sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Marcelo promulga diploma sobre benefícios para entidades de gestão florestal


O Presidente da República promulgou o diploma da Assembleia da República que cria benefícios fiscais para as entidades de gestão florestal.

De acordo com a página da Presidência na internet, o diploma altera o Estatuto dos Benefícios Fiscais e o Regulamento Emolumentar dos Registos e Notariado.

A maioria dos artigos do diploma sobre a criação de benefícios fiscais para entidades de gestão florestal foi aprovada a 24 de outubro na comissão parlamentar de Agricultura, com a introdução de alterações propostas pelo BE, PS, PSD e CDS-PP.

O diploma entrará em vigor em janeiro de 2018.

Em relação ao Estatuto dos Benefícios Fiscais (EBF), o diploma propõe a isenção de IRC [Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas] aos rendimentos obtidos no âmbito da gestão de recursos florestais por Entidades de Gestão Florestal (EGF) reconhecidas, a isenção de imposto do selo às aquisições onerosas de prédios rústicos destinados à exploração florestal, a isenção de imposto municipal sobre as transmissões onerosas de imóveis, quando os municípios assim o deliberem, entre outros apoios.

Além destes benefícios fiscais, é defendida "uma majoração dos custos suportados com despesas com operações de defesa da floresta contra incêndios, ou com a elaboração de planos de gestão florestal", de forma a incentivar os comportamentos dos proprietários florestais no que respeita à prevenção dos incêndios e à realização de uma gestão florestal sustentável.

Angola tenta “reforço da cooperação bilateral” com o Brasil


7/12/2017, 12:34
Esta é uma das medidas que visam o aumento da produção não petrolífera constantes do plano intercalar do Governo a seis meses.

O ministro da Agricultura e Florestas de Angola inicia esta quinta-feira uma visita de trabalho de cinco dias a Brasília, durante a qual pretende analisar a possibilidade de negociação de linhas de financiamento do Brasil para investimentos na área agropecuária angolana.

De acordo com informação disponibilizada à Lusa pelo gabinete do ministro Marcos Alexandre Nhunga, a visita de trabalho que realiza ao Brasil, no quadro do "reforço da cooperação bilateral" no domínio da Agricultura e da Pecuária entre os dois países, iniciou-se terça-feira, em São Paulo.

"Com o objetivo de analisar e discutir com as autoridades brasileiras a cooperação bilateral nas áreas de agricultura e pecuária empresarial e possíveis linhas de financiamento para o setor", explica aquele ministério.

Além do ministro, de acordo com informação do gabinete de Marcos Alexandre Nhunga, a comitiva angolana integra ainda os governadores das províncias da Lunda Norte, Ernesto Muangala, da Lunda Sul, Fernando Kiteculo, e do Moxico, Manuel Gonçalves Muandumba.

No distrito federal de Brasília está prevista uma reunião entre o governante e o presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal, Fernando Collor de Melo, e reuniões com representantes de empresários brasileiros do setor.

A passagem por São Paulo envolveu visitas a várias empresas brasileiras produtoras de alimentos, além de uma reunião com representantes do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul, que financia a aquisição de máquinas e equipamentos de produção brasileiros para o exterior, bem como com o homólogo brasileiro Blairo Maggi, ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

A Lusa noticiou em novembro que o Governo angolano está a estudar a possibilidade de introduzir a obrigatoriedade de as companhias seguradoras alocarem às respetivas carteiras uma percentagem mínima para o seguro agrícola, como forma de promover o desenvolvimento do setor.

Trata-se de uma das medidas que visam o aumento da produção não petrolífera constantes do plano intercalar do Governo a seis meses, para melhorar a economia nacional, e cuja concretização deverá acontecer até ao primeiro trimestre de 2018.

No documento, o Governo estima um crescimento da Agricultura numa taxa de 5,9% durante o ano de 2018, prevendo "uma aposta forte nas principais fileiras", como cereais, leguminosas e oleaginosas, raízes e tubérculos, carne, café, palmar e mel.

"Que, em grande parte, estão diretamente ligadas à dieta alimentar das populações do nosso país", lê-se, no plano do Governo a implementar até março.

O objetivo é potenciar os setores não petrolíferos, para aumentar a receita fiscal e o rendimento angolano, tendo a Agricultura como um dos pilares.

Para o efeito, além das medidas para massificar o acesso ao seguro agrícola, o Governo angolano assume o objetivo de "acelerar a implementação do Programa de Produção de Sementes", visando a utilização de sementes de "elevada qualidade", como forma de "melhorar a produtividade agrícola das culturas", mas também "rever todo o sistema de gestão e infraestrutura de irrigação", para "otimizar o seu rendimento".

Em 2018, o Governo quer dinamizar as culturas privadas do algodão, cana-de-açúcar, girassol, café, palma e cacau, "promovendo a sua articulação com o setor industrial", bem como "rever o sistema de gestão e redimensionar as atividades produtivas das fazendas de média e grande escala".

"O setor prevê também um maior dinamismo no ramo da agricultura empresarial, com o surgimento de novas explorações e fazendas de média e larga escala", aponta ainda o plano intercalar do Governo a seis meses.

Angola enfrenta uma profunda crise financeira, económica e cambial desde finais de 2014, decorrente da quebra na cotação internacional do barril de crude.

Itália vende milhares de hectares a jovens

 06/12/2017

Ao todo, são 20 mil hectares. A primeira tranche à venda consiste em 8 mil.

Não deixar pedaço de terra por cultivar - é a estratégia do Ministério da Agricultura italiano, que pretende criar mais 100 mil novos postos de trabalho nos próximos três anos.

Como? Vendendo terrenos aráveis que não estão a ser utilizados a empreendedores com menos de 40 anos e com acesso prioritário a linhas de crédito.

Ao todo, estamos a falar de 20 mil hectares. A primeira tranche à venda consiste em 8 mil.

Assim que foi divulgado o mapa com as terras disponíveis, surgiram mais de 16 mil utilizadores na plataforma online criada para o efeito. As áreas situam-se sobretudo no sul do país, onde a taxa de desemprego entre os jovens ultrapassa os 42%.


Reclusos em regime aberto vão trabalhar nas florestas e agricultura nos Açores



06 dez, 2017 - 07:24

Ao abrigo do protocolo, os reclusos vão integrar as equipas de colaboradores dos departamentos da agricultura e florestas na região, recebendo formação e competências nestas áreas.

Reclusos em regime aberto vão poder desempenhar tarefas ligadas às florestas e agricultura nos Açores, ao abrigo de um protocolo assinado entre a secretaria regional da Agricultura e Florestas e a Direcção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais.

O director-geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP), Celso Manata, disse que o protocolo "está desenhado para a ilha de São Miguel", mas "não quer dizer que não possa abranger reclusos que estão noutros estabelecimentos prisionais.

Ao abrigo do protocolo, os reclusos em regime aberto vão integrar as equipas de colaboradores dos departamentos da agricultura e florestas na região, recebendo formação e competências nestas áreas.

O documento tem validade de um ano, podendo ser prorrogado, e cada recluso receberá uma bolsa mensal como compensação pelas tarefas realizadas.

Celso Manata frisou que o acordo é também o retomar de uma iniciativa idêntica que ocorreu no passado e que se "revelou positiva", tendo por objectivo a reinserção de reclusos.

"O que vamos fazer é colocar um conjunto de pessoas que já cumpriram uma parte da pena. Que nós já conhecemos e que já tiveram algumas experiências bem sucedidas e que vão ter a oportunidade de trabalhar fora do estabelecimento prisional, exercendo uma actividade útil para a comunidade e dando provas que estão em condições de regressar a vida livre", salientou.

À margem da assinatura do protocolo, o director-geral de Reinserção e Serviços Prisionais destacou as medidas implementadas pelo Governo para diminuir a população prisional em Portugal, acrescentando que também no estabelecimento de Ponta Delgada, em São Miguel, "a ocupação tem baixado".

"Actualmente tem cerca de 170 reclusos o que é um abaixamento significativo tendo em conta que chegou a ter 210. É uma diferença grande que tem acompanhado a tendência a nível nacional", referiu.

Questionado sobre o ponto de situação da construção da nova cadeia de Ponta Delgada, lembrou que já foi encontrado o terreno para o novo estabelecimento prisional, indicando que, a nível dos serviços prisionais, já foi feita a definição do que se pretende construir. "A ideia que temos nos serviços é uma lotação de 400 indivíduos", adiantou, acrescentando que a nova cadeia de Ponta Delgada terá algumas celas para mulheres.

João Ponte disse que "actualmente o sector agrícola necessita ainda de mão-de-obra", considerando também que o governo tem que "estar disponível para este tipo de colaboração para a reinserção dos reclusos e capacitar as pessoas para o futuro".

Seca: PCP exige construção de barragens “há muito tempo previstas” no Alentejo


07.12.2017 às 12h32

Comunistas insistem na reivindicação de "medidas de carácter estrutural e urgente, com impacto na rede hidráulica existente e a criar", nomeadamente a construção de barragens como a do Pisão (Crato, Portalegre) e a concretização da ligação para levar água do Alqueva à barragem do Monte da Rocha, em Ourique (Beja)

O PCP defende a construção de barragens "há muito tempo previstas" no Alentejo, como a do Pisão (Portalegre), e da ligação para levar água do Alqueva à albufeira do Monte da Rocha (Beja).

Num comunicado enviado à agência Lusa esta quinta-feira, a Direção Regional do Alentejo (DRA) do PCP "manifesta a sua mais profunda preocupação pelos efeitos da seca" na agricultura, orizicultura, pecuária e no abastecimento de água à população numa "parte substancial" da região e exige ao Governo PS, "além de palavras, medidas concretas de apoio".

"A atual situação [de seca] requer medidas que o PCP tem insistentemente reivindicado, de carácter estrutural e urgente, com impacto na rede hidráulica existente e a criar", intervindo na melhoria de atuais infraestruturas e no aumento de capacidades, afirmam os comunistas.

Nesta lógica, o PCP defende a construção de barragens "há muito tempo previstas", como a do Pisão, no concelho do Crato, distrito de Portalegre, e a concretização da ligação para levar água do Alqueva à barragem do Monte da Rocha, em Ourique (Beja).

Trata-se da ligação da albufeira do Roxo, em Aljustrel e que está ligada ao Alqueva e, se necessário, recebe água do projeto, à do Monte da Rocha, que é fonte para abastecimento público dos concelhos de Castro Verde, Almodôvar e Ourique e parte dos de Odemira e Mértola, no distrito de Beja, e para rega no aproveitamento hidroagrícola do Alto Sado.

Segundo o PCP, o Alqueva, como reserva estratégica de água, "é um importante meio de abastecimento" para a agricultura e para a população de "uma faixa abrangente dos distritos de Beja e Évora", mas "não tem condições para resolver todos os problemas existentes no Alentejo".

Por construir continua a barragem do Pisão, no concelho do Crato, um projeto hidroagrícola reivindicado há dezenas anos como forma de resolver os problemas de falta de água no Alto Alentejo.

O último projeto, realizado em 2013, segundo a Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo (CIMAA), previa que a albufeira abrangesse uma área de 3.200 hectares, com as componentes de abastecimento público de água e de regadio.

O projeto apontava para uma capacidade de armazenamento de 100 milhões de metros cúbicos de água e o perímetro de rega poderia beneficiar cerca de nove mil hectares dos concelhos do Crato, Alter do Chão, Fronteira, Portalegre e Avis.

No mesmo comunicado, o PCP mostra-se também preocupado com a "tendência para o aumento dos períodos de seca e pela opção por uma agricultura assente quase em exclusivo no regadio" e alerta para as consequências no sobreiro e na azinheira, frisando que, atualmente, há "milhares" de exemplares destas duas árvores tradicionais no Alentejo que "estão a secar, com elevados prejuízos para o setor".

Os comunistas exigem ainda que a aplicação dos fundos comunitários para a melhoria da eficiência hídrica, a renovação e a qualificação de infraestruturas da rede de distribuição de água em baixa à população seja feita "sem pressões, sem chantagens e sem discriminações, permitindo a concretização dos investimentos necessários" e que "a atual situação de escassez torna ainda mais prementes".

No Alentejo, devido à seca, há seis pequenas aldeias, num total de cerca de 1500 habitantes, onde o abastecimento público está a ser assegurado com recurso a água transportada através de autotanques.

Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), no final de novembro, 3% do território de Portugal continental estava em seca moderada, 46% em seca severa e 51% em seca extrema.

IPMA: Temperatura não justifica tudo nos incêndios de 15 de Outubro

06.12.2017 10:34 por Alexandra Pedro 3

Paulo Pinto diz que nunca viu imagens como aquelas que surgiram no radar a 15 de Outubro. Meteorologista diz que há dúvidas pendentes.
 
 
Para o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) ainda há dúvidas respeitantes aos incêndios de 15 de Outubro, depois de ter feito uma primeira análise ao que aconteceu. Paulo Pinto, especialista da Divisão de Previsão Meteorológica, Vigilância e Serviços Espaciais do IPMA, diz à TSF que apesar da sua experiência ainda não conseguiu entender o que aconteceu nos últimos incêndios. 

"Já olhei algumas horas para estes dados e não há nenhuma evidência observacional que me sugira algo do tipo de Pedrógão [Grande]. Pelo contrário, não vejo aqui nada desse tipo de fenómenos, como downburst. Nem sequer consigo perceber ainda muito bem porque se assistiu a esta intensificação", afirmou Paulo Pinto, referindo-se às dezenas de incêndios que surgiram ao início da tarde.

O especialista do IPMA acrescenta ainda que perto da meia-noite de domingo há uma pluma com "quatro, cinco metros de altura" e que "por razões desconhecidas" há uma intensificação da mesma e "na sequência dessa intensificação é que se gerou o pirocumulonimbo" (tempestade provocada pelo próprio incêndio).  

Paulo Pinto esclarece também que o calor, a seca e a secura da massa de ar, bem como o vento do furacão Ophelia, podem ajudar a explicar o que aconteceu naquele dia, mas que não explicam tudo. "Foi uma situação muito invulgar", disse, acrescentando: "as condições meteorológicas podem servir para explicar parte daquilo que ocorre, mas não são tudo". 

Recorde-se que os incêndios de 15 de Outubro, que atingiram 27 concelhos da região Centro, vitimaram mortalmente 45 pessoas e provocaram cerca de 70 feridos.

EDP e Ascendi podem ser desresponsabilizadas no caso de Pedrógão


07.12.2017 11:06 por Diogo Barreto 24
Parecer jurídico diz que a empresa que geria N-236 não tinha de garantir a limpeza como diz a lei devido a certas circunstâncias atenuantes.
 

Um parecer jurídico do incêndio que esteve na origem do desastre de Pedrógão Grande desresponsabiliza a Ascendi e a EDP. O documento afirma que nem a empresa que geria a estrada nem a EDP tinham de garantir a limpeza à volta da mesma já que o plano municipal estava caducado. Este foco de incêndio alastrou-se a vários concelhos vizinhos e acabou por vitimar mortalmente 47 pessoas na Estrada Nacional 236, entre elas crianças.

No parecer jurídico, a que a TSF teve acesso, o plano municipal de defesa da floresta contra incêndios no concelho de Pedrógão Grande caducou em 2011. Isto implica que há seis anos que não estavam "identificados administrativamente de forma prévia, válida e eficaz os espaços florestais relevantes" que deviam ser limpos pelas várias entidades presentes no terreno.


Autarca de Pedrógão garante que plano municipal de defesa da floresta está em vigor A professora de Direito Administrativo da Universidade de Coimbra Fernanda Paula Oliveira, a quem a Ascendi pediu um parecer sobre as obrigações que tinha ou não de limpeza da floresta à volta da Estrada Nacional 236, explicou: "Estas entidades não tinham efectivamente os deveres previstos na lei". Este parecer iliba igualmente EDP que está sujeita às mesmas condições legais: sem plano aprovado, as obrigações de limpeza não se aplicam. 

Fernanda Oliveira explica ainda que se tratou de "um problema de legislação" e administrativo, tendo em conta que os planos municipais obrigam a "procedimentos muito burocráticos e articulação entre o município e o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF)".

Segundo explicou a jurista à TSF, a Ascendi poderá não ter problemas em tribunal já que, devido à falta de existência de um plano definido, poderia não proceder à limpeza a que estava obrigada.

O relatório elaborado pela equipa coordenada pelo professor Xavier Viegas culpabilizava a EDP Distribuição, já que terá sido um cabo de média tensão e a falta de limpeza na área que esteve na origem do incêndio. No entanto, esse mesmo documento admitia que seria difícil responsabilizar quem não limpou a floresta em Pedrógão Grande sublinhando-se, já na altura, como razão, a falta do Plano Municipal de Defesa da Floresta.

A jurista conclui ainda: "Foi preciso acontecer uma desgraça destas para a lei mudar".

Autarca de Pedrógão garante que plano municipal de defesa da floresta está em vigor


07.12.2017 21:06 por Lusa 0
Valdemar Alves nega que o Plano tenha caducado há seis anos.

O presidente da Câmara de Pedrógão Grande garantiu hoje à agência Lusa que o plano municipal de defesa da floresta contra incêndios está em vigor desde 2007.

"O nosso plano está em vigor desde 2007. Nós resolvemos fazer um [novo] em 2014. Está ainda para ser aprovado pelo Instituto da Conservação da natureza e das Florestas (ICNF) e o outro [de 2007] foi reconhecido pela própria comissão independente", afirmou o autarca.


Associação de Vítimas de Pedrógão exige que todo o país saiba o que aconteceu Valdemar Alves reagiu assim às notícias que dão como caducado o plano municipal de defesa da floresta contra incêndios deste concelho do distrito de Leiria.

"O plano só deixa de estar em vigor quando o outro for aprovado pelo ICNF. A lei é mesmo assim. Estou surpreendido. Que arranjem outros argumentos para não assumirem as responsabilidades de cada um. Eu assumo as minhas. É ridículo", frisou.

O autarca adiantou ainda que há tribunais e magistrados competentes para saber separar "o trigo do joio".

"É uma mentira, redondamente uma mentira aquilo que disseram", concluiu.

A rádio TSF avançou hoje que o plano municipal de Pedrógão Grande de Defesa da Floresta Contra Incêndios caducou há seis anos, segundo um parecer encomendado pela Ascendi, responsável pela operação e manutenção de infraestruturas rodoviárias, que iliba a empresa de responsabilidades na limpeza da estrada onde morreram mais pessoas. 

Xavier Viegas volta a defender que demora do socorro matou em Pedrógão


07.12.2017 18:08

Investigador da Universidade de Coimbra defendeu em seminário que país não está preparado.

Em Pedrógão Grande, houve pessoas que morreram devido ao atraso dos meios de socorro. Foi o que voltou a defender o investigador Xavier Viegas, coordenador do relatório sobre os incêndios de Junho encomendado pelo Governo. 

No seminário "As lições de Pedrógão Grande", em Coimbra, Viegas afirmou que existiu "demora no socorro e no tratamento médico". "Creio que algumas vítimas que acabaram por falecer talvez sobrevivessem" caso os meios tivessem chegado mais cedo, sustentou. 

O professor catedrático não compreende "que existam autarquias que não respeitam a lei e não fazem o seu trabalho". "Um plano pode ter o valor que tem, mas pelo menos representa que alguém se dedicou a pensar no problema e a colocar algumas linhas para ver como esse problema se pode minimizar ou resolver", explica. 

Quanto às condições climáticas verificadas durante os incêndios de 15 de Junho e 17 de Outubro, Domingos Xavier Viegas acredita que se podem repetir com frequência. "Neste momento, o nosso país ainda não está preparado. Se hoje ou amanhã tivermos as mesmas circunstâncias que tivemos em Junho e Outubro, que foram circunstâncias excepcionais, tenho receio de que continuemos a ter muitas casas não devidamente salvaguardadas, muitas aldeias não devidamente preparadas e muitas comunidades que não estão ainda defendidas para eventos destes", clarificou. 

Hoje, o Ministério da Administração Interna (MAI) enviou para o Parlamento o relatório de Xavier Viegas, acompanhado pela deliberação da Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD), sobre as regras de divulgação do capítulo seis. 

Esta parte tem os pormenores das mortes das 64 vítimas de Pedrógão Grande. O documento que está no Parlamento é a segunda versão, em que Viegas substituiu o nome das vítimas por números e letras.

Quintas de experimentação vão ligar tecnologia à agricultura


Portugal vai ter a partir do próximo ano um centro de investigação no uso de satélites, robôs e tecnologia digital na agricultura, disse hoje o ministro da Ciência, adiantando que serão instaladas "quintas de experimentação" em universidades e politécnicos.

Em declarações a jornalistas à margem da assinatura de um acordo com a sociedade de investigação internacional Fraunhofer, Manuel Heitor destacou que nos primeiros três meses de 2018 serão definidos os "sítios, pessoas e plano de negócios" para um prazo de cinco anos.

"Há muito trabalho de laboratório feito e há que aplicá-lo nos campos", afirmou, acrescentando que as quintas de experimentação deverão ser instaladas na rede de quintas agrárias que há nos politécnicos e as que a Universidade de Évora mantêm no Alentejo e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro na região do Douro.

A agricultura de precisão que se pretende ensaiar na prática pode ser uma resposta às alterações climáticas e às condições de seca, permitindo "um controlo mais rigoroso de regas" e das culturas mais adequadas às condições de água.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Sensibilização a agricultores. “Tractor não é para andar em corridas nem fazer rali”



06 dez, 2017 - 12:18 • Olímpia Mairos

Portugal é o terceiro país da União Europeia com mais vítimas em acidentes com tractores agrícolas: 123 mortos na soma de 2015 e 2016. A CONFAGRI, Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas, está a fazer campanhas de sensibilização.
A maioria dos acidentes com tractores ocorre em propriedades agrícolas, sendo em tudo semelhantes: o veículo despista-se, capota e o condutor é esmagando. Foto: DR
A maioria dos acidentes com tractores ocorre em propriedades agrícolas, sendo em tudo semelhantes: o veículo despista-se, capota e o condutor é esmagando. Foto: DR
Portugal está em terceiro lugar na estatística da sinistralidade com tractores na União Europeia, logo a seguir à Grécia e à Polónia. Os acidentes com tractores são, segundo dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), a principal causa de morte no trabalho agrícola a nível nacional. Em 2016, foram registadas 68 vítimas mortais, depois de 55 no ano antecedente, 2015.

Para alertar os agricultores para este "cenário preocupante", e num "esforço para inverter o elevado número de vítimas mortais e de feridos graves resultantes de acidentes com máquinas agrícolas e florestais", a Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas (CONFAGRI) está a realizar sessões de esclarecimento junto dos agricultores.

É que, segundo Isabel Santana, da CONFAGRI, "todas as semanas ou morre uma pessoa ou fica ferida e com incapacidade para exercer a actividade". Daí, a necessidade de "sensibilizar, alertar e aconselhar os agricultores para os riscos e perigos com o uso dos tractores".

A maioria dos acidentes com tractores ocorre em propriedades agrícolas, sendo em tudo semelhantes: o veículo despista-se, capota e apanha o condutor, esmagando-o.

Aurora Sousa, da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) de Vila Real, considera que "muitas vezes, as pessoas que manobram ou operam estas máquinas não estão preparadas para segurarem uma máquina com a quantidade de cavalos que tem".

"As máquinas são cada vez mais potentes, os trabalhos mais exigentes e as pessoas não se formam suficientemente bem para poderem, de alguma forma, contrariarem este perigo intrínseco da máquina", sublinha Aurora Sousa, frisando que "a gestão da segurança passa, em primeiro lugar, pelo conhecimento do ambiente em que se vai operar, dos terrenos".

"Lavrar num terreno plano é diferente de lavrar num terreno com socalcos; lavrar num terreno onde a terra está fácil é muito diferente de lavrar num terreno onde existem troncos, árvores e pedras", exemplifica Aurora Sousa, da ACT de Vila Real.

"Comprar altas máquinas e não conhecer o equipamento, de nada vale"

Segundo Aurora Sousa, da ACT de Vila Real, é fundamental que os agricultores conheçam bem as máquinas que vão operar, porque "comprar altas máquinas e não conhecer o equipamento que lhe vem associado e para que serve, de nada vale, em caso de acidente".

Manuel da Silva, habitante em Palheiros, Murça, tem 79 anos e opera um tractor há "uma dúzia de anos", sempre com a consciência que "é preciso ser cuidadoso".

O "tractor não é para andar em corridas nem fazer rali", diz o agricultor que nunca teve acidentes.

Também Manuel Costa, de 73 anos e residente na aldeia de Jou, refere que "é preciso fazer atenção, fazer as revisões com o tractor e andar com cuidadinho nos terrenos".

Isabel Santana da CONFAGRI alerta também para a "importância e para a obrigatoriedade da formação para a condução de tractores", referindo que o risco de morte dos condutores de tractores agrícolas "é oito vezes superior ao dos que conduzem automóveis ligeiros ou pesados".

De acordo com esta responsável, entre 2004 e 2013, morreram em acidentes de tractores 305 pessoas.

As autoridades acreditam que, se fosse utilizado o arco protector ou se a máquina tivesse cabina, muitas vidas seriam poupadas. Como o uso do arco de Santo António não é obrigatório, apenas recomendado, os condutores dispensam-no, referindo que os prejudica nas tarefas agrícolas.

Avião "ataca" com sementes zonas destruídas pelos incêndios

06 DE DEZEMBRO DE 2017 - 06:45

O projeto "Semear Portugal por Via Aérea" arranca esta segunda-feira.

Um avião Dromader M-18 que é utilizado no combate aos incêndios florestais, mas também na agricultura vai estar envolvido nos próximos dois dias numa "operação" que pretende evitar a erosão dos solos dos espaços que foram dizimados pelas chamas.

O aparelho vai descarregar numa área de cerca de 50 hectares nos concelhos de Gouveia, Mangualde, Nelas, Oliveira do Hospital, Seia e Tondela centenas de sementes de gramíneas e leguminosas que foram oferecidas por duas empresas.

O repórter José Ricardo Ferreira ouviu Sílvia Alves Ferreira, do movimento cívico "Replantar Portugal".

É sobretudo nas encostas, os sítios de menor acesso e onde existe maior risco de derrocadas, que serão largadas estas autênticas "bombas de sementes". Os locais foram escolhidos pelos municípios envolvidos.

A sementeira não é uma técnica nova em Portugal. Já foi utilizada em Braga e S. Pedro do Sul, com sucesso. A iniciativa vai continuar no próximo ano e poderá ser alargada a outros territórios.

O projeto "Semear Portugal por Via Aérea" é uma ação conjunta do movimento cívico "Replantar Portugal", da Take C'Air Crew Volunteers, da Quercus e da empresa de serviços aéreos Avitrata.

Alternativas à proteína animal? Estudo aponta carne de laboratório ou insectos


"Pela saúde humana e pelo ambiente, os padrões de consumo alimentar terão que mudar", aponta-se no documento.

LUSA 5 de Dezembro de 2017


A criação de animais para consumo humano significa menos saúde e pior ambiente, alertam investigadores num estudo internacional divulgado nesta terça-feira, em que se sugere peixe, carne criada em laboratório e insectos como fontes alternativas de proteína animal.

"Pela saúde humana e pelo ambiente, os padrões de consumo alimentar terão que mudar", aponta-se no documento elaborado por um conselho que reúne as academias de ciências dos países da União Europeia, Noruega e Suíça.

Quando os grilos são transformados em farinha, isso é... pão finlandês


A redução do consumo de proteína animal seria um dos passos a dar, argumentam os investigadores, que defendem que se deve investigar até que ponto os consumidores estariam disponíveis para aceitar alternativas inovadoras.

Oportunidades não faltam nos oceanos mas é preciso dominar mais as técnicas de criação de recursos para consumo humano, enquanto a cultura de carne in vitro "pode ter um impacto ambiental mais baixo do que a criação de gado e isto também tem que ser investigado".

"As alternativas às formas tradicionais de proteína animal que a Europa poderia admitir incluem alimentos dos oceanos, carne criada em laboratório e insectos", refere-se.

Os investigadores apelam aos decisores para que se acabe com "os perversos incentivos no preço das dietas calóricas e se introduzam incentivos à alimentação nutritiva a preço razoável".

Os países da União Europeia devem saber mais sobre o desperdício nos ciclos alimentares para o poder reduzir e cumprir os objectivos da economia circular. Pela via da genética, os investigadores salientam que "a Europa não deve abrandar nas oportunidades oferecidas pela engenharia genética e agricultura de precisão". Aos decisores políticos, recomenda-se que tenham em conta as descobertas nesses campos para ganhar em "saúde animal e produtividade e para a agricultura".

"As alterações climáticas vão ter impactos negativos na alimentação, exigindo-se a prática de agricultura adequada ao clima e adopção de inovações na criação de plantas para enfrentar as secas", salienta-se no documento. Os investigadores destacam ainda que todos os países têm problemas de nutrição para resolver, seja a subnutrição e falta de micronutrientes ou o excesso de peso e obesidade.

Agricultura e Produção Sustentável? "Considere os Factos!"



O contacto direto com a população é uma das vertentes principais da campanha


O setor agrícola foi daqueles que registaram um desenvolvimento mais dinâmico nos últimos anos. Mas, apesar de todo este sucesso, que é crucial para a sustentabilidade do nosso país, é necessário não esquecer alguns factos que são de grande importância para este setor.

A atividade agrícola é hoje muito mais atrativa e a prova disso é que muitos jovens apostam cada vez mais num projeto de vida no mundo rural. O agricultor de hoje tem mais formação, as explorações agrícolas ganharam dimensão, organização e capacidade empresarial. Pela importância deste setor, existem diversas entidades preocupadas com o futuro do mesmo e dispostas a ajudar na sua evolução, que vai continuar a trazer muitos dividendos para Portugal.

A Anipla, Associação Nacional da Indústria para a Proteção das Plantas, é uma delas com o apoio da Associação Europeia de Proteção das Plantas (ECPA) e a participação de diversas associações nacionais de produtores, esta associação está a desenvolver uma campanha que pretende informar a população portuguesa para os temas da agricultura, evidenciando os desafios inerentes ao setor e apresentando factos relacionados com a ciência e tecnologia para a proteção das culturas. "Considere os Factos" para a promoção do conhecimento nacional em torno dos temas da sustentabilidade e segurança alimentar agrícola é o mote da mesma.

António Lopes Dias, diretor executivo da ANIPLA, explicou que "nos últimos anos temos assistido ao crescimento do número de movimentos e apelos públicos, baseados em factos pouco claros e com base em perceções vagas, que questionam os métodos e práticas da agricultura, e subestimam a realidade do trabalho e ciência em prole da proteção das culturas agrícolas".


As mensagens da campanha apresentam factos que visam informar e esclarecer um crescente número de consumidores que pretende, cada vez mais, ser e estar informado sobre a realidade por detrás da produção de produtos alimentares. Informação essencial no momento em que a FAO, a organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, apela à importância do controlo das pragas, doenças e infestantes das culturas, e alerta para as crescentes necessidades de alimentação de uma população mundial que continuará a aumentar até 2050.

Para esta Campanha, que a nível europeu está a ser desenvolvida pela Associação Europeia de proteção de plantas (ECPA) o lema: "With or Without" - o produtor nacional José Palha foi selecionado para integrar uma série de documentários breves sobre a produção agrícola europeia e os desafios na proteção das plantas.


Lançado este ano, o "FitoSíntese" é um espaço de informação aberto ao diálogo, pensado para ser uma "fonte" de conhecimento para todos aqueles que pensam (n)a agricultura.

O FitoSíntese nasce com o objetivo de incentivar a partilha e reflexão que faz falta à agricultura, explorando os mais diversos temas relacionados com a agricultura moderna e sustentável.


Já a Smart Farm é uma quinta de demonstração que nasceu de uma parceria entre a Anipla e a Companhia das Lezírias e apresenta uma proposta de uma exploração agrícola segura e eficiente. Esta quinta-modelo tem como pressuposto a promoção de uma agricultura sustentável, assente em explorações agrícolas que sejam, em todos os momentos, seguras e eficientes. Seguras para o Homem e para o ambiente e eficientes do ponto de vista económico. O agricultor recebe um conjunto de boas práticas que deve aplicar na sua exploração para evitar fontes de poluição difusa ou pontual para a água.


No caso do Cultivar a Segurança, este tem como objetivo promover boas práticas que protegem o agricultor na sua atividade agrícola, a sua vizinhança e terceiros, promovendo assim a saúde de quem permanece e de quem interage com produtos fitofarmacêuticos a exploração agrícola.

Pão alentejano "ambiciona" ser certificado com Indicação Geográfica Protegida

O pão alentejano, produto identitário e património do Alentejo, pode vir a ser certificado com Indicação Geográfica Protegida, no próximo ano, fruto de um projecto que junta produtores, uma associação e a entidade regional de turismo.

Pão alentejano "ambiciona" ser certificado com Indicação Geográfica Protegida

05 de dezembro de 2017 às 09:49

O projecto "Qualificação do Pão Alentejano", que pretende alcançar a certificação, é promovido pela Terras Dentro - Associação para o Desenvolvimento Integrado, sediada em Alcáçovas, no concelho de Viana do Alentejo (Évora), e pela Entidade Regional de Turismo do Alentejo.

"O pão alentejano é património desta região. É um produto com uma forte história e tradição, tem um valor incalculável e considerámos que tinha de ser protegido e continuar a ser fiel à sua génese", explicou hoje à agência Lusa Francisca Valério, da Terras Dentro.

O trabalho, explicou, resulta de uma candidatura ao programa Alentejo 2020, aprovada em 2015, com financiamento comunitário, e já permitiu "criar instrumentos que podem servir de base" a "um processo de registo de protecção do produto", a apresentar pelos produtores.

"Estamos na fase de constituição do agrupamento de produtores" e "há muitos padeiros e padeiras interessados em integrar o agrupamento e em avançar com o registo", destacou.

Segundo Francisca Valério, a intenção passa por pedir a criação da Indicação Geográfica Protegida (IGP): "Se todos os factores forem convergentes, acreditamos que, muito brevemente, talvez para o ano, esta possa vir a ser uma realidade".

"Será uma mais-valia para os produtores e para o próprio consumidor", porque a IGP fornece "uma garantia de qualidade", e pode contribuir para "agregar os produtores em prol de uma causa, a do pão alentejano e da preservação da sua qualidade e da sua génese", frisou.

De acordo com a Terras Dentro, o objectivo é "valorizar e proteger um produto com forte impacto económico na região", contribuindo "para o aumento da competitividade das micro e pequenas empresas do setor e de outras atividades a montante e a jusante da fileira do pão".

O diagnóstico da fileira do pão (desde a análise do trigo à caracterização das moagens do Alentejo e à qualidade das farinhas) já foi efectuado e decorreram acções de informação e sensibilização junto das 350 padarias em atividade em todo o Alentejo (Portalegre, Évora, Beja e litoral alentejano), das quais "318 disponibilizaram-se para colaborar com o projecto", assinalou Francisca Valério.

A elaboração de um caderno de especificações descritivo do processo de confecção e a criação de um painel de provadores, em parceria com a Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Beja, foram outros dos passos dados.

Segundo Francisca Valério, ao longo deste trabalho, foi possível constatar que, mesmo que haja "um ou outro elemento diferenciador" de padaria para padaria, o fabrico do pão tradicional do Alentejo é marcado por "uma grande uniformidade", que é "o que se pretende preservar", frisou.

O pão típico da região, precisou, "tem durabilidade e é um pão dobrado e com cabeça, feito com farinha de trigo", com um miolo "compacto, de cor marfim acinzentado", e uma crosta "baça e estaladiça", devendo a base ter "pelo menos três milímetros de espessura".

"E tem um sabor acidulado indiscutível, que provém do uso de um fermento natural, denominado 'massa-mãe' ou 'massa velha' ou 'isco', que é uma porção de massa retirada da amassadura anterior e que fica a fermentar para as amassaduras seguintes", assinalou.

Tem, igualmente, uma confecção própria, assente em "dois processos de fermentação, um longo, para levedar e ganhar todas estas características, e um curto", o que, tudo combinado, origina "um pão diferente, com um sabor e texturas diferentes", sublinhou.

O projecto vai ser abordado num seminário, na quarta-feira, no auditório do Instituto Politécnico de Beja, para fazer o balanço das actividades desenvolvidas e traçar estratégias para o futuro, nomeadamente a da criação do agrupamento de produtores de pão alentejano.

Comissão técnica: SIRESP é “sistema atrasado” e com potencial “não aproveitado ao longo dos anos”



05.12.2017 às 19h21

 
Se a compra do SIRESP for inferior a €5 milhões, Tribunal de Contas não terá de a aprovar
Potencial do sistema "não foi suficientemente aproveitado" ao longo dos anos "devido às restrições orçamentais", sublinhou João Guerreiro, presidente da Comissão Técnica Independente responsável por analisar o incêndio em Pedrógão Grande


O presidente da Comissão Técnica Independente que analisou o incêndio de junho em Pedrógão Grande considerou esta terça-feira a rede de comunicações SIRESP um "sistema atrasado", mas com um potencial que "não foi suficientemente aproveitado ao longo dos anos".

"O SIRESP é um sistema atrasado. É um sistema 2G, não é um sistema nem 3, nem 4, nem 5 G, como atualmente nós temos. Não dá imagens, não dá vídeos, não tem um potencial que os nossos telemóveis hoje em dia têm. Há aqui dificuldades futuras no que respeita à utilização do SIRESP", disse João Guerreiro.

Quatro dos 12 membros da Comissão Técnica Independente (CTI) que elaborou o relatório sobre os incêndios que ocorreram em Pedrógão Grande, Castanheira de Pera, Ansião, Alvaiázere, Figueiró dos Vinhos, Arganil, Góis, Penela, Pampilhosa da Serra, Oleiros e Sertã entre 17 e 24 de junho estão hoje a ser ouvidos numa audição conjunta das comissões parlamentares de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias e de Agricultura e Mar, a pedido do PSD.

Respondendo a uma questão do deputado social-democrata Duarte Marques sobre o funcionamento do Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP), o presidente da CTI adiantou que esta rede "tem um potencial que não foi suficientemente aproveitado ao longo dos anos" devido às restrições orçamentais.

"A maior parte dos países europeus ainda utiliza o sistema SIRESP, ainda que estejam a tentar encontrar e a estudar soluções alternativas para o substituir, mas o SIRESP tem potencialidades que não foram utilizadas", sublinhou.

Para João Guerreiro, "a grande origem dessa ausência de exploração do potencial do SIRESP foi sobretudo questões operacionais".

Em relação às falhas do sistema de comunicações no incêndio de Pedrógão Grande, João Guerreiro explicou que no dia 17 de junho o SIRESP funcionou, tendo os problemas surgido nos dois dias seguintes.

"O sistema SIRESP teve as suas debilidades no domingo e na segunda-feira quando estavam no teatro operações um número enorme de operacionais que utilizam todos eles o sistema, aí houve um congestionamento da rede SIRESP", disse.

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Eucalipto, a árvore que reina sobre a floresta nacional


O eucalipto é a espécie que mais área ocupa na floresta portuguesa. E os números confirmam que tem vindo a aumentar continuamente, pelo seu rendimento económico a curto prazo. Se para uns continua a ser vista como um perigo, que está a degradar a floresta portuguesa, há investigadores que defendem o seu aproveitamento no fabrico de produtos de madeira ou com utilidade farmacêutica.

Sandra Salvado (Jornalista); Nuno Patrício, Pedro A. Pina (Imagem) 30 Out, 2015, 16:20 / atualizado em 11 Nov, 2015, 15:47 | Incêndios 2015

Riscos de elevado consumo de água, erosão dos solos, aposta numa monocultura florestal com pouco potencial em termos de biodiversidade, incêndios mais difíceis de controlar, muitos têm sido os fatores negativos apontados ao eucalipto, nos últimos anos.

O certo é que segundo os últimos resultados preliminares do Inventário Florestal Nacional, os eucaliptos tiveram um crescimento de 13 por cento entre 1995 e 2010 e são hoje a espécie dominante na floresta portuguesa, com 812 mil hectares plantados.

A floresta portuguesa ocupa 3,2 milhões de hectares, o que corresponde a 35,4 por cento do território nacional, registando entre 2005 e 2010 um decréscimo de 57 mil hectares. Matos e pastagens ocupam 32 por cento e as áreas agrícolas 24 por cento.

A propriedade florestal é maioritariamente privada, com 2,8 milhões de hectares, ou seja, 84,2 por cento da área total detida por pequenos proprietários de cariz familiar, dos quais 6,5 por cento são pertencentes a empresas industriais. 

As áreas públicas correspondem a 15,8 por cento do total, dos quais apenas dois por cento (a menor percentagem da Europa) são do domínio privado do Estado.

De acordo com Helena Pereira, coordenadora do Centro de Estudos Florestais (CEF), do Instituto Superior de Agronomia (ISA), apesar de ter havido erros no passado, o eucalipto foi um caso de sucesso e pode ser ainda explorado noutras vertentes.



Portugal utiliza essencialmente o eucalipto para produção de pasta de papel, mas esta investigadora defendeu a aposta em outros aproveitamentos, como o fabrico de produtos de madeira ou outros com utilidade farmacêutica. 

A coordenadora do CEF realçou a possibilidade de extrair compostos químicos com potencial bioatividade, por exemplo, antioxidantes ou produtos com utilidades farmacêuticas, e extrair esses compostos não só da madeira mas também da casca.

Uma utilização apontada por esta especialista é a energética, através da produção de biomassa. Um conceito de aproveitamento integral do recurso, neste caso do eucalipto, que se divide em várias espécies, evitando desperdícios.

Este e outros temas estiveram em debate no ISA, num seminário sobre "Eucalipto - Produção e Ambiente", uma iniciativa integrada no ciclo "Da Investigação à Aplicação", com o objetivo de apresentar o trabalho do CEF, conhecer melhor as espécies florestais e encontrar formas de aproveitar as suas características.
Quercus apreensiva

Já para a Quercus o panorama não é tão animador como possa parecer. Domingos Patacho, coordenador do Grupo de Trabalho das Florestas da associação ambientalista, considera preocupante que o eucalipto se tenha tornado na espécie que mais espaço ocupa na floresta nacional.

A Quercus está apreensiva com "a falta de resposta do ICNF, que viabiliza autorizações tácitas de projetos de arborização com eucalipto convertendo pinhais e outros povoamentos com espécies da nossa floresta autóctone, sem respeitar condicionantes como a Reserva Ecológica Nacional".

Ao fim de dois anos da entrada em vigor do novo regime de arborização, a associação ambientalista alerta para a existência de problemas na implementação, com degradação da floresta nacional.



"O sistema de informação para gestão dos projetos de arborização do ICNF ainda não está operacional, dificultando a pretensão dos proprietários e favorecendo o deferimento tácito, o qual contraria o correto ordenamento florestal. A última nota informativa do ICNF revela que 94% da área das rearborizações autorizadas ou validadas foram plantadas com eucalipto", diz a Quercus. 

"Nas áreas inferiores a 50 hectares eram os municípios que tinham que autorizar as plantações de eucaliptos, mais de 50 hectares eram os serviços do ICNF. A nível local, a Câmara tinha algum poder. Neste momento, os municípios não têm nenhuma posição sobre o que é que se faz no seu concelho em termos de arborização. A paisagem pode mudar porque a administração, em Lisboa, fez uma lei à medida de alguns interesses", salientou Domingos Patacho ao site da RTP.

Como a plantação de eucaliptos "ocorre em monocultura, com vastas áreas sem terem terrenos agrícolas, sem terem aceiros, faixas de descontinuidade que permitam conter os incêndios, torna uma situação bastante preocupante, principalmente no verão, quando o risco de incêndio é elevado e, portanto, nessa situação, deveria haver um maior ordenamento que não existe", disse o responsável da Quercus.
ICNF está a rever planos

Já João Pinho, vice-presidente do ICNF disse ao site da RTP que a nova lei é "muito mais rigorosa em muitos aspetos do que era a lei anterior. Isso foi uma ideia feita, um mito que se criou porque essa lei teve muita discussão pública. O grande caminho, aquilo que deve ser discutido é o ordenamento florestal à escala regional e nós estamos neste momento a rever os planos regionais de ordenamento florestal".

No entanto, este responsável disse ser "provável que muitas das orientações que neste momento existem nesses planos regionais, que são vinculativas para os proprietários particulares, possam ter uma revisão tendo em consideração aquilo que tem sido o histórico recente de evolução da floresta e dos próprios pedidos de autorização e licenciamento de arborização e os planos de gestão florestal. Portanto, uma floresta com um acompanhamento técnico mais cuidado, mais próximo e ela própria também prioritária depois nos apoios públicos".


 

"Este novo regime alargou o período de autorização por diferimento tácito, isto é, o anterior regime previa 30 dias para os serviços públicos analisarem e decidirem e se nesses 30 dias não houvesse aprovação, uma decisão definitiva do projeto, o projeto era aprovado tacitamente", disse o responsável do ICNF.

E acrescentou: "Neste momento, esse período alargou-se de 30 para 45 dias. Portanto, há mais margem para a administração pública ter mais tempo para analisar os projetos. Agora, é óbvio que instalou-se na opinião pública a ideia de que este sistema seria mais permissivo do que era o anterior, quando na prática é exatamente ao contrário".
Mais de 500 processos de contraordenação

João Pinho referiu à RTP que, a partir da entrada em vigor da nova lei, há cerca de dois anos, mais de 500 processos de contraordenação foram decididos.

"Nunca tivemos tantas contraordenações, tantos autos de notícia por projetos mal executados ou executados sem autorização como tínhamos antigamente. Portanto, há uma explosão de situações ilegais que, neste momento, nós conseguimos atuar perante elas porque sabemos que temos um sistema de informação que nos permite saber se aquilo já foi ou não autorizado. Há um salto qualitativo que é da noite para o dia", salientou o responsável do ICNF.

Distribuição dos processos autorizados e validados, segundo ocupação florestal em área - Período 2013 a 2014

Fonte: ICNF

De acordo com os principais indicadores do ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas), no período de 2013 a 2014, as áreas totais autorizadas para (re)arborização atingem 24.483 hectares, das quais 44 por cento respeitam a eucalipto, 31 por cento a sobreiro e 12 por cento a pinheiro-manso. 


Ambientalistas exigem embargo

Atualmente e segundo a Quercus, "um dos casos mais graves refere-se ao corte de pinhal bravo prematuro na Quinta do Carregal, em Ourém. Esta Quinta foi adquirida pelo Município de Ourém há 14 anos, o qual posteriormente transferiu a propriedade para a empresa MaisOurém. Contudo, outros que também se arrogam proprietários, sem que a titularidade fosse confirmada, iniciaram neste local a mobilização do terreno com escavadora giratória para plantação de 10 hectares de eucalipto, convertendo o pinhal autóctone associado às más práticas florestais", disse a Associação ambientalista.



"Dado que parte do terreno está em Reserva Agrícola Nacional (RAN) e Reserva Ecológica Nacional (REN) e que as condições do projecto ao ICNF não estão a ser cumpridas (sem parecer obrigatório da CCDR-LVT e do Município), a Quercus solicitou a pronta intervenção dos serviços do ICNF para identificação dos responsáveis, com instauração de processo de contraordenação, sem contudo existir até agora resposta para impedir o avanço desta intervenção ilegal".

A Quercus diz ainda que "existe uma reincidência, dado que no início do ano o mesmo requerente já tinha efetuado o corte integral da vegetação natural dominada pelo pinhal-bravo e salgueiral, numa área adjacente de cerca de cinco hectares, tendo mobilizado o terreno em REN e RAN e plantado eucaliptos até à margem das linhas de água em domínio hídrico, sem autorização".

Dada a gravidade da situação, a Quercus exige embargo e reconstituição da situação.
ISA usa modelos

A floresta de produção - e em particular as plantações de eucalyptus globulus - ganharam relevância económica ao longo das últimas décadas. 

O aumento da capacidade instalada da indústria da pasta e do papel em Portugal e a crescente procura de madeira para fins energéticos, combinados com uma elevada incidência de incêndios florestais, vieram pôr em causa a sustentabilidade das florestas de eucalipto. 

Face à situação atual, o uso de modelos de base fisiológica para fazer projeções da evolução da floresta está a ganhar relevância sobre os modelos tradicionais. 

Tais modelos fazem uma descrição mecanicista das interações entre as plantas e o ambiente, avaliando os balanços de energia, água, carbono e nutrientes dentro de um determinado ecossistema. 

O modelo 3PG, apresentado pela investigadora Margarida Tomé, do CEF, é um modelo simples baseado na simulação dos principais processos fisiológicos e que não é muito exigente em termos da caracterização da estação e já foi parametrizado para a simulação do crescimento das plantações de eucalipto em Portugal. 

Há trabalhos em curso no ISA que estão a explorar os dados de cinco ensaios de adubação estabelecidos em diferentes regiões de Portugal.



Os atuais cenários das alterações climáticas indicam que a temperatura irá aumentar substancialmente e muitas das áreas, atualmente afetadas pela seca, região Mediterrânica incluída, vão tornar-se mais áridas. 

Espera-se também que a precipitação se torne mais variável, havendo eventos extremos mais frequentes e intensos, como sejam as secas severas ou as vagas de calor.
Causas de mortalidade por esclarecer

"Em relação ao eucalipto, vimos que o aumento da temperatura estimula o crescimento sim, mas também aumenta a vulnerabilidade das plantas", disse ao site da RTP Raquel Lobo do Vale, do CEF.

Dependendo da severidade das alterações climáticas, poderá ocorrer mortalidade. Contudo, as causas da mortalidade das árvores ainda não estão completamente esclarecidas.



"A nossa investigação tem-se focado principalmente nas respostas de árvores à disponibilidade de água. Os nossos resultados destacam a resiliência dos ecossistemas mediterrânicos à variabilidade interanual de precipitação, mas também uma elevada sensibilidade para quantidade e época de precipitação".

Os resultados preliminares indicam que os efeitos negativos da seca se sobrepõem aos efeitos positivos da temperatura.
Simuladores podem reduzir risco de incêndios

As alterações climáticas apontam para um potencial aumento do número de fogos e da área queimada. De acordo com Ana Sá, investigadora no CEF, pretende-se minimizar os impactos dos grandes incêndios no futuro, gerando informação que permita não só reduzir o risco de incêndio mas também apoiar decisões num contexto operacional de combate.



"Nesta matéria específica das simulações em que nós integramos dados de satélite ainda nada foi feito em Portugal. Em 2014 começou uma colaboração com a proteção civil e, neste sentido, nós tentámos criar um sistema em que a Proteção Civil nos dá num determinado momento, em tempo real, uma ocorrência, e em cerca de 15 minutos nós conseguimos providenciar a qualquer utilizador informação com mapa de probabilidade onde é que o fogo se vai encontrar nas próximas horas, para que eles possam utilizar esta informação em termos de recursos".



"A informação que está a ser gerada pelos simuladores não está a ser utilizada num contexto operacional, está apenas a ser testada. Em 2015 continuamos esta colaboração com a proteção civil. No entanto, queríamos testar em grandes incêndios", salienta a investigadora.
A caixa de Pandora

As plantações de eucalipto representam atualmente a maior área de floresta plantada do país, mas as suas produtividade e sustentabilidade têm vindo a ser ameaçadas por um crescente número de espécies invasoras.

Nos últimos anos, a taxa de entrada, em Portugal, de novas espécies de pragas de eucaliptos aproxima-se de uma nova espécie por ano. A nível global, a taxa atual de novas introduções é cinco vezes superior à dos anos 80. 

Ao examinar-se os padrões de distribuição temporal e espacial das invasões biológicas associadas aos eucaliptos, verifica-se que a maioria das espécies estabelecidas na Península Ibérica tem provavelmente uma origem secundária, sobretudo da América do Sul e norte de África.

"As medidas de quarentena atuais parecem ser ineficazes para evitar novas entradas, sendo necessário desenvolver estratégias de deteção de pragas invasoras. Por outro lado, são necessárias estratégias de gestão florestal que permitam minimizar os impactes das novas pragas", salientou Manuela Branco, investigadora do CEF.



"Neste momento, em Portugal, já temos 11 pragas invasoras: duas são insetos que vivem no tronco e se alimentam na madeira, um desfolhador que é talvez o problema principal dos nossos produtores de eucalipto, quatro sugadores que se alimentam das folhas, um ácaro que também é sugador e temos três insetos que causam galhas nas folhas. Destes onze, mais de metade chegaram nos últimos dez anos, quase ao ritmo de um por ano", disse esta investigadora.
Fonte de riqueza

Ainda assim, desde há muito que a floresta se transformou num negócio. É vista por muitos como uma indústria, que o diga Nuno Coimbra, produtor florestal na Chamusca, que vê a plantação de eucaliptos como uma fonte de riqueza.



Com uma área de 600 hectares e cerca de um milhão de euros de investimento, este produtor florestal disse ao site da RTP que em dez, 12 anos, consegue ter os primeiros resultados.

Além disso, "a parte agrícola tem muitas zonas que estão a ser abandonadas porque o agricultor não tem rendimento e esses terrenos podem ser para plantações de eucalipto, vendo aqui uma cultura de rentabilidade".

Situação das Albufeiras em Novembro de 2017

No último dia do mês de Novembro de 2017 e comparativamente ao último dia do mês anterior verificou-se um aumento do volume armazenado em 2 bacias hidrográficas e uma descida em 10. 

Das 60 albufeiras monitorizadas, 4 apresentam disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total e 31 têm disponibilidades inferiores a 40% do volume total.

Os armazenamentos de Novembro de 2017 por bacia hidrográfica apresentam-se inferiores às médias de armazenamento de Novembro (1990/91 a 2016/17), excepto para a bacia do ARADE.




Barragens acabaram novembro mais vazias que em outubro


05 DE DEZEMBRO DE 2017 - 00:01

Chuva que caiu foi pouca e não evitou que no último mês quase todas as barragens perdessem mais água do que aquela que ganharam.


"Buenas noites, Cataluña". Jesus admite mais facilidades em Camp Nou sem Messi

Apenas duas bacias hidrográficas acabaram o mês de novembro com mais água que no fim de outubro. Pelo contrário, dez fecharam o último mês com menos água.

A média não ponderada diz-nos que as barragens portuguesas acabaram novembro, o primeiro mês completo do outono, com apenas 46,4% da sua capacidade preenchida, menos -1,8 pontos percentuais que em outubro e bem menos que em novembro do ano passado quando esse número chegava aos 53,4%.

Das 12 bacias hidrográficas do país, apenas uma, o Arade (no Algarve), tem hoje mais água que a média das últimas três décadas (1990 a 2017). Todas as outras têm menos água que o normal para esta época do ano e algumas muito menos.


As barragens do Sado continuam a ser as que apresentam uma situação mais preocupante, 21,6% da sua capacidade ocupada, mas existiu, no entanto, uma ligeira subida em relação a outubro.

O jornalista Nuno Guedes resume os dados sobre a água nas barragens
Das 60 barragens acompanhadas pelo Ministério do Ambiente no país, apenas quatro acabaram novembro com disponibilidades hídricas superiores a 80% do seu volume total. Do outro lado, mais de metade, 31, têm menos de 40% do volume total ocupado, quando há um ano eram apenas 19. Depois do Sado, os números mais baixos encontram-se nas bacias do Lima (28%), Oeste (39,3%) e Ave (39%).

Nos grandes rios, o Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos revela que as barragens da bacia do Tejo têm 52,6% da sua capacidade ocupada, bem menos que os 68% de há um ano.

No Guadiana a água também desceu bastante, mas ainda continua a perto de dois terços (65,2%), tal como no Douro onde esse número chega aos 60,3%.

Se compararmos com o que acontecia em novembro de 2016 o Mondego, a região Oeste, o Lima e o Tejo são as zonas hidrográficas onde a disponibilidade de água mais caiu no último ano.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Bruxelas prepara Política Agrícola sem Reino Unido

Dinheiro Vivo 04.12.2017 / 08:40 A 

Comissão Europeia defende uma redistribuição de fundos a favor dos pequenos produtores europeus. 

A saída do Reino Unido da União Europeia também terá impacto na Política Agrícola Comum (PAC), e a Comissão Europeia já prepara a sua reforma sem as contribuições do Reino Unido. Das propostas, para entrarem em vigor a partir de 2020, o foco principal é a necessidade de introduzir mudanças na distribuição de fundos para que haja um maior equilíbrio na sua distribuição em benefício dos pequenos e médios agricultores, uma questão sempre em aberto, como retratam os números. Atualmente 20% dos sete milhões de agricultores recebem 80% dos fundos. 

A PAC, que completa 55 anos de existência, tem vindo a perder importância no orçamento europeu, se há uns anos representava 75% do orçamento, hoje não ultrapassa os 40%. No período de 2014 a 2020, os pagamentos diretos da PAC em toda a UE são de 298.000 milhões de euros, e as contribuições do Reino Unido, que vão desaparecer ascendiam a 3.400 milhões de euros por ano. Atualmente, cada país já tem a possibilidade de limitar o auxílio que cada exploração pode receber em 150.000 euros. E Bruxelas já levantou a possibilidade de fixar um limite máximo entre 60.000 e 100.000 euros, mas optou por não fixar tetos e apenas indica uma mudança na distribuição em benefício dos mais agricultores mais pequenos. 

Além disso, a Comissão não define a figura do agricultor ativo como destinatário prioritário da ajuda, e não aborda a questão do cofinanciamento da ajuda por cada país, algo que a própria Comissão se opôs a um projeto anterior. Na nova proposta, pode ainda ler-se que Bruxelas se compromete a condicionar o pagamento de fundos para respeitar o meio ambiente, criar um maior investimento para novas tecnologias, promover a mudança das infraestruturas como forma de melhorar os rendimentos agrícolas. E ainda, criar novos instrumentos financeiros, novos mecanismos de gestão de riscos e, sobretudo, mais apoio para incorporar jovens no setor – apenas 6% dos agricultores europeus têm menos de 35 anos.

Seca: Produção renovável de eletricidade cai em novembro e assegura 36% do consumo


As fontes renováveis abasteceram em novembro apenas 36% do consumo nacional de eletricidade, o valor mais baixo registado neste mês desde 2008, o que resulta das más condições para a produção hidroelétrica e eólica, segundo dados da REN.

De acordo com a gestora das redes energéticas, em novembro as condições permaneceram extremamente negativas para a produção hidroelétrica, devido à seca, sendo o pior novembro desde que há registos (1971), e também foram desfavoráveis à produção eólica, com o terceiro índice mais baixo para o mês em análise desde que a REN tem registos (2001).

Assim, a produção não renovável abasteceu 64% do consumo elétrico nacional, com o gás natural a representar 37% e o carvão 27%. O saldo de trocas com Espanha foi ligeiramente exportador, equivalendo a 1,5% do consumo nacional.

Em novembro, o consumo de energia elétrica registou uma descida de 0,2%, face ao período homólogo do ano anterior, devido fundamentalmente ao efeito das temperaturas acima dos valores médios para esta época do ano, mas, corrigido o efeito da temperatura e do número de dias úteis, o consumo registaria um acréscimo de 1,6%.

No final de novembro a variação acumulada anual é de um aumento de 0,4% ou de 1,3% com correção de temperatura e dias úteis.

Nos 11 meses do ano, a produção renovável abasteceu 40% do consumo, com as centrais hidroelétricas a representarem 11%, as eólicas 22%, a biomassa 5% e as fotovoltaicas 1,6%.

Já a produção não renovável abasteceu os restantes 60% do consumo, repartido pelo gás natural com 34% e pelo carvão com 26%.

Armazenamento de água desce em dez bacias hidrográficas



LEONARDO NEGRÃO / GLOBAL IMAGENS

No final de novembro 3% do território estava em seca moderada, 46% em seca severa e 51% em seca extrema.

A quantidade de água armazenada em novembro desceu em 10 bacias hidrográficas de Portugal continental e subiu em duas, em comparação com outubro, e só uma tem valor acima da média.

No último dia do mês de novembro de 2017 e comparativamente ao último dia do mês anterior verificou-se um aumento do volume armazenado em duas bacias hidrográficas e uma descida em dez, segundo o boletim de armazenamento de albufeiras do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH).

Com um armazenamento de 41,8%, a bacia do Arade é a única que apresenta um valor acima da média (36,7%).


Das 60 albufeiras monitorizadas pelo Sistema, quatro apresentam disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total e 31 têm disponibilidades inferiores a 40%.
De acordo com o SNIRH, a bacia que apresenta menor capacidade de armazenamento é a do Sado (21,6%), seguida da bacia do Lima (28%).

A bacia do Guadiana é a que regista a maior capacidade de armazenamento 65,2%, seguindo-se a do Douro (60,3%), do Cávado (60,2%), de Mira (53,6%), do Tejo (52,6%), do Barlavento (49,3%), do Mondego (46,8%), do Arade (41,8%), do Oeste (39,3%) e do Ave (39%).

Os armazenamentos de novembro de 2017 por bacia hidrográfica apresentam-se inferiores às médias de armazenamento de novembro (1990/91 a 2016/17), exceto para a bacia do Arade.

A cada bacia hidrográfica pode corresponder mais do que uma albufeira, segundo o SNIRH.

Em outubro, quase metade das 60 albufeiras do país tinham disponibilidades hídricas inferiores a 40% do volume total, tendo-se registado uma descida da água armazenada em dez bacias hidrográficas.

De acordo com o Boletim Climatológico do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), divulgado na semana passada, no final de novembro 3% do território estava em seca moderada, 46% em seca severa e 51% em seca extrema.

O índice meteorológico de seca (PDSI) indica que, em novembro, houve "um ligeiro desagravamento da intensidade da seca nas regiões do Noroeste, Centro e Sudoeste do território".

O mesmo boletim indica que o outono deste ano foi o mais seco dos últimos 46 anos, com o valor médio da temperatura máxima do ar mais alto dos últimos 86 anos.

Incêndios: Floresta do futuro exige mudança de mentalidades -- especialista


Uma nova gestão da floresta portuguesa exige "vontade política" e mudança de mentalidades para que possa ter sucesso, defendeu hoje em Oliveira do Hospital uma docente do Instituto Superior de Agronomia (ISA).

Em declarações aos jornalistas, Margarida Tomé disse que "este problema não é técnico", mas antes "político, social e económico", já que a solução deve passar, designadamente, por "chamar as pessoas fazerem uma gestão agrupada" da propriedade florestal, caracterizada pela predominância do minifúndio, no Centro e Norte de Portugal.

"A floresta portuguesa dificilmente é rentável. Por isso é que o eucalipto prolifera no país", acrescentou.

Cerca de 25 investigadores e professores do Centro de Estudos Florestais e do Centro de Ecologia Aplicada Baeta Neves do ISA, em Lisboa, incluindo cinco alunos do mestrado internacional em Floresta Mediterrânica, percorreram hoje as áreas daquele município, no distrito de Coimbra, devastadas pelos incêndios no dia 15 de outubro.

Para Margarida Tomé, que em finais do século XX liderou a equipa que produziu o inventário florestal de Oliveira do Hospital, no âmbito da elaboração do Plano Diretor Municipal (PDM), "tem de haver vontade política" para que a floresta possa ser mais resistente aos incêndios no futuro.

"Não podemos obrigar as pessoas a fazerem o que não querem", sublinhou, preconizando que primeiro importa "mudar a sua mentalidade".

No final da visita às zonas atingidas pelo fogo, em que participaram responsáveis do Gabinete Técnico Florestal da autarquia, a docente do Instituto Superior de Agronomia afirmou aos jornalistas que "é desolador ver um concelho com a área florestal completamente ardida".

Margarida Tomé alertou para a necessidade de evitar a monocultura e de, em alternativa, promover "uma floresta em mosaico" com alternância de diferentes árvores e arbustos.

A delegação do ISA pretendeu verificar no terreno "o que poderá ser feito em termos de gestão florestal no futuro", admitindo ainda firmar parcerias com o município de Oliveira do Hospital, a que preside José Carlos Alexandrino, "para projetos de investigação e desenvolvimento em diferentes áreas científicas, com o objetivo de transferência de conhecimento para a prática".

https://www.dn.pt/lusa/interior/incendios-floresta-do-futuro-exige-mudanca-de-mentalidades----especialista-8962711.html

Incêndios: apoio de Bruxelas só será decidido no início de 2018


04.12.2017 às 16h09

Capoulas Santos, ministro da Agricultura, e Corina Cretu, comissária europeia para a política regional

MARCOS BORGA

Comissão Europeia aguarda que o Governo envie a atualização dos prejuízos causados pelos incêndios, incluindo os de outubro, para nova candidatura ao Fundo de Solidariedade da UE. Prejuízos de todos os incêndios deste ano poderão chegar a mil milhões de euros


A comissária europeia para a Política Regional, Corina Cretu, passou esta segunda-feira de manhã na região Centro a visitar as áreas ardidas, garantindo que a sua presença "serve para dizer aos portugueses que não estão sozinhos". A comissária lembrou que Bruxelas aguarda do Governo português nova documentação sobre os incêndios de outubro para poder avançar com a atualização da candidatura ao Fundo de Solidariedade da União Europeia.

"Temos estado sempre em contacto com as autoridades portuguesas", disse Cretu aos jornalistas, em Figueiró dos Vinhos, já depois de ter passado por Pedrógão Grande e Castanheira de Pera, acompanhada pelo ministro da Agricultura, Capoulas Santos, o secretário de Estado das Florestas, Miguel Freitas, e o secretário de Estado do Desenvolvimento e Coesão, Nelson de Souza.

Neste momento, o que está em causa é a definição do montante final a que Portugal poderá aceder no âmbito do Fundo de Solidariedade da UE, tendo já em conta os incêndios de outubro. O secretário de estado do Desenvolvimento, Nelson de Souza, explicou que numa primeira fase o Governo candidatou-se a este fundo apresentando os prejuízos dos incêndios de junho, mas que não chegavam ao mínimo de 500 mil euros, ou seja, 1,5% do Produto Interno Bruto da região Centro, critério necessário para que Bruxelas aprovasse a candidatura.

O valor acabaria por ser atingido quando juntaram a essa candidatura os prejuízos dos incêndios de agosto e isso permitiu que a Comissão Europeia concedesse um adiantamento de 1,5 milhões de euros a Portugal. Neste momento, o Executivo está a avaliar o valor final dos prejuízos, incluindo os dos incêndios de outubro e, portanto, alargando a candidatura a nível nacional e não regional.

Neste caso, para que Bruxelas considere esse pedido, terão de ser apresentados, no mínimo, mil milhões de euros em prejuízos, montante que o secretário de Estado do Desenvolvimento considera ser possível.

"Submeteremos essa atualização da candidatura à Comissão Europeia antes do Natal", avançou Nelson de Souza, considerando estarem dentro de um "prazo normal" tendo em conta a avaliação necessária.

Contudo, depois do envio da documentação para Bruxelas, a candidatura terá de passar pelo Parlamento Europeu, para que possa ser tomada uma decisão e isso não deverá acontecer antes do início do próximo ano. A comissária europeia quer que o processo seja decidido "o quanto antes", estando para já dependentes da entrega da documentação pelo Governo português.

A Comissão Europeia já tinha feito uma reprogramação no valor de 50 milhões de euros dos fundos do Centro 2020, depois dos incêndios de junho, que têm vindo a ser usados na reconstrução de habitações e empresas. Portugal poderá ainda usar 433 milhões de euros em fundos no âmbito das alterações climáticas disponíveis para serem usados na prevenção florestal.

Faltam políticas adequadas em África para investir na agricultura - Comissária Josefa Sacko


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A comissária da União Africana para a Economia Rural e Agricultura considerou hoje que faltam políticas adequadas nalguns países africanos para atrair o investimento privado estrangeiro necessário para catapultar a produção agrícola no continente africano.

"Falta ambiente propício ao investimento, não há políticas adequadas em certos países para poder assegurar ou atrair investimento público estrangeiro para a agricultura", disse a angolana Josefa Sacko em declarações à margem da cimeira de Abidjan, que decorreu a semana passada em Abidjan.

Para a comissária africana, "o setor é infelizmente muito marginalizado em termos das finanças, e muitos empresários não se interessam por investimentos" nesta área, mas "com a parceria com a União Europeia temos de evoluir mais na área do investimento".

A agricultura sustentável e resiliente, concluiu Josefa Sacko, é essencial porque "se não olharmos para a agricultura sustentável vamos ter graves problemas na segurança alimentar e malnutrição".

Questionada sobre se África pode alimentar o mundo depois de apostar na agroindústria, Sacko lembrou os 60% de terras aráveis no continente e argumentou que sim, é possível: "É uma questão de estabelecer uma estratégia propícia para África alimentar África primeiro a nível nacional, depois regional e depois internacional".

domingo, 3 de dezembro de 2017

Bancos de sementes tentam criar "super feijão" para combater fome em África


O chamado "super feijão", uma variedade de rápido crescimento e alto rendimento, está a ser promovido pelo governo do Uganda

Dois "bancos de sementes" estão no continente africano a tentar descobrir "super feijões" que consigam resistir à seca, para combater a fome e mudanças climáticas que ameaçam África, informou o Centro Internacional de Agricultura Tropical.

De acordo com aquele organismo, os feijões estão a ser criados por meios convencionais para resistir às condições de seca. O grupo opera um dos dois "bancos de sementes" de feijão em África, região onde é esperado que mais consequências das mudanças climáticas, de acordo com o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas.

Um dos campos de testes situa-se no norte do Uganda, onde a chegada recente de mais de um milhão de refugiados do Sudão do Sul, assolado pela guerra, está a levar ao limite as capacidades dos agricultores locais e a própria terra em si.

O chamado "super feijão", uma variedade de rápido crescimento e alto rendimento, está a ser promovido pelo governo do Uganda e por especialistas em agricultura com o objetivo de alimentar zonas propensas à fome em África.

Incêndios: Populações sujeitas cada vez mais a situações sem socorro

02 DE DEZEMBRO DE 2017 - 20:22

O investigador Xavier Viegas disse hoje que as populações têm de se capacitar que cada vez mais vão enfrentar situações em que não vão ser socorridas e defendeu que têm de se organizar.

Foto: Adelino Meireles/ Global Imagens

"As populações têm que se capacitar que, se calhar, cada vez mais, vão ter situações em que não vão ser socorridas. Os bombeiros não chegam lá, não chegam lá a tempo. Tem de estar organizadas", afirmou.

O diretor do Centro de Estudos de Incêndios Florestais da Universidade de Coimbra, que falava numa conferência sobre a contribuição da ciência para o problema dos incêndios florestais, no centro de Ciência Viva da Floresta, em Proença-a-Nova, sublinhou a necessidade de organização das populações para dizer que "ou fogem antes do fogo chegar e retiram as pessoas ou ficam".

"A nossa experiência [investigadores] é que as casas em que há gente são casas que têm mais probabilidade de não arder", frisou.


Questionado pela assistência sobre a ausência de limpeza junto às estradas, sobretudo no caso de Pedrógão Grande, Xavier Viegas explicou que quando interrogaram a empresa concessionária sobre o assunto, esta respondeu que só eram obrigados a fazer esse tipo de trabalhos de limpeza de vegetação, de acordo com a lei, onde o plano municipal de defesa da floresta contra incêndios indica.

"Isso está na lei. Ora, como devem saber, o concelho de Pedrógão Grande não tem plano. Esta entidade [concessionária] invoca isto. Depois de arder, limparam tudo. É este tipo de condicionalismos em que estamos", concluiu.

Portugal terá de regrar uso da água


Antena 1
02 Dez, 2017, 10:56 / atualizado em 02 Dez, 2017, 11:01 | País

A forma de utilizar a água vai ser uma prioridade em Portugal e os sistemas de recuperação deste recurso terão de melhorar o seu desempenho, defende o presidente do Instituto do Mar e da Atmosfera, em entrevista à Agência Lusa.

O uso da água "vai ter de ser, em Portugal, uma prioridade. É verdade que existem áreas, em particular de hortofruticultura, muito 'tecnologizadas', mas esse procedimento tem de continuar e estender-se", afirmou o responsável do Instituto do Mar e da Atmosfera (IPMA), Miguel Miranda, em entrevista à agência Lusa.

"Não podemos usar água de forma desregrada em Portugal, tanto no que diz respeito à utilização humana, como à agrícola", respondeu o responsável pelo IPMA, quando questionado acerca da forma de Portugal se adaptar à nova tendência climática, com possível aumento da frequência de fenómenos extremos, como a seca.

A totalidade do território do continente está em situação de seca extrema ou severa e alguns concelhos enfrentam dificuldades no abastecimento de água, como é o caso do distrito de Viseu. 

"Os sistemas de recuperação de água vão ter de melhorar muito a sua 'performance'. Sei que existem planos de reutilizar a água que se pode extrair dos sistemas de tratamento de forma significativa", disse o responsável do IPMA.

Nas situações mais extremas de falta de chuva "até é possível que processos como a dessalinização tenham de ser encarados", apontou o presidente do IPMA.

Quanto à aposta nas barragens, com alguns a defenderem a criação de mais destas estruturas e o Governo a preferir aumentar a capacidade das existentes, o especialista em geofísica apontou que o país "tem muitas barragens, o problema de Portugal não é bem o de reter a água".

"É que as bacias hidrográficas que alimentam os nossos rios estão todas situadas na Península Ibérica, maioritariamente em Espanha, e a situação de seca em Espanha é pior que a situação de seca em Portugal", explicou.

O presidente do IPMA indicou que "vai haver também adaptações do coberto agrícola e florestal". 

Na agricultura, a tendência será optar por espécies menos consumidoras de água, na floresta o ordenamento que hoje "é uma prioridade vai continuar nas primeiras páginas dos jornais nos próximos anos", disse.
Melhorar a comunicação com os cidadãos

O presidente do IPMA defendeu a necessidade de ultrapassar a rigidez da atual forma de comunicar em casos de catástrofes e conseguir chegar rapidamente a todos os cidadãos, mesmo aqueles que estão mais isolados. 

"O circuito de informação é ainda muito rígido", das instituições nacionais na área da proteção civil para as instituições locais, e para responder a essa situação o IPMA tem principalmente desenvolvido os serviços 'online'.

"Praticamente toda a gente pode ter acesso direto aos nossos serviços de forma gratuita e simples, sem ter de passar necessariamente pela nossa página e já há muita gente a faze-lo", avançou.

No entanto, reconheceu as dificuldades em chegar a quem não tem acesso a estes serviços. 

"Não temos uma estratégia muito compreensível para chegar a essas pessoas", admitiu.

Em acontecimentos de desenvolvimento muito rápido, como uma catástrofe, é difícil gerir a situação e, "na verdade, ainda não temos meios muito simples de o fazer", ou seja, de chegar a toda a população, acrescentou, apontando como exemplo o conhecimento da localização de cada cidadão pelos consulados portugueses em países estrangeiros.

De acordo com o especialista, existe uma componente local, nos concelhos e freguesias, que também deverá ter um tratamento diferenciado, o que "tem sido discutido muitas vezes", sem ainda haver uma solução mais favorável.

"Para nós é claro que a informação tem de chegar muito depressa a quem está no terreno", insistiu.

Os cidadãos também não estão sensibilizados para os procedimentos a ter em caso de catástrofe.

Para a necessária alteração dos comportamentos, na opinião de Miguel Miranda, "as estruturas mais eficazes de atuação são as escolas" e deu o exemplo do Japão, país com experiência em lidar com desastres naturais.

"As comunidades, quer sejam escolares ou não escolares, vão ter de ser colocadas no sistema de uma forma mais ativa do que são neste momento, vão ter de compreender a informação mais depressa e saber o que fazer", disse. 

No caso de Portugal, para saber o que fazer há que "treinar na inexistência de catástrofe e isso vai um bocadinho contra a tradição cultural nacional", realçou o presidente do IPMA. "Somos aquele país em que, quando há um exercício de incêndio, as pessoas esperam que o barulho acabe".

Sempre houve mudanças do clima no sentido lato do termo, quando as mudanças são lentas, os povos conseguem adaptar-se migrando, e as práticas culturais são alteradas de forma contínua. 

"O que estamos a observar agora que é diferente é a mudança mais rápida que a sequência de gerações e a família é apanhada numa altura em que já está numa fase avançada da vida e que as condições ambientais que a cercam estão a ser rapidamente alteradas", descreveu. 

O responsável também referiu que, com as novas condições climatéricas, serão necessárias novas redes de transmissão de informação, de dados, que "sejam muito resilientes aos fenómenos meteorológicos e geofísicos extremos".

"Não podemos provavelmente gerir muito facilmente uma situação em que estamos muito dependentes da rede que arde, do cabo de eletricidade que cai e da pessoa que fica isolada e ninguém sabe onde está", alertou.

Por isso, a resiliência dos meios de transmissão de informação "vai ser também uma das questões muito discutidas nos próximos tempos, vai ser preciso assegurar que, mesmo na ocorrência de um incêndio de grandes proporções, a comunicação entre as pessoas é mantida".

(Com Lusa)

Como se faz um Vintage de 100 pontos?


Se um vinho recebe da crítica mundial 100 pontos em 100, isso quer dizer que esse vinho é perfeito, certo? Bom, a perfeição é algo subjectivo. Mas os Porto Vintage da Taylor's, da Dow's ou da Noval que nos últimos anos mereceram esta distinção estão lá perto. Porquê? A natureza do Douro dá respostas, mas os detalhes da perfeição devem-se a uma combinação imbatível entre a memória e a ciência.
MANUEL CARVALHO  1 de Dezembro de 2017, 1:52


David Guimaraens chegou ao final da vindima nas quintas da Taylor's e da Fonseca no Douro e não esconde o seu optimismo. "Este ano foi muito parecido com os de 1945 e de 1863", diz, recorrendo ao enorme manancial de memória histórica acumulada ao longo de várias gerações. A comparação não é inocente. Se a expectativa se cumprir, a vindima de 2017 dará origem a Porto Vintage condenados a tornarem-se lendários, como os de 1945 e de 1863. E se tudo correr pelo melhor, David Guimaraens (a grafia antiga do nome foi herdada do seu antepassado Manoel Pedro Guimaraens, um liberal nortenho que fugiu para Inglaterra em 1822), pode voltar a ser autor de um Vintage premiado com 100 pontos em 100 em publicações mundiais prestigiadas como a revista norte-americana Wine Spectator ou a Wine Advocat, do influente crítico norte-americano Robert Parker. Não seria a primeira vez: as duas marcas do grupo Fladgate têm, nada mais, nada menos, do que sete vintages produzidos entre 1927 e 1994 classificados com 100 pontos nas duas revistas – para lá do Scion, um Porto com mais de 150 anos envelhecido em casco.

Conseguir um vinho com 100 pontos em 100 não é apenas um prodígio em termos de perfeição: é igualmente uma façanha que muito poucas empresas ou regiões do planeta vinho conseguem obter. O que impõe uma pergunta lógica: como se consegue? A primeira resposta que a maioria dos viticultores e enólogos do vinho do Porto darão aponta para as características únicas do vale do Douro, onde o regime de chuvas é bondoso, onde o calor amadurece as uvas, onde o xisto permite que as raízes das videiras atinjam vários metros de profundidade, onde há vinhas centenárias, onde se cultivam dezenas de castas adaptadas à dureza do clima da região. Mas o sucesso do Porto Vintage ou as expectativas de um ano grandioso como o de 2017 não se justificam apenas pela natureza. Jamais haveria vinhos com 100 pontos se o Douro não fosse um lugar que acumulou séculos de um saber empírico que, nos últimos 40 anos, foi capaz de incorporar nas suas vinhas ciência, inovação, experimentação e desenvolvimento.

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No seu discurso da rentrée política este ano no Algarve, o primeiro-ministro António Costa citou o exemplo do vinho como um caso de sucesso que se explica pela sua capacidade de se abrir à ciência. Tem razão. No caso do Douro, porém, a ciência mais avançada coexiste com um esforço para recuperar práticas ancestrais. António Magalhães, engenheiro viticultor, trabalha há 25 anos nas quintas da Taylor's e admite que "o trabalho mais interessante da minha passagem pela empresa foi perceber o impacte das diferentes gerações da vinha no produto final". Nuno Magalhães, professor jubilado da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e pioneiro na aplicação da vanguarda científica no Douro depois de 1980, subscreve esta tese ao afirmar que o novo Douro tem de manter um pé no futuro e outro no passado. Não só para continuar a fazer grandes vinhos; também para "recuperar o equilíbrio que foi perdido entre a vinha e os agricultores".

Passado e presente e futuro fazem um tripé por natureza instável e incerto, ainda mais quando a base sobre a qual se sustenta se faz de botânica, de genética, de engenharia, de informática e de senso comum. Numa região que faz vinho há mais de 2000 anos, as singularidades do saber popular podem ser muito mais que caprichos. Por exemplo, o velho hábito de plantar na mesma vinha dezenas de castas diferentes (a prática nacional e internacional varia entre uma ou um pequeno conjunto de variedades) era já explicado em 1532 numa memória de Lamego com a necessidade de garantir produções estáveis; a alta densidade de plantas nos socalcos tradicionais ia muito para lá das preocupações com a quantidade. O suposto empirismo da velha viticultura não era tão empírico assim. A casta mais importante do Douro, a Touriga Franca (ou Francesa) resulta de um cruzamento entre a Touriga Nacional e a Mourisco feito na região; a Tinta da Barca foi "inventada" por um viticultor da zona do Pinhão há mais de 100 anos. "Nós lemos pouco as memórias dos séculos XVIII e XIX. Muitas vezes andámos a descobrir a roda", costuma dizer António Magalhães.

O sistema de saberes antigos foi posto em causa quando Portugal beneficiou de um empréstimo do Banco Mundial para renovar e mecanizar as vinhas do Douro. Com essa mudança, o perfil da vinha e do vinho sofreu um abalo. Estávamos na década de 1980 e o vale assistiu a uma pequena revolução que mudou a face de 2500 hectares das suas vinhas. Em vez de uma multidão de castas, as novas vinhas foram plantadas com cinco variedades estudadas, entre outros, pelo recentemente chegado da Universidade de Montpellier João Nicolau de Almeida. Os muros de pedra desapareceram e em seu lugar nasceram os patamares ou as vinhas plantadas ao alto, que contrariavam as curvas de nível. Se nas vinhas antigas se plantavam entre 5500 e 6000 videiras por hectare, nos patamares cabiam apenas 2500 ou 2700. O modelo pensado para calcular a produção através de uma vinha alterou-se para o cálculo das produções de cada planta. Os porta-enxertos tradicionais foram trocados pelo "cibernético" R99, um híbrido talhado para chegar a esse fim. As podas mudaram e muitas castas ancestrais foram consideradas menores.

A busca pela modernidade provocou uma "mutação na viticultura tradicional", diz Nuno Magalhães. Foi "um salto sem rede" porque desconhecia-se o "impacte que as novidades iriam ter na vinha e no vinho", acrescenta. A abertura à ciência foi fundamental para minar vícios do arcaísmo, mas menorizara o saber tradicional. Hoje, acontece o contrário: a ciência tenta coexistir com o saber tradicional. O Douro contemporâneo que obteve em 2007 mais duas classificações com 100 pontos (as marcas Dow's e Noval Nacional) e que em 2011 regressou ao cúmulo do juízo dos críticos da Wine Spectator (com o Noval Nacional, de novo, mas também com o Dow's, eleito como o melhor vinho do mundo desse ano) é já o resultado desse esforço de equilíbrio. Hoje, como nunca, o Douro é um campo aberto à experimentação sustentada nos saberes antigos. A ciência, pode comprar-se; os saberes antigos não. Nem a natureza. Os grandes vintages são por isso a expressão de mundo exclusivo que é o Douro português.

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A quinta do Junco, uma majestosa propriedade pouco acima do Pinhão, é um bom lugar para se dar conta desse reencontro com a memória. Os vinhos ali produzidos fazem parte do lote final dos Taylor's clássicos, que juntamente com os Fonseca, os Dow's, Graham's e Noval são os mais procurados pelos apreciadores e coleccionadores de todo o mundo. Dos seus 82 hectares, 41 são plantados com vinha e desta área há 11 hectares de socalcos são anteriores à devastação da filoxera (um insecto) no final do século XIX. Aí, a dupla David Guimaraens/António Magalhães cuidam de cada videira centenária como se cada videira tivesse um nome próprio. Os muros históricos foram reconstruídos e no meio da biodiversidade da vinha há castas que são certezas e outras que ainda pairam no limbo da dúvida. Magalhães pegou em varas de duas variedades quase ignoradas, a Casculho e a Cornifesto, plantou-as em microblocos e aguarda que o tempo lhe dê respostas sobre o seu potencial real. Em outros casos, as castas foram preservadas apenas por zelo. "Há uma que nos intriga e só preservamos por dever: a Tinta Malandra", justifica o viticultor.

Se a Taylor's estuda estas castas antigas é por uma razão evidente: a criação de um Vintage de classe mundial é tão exigente que um pequeno aroma, um toque especial de tanino, ou um rasgo de acidez podem fazer toda a diferença. Na procura de um vinho quintessencial, no limiar da perfeição, com fruta, volume, estrutura, garra e potencial para resistir a décadas na garrafa, os detalhes contam. Manter as vinhas tradicionais, as castas tradicionais, com densidades de plantação tradicionais é fundamental para essa missão. Desde que as vinhas possam ser mecanizadas para aliviar a "penosidade do trabalho manual", que as castas resultem de apurados processos de selecção clonal, que sejam tratadas com rigor científico para evitar a propagação de pragas, ou que a densidade não implique o recurso a produtos químicos para combater ervas ou infestantes.

Na Quinta do Noval, na estrada entre o Pinhão e Favaios, a procura dos grandes vintages na vinha parece mais simples. Perto da casa da quinta há um tesouro único que justifica não só os 100 pontos que vários vintages da casa conquistaram como a distinção conferida ao se Vintage de 1931, considerado pela Wine Spectator como o terceiro melhor vinho do mundo do século XX – a tentativa de escolher vinhos assim é arriscada, como é óbvio. Numa área de 1,7 hectares está plantada a vinha que faz o Noval Nacional. Aí, as suas seis mil videiras são plantadas no regime de "pé franco" – ou seja, sem os porta-enxertos americanos que se usam desde o final do século XIX para combater a filoxera. Zelar por esse jardim é uma das principais obras do enólogo António Agrellos: "Não mexemos em nada. Quando uma planta morre, vamos ao viveiro que temos ao lado e substituímo-la", diz.  

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Uns 70 ou 80 quilómetros em direcção a Espanha, o grupo Symington segue os passos da ciência num campo experimental da sua Quinta do Ataíde, no vale da Vilariça. Nesse terreno, estão plantadas 53 castas destinadas a servir de balão de ensaio à equipa liderada pelo viticultor Fernando Alves. "Queremos conhecer melhor o seu ciclo vegetativo, o seu mecanismo fisiológico e a sua adaptação às mudanças climáticas", diz Fernando Alves. Depois, os ensaios permitirão ainda verificar a "simbiose" entre as castas e diferentes porta-enxertos. O campo de Ataíde tem uma réplica no Pinhão apenas com castas do Douro, o que permitirá estudar o comportamento de cada variedade em ecossistemas distintos. É afinal a continuidade de um campo montado na Quinta da Lêda, da Sogrape, nos anos de 1980 pelos académicos Antero Martins e Nuno Magalhães. Os 197 clones aí trabalhados foram adoptados pela maioria dos produtores nacionais e estão na origem da revolução da viticultura que se seguiu. "Introduzimos aí modelos de genética quantitativa, que ainda hoje é uma inovação a nível mundial", diz Nuno Magalhães.

Todas as grandes empresas mantêm nos dias de hoje uma relação de enorme proximidade com a vinha – o que não acontecia outrora. "Uma grande parte das empresas acolheu laboratórios de experimentação", confirma o professor da UTAD. Conhecer as videiras é o primeiro passo para se conhecer o vinho. No grupo Taylor's, por exemplo, sabia-se na Primavera do ano passado que as suas vinhas albergam 1.2 milhões de videiras, das quais 270.608 tinham mais de 70 anos ou que 338.745 tinham menos de 15 anos. No grupo Symington, por altura do "pintor" (quando a cor escura chega aos bagos das castas tintas), são produzidas imagens aéreas com infravermelhos nos 1050 hectares geridos pelo grupo, "uma espécie de TAC que nos permite avaliar a saúde interna das folhas e o vigor das plantas", diz Fernando Alves. Cada imagem encaixa-se depois num sistema de georreferenciação, o que permite à equipa de viticultura tratar pequenas zonas onde haja problemas de nutrição ou doenças nas videiras. No Noval, a dimensão da tarefa é menor, mas "é normal que em véspera da vindima andemos pela vinha fora a ver as videiras uma a uma e a decidir quais são os cachos que ficam fora do lote final", diz António Agrellos.

Todo este conhecimento é fundamental também para determinar com precisão a data da colheita. Decidir o dia em que se apanham as uvas no perfeito estado de maturação é uma tarefa ciclópica para empresas que, como a Sogrape ou os Symington têm várias propriedades ao longo das encostas do Douro. Muitas vezes, na mesma propriedade tem de haver datas de vindima diferentes, porque as parcelas junto ao rio amadurecem mais cedo em virtude de "a temperatura média mais alta e de índices de precipitação mais baixos", diz António Magalhães. Na Quinta do Junco, comprada pela Taylor´s em 1998, o desnível varia entre os 200 metros e os 480 metros, o que pode fazer toda a diferença. E para tornar o exercício da previsão rigorosa do momento da colheita ainda mais labiríntico, acrescente-se que o ciclo das videiras nas zonas do Baixo Corgo, junto à Régua, é muito diferente do que se regista nas zonas semiáridas do Douro Superior, junto a Foz Côa.

Quando as equipas de enologia e de viticultura marcam as datas da vindima, em tese já sabem para onde vão as uvas da zona A da vinha B. Há décadas que as grandes empresas e enólogos experimentados como David Guimaraens, Dirk Niepoort, Luis Sottomayor (da Ferreira), Charles Symington ou António Agrellos conhecem o potencial de cada "terroir" sob a sua gestão. Cada lote de cada vinho é vindimado separadamente, enviado para os vários centros de vinificação que as empresas têm espalhados pelo Douro, e trabalhados no lagar. Fazer um vinho do Porto de classe superior exige uma atenção especial para se conseguir extrair das uvas o máximo da cor, dos aromas de fruta e também dos taninos, a base estrutural do vinho que há-de garantir a sua consistência e longevidade. Para esse efeito, a pisa das uvas é crucial. Em algumas adegas, as empresas instalaram robots que fazem a pisa mecânica; mas para os lotes superiores, todo este trabalho continua a ser feito pela pisa humana, mais cara mas que garante a melhor extracção dos componentes essenciais para o vinho.

Depois de o mosto começar a fermentar, acontece o momento mágico do vinho do Porto: a adição de lotes de aguardente vínica que trava a transformação do açúcar natural em álcool e conserva o carácter doce e frutado dos grandes Porto. No processo produtivo destes vinhos, esta, como todas as etapas da vinificação, é razoavelmente simples de fazer e os enólogos fazem-no de uma forma mecânica. O mais importante para eles vem a seguir. Quando, depois de um repouso de alguns meses nas adegas, os diferentes lotes de vinho novo começarem a ser estudados e combinados até se apurar a fórmula final que no prazo mínimo de três anos vai chegar às mesas dos consumidores. É nesse momento de criação que os enólogos vestem a pele de alquimistas, definindo uma base para o vinho, procurando detalhes que o engrandeçam, acrescentando pormenores que sejam capazes de criar uma identidade – um estilo, como se diz no sector – para cada uma das marcas.

Neste capítulo, António Agrellos é um homem feliz. O melhor do Douro, incluindo a sua enorme diversidade, encontra-se no Noval. À sua mão estão vinhos mais maduros que vêm das vinhas junto às margens do rio Pinhão, há vinhos mais frescos das zonas altas, há vinhos com singularidades resultantes de uma maior ou menor exposição a poente. E há também a vinha onde nasce o Noval Nacional, o vinho que de alguma forma pode ser considerado como o ex-libris dos vintages contemporâneos. As condições dessa vinha plantada em 1924, de onde saem no máximo 3000 garrafas por cada vindima, permitem que todos os ingredientes dos grandes Vintage estejam presentes. Numa prova recente de Vintage de 1963 com todas as grandes marcas de vinho do Porto, o Nacional destacava-se pela sua potência e pela sua singela juventude.

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Escolher lotes finais também não é grande problema para Charles Symington ou para David Guimarães. Na maior parte dos anos, eles limitam-se a refinar uma fórmula que herdaram dos seus pais. Por exemplo, sabe-se que os vinhos da Quinta da Ribeira são a base dos Vintage da Dow's, por definição mais austeros, poderosos e estruturados. Ou que Vargellas é o solar dos grandes Taylor's. Sabe-se também que as vinhas velhas garantem "complexidade, personalidade e individualidade", enquanto as vinhas modernas, plantadas depois de 1980, garantem "intensidade de fruta e de cor". Quando partirem para a criação dos lotes finais da vindima de 2017, os enólogos sabem ainda pelas suas notas de vindima (ou pela memória) que uma vinha produziu uma paleta de aromas, que outra acrescentou um toque de fruta especial, que uma terceira adicionou uma acidez fina que também ajuda ao envelhecimento.

Quando David Guimaraens acompanhava a recta final das vindimas na Quinta da Terra Feita, em meados de Setembro, cada um dos lagares vinificados e entretanto metidos em cascos ou em cubas de inox tinha já um bilhete de identidade atribuído. No mundo estratificado das vinhas e dos vinhos que produz, Vargellas, com os seus 11 hectares de vinhas muito velhas, em alguns casos com 110 anos, tem um lugar especial – até porque dão origem a um produto próprio da casa, o Vargellas Vinha Velha. Esta vinha belíssima instalada no dorso da montanha já no Douro Superior, produz vinhos com uma forte componente floral que explicam a elegância e a graça dos Vintage da Taylor´s. Mas a esta componente, David sabe que tem de acrescentar vinhos de Terra Feita, uma propriedade junto ao Pinhão, que acrescentam ao produto final estrutura, músculo e profundidade.

Saber se 2017 vai ser um grande ano Vintage é para já um pequeno mistério. A forma como o ano decorreu, a condição dos mostos no lagar e, principalmente, a memória, dizem que sim. Saber se 2017 vai ser um ano extraordinário como 1863, 1894, 1912, 1931, 1945, 1963, 1977 ou 2011 é ainda um mistério insondável. Tudo depende da forma como os vinhos evoluírem e permitirem aos enólogos a aplicação das suas artes de alquimistas. Aconteça o que acontecer, quando os Vintage deste ano chegarem ao mercado (os preços variam, mas as edições recentes apontam sempre para valores acima dos 60 euros por garrafa) o que estará á disposição dos apreciadores será muito mais do que um vinho. Os grandes Vintage são uma poderosa síntese de um país antigo que persiste em usar memórias e saberes tradicionais, mas que os adapta com uma abertura à ciência que aplica a genética na selecção clonal, os laser no desenho das vinhas, a robótica nos lagares, a georreferenciação no tratamento das videiras ou a microbiologia no estudo dos mostos. Por muito que tenha uma data recente, um Vintage de 100 pontos acaba sempre por ser também uma distinção das gerações que, por intuição ou senso comum, fizeram o Douro que hoje existe.