exploração, por municípios ou, por decisão destes, por comunidades intermunicipais ou por associações de municípios de fins específicos, de novas centrais de valorização de biomassa, definindo, ao mesmo tempo, medidas de apoio e incentivo destinadas a assegurar a sua concretização, com o objetivo fundamental da defesa da floresta, do ordenamento e preservação florestais, e do combate aos incêndios".

Neste âmbito, os municípios podem produzir energia, com preços apoiados, a partir de Biomassa Florestal Residual.

Em julho, o Governo deu luz verde a quatro novas centrais elétricas de biomassa florestal, a instalar nos concelhos de Vila Velha de Rodão, Mangualde, Figueira da Foz e Famalicão, representando um investimento de cerca de 185 milhões de euros.

+++ Planos Regionais de Ordenamento Florestal (PROF) +++

Em vigor desde junho, o PROF é definido como um instrumento programático de concretização de política setorial à escala da região, que estabelece as normas específicas de utilização e exploração florestal dos seus espaços, de acordo com os objetivos previstos na Estratégia Nacional para as Florestas, com a finalidade de garantir a produção sustentada do conjunto de bens e serviços a eles associados.

"Os Planos Diretores Municipais devem adaptar as suas disposições ao conteúdo dos PROF", lê-se no diploma que atribui mais responsabilidade às autarquias pela gestão do seu território.

+++ Reconhecimento das entidades de gestão florestal +++

Em vigor desde junho, o decreto-lei refere que as entidades de gestão florestal têm que "promover e facilitar a gestão conjunta dos espaços florestais, preferencialmente no minifúndio, segundo os princípios da gestão florestal sustentável, através da constituição de áreas de exploração que permitam proporcionar a valorização e rendibilidade adequada dos ativos".

Assim, o Governo cria incentivos à gestão conjunta dos espaços florestais no minifúndio, "em condições que não obriguem, necessariamente, à transmissão da propriedade, através de um modelo capaz de proporcionar uma valorização dos ativos florestais e uma rendibilidade adequada quer para os proprietários quer para os produtores florestais".

+++ Zonas de Intervenção Florestal (ZIF) +++

Em vigor desde junho, o diploma visa potenciar a criação de novas ZIF nas zonas de minifúndio, optando pela redução da superfície mínima, do número de proprietários e do número de prédios para a sua constituição.

Neste âmbito, as ZIF passam a "compreender uma área territorial mínima de 500 hectares e máxima de 20.000 hectares, e incluir, pelo menos, 25 proprietários ou produtores florestais aderentes e 50 prédios rústicos".

+++ Sistema de Defesa da Floresta contra Incêndios (SDFCI) +++

Em vigor desde agosto deste ano, o diploma estabelece que "o período crítico no âmbito do SDFCI vigora de 01 de julho a 30 de setembro, podendo a sua duração ser alterada, em situações excecionais, por despacho do membro do Governo responsável pela área das florestas".

Neste âmbito, o Governo pretende alcançar as 500 equipas de sapadores florestais até 2019.

O ICNF vai ser responsável pela "coordenação das ações de prevenção estrutural, nas vertentes de sensibilização, planeamento, organização do território florestal, silvicultura e infraestruturação de defesa da floresta contra incêndios", a GNR pela "coordenação das ações de prevenção relativas à vertente da vigilância, deteção e fiscalização", e a Autoridade Nacional de Proteção Civil pela "coordenação das ações de combate, rescaldo e vigilância pós-incêndio".

As redes primárias de faixas de gestão de combustível têm de possuir "uma largura não inferior a 125 metros" e definir "compartimentos que, preferencialmente, devem possuir entre 500 e 10.000 hectares".

Estas faixas "visam o estabelecimento, em locais estratégicos, de condições favoráveis ao combate a grandes incêndios florestais", pelo que são criadas em redor das construções e implicam a remoção parcial ou total de material vegetal (corte de matos e poda dos ramos), o que dificulta a propagação do fogo.

+++ Sistema de informação cadastral simplificada +++

Esta lei visa adotar medidas para a "imediata identificação da estrutura fundiária e da titularidade dos prédios rústicos e mistos" e será implementada como projeto-piloto em dez municípios: Pedrógão Grande, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Góis, Pampilhosa da Serra, Penela, Sertã, Caminha, Alfândega da Fé e Proença-a-Nova.

O registo destes terrenos será feito de forma gratuita, através do Balcão Único do Prédio (BUPi), que existirá em formato físico e eletrónico.

Após a implementação do projeto-piloto, o Governo vai apresentar à Assembleia da República "um relatório de avaliação do presente regime, com vista à sua eventual extensão a todo o território nacional".

Dois diplomas aguardam ainda a entrada em vigor:

+++ Regime jurídico de arborização e rearborização +++

Todas as ações florestais "com recurso a qualquer espécie florestal" ficam sujeitas a autorização prévia do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

O pedido de autorização e a comunicação prévia requerem obrigatoriamente a apresentação de um projeto e de um termo de responsabilidade a emitir pelo autor do projeto, declarando que cumpre "as normas legais, regulamentares e técnicas aplicáveis".

Relativamente às ações florestais com eucalipto, o ICNF vai ser responsável por fazer uma gestão nacional da área global da espécie do género 'eucalyptus', "de forma a aproximar-se progressivamente dos valores fixados na versão mais recente da Estratégia Nacional Florestal".

No caso de o Inventário Florestal Nacional indicar que a área de eucalipto está acima dos valores fixados na versão mais recente da Estratégia Nacional Florestal, a aproximação "é feita de acordo com os instrumentos de ordenamento em vigor, atuando prioritariamente nas explorações com dimensão superior a 100 hectares".

Neste sentido, "não são permitidas as ações de arborização com espécies do género 'eucalyptus'" e "a rearborização com espécies do género 'eucalyptus' só é permitida quando a ocupação anterior constitua um povoamento puro ou misto dominante, tal como definido em sede do Inventário Florestal Nacional, de espécies do mesmo género", lê-se no diploma aprovado.

A alteração legislativa, que entra em vigor 180 dias após a sua publicação, determina ainda a redução da área de eucalipto, de forma faseada, ao longo de cinco anos, com o objetivo final de reduzir em 50% a área arborizável com espécies do género 'eucalyptus'.

+++ Benefícios fiscais para entidades de gestão florestal +++

Aprovado pelo parlamento na sexta-feira, o diploma cria benefícios fiscais para entidades de gestão florestal, com o objetivo de incentivar as "boas práticas silvícolas" no âmbito da defesa da floresta contra incêndios, considerando que "a fileira florestal, em todas as suas vertentes, deve contribuir para o desenvolvimento económico do país".

O diploma estabelece que ficam isentos de IRC [Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas] os rendimentos obtidos no âmbito da gestão de recursos florestais as entidades de gestão florestal, que operem de acordo com a regulamentação em vigor.

Entre outros apoios, prevê-se que os rendimentos obtidos, pagos ou colocados à disposição dos respetivos titulares, são sujeitos a retenção na fonte de IRS [Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Singulares] ou de IRC, à taxa de 10%, com algumas exceções.

Ficam isentas de imposto municipal sobre as transmissões onerosas de imóveis, se os municípios o decidirem, "as aquisições onerosas de prédios rústicos destinados à exploração florestal, pelas entidades de gestão florestal reconhecidas ou seus associados, que afetem, no prazo de seis meses, esses prédios à gestão dessa entidade e desde que não sejam vendidos por dois anos.

Além destes benefícios fiscais, o diploma prevê "uma majoração dos custos suportados com despesas com operações de defesa da floresta contra incêndios, ou com a elaboração de planos de gestão florestal", para incentivar os comportamentos dos proprietários florestais no que respeita à prevenção dos incêndios e à realização de uma gestão florestal sustentável.

Um diploma chumbado:

+++ Banco Nacional de Terras +++

Os prédios rústicos e mistos identificados como sem dono conhecido seriam disponibilizados no Banco Nacional de Terras, o que não irá acontecer, uma vez que o parlamento rejeitou a proposta do Governo.

Com a reprovação do diploma, mantém-se em vigor a Bolsa de Terras, instrumento criado pelo anterior Governo (PSD/CDS) para facilitar o acesso à terra através da disponibilização para arrendamento, venda ou para outros tipos de cedência as terras com aptidão agrícola, florestal e silvo-pastoril do domínio privado do Estado, das autarquias locais e de quaisquer outras entidades públicas, ou pertencentes a entidades privadas, bem como a disponibilização de terrenos baldios.