sábado, 18 de novembro de 2017

PSD quer que venda de madeira queimada deixe de pagar IRS

Os social-democratas propõem que a venda de madeira queimada até 50 mil euros fique isenta de pagamento de IRS neste ano e no próximo, para apoiar os agricultores nessas zonas.

PSD quer que venda de madeira queimada deixe de pagar IRS

Bruno Simões Bruno Simões brunosimoes@negocios.pt
17 de novembro de 2017 às 21:29

Depois dos incêndios que varreram o país este Verão, e que "deixaram um rasto de devastação e de prejuízos em zonas já por si bastante debilitadas", o PSD quer que o Governo tome medidas que apoiem os "pequenos produtores agrícolas das zonas afectadas pelos incêndios florestais", até porque se trata de "concelhos predominantemente agrícolas", onde "muitos pequenos agricultores foram afectados de uma forma que põe em causa a continuidade das suas explorações".
 
Assim sendo, o PSD propõe a isenção do "pagamento de IRS dos rendimentos provenientes da venda de madeira queimada nos concelhos afectados pelos incêndios florestais ocorridos em 2017". Em concreto, os social-democratas querem que fique isento de IRS o "rendimento gerado nos exercícios de 2017 e 2018 por vendas de madeira queimada pelos incêndios ocorridos em território nacional no ano de 2017".
 
A isenção será válida para as "vendas até ao limite de 50 mil euros anuais".
 
Sempre que há grandes incêndios, os proveitos de quem se dedica à venda de madeira aumentam exponencialmente. Na Mata Nacional de Leiria, por exemplo, os rendimentos anuais a rondar o milhão de euros mais que duplicaram nos anos seguintes ao grande incêndio de 2003.

Associação de vítimas dos incêndios mandatada para avançar judicialmente contra o Estado


Jornal Económico com Lusa
00:04

Segundo o presidente da associação, as medidas que estão no terreno "são injustas e discriminatórias e distinguem as pessoas como portugueses de segunda e de terceira".

A Associação das Vítimas do Maior Incêndio de Sempre em Portugal, criada no distrito de Coimbra, está mandatada para avançar com uma ação coletiva contra o Estado se o Governo insistir em "medidas de apoio discriminatórias".

"Vamos encetar um diálogo com o Governo e se a resposta não for positiva, em situação de igualdade nos apoios à agricultura e às empresas relativamente a Pedrógão Grande, não tenho dúvida nenhuma de que avançamos" com a ação, disse à agência Lusa o presidente da associação sediada em Oliveira do Hospital, Luís Lagos.

Criada após os fogos de 15 de outubro, que mataram 45 pessoas na região Centro, a Associação das Vítimas do Maior Incêndio de Sempre em Portugal, reunida hoje à noite em assembleia-geral, defendeu também a "desburocratização do apoio até 5.000 euros" para os pequenos agricultores.

Segundo Luís Lagos, as medidas tomadas pelo Governo que estão no terreno "são injustas e discriminatórias e distinguem as pessoas como portugueses de segunda e de terceira".

"Na indústria, o apoio é inferior ao atribuído na tragédia de há cinco meses atrás [Pedrógão Grande] e não há argumento nenhum que o justifique, porque há concelhos que foram atingidos em junho e agora, como é o caso da Pampilhosa da Serra", salientou.

O empresário e dirigente associativo questionou "qual o argumento para que uma empresa da Pampilhosa da Serra merecer agora um apoio inferior àquele que mereceu outra empresa na mesma Pampilhosa da Serra há cinco meses atrás".

"Porque é que a agricultura há de merecer um apoio inferior ao comércio e indústria? Não faz sentido nenhum, ninguém entende isso e, portanto, a nossa base negocial está aqui, de repor uma situação de igualdade no mesmo país", sublinhou Luís Lagos.

Para o presidente da Associação das Vítimas do Maior Incêndio de Sempre em Portugal, "não faz sentido" que não haja "o mesmo apoio", pelo que vão ser já solicitadas audiências ao Governo, Presidente da República e partidos com representação parlamentar.

Caso as respostas não sejam positivas, Luís Lagos considerou que só resta uma alternativa à associação, que "é retirar o poder negocial ao Governo".

"Se o Governo não quer negociar, não quer falar, então retiramos-lhe a decisão e entregamo-la aos tribunais", frisou, acrescentando que já há um pedido para se nomear uma comissão técnica independente para avaliar estes fogos e também já se percebeu que em Pedrógão Grande os fogos aconteceram por incúria do Estado e aqui não temos dúvida de que o resultado será precisamente o mesmo", acrescentou.

A Associação das Vítimas do Maior Incêndio de Sempre em Portugal, constituída em Oliveira do Hospital, no distrito de Coimbra, propõe-se combater a interioridade e defender o mundo rural.

A associação conta com cerca de 300 associados, entre cidadãos e empresários dos vários concelhos afetados pelos incêndios de 15 de outubro, que, no distrito de Coimbra, causaram 24 mortos.

"Temos de fazer com que uma tragédia destas nunca mais aconteça e que o Estado assuma as suas responsabilidades, porque o que se passou foi incúria de vários governos", disse à agência Lusa, na altura, Luís Lagos.

Plano de Regadios é "grande aposta" na competitividade da agricultura portuguesa -- ministro


O Plano Nacional de Regadios constitui uma "grande aposta" na competitividade e na vocação exportadora da agricultura portuguesa e terá "uma importância acrescida" para enfrentar as consequências das alterações climáticas, afirmou hoje o ministro da Agricultura.

"Trata-se obviamente de uma grande aposta na competitividade da nossa agricultura, num contributo importante para a criação de riqueza e para continuar a acentuar a vocação exportadora da nossa agricultura, e um importante fator de desenvolvimento rural", disse Luís Capoulas Santos, em entrevista à agência Lusa.

Por outro lado, frisou o governante, o Plano Nacional de Regadios, que vai implicar um investimento de cerca de 500 milhões de euros para requalificar regadios obsoletos ou construir novos regadios para beneficiar uma área total de 90 mil hectares, vai ter "uma importância acrescida" no contexto que se está a viver, em que "cada vez são mais evidentes as consequências negativas das alterações climáticas".


Segundo o ministro da Agricultura, Florestas e do Desenvolvimento Rural, numa região como o sul da Europa, onde Portugal está incluído, que é "tão exposta" às consequências negativas das alterações climáticas, as medidas mitigadoras "passam essencialmente por duas frentes".

"Por um lado, aumentar a capacidade de armazenagem para que possamos dispor de água nos períodos críticos, como é aquele [de seca] que estamos, infelizmente, a viver, e, simultaneamente, avançar no uso eficiente da água, com sistemas tecnologicamente mais avançados, que permitam cada vez com menos água ter melhores resultados em termos da produção agrícola".

Luís Capoulas Santos defendeu a "conjugação" dos dois fatores, o armazenamento e a adoção de medidas que garantam o uso eficiente e a redução dos desperdícios de água, que são os "pilares básicos" da nova política de regadios, traduzida no plano, um "grande investimento" que será feito "nos próximos quatro a cinco anos em Portugal".

Através do plano, o Governo vai "ampliar significativamente o regadio nacional com projetos espalhados um pouco por todo o país", adiantou Capoulas Santos.

O Plano Nacional de Regadios vai ser financiado com verbas do Programa de Desenvolvimento Rural e com um montante de 260 milhões de euros resultantes de dois empréstimos concedidos por bancos europeus.

O maior empréstimo, de 180 milhões de euros, vai ser concedido pelo Banco Europeu de Investimento e o outro, de 80 milhões de euros, pelo Banco do Conselho da Europa, precisou o ministro, referindo que a assinatura dos empréstimos vai concretizar-se este mês.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Orçamento para a agricultura é “muito, muito forreta"



16 nov, 2017 - 10:03

É o dirigente da Confederação Nacional da Agricultura quem o diz na Renascença, onde também levanta o véu sobre o um possível protesto em Coimbra.

Os agricultores ponderam sair à rua para pedir apoio. A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) diz que o Governo não está a resolver os graves problemas que afectam o sector e a parte do Orçamento do Estado a ele destinada é curta.

"Aquilo que nós conhecemos era muito muito forreta para a agricultura e para a floresta. Para a floresta, aliás, praticamente nem conseguimos descortinar orçamento específico", critica João Dinis, presidente da direcção da CNA.

Na Manhã da Renascença, esta quinta-feira, o responsável lembra que a floresta é um sector "estratégico. Estratégico porque precisamos de respirar" e insiste na necessidade "de prevenir a sério os incêndios florestais, esta tragédia".

Tragédia que, este ano, provocou alargados prejuízos no sector, agora agravados com a seca extrema que o país vive.

João Dinis diz que os agricultores estão desesperados.

"Os pequenos agricultores e produtores florestais vêm ter connosco aflitos, desorientados com o problema da perda de património, de rendimento – que é o que mais se sente no imediato – mas também com esta complicação que está montada no terreno e esta confusão inadmissíveis", afirma, referindo-se à burocracia em redor dos apoios pós-incêndios.

"Vamos ter de, provavelmente, sair para a rua", admite o dirigente. "Estive em duas reuniões muito recentes com bastantes agricultores e estamos a encarar a ida Coimbra, à delegação da direcção regional", concretiza.

Na quarta-feira, o Ministério da Agricultura abriu um novo período de candidatura para a estabilização dos solos nas zonas afectadas pelos incêndios de 15 de Outubro. São mais 23 milhões de euros, num total de apoio financeiro que passa assim a ser de 89 milhões.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Governo disponibiliza mais 23 milhões de euros para evitar erosão e destruição dos solos


15/11/2017, 22:25
O ministro da Agricultura anunciou que o Governo vai disponibilizar 23 milhões de euros para combater a erosão e a destruição dos solos depois dos incêndios.

JOÃO RELVAS/LUSA

O ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural anunciou esta quarta-feira a disponibilização de mais 23 milhões de euros para dar resposta ao problema da previsível erosão e destruição dos solos das áreas afetadas pelos incêndios.

Com esta verba, cujo concurso vai abrir na quinta-feira, o Governo disponibiliza um apoio total de 89 milhões de euros para medidas de estabilização de emergência, que têm como objetivo evitar a degradação dos solos, declarou o ministro Luís Capoulas Santos.

No âmbito de uma reunião extraordinária do Conselho Florestal Nacional, que decorreu em Lisboa com todas as entidades públicas e privadas que interagem no setor florestal, o governante indicou que esta verba destina-se ao "financiamento das organizações de produtores florestais ou das autarquias locais para proceder à chamada estabilização de emergência nos locais que se revelem de maior risco de erosão ou que possam causar derrocadas nas estradas".

Governo prevê ampliar floresta pública nos próximos anos

O Governo defendeu esta quarta-feira a ampliação da área florestal de domínio público, através da identificação das terras sem dono conhecido, rejeitando qualquer intenção de privatizar a floresta portuguesa, nomeadamente o Pinhal de Leiria.

15 de novembro de 2017 às 22:15

"Nos próximos anos, a floresta pública irá aumentar a sua expressão face ao que existe hoje", afirmou o ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, indicando que actualmente o Estado é apenas proprietário de 2% da floresta em Portugal.
 
No âmbito de uma reunião extraordinária do Conselho Florestal Nacional, que decorreu em Lisboa com todas as entidades públicas e privadas que interagem no sector florestal, o ministro Luís Capoulas Santos disse que o Sistema de Informação Cadastral Simplificada, que está já a ser implementado como projecto-piloto em dez municípios afectados pelos incêndios e que se prevê que seja depois alargado a todo o país, vai permitir "identificar o património sem dono conhecido, que, uma vez identificado, passará para a esfera pública e irá ampliar a floresta pública".
 
"O Governo não tem a mínima intenção de privatizar a pouca floresta pública que existe, pelo contrário, temos intenção de ampliar a floresta pública em Portugal", reforçou o governante.
 
O Sistema de Informação Cadastral Simplificada entrou em vigor a 1 de Novembro como projecto-piloto em dez municípios das regiões Norte e Centro de Portugal continental, permitindo o registo dos prédios rústicos e mistos de forma gratuita durante um ano.
 
O registo destes terrenos será feito através do Balcão Único do Prédio (BUPi), um instrumento físico e virtual, da responsabilidade do Instituto dos Registos e Notariado (IRN), que vai agregar a informação registal, matricial e georreferenciada relacionada com os prédios.
 
O projecto-piloto do cadastro integra dez municípios atingidos pelos fogos em Junho deste ano e em 2016, designadamente Pedrógão Grande, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Góis, Pampilhosa da Serra, Penela, Sertã, Caminha, Alfândega da Fé e Proença-a-Nova.
 
No caso de terrenos sem dono conhecido, a lei determina a publicitação e o registo provisório e inscrição na matriz dos prédios identificados como sem dono conhecido.
 
"Qualquer interessado pode pronunciar-se relativamente à identificação de prédio como prédio sem dono conhecido, no prazo de 180 dias sobre a data da publicitação do anúncio", lê-se na lei, indicando ainda que os terrenos sem dono conhecido vão ser "inscritos na matriz e registados, provisoriamente, a favor do Estado durante 15 anos".
 
Após a implementação do Sistema de Informação Cadastral Simplificada nos dez municípios do projecto-piloto, o Governo vai apresentar à Assembleia da República "um relatório de avaliação do presente regime, com vista à sua eventual extensão a todo o território nacional", de acordo com a lei em vigor.

Lettuce Grow, a nova plataforma para pequenos agricultores

Um sueco e um húngaro criaram uma plataforma para dinamizar a economia local portuguesa, ligando os pequenos produtores aos negócios locais. A Lettuce Grow vai estar na Web Summit

29/10/2017 - 11:32

Dois jovens europeus, um sueco e um húngaro, decidiram unir-se para criar em Portugal uma plataforma digital de transacção de produtos alimentares que visa conectar os pequenos produtores aos negócios locais com base na proximidade geográfica, a Lettuce Grow.
 
Após uma pesquisa, Gabor Tarok (responsável pelo desenvolvimento informático da plataforma) e Daniel Lind escolheram Portugal para implantar o projecto por ser um país onde existem muitas pequenas quintas e um grande potencial para a agricultura, que não está devidamente explorado. "O clima é excelente para a agricultura e há pequenos agricultores que, por alguma razão, não conseguem suportar a actividade, por isso desistem", observou Gabor Tarok.
 
O húngaro de 33 anos, que também é cozinheiro em part-time e actualmente está baseado no Algarve, desenvolveu a parte tecnológica, mas foi o sueco Daniel Lind, de 26, a viver em Lisboa, que concebeu a Lettuce Grow, depois de se revoltar contra a precariedade laboral em Portugal. "Com este projecto, nós queremos ajudar a economia portuguesa, aumentar a qualidade de vida dos portugueses que, na sua maioria, têm trabalhos precários, o que não é justo", observou, lamentando igualmente o facto de Portugal importar 60% dos produtos de origem agrícola de Espanha.
 
Daniel Lind acredita que Portugal tem melhores produtos, mas os pequenos agricultores não os conseguem escoar porque sai mais barato às grandes multinacionais, que dominam o mercado, importar em grandes quantidades, em vez de comprar localmente. "Nós só ficaremos com 5% das transacções, o que significa que os agricultores podem ganhar três a quatro vezes mais pelos produtos, e estamos a tentar que a distribuição seja gratuita, mas ainda não sabemos se vamos conseguir", explicou.
 
Na plataforma será possível fazer pesquisas por produto e ver imagens dos mesmos, existindo um mapa que revela a localização das quintas e a proximidade a que estão dos clientes. Além de legumes, vegetais e fruta, a plataforma também engloba a transacção de produtos como carne, mel, ovos ou vinho. Gabor e Daniel querem também comprar e dar uma utilização aos desperdícios dos produtores, nomeadamente, frutas, para fazer compotas. "Acreditamos que as pessoas devem comprar produtos de qualidade na vizinhança e não ir longe, porque isso não é sustentável", conclui Gabor Torok.
 
A Lettuce Grow deverá estar operacional até ao final de 2017 e foi uma das 150 startups nacionais seleccionadas no Road 2 Web Summit para participar na edição deste ano da cimeira, que acontece entre 5 e 9 de Novembro, em Lisboa.

Eles querem pôr cabras a limpar florestas para prevenir fogos

Projecto de Filipe Gandra e Fábio Jácome, do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, tem uma campanha de "crowdfunding" até 19 de Outubro
Texto de Lusa • 13/10/2015 - 17:04

Quintal Holístico é o nome do projecto desenvolvido por dois alunos da Escola Superior Agrária (ESA) de Ponte de Lima que querem pôr cabras a limpar florestas para prevenir e reduzir o risco de incêndio. "A ideia surgiu há mais de um ano devido ao gosto que tenho por caprinos e pela confusão que me fazia a quantidade de fogos florestais que acontecem todos anos. Achei que podia dar o meu contributo para reduzir esse flagelo", explicou hoje à Lusa um dos autores do projecto, Filipe Gandra.
 
O jovem de 26 anos, natural de Barcelos, adiantou que a "ideia" começou a ganhar forma quando o amigo e colega Fábio Jácome, 29 anos, de Viana do Castelo, decidiu "associar-se" ao projecto, na vertente da gestão da floresta e da paisagem. Filipe Gandra, a frequentar o mestrado em Agricultura Biológica da ESA do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC), e Fábio Jácome, engenheiro do ambiente pela mesma escola, recorreram ao "crowdfunding" para garantir os seis mil euros necessários ao arranque do projecto.
 
As primeiras cabras corta-mato deverão estar no terreno dentro de dois meses, em Vila Cova, uma aldeia de Barcelos. Para os autores do Quintal Holístico, "o facto de os animais terem sido progressivamente retirados dos seus ecossistemas, nomeadamente das florestas, contribuiu para o crescimento descontrolado dos materiais vegetais combustíveis — designados normalmente por matos —, que nos períodos mais secos aumentam a sua matéria seca, tornando-se materiais facilmente inflamáveis".
 
"Todos os anos, os fogos destroem milhares de hectares de floresta. Existe pouca gestão dos terrenos, nomeadamente dos matos que crescem sistematicamente. Como são materiais combustíveis necessitam de controlo, e com o pastoreio dos caprinos consegue-se uma redução dos materiais secos combustíveis", frisou. Explicou ainda que a escolha dos caprinos fica a dever-se "ao comportamento alimentar" desta espécie, "ajustado ao objectivo, uma vez que seleccionam e procuram partes específicas e mais nutritivas das plantas, não as destruindo completamente". Por outro lado, "a sua anatomia permite-lhes adaptarem-se às condições íngremes das florestas, conseguindo facilmente subir, equilibrarem-se e alimentarem-se em zonas de declive acentuado".
 
No entanto, adiantou que "o objectivo passa por utilizar outros animais como as ovelhas, cavalos, e vacas". "Cada espécie tem uma função dentro do sistema agroflorestal. O nosso papel é gerir a função desses animais para que eles nunca cheguem a destruir o coberto florestal", disse.
 
O projecto de Filipe e Fábio "já despertou a atenção" de associações ambientalistas como a Quercus, a Green Savers, a Agrobio e a Associação dos Agricultores do Porto. "Se resultar, o objectivo é replicá-lo noutras zonas do país até porque já fomos contactados por vários proprietários interessados na ideia", adiantou. O Quintal Holístico tem uma campanha na plataforma portuguesa de "crowdfunding" PPL para garantir o financiamento dos seis mil euros, online até 19 de Outubro. O valor destina-se à aquisição de cercas eléctricas, reconstrução de um edifício para alojamento dos animais e aquisição de cerca de 100 a 150 cabras.

PSD acusa Governo de ignorar pessoas que tinham agricultura de complementaridade


15 DE NOVEMBRO DE 2017 - 18:48

Hugo Soares esteve em Tondela, um dos concelhos mais fustigados pelos incêndios, para uma reunião com o presidente da Câmara.

Incêndios: Governo esqueceu-se das pessoas que tinham agricultura de complementaridade

O líder do grupo parlamentar do PSD, Hugo Soares, considerou que o Governo se tem esquecido das pessoas que se dedicavam a uma agricultura de complementaridade, antes de terem sido atingidas pelos incêndios de 15 de outubro.

"O Governo tem-se esquecido dessa gente e parece-nos que, aquilo que são as respostas que encontrou, são demasiado burocráticas e exíguas do ponto de vista financeiro. Estamos a falar de 1.053 euros e dificilmente dará para comprar um par de alfaias agrícolas", observou Hugo Soares.


No final de uma reunião com o presidente da Câmara de Tondela, um dos concelhos fustigados pelos incêndios do mês passado, Hugo Soares sublinhou ainda que estas pessoas, que não tinham uma agricultura profissional, mas também já não tinham apenas uma agricultura de subsistência, referindo que são essencialmente idosos, sem acesso a computadores e internet.

"A necessidade de essas pessoas terem de preencher eletronicamente novas fichas, para poderem agora aceder a apoios, depois de terem declarado prejuízos, parece-nos manifestamente burocrático. Por outro lado, o facto desses pedidos de apoio terminarem o seu prazo já durante o mês de novembro", sustentou.

Aos jornalistas, Hugo Soares avançou que o grupo parlamentar do PSD irá apresentar um projeto de resolução com caráter de urgência, que preveja o aumento desse prazo e que facilite as regras burocráticas, tendo em conta o público-alvo.

"Vamos procurar também um reforço no apoio financeiro a essa gente porque é, de facto, muito exíguo e não chega para corresponder às necessidades das pessoas", acrescentou.

Ainda em matéria de apoios, na sequência dos incêndios, o líder parlamentar social-democrata lembrou que apresentaram várias iniciativas na proposta de alteração ao Orçamento do Estado para 2018.

"Iniciativas essas que vão ao encontro do apoio às famílias, como seja a isenção do IMI no ano 2017 e 2018 relativamente às habitações afetadas pelos incêndios, na entrega de contribuições à Segurança Social para as empresas que perderam mais de 20% dos seus ativos", apontou.

Ao Governo deixou o pedido para que seja "expedito nas respostas" e que possa "acolher as sugestões do PSD".

"Parece muito importante que neste Orçamento do Estado, sobretudo nesta matéria, o Governo seja capaz de olhar para as propostas pelo mérito e não numa lógica de 'partidarite' e de tentar sempre chumbar as propostas do maior partido da oposição. Que possa aproveitar o que nós fizemos e que vai ao encontro das reais necessidades da população", concluiu.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Madeira das áreas ardidas vendida a preço de saldo


14 nov, 2017 - 19:42 • Paula Costa Dias

Milhares de toneladas estão a ser vendidas por um valor muito baixo devido ao excesso de oferta. Produtores temem substituição das áreas de pinhal por eucaliptos.
Foto: Joana Bourgard/RR

Reportagem. Um mês depois do fogo. "Perdemos tudo e ainda acham que não estamos a falar a verdade"
Milhares de toneladas de madeira, retiradas das zonas ardidas na região Centro, estão a ser vendidas por valor muito baixo devido ao excesso de oferta.

As serrações não têm mãos a medir e os proprietários têm cada vez mais urgência em livrar-se desta madeira.

Reportagem de Paula Costa Dias
Fernando Dias, administrador de uma serração no concelho da Sertã, diz que as unidades de transformação estão a comprar a madeira queimada "cinco ou seis euros mais barato" em relação ao preço habitual.

A diminuição do preço explica-se também pela diminuição da qualidade, explica o empresário. "A madeira de Pedrógão já está a ficar deteriorada, essa madeira, praticamente, já não tem venda", só dá para triturar ou fazer paletes.

A perda de peso da madeira devido à secagem provocada pelos incêndios é outra razão para a perda de valor comercial. O presidente da Aproflora - Associação de Produtores Florestais e Agrícolas da Zona do Pinhal, Alfredo Dias, pede uma solução urgente, mas não está a ser fácil.

"Os proprietários não têm a capacidade, por eles próprios, de abaterem as árvores e processarem a madeira", afirma Alfredo Dias.

A associação faz esse serviço e não tem tido mãos a medir. No concelho da Sertã há cerca de 700 pequenos produtores florestais que, com os incêndios, estão a sofrer uma quebra significativa nos rendimentos.

"É não só a perda económica que as pessoas tiveram, que é significativa. Os pinheiros com 10 ou 15 anos que as pessoas lá têm valem muito pouco. Estou convencido que, se não forem tomadas medidas, em muitos casos os proprietários nem os vão cortar, porque não compensa o preço que recebem pela madeira que vão tirar de lá", adverte Alfredo Dias.

Outro risco é que os proprietários transformem um pinhal num eucaliptal para conseguirem rendimentos de forma mais rápida, alerta o empresário.

A eliminação das áreas de pinheiro vai deixar as indústrias transformadoras sem matéria-prima nacional e importar "poderá ser muito difícil, senão inviável economicamente".

"Eu acho que isso é altamente preocupante porque há muitos milhares de postos de trabalho na fileira do pinho e é ainda mais relevante para estas zona do interior, porque a indústria de pasta de papel está essencialmente concentrada no litoral, as maiores unidades de processamento de madeira de pinho estão completamente espalhadas no interior. Se deixar de haver matéria-prima essas unidades vão ter que fechar, são milhares e milhares de postos de trabalho que se vão perder. É mais um contributo para a desertificação destas zonas", afirma o presidente da Aproflora.

Nos últimos tempos tem havido um aumento dos pedidos de plantação de eucaliptos em terrenos ardidos, por isso, Alfredo Dias pede que seja aproveitada esta janela de oportunidade para introduzir mudanças na floresta portuguesa, nomeadamente a plantação de espécies mais resistentes ao fogo, numa gestão comum com os diferentes proprietários.

A Guerra tóxica do glifosato


VISÃO VERDE 12.11.2017 às 5h20


Pesticidas - Ciência inquinada - Alguns estudos concluem que o glifosato pode provocar cancro. Outros, que não. Mas a discussão parece manchada por interesses vários

Quando a União Europeia se prepara para decidir se proíbe o glifosato, surgem os "Monsanto Papers" – documentos que revelam promiscuidades entre a gigante de biotecnologia Monsanto e os organismos que declararam o seu pesticida seguro. Por outro lado, a agência da ONU que o considerou "provavelmente cancerígeno" admitiu ter ignorado dados que podiam ter alterado essa classificação. Afinal, em quem podemos confiar?

O avanço da Ciência nem sempre é linear. E no caso da avaliação da segurança do glifosato, aparentemente, quanto mais se descobre, menos se sabe. O último episódio da novela do pesticida mais usado no mundo é a divulgação de dezenas de milhares de páginas de documentos internos da Monsanto – um caso batizado de Monsanto Papers – que revelam ligações demasiado estreitas entre a multinacional de biotecnologia agrícola e algumas entidades que regulam o setor, lançando dúvidas sobre um processo que deveria ser exclusivamente científico. Por exemplo, num email de abril de 2015 agora revelado, um executivo da empresa cita um inusitado desabafo de Jess Rowland, figura de topo da Agência para a Proteção do Ambiente americana (EPA, no original): "Se conseguir matar isto, mereço uma medalha." "Isto" era uma investigação ao glifosato feito pela também americana Agência de Substâncias Tóxicas e Registo de Doenças.

Palavras insólitas – Rowland parecia estar mais a zelar pelos interesses comerciais da Monsanto, agindo como ponta de lança da empresa, do que pelo interesse público, como lhe competia enquanto funcionário de um organismo federal. O comentário de um diretor da Monsanto para os assuntos de regulação parece confirmar esta coincidência de interesses. "Não tenham grandes expectativas. Duvido que o Jess consiga matar isto", escreveu Dan Jenkins, num email para colegas seus.

A Monsanto respondeu, entretanto, a estas revelações: sugeriu que a EPA estava apenas preocupada com a possibilidade de a Agência de Substâncias Tóxicas iniciar uma análise do zero, redundante, quando a própria EPA já estava numa fase muito adiantada do processo. Ou seja, os interesses da EPA e da Monsanto coincidiam, sim, mas por razões distintas. Fosse por que razão fosse, a verdade é que o relatório toxicológico do glifosato dessa agência, que deveria ser publicado uns meses mais tarde, nunca saiu. Alguém matou "aquilo".

A suposta perigosidade do glifosato é uma discussão antiga. Há estudos que apontam para um lado e estudos que apontam para o outro. A Monsanto, que patenteou a substância como herbicida em 1974, garante que quatro décadas de uso generalizado e centenas de investigações científicas atestam a sua inocuidade. A maioria dos organismos oficiais concorda. Mas alguns testes, sobretudo com animais de laboratório, têm efetivamente mostrado resultados opostos, dando o pesticida como possível ou provável causador de cancro, com o linfoma não 
Hodgkin à cabeça. Foi, aliás, essa a categoria que a Agência Internacional de Investigação em Cancro (IARC, sigla internacional) lhe atribuiu, em 2015: "provavelmente cancerígeno".

A entidade, que faz parte da ONU, foi severamente atacada por investigadores e agências reguladoras, que puseram em causa os métodos utilizados. Além disso, o facto de a IARC já ter analisado cerca de mil substâncias ou atividades diferentes, incluindo comer carnes vermelhas e trabalhar como pintor ou num salão de beleza, e só ter definitivamente absolvido uma (crapolactama, um composto aplicado na fibra de nylon), levou muitos críticos a desvalorizarem as conclusões. E, mais relevante, entretanto soube-se que a IARC poderia ter concluído que o glifosato não era cancerígeno se tivesse levado em conta um dos maiores e mais importantes estudos alguma vez feitos. Um estudo bem conhecido por quem classificou o glifosato 
– afinal, o líder dessa comissão é um dos seus autores principais.

E é precisamente no momento mais quente e confuso desta batalha de acusações que a Comissão Europeia tem de decidir se prorroga ou não a licença de uso do glifosato no território da União.


NÓS ESCREVEMOS, ELES ASSINAM
Os documentos internos que parecem atestar a proximidade entre a reguladora do Ambiente dos EUA e a Monsanto foram divulgados por ordem judicial, na sequência de um processo que opõe centenas de pessoas à multinacional, nos EUA, e que pedem indemnizações devido a problemas de saúde (incluindo cancro) alegadamente provocados pelo glifosato vendido com o nome comercial RoundUp. Este caso é, aliás, a principal razão pela qual a Monsanto tem lutado por provar que o pesticida não provoca cancro, e não tanto a possível proibição de uso na Europa – com a patente expirada, empresas chinesas tornaram-se nas principais produtoras e fornecedoras do produto. Para a multinacional americana, o mercado da UE vale cerca de 80 milhões de euros. Uma insignificância, para uma companhia que está em processo de ser adquirida pela gigante Bayer por €56 mil milhões 
(€56 000 000 000). No Velho Continente, o que está a preocupar mais a empresa é o caso que chegou agora a tribunal de um menino francês de dez anos, com malformações congénitas, que a mãe atribui ao facto de ter utilizado Glyper, um genérico do RoundUp, quando se encontrava grávida.

Independentemente das razões da Monsanto, há mais sinais de promiscuidade. Como o que transparece em setembro de 2015, durante uma teleconferência sobre o glifosato entre especialistas de várias agências mundiais (incluindo a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar, EFSA). "Já falei sobre o glifosato com a EPA. Eles sentem que alinharam a EFSA durante a teleconferência", escreveu um quadro da empresa no dia seguinte à reunião. Não é clara a identidade do interlocutor da EPA, mas outro email volta a falar de Jess Rowland como aliado. "Jess vai reformar-se da EPA daqui a 5 ou 6 meses", diz um memorando interno de setembro de 2015. "E ainda nos pode ser útil na defesa do glifosato." Depois da reforma, Jess Rowland tornou-se consultor para a indústria química. Mas os seus advogados demonstraram em tribunal que, nas suas novas funções, o especialista nunca colaborou, direta ou indiretamente, com a Monsanto, nem recebeu dinheiro da empresa.

Outra questão que está a gerar insinuações é o facto de a Agência Europeia das Substâncias Químicas ter desvalorizado um estudo feito com ratos, em 2001 (quando decretou a segurança do glifosato), com a justificação de que os animais tinham sido vítimas de uma infeção viral – acontece que a primeira menção a uma infeção viral nos ratos surge num estudo patrocinado pela Monsanto, nesse mesmo ano. E a própria EFSA não sai imune. Foram encontrados num relatório de avaliação (com 4300 páginas) alguns trechos copiados ipsis verbis de um estudo patrocinado pela empresa. Um porta-voz da agência desvalorizou a polémica: "É importante sublinhar que estes são extratos e referências de estudos publicamente disponíveis submetidos pelo requerente como parte da sua obrigação, de acordo com a legislação de pesticidas, de apresentar investigação." A EFSA diz também que este relatório de avaliação é independente do estudo que avalia o risco do glifosato (publicado na revista científica da EFSA em 2015). Ou seja, a decisão de dar o herbicida como seguro não terá dependido do relatório que inclui esses parágrafos copiados da investigação apoiada pela Monsanto.

Finalmente, há suspeitas de que funcionários da multinacional escreveram, na sombra , parte de um grande estudo científico a advogar a segurança do glifosato. Segundo um email de final dos anos 90 escrito por um executivo da empresa, este ghostwriting (expressão usada) seria uma forma de poupar dinheiro, já que a investigação contratada a investigadores de fora custaria 250 mil dólares (hoje, €212 mil): "Uma opção seria pedir a Greim e Kier or Kirkland [cientistas externos] para porem os nomes deles no relatório, mas manteríamos os custos baixos se formos nós a escrever e eles só assinavam, por assim dizer." O estudo em causa foi publicado no ano 2000, na revista científica Regulatory Toxicology and Pharmacology. 
O vice-presidente da Monsanto para a estratégia global, Scott Partridge, diz que houve, e há, colaboração dos cientistas da multinacional com outros investigadores, para lhes dar acesso a dados de investigação próprios. Mas, garante, é só isso. "Não há nada secreto ou escondido. O que lamento é o uso infeliz da palavra ghostwriting. É uma forma inapropriada de referir a colaboração científica que aconteceu." A New York Medical School, universidade onde trabalha o autor principal desse estudo, já investigou o assunto e concluiu que "não há evidências" de que tenha havido ghostwriting.

O ESTRANHO CASO DO ESTUDO IGNORADO
A Monsanto está debaixo de fogo, mas não deixou de ripostar. E o alvo é a IARC. Em tribunal, os advogados da empresa questionaram Aaron Blair, o cientista que presidiu ao processo que classificou o glifosato como "provavelmente cancerígeno", levando-o a admitir ter ignorado um estudo crucial na avaliação. Quando lhe perguntaram se essa investigação mostrou que não havia relação entre o pesticida e o linfoma, Blair respondeu "correto", de acordo com a agência Reuters; à questão "a conclusão seria diferente se esses dados tivessem sido considerados?", Blair voltou a retorquir "correto".

Esse estudo é uma revisão recente do Agricultural Health Study, uma ambiciosa investigação em curso, iniciada em 1993 (com o apoio, entre outras entidades, do Instituto Nacional de Cancro, dos EUA), sobre o uso de pesticidas e que já leva 89 mil participantes, entre agricultores e as suas famílias. Blair é um dos autores dessa pesquisa, mas não o referiu aos colegas da IARC. Do banco das testemunhas, explicou que a investigação, pronta há dois anos, não foi tida em conta porque não havia sido ainda publicada numa revista científica, e a IARC só analisava estudos publicados. Mas a justificação por ter decidido não publicar o trabalho – era "demasiado extenso" – não convenceu vários cientistas ouvidos pela Reuters. A Monsanto acusou o cientista de ter escondido deliberadamente o estudo e acusou a IARC de "vandalismo científico", por ter ignorado dados tão relevantes. Já o diretor-executivo da autoridade europeia, a EFSA, diz que a IARC abandonou a Ciência e entrou "no domínio do lóbi".

Os problemas com a classificação da IARC não terminam aqui. O facto de ter chegado às suas conclusões em reuniões que demoraram apenas uma semana revelou-se razão suficiente para muitos investigadores duvidarem da seriedade do processo. Além disso, o único especialista externo que participou na análise "cancerígena" da IARC, Christopher J. Portier, era colaborador assalariado da Environmental Defense Fund, uma associação antipesticidas. Mas a maior falha apontada foi a escolha dos estudos, que a Monsanto diz ter sido feita a dedo, deixando de fora investigações respeitadas e favorecendo outras, menos sólidas. Incluindo um desacreditado estudo do francês Gilles-Éric Séralini, cientista e ativista contra organismos geneticamente modificados. 
O trabalho em causa mostrara um aumento de casos de cancro em ratos alimentados com milho geneticamente modificado e glifosato da marca RoundUp, da Monsanto. Mas muitos investigadores alertaram para a pequeníssima amostra de animais (estatisticamente, deveriam ter sido usados 65 ratos por grupo, e Séralini ficou-se pelos dez) e questionaram a espécie usada, que é particularmente propensa a contrair cancro com a idade. O teste chegou a ser publicado, mas foi depois retirado pela própria revista científica, com o argumento de que os dados eram duvidosos.

Com a ciência inquinada por acusações de manipulação de ambos os lados, a renovação da licença do glifosato na UE por mais dez anos não podia vir em pior altura. Mas, até ao fim do ano, terá mesmo de haver uma decisão. Já deveria ter sido tomada no início de 2016 – na altura, o impasse nas negociações (a França liderou a oposição ao herbicida) prorrogou o prazo para dezembro de 2017. Não é certo o desfecho. Com tantas contrainformações, seria natural que se aplicasse o princípio da precaução, não fossem os custos tão elevados: não há uma alternativa economicamente viável ao glifosato.

Portugal, onde 12 autarquias já não usam o pesticida nos seus espaços verdes, não tem uma posição clara (na votação do ano passado, absteve-se). Questionado pela VISÃO, o Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural diz que "está a analisar as mais recentes informações" e que "decidirá o seu sentido de voto em função desta análise". Resta saber se as mais "recentes informações" ajudam ou dificultam a decisão.

O imbróglio de Macron

O Presidente francês prometeu votar contra a renovação por dez anos do glifosato, piscando o olho aos ambientalistas. Mas os agricultores entraram em pânico: estimam-se perdas de quase mil milhões de euros

O anúncio caiu como uma bomba: a 22 de setembro, duas semanas antes das reuniões de especialistas europeus sobre o futuro do glifosato na UE, França avisou que ia votar contra o prolongamento da licença do pesticida por mais dez anos. 
A decisão é estranha, atendendo a que dois em cada três agricultores gauleses aplicam glifosato, e que as perdas para a agricultura se calculam em €976 milhões por ano. Emmanuel Macron enfrenta, assim, um dos mais poderosos setores de França.

Por outro lado, ganha o apoio da esquerda ambientalista, liderada pelo seu ministro da Transição Ecológica e Solidária, o popular ativista Nicolas Hulot, que valerá cerca de 15% do eleitorado.

DEZ, NÃO. MAS SETE...
Não parece haver solução que agrade a ambas as partes 
– agricultores e ambientalistas estão em polos opostos. A declaração taxativa do governo francês parece ceder às exigências dos "verdes", mas, em política, há que ler nas entrelinhas. A decisão é de votar contra o prolongamento por dez anos. E se alguém puser em cima da mesa uma renovação mais curta, ou um período de adaptação?

Aparentemente, é assim que Macron pensa salvar a face. Após uma grande manifestação de agricultores contra a anunciada posição gaulesa, o ministro da Agricultura, admitiu que o governo apoiaria um prolongamento de cinco a sete anos. Mas o ideal para o Presidente seria que o voto francês não fosse decisivo. Dessa forma, até poderia votar contra qualquer proposta, mantendo a promessa, mas sem consequências práticas que afetassem os agricultores.

Este debate acontece num momento em que os grupos antiglifosato ganham um novo aliado: os pais de Théo Grataloup, um rapaz de dez anos com graves problemas de saúde, são os primeiros, em França, a processar a Monsanto, acusando um derivado do RoundUp de ter provocado as doenças do filho.

Como combater a falta de água? Mais barragens

13 DE NOVEMBRO DE 2017 - 15:49

Francisco Taveira Pinto, presidente da Associação Portuguesa de Recursos Hídricos, defendeu, na TSF, a construção de mais barragens como meio para minimizar os efeitos da seca.

O presidente da Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos recomenda que o país comece a elaborar um novo plano de barragens para fins múltiplos, que permitam também armazenar água para o abastecimento às populações.

Francisco Taveira Pinto, presidente da Associação Portuguesa de Recursos Hídricos, em entrevista a Dora Pires, no Almoço TSF
Francisco Taveira Pinto defende a construção, "num curto espaço de tempo (em alguns anos), dessas infraestruturas que constituam reservas estratégicas de água para quando ocorram esses eventos extremos".


"A utilização dessas infraestruturas para fins múltiplos é a única forma de as rentabilizar e de torná-las socialmente mais aceitáveis", explica, "se for só para produção de energia, o grau de aceitação será menor. Mas se for para abastecimento de água, para prever situações extremas de seca ou para combate aos incêndios, a aceitação é mais fácil e torna-se também mais rentável".

Taveira Pinto defende que é também tempo de se pensar em sistemas de dessalinização de água do mar, sobretudo porque, afirma, há já métodos mais baratos que permitem o alívio dos custos do processo.

Quanto à campanha de sensibilização ao público para a falta de água, lançada nos últimos dias pelo Governo, o presidente da Associação Portuguesa de Recursos Hídricos considera que era conveniente ter sido feita logo desde o início do período de seca.

Comité de recurso vai tentar resolver impasse no glifosato



De
Isabel Silva

·
Últimas notícias: 09/11/2017

Terminou num impasse a reunião de peritos dos 28 países da UE, quinta-feira, em Bruxelas, sobre a renovação da licença de herbicidas à base de glifosato, que a Organização Mundial de Saúde diz ser potencialmente cancerígeno.

 Comité de recurso vai tentar resolver impasse no glifosato

Terminou num impasse a reunião de peritos dos 28 países da UE, quinta-feira, em Bruxelas, sobre a renovação da licença de herbicidas à base de glifosato, que a Organização Mundial de Saúde diz ser potencialmente cancerígeno. Um comité de recurso será agora consultado.


"Não esperamos a posição dos Estados-membros mudem nesta altura. A Comissão deve ouvir-nos e mudar sua proposta para uma proibição de glifosato", disse a ativista da Greenpeace, Franziska Achterberg.

Questionada pela euronews sobre se espera que o comité mude o rumo da negociação, a ambientalista respondeu que "não, porque quando se pronunciou sobre os organismos geneticamente modificados e sobre outros pesticidas, não houve mudança de posição".



A Comissão Europeia tinha uma proposta inicial de dez anos, que reduziu para cinco – seguindo o conselho do Parlamento Europeu -, mas alguns países querem que seja já totalmente proibido.

"Alguns Estados-membros mudaram de ideias na boa direção, mas gostaria de ver outros a fazer o mesmo. Estou a pensar na Alemanha, que teria de afrontar a indústria química dizendo-lhe que "o mundo está a mudar"", disse Philippe Lamberts, co-presidente dos Verdes no Parlamento Europeu.

A licença para o uso de glifosato expira a 15 de dezembro, sendo que é a substância química mais usada na agricultura em todo o mundo para matar ervas daninhas.

Agências europeias para a saúde e para os produtos químicos dizem que o glifosato é seguro.

Vacas e plantas com ligação à internet


FUTURIS
Vacas e plantas com ligação à internet
Euronews

Será que as vacas precisam de internet? Como é que as novas tecnologias mudam a agricultura e nos ajudam a cuidar do meio ambiente? Um experiência inovadora de agricultores e engenheiros europeus coloca coleiras nas vacas – uma espécie de pulseira de fitness – com uma ligação constante à internet. De acordo com os agricultores, estes e outros aparelhos não só melhoram o bem-estar das vacas, como também ajudam nos negócios.

A família de Brian está à frente de uma quinta há três gerações, mas cuidar das vacas leiteiras nunca foi tão fácil. Brian recebe e-mails no smartphone do sistema informático da quinta que o alertam para possíveis alterações na saúde e na fertilidade da vaca. Os dados provêm dos colares que as vacas usam: "A coleira colar indica que houve uma queda nas médias de alimentação, no tempo médio de ruminação, ou na atividade da vaca. Qualquer um destes fatores pode ser um indicador que a vaca está doente ou está apenas a começar a ficar doente. O fator-chave é que estas coleiras conseguem detetar estes problemas antes de se tornarem realmente graves", explica Brian Weatherup.

O ato de comer faz com que os músculos do pescoço se movam. Algo captado pelos sensores da coleira. Os dados são reunidos e processados. Os criadores das coleiras pretendem adicionar também um mecanismo de localização.

Os robôs de ordenha medem o volume e a composição do leite produzido por cada vaca. Os agricultores podem utilizar estes dados para melhorar a produtividade e o bem-estar dos animais. Estas e outras inovações estão a ser estudadas em 24 quintas do Reino Unido. fazem parte de um projeto de investigação europeu para tornar a agricultura mais sustentável e eficiente.

Segundo Brian, 6 meses depois da implementação das novas tecnologias, a produção aumentou 20% e a saúde das vacas melhorou. Os investigadores veem grande potencial na integração desta tecnologia em toda a cadeia de produção.

As dezenas de milhares de estufas em Almería, em Espanha, são também um local de estudo. Uma das estufas experimentais está equipada com vários sensores que mostram exatamente o estado das plantas.

"Estamos a tentar simplificar a aquisição dos dados dos produtores através de diferentes protocolos numa única base de dados na nuvem. Então, podemos usar a inteligência artificial e as grandes tecnologias de dados com esta base de dados para chegar a determinadas conclusões, que englobam toda a região, para comparar e melhorar ainda mais o trabalho dos produtores", explica o professor Manuel Berenguel.

Mede-se a humidade do solo, o peso das plantas, a composição do ar e outros indicadores, para ajudar os agricultores a cultivar melhores produtos, ao mesmo tempo em que otimizam a irrigação e o uso de fertilizantes.

Os tomates foram colhidos, mas a recolha de dados continua. Aqui, é possível processar 2 milhões de quilos de tomates por dia – uma tarefa possível devido ao avanço da tecnologia. As máquinas tiram fotografias de cada tomate para os classificar automaticamente por tamanho, cor e até ao nível do gosto.

Os investigadores estão a trabalhar para combinar os dados das etapas de crescimento e de processamento numa única base de dados que acompanharia cada tomate da quinta até à loja. Algo que iria melhorar a segurança alimentar e ajudaria a tornar toda a cadeia mais eficiente.

Os resíduos de zonas urbanas e rurais normalmente contaminam a água com nutrientes excessivos – principalmente nitrogénio e fósforo. Isso prejudica os ecossistemas subaquáticos. Mas a concentração de nutrientes varia ao longo do dia. Os laboratórios terrestres não conseguem medir as alterações em tempo real. Um laboratório debaixo da água pode ser a solução.

"Em vez de recolher uma amostra e de a analisar no laboratório, podemos deixar o sensor implantado no local durante muito tempo. Consegue tirar medidas a cada 15 minutos e recolher conjuntos de dados longos, fornecendo dados de alta resolução. O que nos permite fazer uma avaliação das tendências que não seriam visíveis se apenas recolhessemos amostras, periodicamente", explica o investigador Alex Beaton.

Outro dispositivo, desenvolvido por outro projeto de investigação europeu, é o denominado "lab-on-a-chip" – um sistema relativamente compacto e acessível que integra várias funções de laboratório. É de fácil utilização e permite tirar medidas recorrendo a uma única ferramenta.

O lab-on-a-chip possui reagentes líquidos. Os sensores óticos detetam alterações de cor que indicam a presença de determinadas substâncias na água. Todos os produtos químicos são armazenados com segurança dentro do dispositivo.

Investigadores académicos trabalham com PMEs para melhorar vários sensores em termos de funcionalidade, custo e tamanho – como um dispositivo que mede os hidrocarbonetos na água usando a fluorescência de moléculas orgânicas.

Simplificar a fabricação é um grande desafio. Uma spin-off dinamarquesa produz microsensores de extrema precisão utilizados por investigadores de todo o mundo. Cada sensor é feito manualmente a partir de um tubo de vidro. Um trabalho meticuloso que requer precisão e paciência.

Os microsensores podem ser úteis para várias tarefas, desde análises de sangue até o controlo da poluição e das emissões de gases com efeitos estufa. Para responder a esta possível procura, os produtores de microsensores estão a trabalhar em novos métodos de produção em massa que substituem o vidro pelo plástico, aumentando a longevidade dos dispositivos, tornando-os mais resistentes e mais acessíveis.

 
Dos campos e quintas até o fundo do oceano, as novas tecnologias ajudam-nos a compreender o nosso complexo mundo.

Agricultura na UE: Portugal é o país onde há mais trabalho ilegal


Euronews


O trabalho ilegal é um problema no setor agrícola da União Europeia e Portugal está no topo da tabela.
Segundo um estudo apresentado hoje pelo Centro de Direito e Política Alimentar de Milão, em Portugal, 60% dos trabalhadores na agricultura estão em situação ilegal.

Os autores do estudo pedem à União Europeia para travar este fenómeno.

Depois de Portugal, Roménia e Itália são os que mais utilizam a mão de obra ilegal na agricultura. Alemanha e Áustria são os países menos afetados. 
O estudo do observatório de Milão identifica algumas das causas deste fenómeno, entre elas, está a falta de cooperação entre os membros da UE para fazer frente ao problema.

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Governo cria empresa pública de gestão da floresta

14 DE NOVEMBRO DE 2017 - 10:36

Depois dos fogos em matas nacionais o Governo decidiu entregar a gestão das florestas a uma empresa que vai ser criada no próximo ano.

O terramoto que abalou Irão e Iraque em imagens


O ministro da Agricultura, Floresta e Desenvolvimento Rural anunciou esta terça-feira, no parlamento, que vai criar uma empresa pública para a gestão da floresta.

Capoulas Santos revelou que "o governo decidiu e terá expressão orçamental neste Orçamento do Estado criar uma empresa pública para a gestão da floresta. Nós queremos que o Estado avance, dê o exemplo e possa ter uma atitude mais pró-ativa, que demonstre à sociedade civil que é possível gerir a floresta de acordo com os novos instrumentos".

O ministro Capoulas Santos anunciou a criação de uma empresa de gestão pública das florestas

Depois desta primeira declaração e no decorrer do debate parlamentar o ministro sentiu a necessidade de dar mais esclarecimentos sobre esta matéria. Capoulas dos Santos adianta que "esta empresa não se destina a gerir as matas públicas. É uma empresa que se vai colocar no mercado como uma entidade de gestão florestal cujo principal objetivo será arrendar ou comprar terras, sobretudo na pequena propriedade, para ganhar dimensão e criar uma entidade de gestão florestal similar aquelas que pretendemos que a sociedade civil venha a criar através dos incentivos fiscais" aprovados.

Recentemente, o governo publicou um despacho onde pedia ao Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), administrador das matas nacionais, medidas de estabilização e de recuperação da área atingida pelo fogo.

No mesmo despacho, o executivo adiantava que queria ter em cima da mesa, em fevereiro de 2018, uma avaliação dos modelos de organização territorial, revisão dos planos de gestão florestal em vigor, um programa de rearborização e um plano de defesa contra incêndios.

Nesta audição, o ministro reforçou ainda a ideia de que vão aumentar até final de 2019 o número de equipas de sapadores florestais; vão passar a existir 500 equipas.

Entretanto, esta terça-feira, durante a audição do ministro Capoulas Santos foi revelado que já são 10 mil as candidaturas dos agricultores afetados pelos incêndios receberem indemnizações, um processo que formalmente arranca no final do mês.

Capoulas Santos revelou que, apesar das candidaturas abrirem só a 30 de novembro, o ministério da Agricultura já tem uma lista com 10 mil candidatos e "estes serão agora os primeiros a serem contactados para que os serviços expliquem qual a medida a que se pode candidatar".

Outra medida de apoio ao mundo rural afetado pelos fogos tem a ver com a produção de mel. "Amanhã [quarta-feira] mesmo começam a ser distribuídas 70 toneladas de açúcar, que iremos distribuir através das associações de apicultores, para a alimentação das abelhas durante o inverno", anunciou.

O ministro explica que a distribuição de açúcar será feita através de três bases logísticas distribuídas pelo território.

Os efeitos da seca: pinhões a 100 euros, Natal sem queijo da Serra e um verão sem cerejas


13 Novembro 20176.236

Vera Novais
Pinhões a mais de 100 euros o quilo, o fim do queijo da Serra DOP, um verão sem cerejas e prateleiras sem arroz agulha e sem mel nacionais. A seca já chegou ao bolso e chegará à mesa dos portugueses.

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O magusto costuma ser acompanhado pelo verão de São Martinho, uma trégua solarenga aos dias de chuva do outono. Mas este ano, as chuvas de outono não chegaram. Algumas zonas do país não veem água desde o início da primavera e as consequências são claras para os produtos nacionais. A castanha tão apetecida nesta altura do ano está seca e é de fraca qualidade. E assá-la só a vai tornar o problema ainda pior.

Se faltam as boas castanhas nacionais no outono, o Natal não será mais feliz: as nozes e pinhões portugueses também não atingem a qualidade ou quantidade dos anos anteriores. Sem água os frutos não crescem. Sem água as árvores não conseguem produzir novas rebentações. Para o ano, prevê-se que também sejam escassos os pinhões e nozes nacionais nas mesas natalícias.

O verão de 2017 foi mais quente do que o normal e com muito menos chuva, afetando os frutos, legumes e cereais que precisavam de água nessa altura. Mas a seca extrema continuou em setembro e outubro começando já a afetar as produções do próximo ano. Para já, é garantido que em 2018 terá menos cerejas, amêndoas e azeitonas nas bancas do mercado. E se não vier chuva para encher as barragens vai faltar o milho e o arroz agulha nacional, porque não chegam sequer a ser plantados.

Perante o calor e seca deste ano, só as vinhas parecem ter aguentado o ano com sucesso. Os produtores têm conseguido adaptar-se às condições: nas zonas mais secas os agricultores recorreram à rega e em todas as regiões os produtores conseguiram antecipar a vindima em quase três semanas. No início de agosto já as uvas tinham atingido a maturação ótima, o que promete vinhos de elevada qualidade em 2017.

Para além do óbvio, que é poder faltar a água nas torneiras — em Viseu já está a ser transportada água em camiões cisterna para abastecer a rede pública — como é que a seca vai chegar aos bolsos e à mesa dos portugueses?


Queijos
Queijo da Serra da Estrela em risco de extinção


Está mais próximo do que imagina o dia em que chegará à prateleira dos queijos de denominação de origem protegida (DOP) e a encontrará vazia. Só este ano, a seca e os incêndios provocaram uma quebra de 70% na produção do leite necessário para o fabrico de Queijo da Serra da Estrela DOP na Casa Matias, um dos maiores produtores deste tipo de queijo.

José Matias, diretor executivo da Casa Matias, já informou os clientes que não vai conseguir abastecê-los com as quantidades previstas. Com a escassez de leite, este produtor já está a pagar mais pela matéria prima — 1,30 euros por litro, mais cinco cêntimos do que no ano passado —, mas esse custo ainda não se vai refletir no preço do supermercado. Os contratos são feitos anualmente e a Casa Matias vai cumprir os preços acordados com os clientes. Para o próximo ano, com a renegociação dos contratos, pode contar que estes queijos, que já custam cerca de 25 euros por quilo, fiquem mais caros.

A diminuição da quantidade de leite não é, porém, um problema de agora. "É um problema que se arrasta há 10 ou 15 anos e que pode levar ao desaparecimento do Queijo da Serra da Estrela DOP", disse José Matias, quinta geração à frente do negócio. Os pastores estão envelhecidos e vão deixando a atividade não só pela idade, mas pelas exigências fiscais, como contabilidade organizada. Além disso, a maior parte tem 60 a 80 ovelhas quando "seriam precisas umas 150 para um casal ter um salário condigno".

Continuaremos a ter Queijo de Seia, que se pode fazer com leite importado, mas para fazer o Queijo da Serra da Estrela DOP só se pode usar leite das ovelhas de raça Bordaleira Serra da Estrela ou da raça Churra Mondegueira. E só se pode usar o leite da região demarcada, portanto nem os núcleos de raça Bordaleira que existem no Alentejo podem ajudar na produção, explicou o engenheiro agrónomo.


E se procura normalmente produtos de denominação de origem protegida saiba que não serão só os queijos a desaparecer das prateleiras, mas também a carne. "O que irá acontecer, muito provavelmente, será a substituição dos produtos DOP nacionais (queijo e carne) por produtos importados, frustrando os esforços que os nossos queijos e carnes de denominação de origem protegida têm feito na informação e conquista do consumidor", disse Tiago Melim, vice-presidente da Associação Nacional da Cabra Serrana.

Carne
"Estamos perto de uma situação de catástrofe"


Falta água para a rega de cereais, faltam cereais para a alimentação dos animais, mas se perguntar no seu talho não falta carne nos balcões nem os preços sofreram alterações. Num mercado onde 50% da carne é importada, os produtores nacionais não conseguem ver o aumento do custo de produção refletido no preço final dos produtos ou arriscam-se a não conseguir vendê-los.

Nem no caso dos produtores em regime extensivo — em que os animais se alimentam de fenos e pastos verdes ao ar livre — se prevê um aumento do preço, apesar do aumento dos custos. Esta carne já é mais cara do que a de regime intensivo ou do que a importada, aumentar o preço pode significar uma fuga dos compradores. Sem falar na dificuldade em negociar outros preços com o maior comprador nacional: as grandes superfícies.

"Estamos muito perto de uma situação de catástrofe para a criação de gado em regime extensivo como é o caso da carne alentejana", disse Fernando Carpinteiro Albino, presidente do conselho de administração da Carnalentejana. O alimento que se destinava aos animais para enfrentarem o inverno, já foi consumido durante o verão. Os produtores viram-se assim obrigados a comprar palhas, fenos e rações, com um grande aumento do custo de produção. Os produtores garantem, no entanto, que a qualidade da carne não será afetada.

"Há mais de 80 anos que não nos acontecia uma coisa destas", disse Manuel Cirnes, secretário-geral da Associação Nacional dos Criadores da Raça Arouquesa. "Se não houver apoio do Ministério [da Agricultura], os produtores vão reduzir o número de animais ou acabar com as produções."

Para ajudar os criadores de gado, o Ministério da Agricultura já colocou cinco mil toneladas de ração à disposição dos produtores nas regiões afetadas pelos incêndios e pela situação de seca. "Trata-se de um apoio gratuito à alimentação dos animais", assegurou o Ministério. Para os mesmo produtores "foi criada uma linha de crédito garantida, no valor de cinco milhões de euros".

"Se não houver apoio do Ministério [da Agricultura], os produtores vão reduzir o número de animais ou acabar com as produções."
Manuel Cirnes, secretário-geral da Associação Nacional dos Criadores da Raça Arouquesa
Milho
Se agora há falta de milho para o gado, para o ano será pior


Grande parte do milho consumido em Portugal tem como destino a alimentação dos animais. Ainda assim, a produção nacional só satisfaz 35% das necessidades do país. Ou satisfazia. Se se continuarem a verificar situações de seca como este ano e se as barragens não retomarem os níveis normais, a produção nacional milho vai diminuir e muito.

Como as grandes produções de milho usam a rega — cultura de regadio —, os agricultores que, este ano, previram que não teriam água suficiente, desde a sementeira até à colheita, optaram por não semear. "Se as reservas de água não forem repostas [pela chuva], a área semeada com milho em 2018 será muito penalizada. Ninguém vai semear milho sem ter garantias de ter água em quantidade suficiente para regar", disse José Luís Lopes, presidente da Associação Nacional de Produtores de Milho e Sorgo (Anpromis).

Trocar as variedades de regadio por variedades de sequeiro (cultura em que o recurso à rega é mínimo) também não é solução, como explicou José Luís Lopes. "É muito pouco rentável." Existem algumas plantações de milho de sequeiro no norte do país, mas são sobretudo para autoconsumo.


As consequências negativas das quebras de produção serão maiores para os produtores, que têm de continuar a suportar as despesas, do que para o consumidor final. O preço é definido internacionalmente e pouco reflexo terá a quebra nacional ou o aumento dos custo de produção. O aumento da importação pode, no entanto, "prejudicar a balança do país", disse o presidente da Anpromis. "A escassez pode levar a um descontrolo na importação, o que é um problema. Se houver muita importação pode haver dificuldade em escoar o produto nacional."

João Fardilha, técnico agrário na Cerealplus – Organização de Produtores de Cereais, lembrou que há uns 30 anos era proibido importar na altura da colheita nacional. "Agora não há proteção à lavoura." O milho importado, como o que vem do Brasil, é muito mais barato porque as explorações agrícolas conseguem produzir em maiores quantidades e porque, como chove com frequência, não têm os mesmos custos com a rega que tem Portugal.

Trigo, aveia e cevada
Mesmo que falte trigo nacional, não lhe faltará o pão


Nas padarias ainda não se sente o efeito da seca. A farinha continua ao mesmo preço e o pão também. Mas também não se espera que mude de um momento para o outro. Por um lado, existe um preço recomendado para o pão que é definido anualmente. Por outro, a quase totalidade do trigo (90%) usado nas farinhas é importado. E não é previsível que falte trigo importado.

O problema maior é mesmo para os produtores. Os cereais de sequeiro, como trigo, aveia e cevada, tiveram uma quebra de produção de 30% este ano, segundo José Miguel Ribeiro, gerente da Cooperativa Agrícola de Beja e Brinches. Mas mesmo que a água abundasse nos furos e nas barragens não dava para, de um momento para o outro, transformar as explorações em culturas de regadio: os agricultores não têm estruturas para isso, nem capacidade para suportar o investimento num curto espaço de tempo.

Apesar de ainda se lamentarem as quebras deste ano, os agricultores já estão a olhar para os prejuízos do próximo ano. "Nesta altura os cereais já deviam estar semeados e não estão", disse José Miguel Ribeiro. E, enquanto não chover o suficiente, os produtores não arriscam semear, porque podem perder todas as sementes. Mas o tempo foge. A aveia tem mais duas semanas para ser plantada, depois deixa de ser altura. O trigo ainda pode ser plantado até ao final de dezembro, mas só se chover.

Arroz
No Sado a seca é tal que pode não se conseguir um único hectare de arroz


Portugal produz todo o arroz carolino que consome. E se a seca não afetar demasiado as regiões do Mondego e do Tejo e Sorraia assim continuará a ser. Mas o arroz carolino, apesar de ser o mais característico da gastronomia tradicional portuguesa, só representa 30% do consumo nacional de arroz, disse Pedro Monteiro, diretor-geral da Associação Nacional dos Industriais de Arroz.

A grande aposta do sector, nos últimos três anos, tem sido convencer o consumidor a preferir arroz carolino em vez de agulha ou basmati. A meta é conseguir ter os 30 mil hectares de arrozal em Portugal a produzir exclusivamente carolino. Os industriais ficariam protegidos e os consumidores teriam a garantia de qualidade deste produto. Ainda assim, isso só representaria 60% do consumo nacional. 40% teria de ser importado, tal como já é importado agora.


Se a região do Mondego e do Tejo e Sorraia ainda não sentiram os efeitos da seca, o mesmo não poderá dizer a região do Sado. Este ano, a região já reduziu a área de produção, mas em 2018 poderá ser ainda pior. "Para o ano, se não chover, não se consegue sequer um hectare", disse João Reis Mendes, diretor executivo do Agrupamento de Produtores de Arroz do Vale do Sado (Aparroz).

As barragens do Pego do Altar e Vale do Gaio têm uma capacidade de cerca de 160 milhões de metros cúbicos e agora estão só a 10% da capacidade — o mínimo para manter a população de peixes e dar de beber aos animais —, referiu o diretor executivo do Aparroz. "Não me lembro de ter chegado ao fim de uma campanha sem água nas barragens."

Para fazer face à seca, que afeta mais os arrozais alentejanos, já se tentou o regadio, com pivôs de rega, mas não resultou, disse João Reis Mendes. Uma alternativa seria receber água do Alqueva, mas é cara.

No Sado a produção é sobretudo de arroz agulha, o resultado da quebra de produção é um aumento das importações. Como o mercado é regulado internacionalmente, não se espera que o preço final para o consumir português sofra alterações. Mas não conte com arroz agulha português à sua mesa.

Castanhas
As castanhas de 2017 estão quase a acabar e encareceram


Se não aproveitou o magusto para encher a barriga de castanhas, é melhor que se apresse, porque podemos já só ter castanha nacional até ao final do mês. Mas se quiser mesmo encher a barriga, tem de se preparar para pagar bem por elas — alguns lotes podem chegar aos 7,5 euros por quilo (contra os cinco euros do ano passado). E sem garantias de que sejam tão boas como em anos anteriores. Umas estão secas, outras estão menos resistentes e chegam à sua mão já podres. Se tiver paciência, pode escolhê-las uma a uma e tirar partido do magusto tardio.

As castanhas estão secas este ano por causa da falta de chuva. Sem água no início do outono, as castanhas não cresceram. "Houve um bom número de frutos, mas não cresceram pela falta de água em setembro e outubro, e não têm qualidade", disse Domingos Barreira, presidente da Cooperativa Souto Os Cavaleiros. E, quando a castanha cai, já está seca e apodrece com mais facilidade.

Este é o impacto para este ano, mas o próximo ano pode não ser melhor, porque a seca interfere na resistência dos castanheiros. Uma situação agravada pelos últimos anos, que têm sido secos ou pouco chuvosos, e que pode implicar que os castanheiros mais jovens, com menos de 20 anos, não tenham capacidade para florir.

Os produtores de castanhas transmontanas falam numa quebra de produção de 60 a 80% devido à seca, segundo Carlos Fernandes, presidente do Agrupamento de Produtores de Castanha do Transbaceiro. Mas o vendedor da empresa Questão de Primavera, não o sentiu. Para este vendedor que trabalha no Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (MARL), em 2017 até houve bastante castanha, a diferença é que começou muito mais cedo: "No dia 28 de agosto já tinha produtores a quererem vender-me castanha. Não me lembro de outro ano assim".

Com os últimos quilos de castanha nacional a serem vendidos por grossistas e retalhistas o preço aumenta nos mercados. Quando acabar a castanha nacional começamos a importar da Turquia ou da China, esta última com muito menos qualidade.


Nozes, amêndoas e pinhões
Produção de pinhões afetada por seca e incêndios


Os frutos secos nacionais primam pela qualidade, mas os custos são difíceis de suportar. Na padaria do bairro, o bolo rei faz-se quase sempre com nozes importadas, porque a utilização das nozes nacionais não justifica o que o padeiro paga por elas. Já os pinhões, se não for possível comprar produto nacional — pela escassez ou pelo preço — mais vale não usar de todo. O pinhão chinês não é minimamente comparável em termos de qualidade e sabor. Mas para quem não aguenta passar o Natal sem pinhões, é uma opção bem mais barata.

À semelhança do que aconteceu com muitos frutos, as nozes estavam prontas mais cedo, e como havia muita ao mesmo tempo os preços baixaram e foi complicado escoar tanta noz, explicou o vendedor da Questão de Primavera. Os produtores não vêem o problema da mesma forma e dizem que houve uma quebra de produção na ordem dos 75%, segundo Domingos Barreira. Se não conseguir nozes nacionais para a mesa do Natal, só lhe restarão as importadas, mas fique com um conselho do padeiro: "As nozes francesas são melhores do que as chilenas".

Se gosta de pinhões já sabe que pode pagar tanto por um pequeno saco do pinhões como paga por uma refeição. Este ano pode contar com preços na ordem dos 70, 80 ou até ultrapassar os 100 euros por quilo. Um problema que promete manter-se nos próximos anos, sobretudo nos núcleos de pinheiros mansos ardidos, como em Oliveira do Hospital, Carregal do Sal e Mangualde.

O Vale do Sado não foi afetado pelos incêndios, mas a seca teve um impacto importante no tamanho dos frutos e no rendimento da pinha. E vai afetar também a produção das próximas pinhas. Os gomos florais que dão origem às novas pinhas, e que aparecem primavera, diferenciam-se no outono anterior, mas esse desenvolvimento está comprometido pela falta de água, explicou Pedro Silveira, presidente da direção da Associação de Produtores Florestais do Vale do Sado (Ansub). Como as pinhas levam três anos a crescer nas árvores, a seca deste ano vai continuar a ter impacto na produção de pinhões daqui a três ou quatro anos.

As amêndoas sofreram a seca normal do v

erão, mas podem ter o arranque do próximo ano comprometido se não chover este outono. As amendoeiras dependem da água para começarem a florir em meados de fevereiro. Se isso não acontecer, o resultado são florações atrofiadas e amêndoas mais pequenas, alertou Domingos Barreira.

Cerejas
É preciso chuva e frio para termos cerejas para o ano


Com a chegada da primavera, as cerejeiras começam a florir e lança-se o mote para as visitas à Serra da Gardunha. As flores delicadas, enchem os ramos das árvores ainda antes destas se encherem de folhas, e depois dão lugar ao fruto vermelho e apetecível. Todos se queixam do preço, mas os verdadeiros amantes não resistem a comprá-la. Enquanto houver.

Se não chover o suficiente nos próximos meses e se o frio de inverno não chegar, a produção de cerejas no próximo ano pode estar comprometida, alertou Filipe Costa, coordenador da equipa de engenheiros de campo da Cerfundão – Embalamento e Comercialização de Cereja da Cova da Beira.

À semelhança do que acontece com as amendoeiras, as cerejeiras dependem das chuvas de inverno para entrarem em dormência e se prepararem para o ano seguinte. O frio de inverno e o fim do frio, quando chega a primavera, são também essenciais para a planta quebrar a dormência nas condições ideais, para que todas as flores nasçam na mesma altura e de forma homogénea e para que os frutos também surjam todos ao mesmo tempo. Se o inverno não for favorável à cerejeira, no próximo ano poderemos ter menos frutos e de menor qualidade. Prepare-se para pagar mais e desfrutar menos.

Este ano já se verificou o efeito do clima no preço do desejado fruto. Em geral a cereja não esteve muito cara, porque havia muita, mas para comer as melhores tinha mesmo de investir um pouco mais. O inverno passado deu água suficiente às cerejeiras, o problema foram as temperaturas altas deste ano, que fizeram com que todo o ciclo da planta se antecipasse.

Laranjas
Os citrinos estão pequenos e pouco doces


O outono e a chegada do tempo frio não trazem só as castanhas, esta é também a altura das laranjas e clementinas. Mas o tempo quente e seco não deu tréguas nem às frutas de inverno. A falta de água fez com que ficassem mais pequenas e a falta de frio não as deixou ganhar o doce.

Não espere que a fruta fique mais barata, os tamanhas (calibres) mais pequenos já são por norma mais baratos. Mas também não ficará mais cara, apesar de os produtores terem aumentado os custos de produção por causa do recurso à rega. A empresa Os Algarvios gasta cerca de cinco mil euros por mês em eletricidade para a rega. Um esforço para conseguirem alguma produção, mas que não compensa a falta de humidade no ar que também é importante para estas árvores de fruto.

O calor fora de tempo, como o que temos sentido nos últimos meses, também afeta as laranjeiras e restantes árvores de citrinos. É o frio e o calor nas alturas devidas que ajudam a planta a regular o ciclo. As alterações nas temperaturas normais provoca o descontrolo do ciclo da planta, alertou Pedro Madeira, sócio gerente da Frutas do Sotavento do Algarve (Frusoal). O gestor espera, portanto, consequências negativas na produção do próximo ano.

Fruta e legumes
Enquanto houver água para regar não haverá problemas


Quer vá ao Mercado Abastecedor de Lisboa (MARL) ou a um mercado local, a resposta é a mesma: fruta este ano não faltou. Era muita e de qualidade, por isso foi mais frequente ver os preços a descer do que a subir. As temperaturas altas ajudaram a isso, a fruta amadureceu bem e mais cedo.

O problema será no próximo ano. Se as noites frias do inverno passado ajudaram as árvores de fruto a entrar em dormência, a falta de frio deste ano pode provocar alterações no ciclo da planta. A chuva nesta altura do ano seria importante para ajudar a planta a recuperar os nutrientes perdidos durante a época dos frutos, mas não aconteceu. Para o ano, o que pode acontecer é que as árvores não tenham tantos frutos porque ficaram muito esgotadas com a produção de 2017.

Já os pequenos produtores de hortícolas não têm queixas a fazer. Por enquanto a água chega para regar estes produtos e não se nota ainda qualquer alteração no preço. Mais uma vez, o aumento dos custos de produção, tal como os custos com a eletricidade para a rega, são suportados pelos produtores. Há tanta quantidade de hortícolas que aumentar o preço é arriscar a não vender, disse um dos produtores no MARL.


Se está preocupado com as batatas para a ceia de Natal, fique sabendo que a seca não afetou a produção. A batata precisa de pouca água e não houve seca antes de abril, a altura crítica para as batatas. Impacto nas batatas, só mesmo na batata do Montijo que ficou mais pequena do que o normal, referiu uma vendedora da empresa Pires Duarte e Irmão. Quanto aos preços também não se esperam alterações, segundo a vendedora os preços são regulados pela produção internacional.

Sem ter sofrido os efeitos da seca, visto que recorre à irrigação de todos os produtos, Ole Martin Siem, dono da Frupor, admite: "As consequências dramáticas são que os reservatórios estão baixos e, se a seca continuar, a água será pouca para as próximas estações".

Agricultura biológica
Menos produtos, mais caros


Com uma filosofia diferente na utilização dos recursos, a agricultura biológica registou alguma quebra na produção de frutas (em quantidade e qualidade, com diminuição dos calibres da fruta) e na redução das áreas cultivadas com hortícolas de ar livre. Porém, os impactos totais ainda não são bem conhecidos, referiu Jaime Ferreira, presidente da direção da Agrobio – Associação Portuguesa de Agricultura Biológica.

Se prefere comprar produtos biológicos pode ter como garantido que a diminuição da oferta, graças às seca, vai fazer aumentar os preços e, possivelmente, aumentar o recurso à importação.

Mas não foi apenas a seca extrema que prejudicou a agricultura biológica. Nas zonas ardidas há perdas de estufas de produção hortícola, pomares, gado, olival e frutos secos. Jaime Ferreira lembrou também que houve empresas de adubos e sementes a serem afetadas pelos incêndios, o que acaba por prejudicar os agricultores.

Azeite
Há menos azeitona, mas o azeite é de qualidade


Se só gosta de regar as refeições com azeites de excelência, os azeites de Trás-os-Montes de 2017 prometem atingir este patamar. Quem o garante é Francisco Pavão, presidente da Associação dos Produtores em Proteção Integrada de Trás-os-Montes e Alto Douro, com base nas provas que já fez na região.

A campanha de apanha da azeitona ainda não acabou, por isso é difícil conhecer os impactos reais. Mas é claro que, onde faltou água, sobretudo nos olivais de sequeiro, as azeitonas não cresceram tanto. Os olivais de sequeiro são a norma em Trás-os-Montes, por isso os produtores estavam à espera que os frutos mais pequenos dessem menos azeite, referiu Francisco Pavão. Mas, para surpresa do produtor, o rendimento da extração de azeite está a ser 2 a 3% superior à do ano passado.

Naturalmente, os maiores impactos da seca serão nos olivais de sequeiro, visto que os olivais de regadio conseguiram ter água suficiente para a rega e minimizar os efeitos da seca. Ainda assim, Henrique Herculano, diretor técnico do Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo (CEPAL), estima que a quebra no Alentejo ronde os 20 a 30%.

Azeite de qualidade e azeitonas pequenas, mas saborosas, são a norma deste ano. Para o ano não será assim, se vão ser grandes ou pequenos só a chuva o dirá, mas serão menos com certeza. A falta de água em 2017 fez com que as oliveiras não produzissem novos ramos. E as azeitonas só crescem nestes novos ramos. Resultado: sem ramos novos, não há azeitonas.

Vinho
Com as temperaturas altas a uva foi de elevada qualidade


Guarde na memória ou escreva no seu guia de vinhos: 2017 é um ano de referência. "Este foi o ano do século em termos de colheita, porque a uva tinha uma qualidade fantástica", disse Vasco D'Avillez, presidente da Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa. "É figurativo porque não há registo de 100 anos."

Manuel Pinheiro, presidente da Comissão de Vinhos Verdes, confirma que o clima também foi muito favorável aos vinhos verdes. "Foi uma das melhores produções da última década quer em termos de quantidade — 20% superior a 2016 —, quer em termos de qualidade."

Em algumas regiões onde a seca foi mais severa poderá haver alguma quebra na produção, mas a qualidade é, regra geral, muito alta. "Esperamos uma produção menor, mas certamente de qualidade devido à sanidade muito boa das uvas", disse Francisco Mateus, presidente da direção da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana.

A qualidade da uva deveu-se a uma maturação ótima, que este ano aconteceu muito mais cedo do que seria de esperar: no início de agosto já as uvas tinham apanhado a quantidade de Sol suficiente. A reação rápida dos vitivinicultores e a antecipação das vindimas em duas ou três semanas, permitiu aproveitar essa uva de excelente qualidade, como frisou Ana Isabel Alves, secretária-geral da Associação de Vinhos e Espirituosas de Portugal (Acibev).

"Foi a vindima com início mais cedo de que há memória."
Manuel Pinheiro, presidente da Comissão de Vinhos Verdes
A região dos vinhos verdes é normalmente húmida e sofreu pouco com a seca. Também a região dos vinhos de Lisboa, com uma frente Atlântica muito extensa, beneficia de uma humidade matinal diária que garante a rega natural das vinhas. Nas regiões mais afetadas pela seca, a utilização regrada da água permitiu minimizar os impactos negativos.

"No âmbito do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo estamos a promover a reutilização da água e a captura das chuvas, bem como uma utilização mais eficiente nas vinhas e nas adegas", disse Francisco Mateus. Alguns dos exemplos são a utilização de rega gota-a-gota nas vinhas para evitar o desperdício de água e a reutilização de águas residuais das adegas, tratadas para serem usadas nas vinhas.

Mel
As abelhas não têm o que comer


Há um efeito dos incêndios que talvez ainda não tenha ponderado: o desaparecimento de mel de denominação de origem protegida, como o Mel da Serra da Lousã DOP. Este mel só se pode produzir naquela região e está dependente de matos de urze, rosmaninho e alecrim. Se a chuva não ajudar à regeneração natural destes matos ou se a reflorestação se fizer com espécies diferentes, este mel tem os dias contados.

Além da destruição da vegetação nativa, essencial para os aromas característicos dos vários tipo de mel português, os incêndios também destruíram várias colmeias — 20 mil, numa estimativa da Federação Nacional dos Apicultores de Portugal (FNAP). A isso junta-se uma quebra de produção em 50% por causa da seca — que pode chegar aos 70% no interior norte.

Se costuma comprar o mel diretamente ao apicultor ou em lojas que garantam a origem 100% portuguesa do produto, vai notar um aumento considerável do preço. Mas se compra o mel nas grandes superfícies pode nem dar pela diferença. "A maior parte do mel nos supermercados é de mistura — lotes de mel nacional e estrangeiro", afirmou João Casaca, da FNAP. Nestes casos, o produtor não pode aumentar o preço ou arrisca-se a não conseguir vender o produto.

Neste momento, os produtores têm ainda outra preocupação, a alimentação das abelhas nas zonas ardidas. "Há cerca de 110 mil colmeias — 20% do efetivo nacional — que se encontram ameaçadas devido às pastagens estarem ardidas ou secas", referiu João Casaca. Esta é uma alimentação de manutenção e, sem ela, as abelhas podem não aguentar o inverno. Para compensar esta situação o "Ministério da Agricultura distribuiu 102 toneladas de açúcar para alimentar as abelhas das regiões afetas" pelos incêndios e pela seca, conforme fonte do Ministério.

Mais uma vez, é a chuva que vai determinar se há produção de mel ou não. Nas zonas afetadas pela seca, a chuva pode ser suficiente para garantir a floração e tudo decorrerá normalmente. Já nas zonas ardidas, mesmo com chuva, está tudo depende da capacidade de regeneração natural das plantas.

Água
Barragens e sistemas de regadio são a solução para produtores


Ainda que chova tudo o que os criadores de gado e os agricultores desejam, é provável que muita água se perca. Em vez de se infiltrar no solo, enchendo os lençóis de água subterrâneos, a água acaba por escorrer para as linhas de água. O que os produtores defendem é que se criem formas de reter e armazenar a maior quantidade de água da chuva possível e que se torne esse água acessível a todos os produtores.

Criar pequenas barragens de terra é a solução proposta por muitos produtores. As exigências burocráticas e a obrigatoriedade de um estudo de impacto ambiental para se conseguir a licença de construção, são os maiores entraves encontrados. Fernando Carpinteiro Albino, presidente do conselho de administração da Carnalentejana, defendeu que se mudem as exigências e que estas sejam mais adaptadas à realidade alentejana: que os EIA sejam exigidos para barragens para uma capacidade maior e que sejam mais baratos. Fernando Albino perguntou ainda porque não aposta o Governo na dessalinização da água do mar como se faz em Espanha.

Um melhor aproveitamento das barragens existentes ou um pleno aproveitamento dos sistemas de barragens e canais que começaram a ser construídos é outra das sugestões. Domingos Barreira, presidente da Cooperativa Souto Os Cavaleiros, lembrou o sistema de barragens e canais que começou a ser construído a partir da barragem do Azibo, mas que nunca foi concluído. Fazendo com que o canal de rega do Azibo esteja subaproveitado e que menos de 10% da água seja usada em regadio.


"A castanha com rega melhora a produção em 25%. Já nas nozes, nas amêndoas e nas avelãs o aumento da produção é exponencial", disse Domingos Barreira. José Gomes Laranjo, presidente da RefCast, confirma: "Em 2017, os soutos regados não tiveram quebra de produção. Infelizmente menos de 5% dos soutos são regados".

Mas a água para rega constitui um custo elevado para os produtores. Em particular, a água da barragem do Alqueva, como referiu João Reis Mendes, diretor executivo do Aparroz. O dirigente sugere a baixa do preço da água e que se possa comprar água apenas nos momentos de necessidade. "Só preciso da água do Alqueva se não chover, não quero comprar todos os anos."

O Ministério da Agricultura referiu, no entanto, que os preços já foram reduzidos este ano. "Os novos valores, que entraram em vigor em abril, representam uma descida no valor do tarifário que chega a atingir os 33%."

A Agrobio, baseada nos conhecimentos de agricultura biológica, sugeriu a implementação de sistemas agrícolas mais resistentes à seca: o aumento do teor de matéria orgânica nos solos, porque aumenta a capacidade de retenção de água; a cobertura do solo, combinada com sistemas de rega eficientes; e a diversificação dos próprios sistema agrícolas, com combinação da agricultura, pastorícia e mata autóctone, as sebes vivas e estratificadas, a plantação de culturas e variedades menos exigentes em água.

Outras sugestões passam por uma gestão e utilização mais eficiente da água, com menos desperdício; a utilização de castas e porta-enxertos mais resistentes à secura, no caso das vinhas; ou incentivar as explorações a tornarem-se mais resilientes às alterações climáticas. Até lá, é esperar que chova. Bastante.

Empréstimo do BEI para ampliação do Alqueva será assinado este mês - Capoulas Santos



O ministro da Agricultura, Luís Capoulas Santos, informou hoje que neste mês será oficializado o empréstimo que permite ampliar o regadio no Alqueva em 50 mil hectares.

"Depois de muitos meses, mais de um ano, de negociação com o Banco Europeu de Investimento (BEI) vai ainda este mês concretizar-se a assinatura do empréstimo de 260 milhões de euros", anunciou o governante, na Assembleia da República.

O empréstimo viabilizará o aumento em 50 mil hectares do regadio de Alqueva e "ainda deixará uma folga financeira de outros cinquenta milhões, para além do PDR [Programa de Desenvolvimento Rural], a investir noutras áreas do país".

Na sua intervenção inicial na discussão na especialidade do Orçamento do Estado para 2018 (OE2018), na Assembleia da República, o governante notou que uma das apostas da sua tutela é no regadio, "uma resposta muito mais que pertinente neste momento de seca que atravessamos".


Capoulas Santos sublinhou que a eficiência vai nortear o aumento da área, até 2022, da barragem do Alqueva em cerca de 50 mil hectares.

Na audição conjunta com os deputados da Comissão de Orçamento e da Comissão de Agricultura, o ministro destacou haver cerca de 118 milhões de euros de verbas para cofinanciamento do PDR para o próximo ano, "bastante mais do que o objetivo para 2016/2017 que era conseguir 90 milhões para executar plenamente o PDR".

"Iremos começar a tarefa da recuperação da baixa execução de dois anos: de 2014 e 2015. Não só executámos em 100% em 2016, como iremos, seguramente, executar 100% em 2017 e iremos em 2018 executar mais do que esse montante", garantiu.

Logo depois, o deputado social-democrata, Nuno Serra, criticou o ministro por fazer muitos anúncios, "muita propaganda", o que foi negado pelo ministro com a pasta da Agricultura.