segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Produção de batata deverá cair 15% enquanto a do azeite aumenta


As condições climatéricas e algumas doenças vão ditar desempenhos diferentes na produção agrícola. Há menos batatas e mais azeite. O vinho, tal como já tinha sido revelado, deverá registar a menor produção dos últimos 20 anos.

Produção de batata deverá cair 15% enquanto a do azeite aumenta 
Rui Miguel Pedrosa

Sara  Antunes Sara Antunes saraantunes@negocios.pt
13 de dezembro de 2018 às 13:37

A produção agrícola vai ter desempenhos distintos consoante os produtos, num ano marcado por um aumento do rendimento agrícola. Haverá menos batata, e o preço deverá subir na mesma proporção, mas mais azeite e uma quebra pronunciada da produção de vinho.

A conclusão geral aponta para que, "em 2018, a produção vegetal tenha aumentado 0,9% em valor" mas o volume terá diminuído 3,1%, revela o Instituto Nacional de Estatística (INE). Já os preços deverão ter aumentado 4,1%.

Destaque para a quebra de 15% do volume de produção da batata, "devido a doenças (nomeadamente míldio) e diminuição da área originada pelo encharcamento dos solos", explica o INE. Este desempenho deverá provocar um aumento de 14,7% dos preços no produto, acrescenta a mesma fonte.

O vinho também deverá registar uma queda aparatosa (20%), tal como já tinha sido revelado anteriormente. As previsões apontam mesmo para "a menor produção de vinho em quantidade dos últimos vinte anos", confirmando assim as previsões divulgadas em Novembro.

Do lado oposto está o azeite, cujo volume de produção deverá crescer 8,7%. Apesar do maior volume, é previsto um aumento de preços no produtor de 0,3%.

O INE destaca ainda a produção do leite, que deverá contar com um aumento de 1,3%, enquanto se prevê que o preço cresça 3,4%.

Rendimento da atividade agrícola deve aumentar 0,6 por cento em 2018

2018 - 12:06

O rendimento da atividade agrícola em Portugal deverá aumentar 0,6 por cento em 2018, face a 2017, após um crescimento de 5,4 por cento no ano passado, segundo a primeira estimativa das contas económicas da agricultura hoje divulgada pelo INE.

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), esta evolução estimada "resulta fundamentalmente da combinação de um aumento de 3,5 por cento perspetivado para o Valor Acrescentado Bruto (VAB) com um decréscimo de 2,9 por cento dos outros subsídios à produção".

"A evolução nominal prevista para o VAB resulta do efeito conjugado do acréscimo da produção do ramo agrícola (+1,6 por cento), mais acentuado do que o do consumo intermédio (+0,4 por cento)", refere o INE.

Contudo, acrescenta, "em termos reais, estima-se uma diminuição do VAB (-1,5 por cento), refletindo uma redução mais pronunciada do volume da produção comparativamente com a do consumo intermédio (-1,2 por cento e -1,0 por cento, respetivamente)".

O aumento nominal da produção do ramo agrícola em 2018 resultou de acréscimos quer da produção vegetal (+0,9 por cento), quer da produção animal (+2,2 por cento), tendo-se registado, em termos globais, um decréscimo do volume (-1,2 por cento) e um aumento dos preços de base (+2,8 por cento).

Já os preços no produtor e os subsídios ao produto aumentaram 2,9 por cento e 0,9 por cento, respetivamente.

Em 2018, o consumo intermédio deverá apresentar um "ligeiro acréscimo" em valor (+0,4 por cento), em resultado de uma diminuição em volume (-1,0 por cento) e de um aumento de preços (+1,4 por cento), devendo-se esta evolução "sobretudo ao aumento dos alimentos para animais (+2,4 por cento), da energia (+1,3 por cento) e dos adubos e corretivos do solo (+7,5 por cento)".

"Estima-se que o consumo de alimentos para animais tenha aumentado em volume (+2,0 por cento), com aumentos nos alimentos simples e compostos", reporta o INE, acrescentando que "o aumento da produção pecuária, em particular de bovinos, conduziu a um consumo mais elevado de alimentos para animais".

Já o preço dos alimentos para animais deverá ter sido este ano "ligeiramente superior" ao de 2017 (+0,3 por cento), refletindo o aumento de preço dos alimentos compostos (+1,8 por cento).

Segundo o instituto estatístico, a importância relativa do ramo agrícola na economia nacional deverá manter-se em 2018 nos 1,7 por cento, estimando-se também que o volume de mão-de-obra agrícola se mantenha em valores próximos do ano passado (+0,3 por cento).

Numa comparação internacional, o INE reporta que, entre os triénios 2000-2002 e 2015-2017, o peso do VAB do ramo agrícola no VAB nacional "decresceu na generalidade dos Estados membros e na União Europeia a 27, mantendo-se Portugal acima da média europeia (1,6 por cento versus 1,3 por cento)".

Já o rendimento da atividade agrícola em Portugal evoluiu, entre os triénios de 2001-2003 e 2015-2017, "de forma menos favorável do que a média dos Estados-membros (+30,9 por cento versus +42,6 por cento), ultrapassando, no entanto, países mediterrânicos como França, Espanha, Itália e Grécia".

Em 31 de janeiro de 2019 o INE irá disponibilizar uma segunda estimativa das contas económicas da agricultura.

Nem as vacas voam, nem a economia avança


Sofia Afonso Ferreira, Fundadora do Democracia21 14 Dezembro 2018, 00:08

Esta decisão é um ataque ao mundo rural e aos produtores de carne e derivados, à economia nacional, e ineficaz quanto ao objectivo a que se propõe.
O Governo decidiu reduzir o número de bovinos para metade até 2050, com vista a diminuir a emissão de dióxido de carbono e gases equivalentes (CO2eq). A proposta integra o Roteiro para a Neutralidade Carbónica, apresentado em Lisboa e na Cimeira do Clima da ONU na Polónia (COP24) pelo ministro do Ambiente, João Matos Fernandes. Uma medida positiva? Errado. Por vários factores que não foram equacionados.

Vamos deixar de consumir carne? Não. O ministro responde a essa questão: a solução encontrada pelo Governo, "num quadro de maior liberalização mundial", é passarmos a importar a carne, nomeadamente do Brasil e Argentina. Uma decisão positiva para os portugueses, segundo o ministro – "a carne de vaca vai chegar a Portugal a preços mais competitivos". E como se reduz o gado? Com o fim dos subsídios, os produtores entram em falência, o número de vacas diminui.

Esta decisão é um ataque ao mundo rural e aos produtores de carne e derivados, à economia nacional e ineficaz quanto ao objectivo a que se propõe. Zonas importantes de produção de carne e produtos lácteos, como os Açores, vão ter a sua economia abalada de forma irremediável.

À partida os números de vários estudos são alarmantes e levam-nos a concordar com a medida, por cada quilo de bife produzido em sistema semi-intensivo no país são emitidos 27kg de CO2eq. Mas para tal muito se deve à ingestão da ração dada ao gado e aos fertilizantes nas pastagens, entre outros factores.

Um erro comum nesta linha de pensamento é não contabilizar o impacto das medidas de compensação para substituir o produto. Se removessem os animais da agricultura e da dieta dos EUA, um dos países que mais consome produtos animais, as emissões de gases de efeito de estufa seriam reduzidas apenas em 2,6%, devido à necessidade de substituir o estrume por fertilizantes sintéticos e à produção de produtos industriais com os naturais custos associados, para além do gado reciclar alimentos não comestíveis e subprodutos de processamento de fibras, convertendo-os em alimentos comestíveis para humanos e animais de estimação. Resumindo, o problema é apenas substituído por outro, não é solucionado.

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, é possível reduzir em 30% o impacto ambiental da criação animal alterando a forma como se cria e alimenta os animais, na gestão do estrume e na redução da aplicação de fertilizantes sintéticos na produção ou acrescento da alga Asparagopsis taxiformis na ração, recorrendo a novas técnicas que poderão eventualmente reduzir a emissão de metano entre 80 e 99%.

Afinal, aniquilar o gado não tem o impacto que os ambientalistas e o ministro da Agricultura defendem. Infelizmente, num país que vai fechar o ano com 47 pré-avisos de greve de diversos e importantes sectores, o gado não faz greve.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Farmacêutica quer investir €16 milhões para produzir canábis em Campo Maior



13:32 por Lusa 0
Empresa com capitais canadianos e israelitas está interessada numa exploração de canábis para fins medicinais.
 
Uma empresa de capitais canadianos e israelitas prevê investir 16 milhões de euros em Campo Maior, no Alto Alentejo, numa exploração de canábis para fins medicinais, revelou hoje à agência Lusa o presidente do município.

"O projeto nasceu há nove meses e a empresa fez testes agrícolas nos terrenos e foram superados", disse Ricardo Pinheiro, indicando que "já foram realizadas várias reuniões com o Governo e que se aguarda o licenciamento" da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed).

Segundo o autarca, o projeto da empresa Sababa Portugal vai arrancar numa área de quatro hectares e prevê, nos próximos cinco anos, um investimento de 16 milhões de euros, devendo criar, numa primeira fase, 50 postos de trabalho.


 Bloco de Esquerda propõe venda de canábis em lojas licenciadas Bloco de Esquerda propõe venda de canábis em lojas licenciadas Ricardo Pinheiro adiantou que o projeto será depois completado com a instalação de um centro de extração de óleo de canábis naquela vila do distrito de Portalegre, não estando ainda definido o montante que deverá implicar.

"Estamos a falar de uma transformação agroindustrial, embora o fabrico do medicamento possa não ficar em Campo Maior", frisou.

Ricardo Pinheiro sublinhou que a empresa tem desenvolvido uma "intensa investigação", ao longo dos últimos anos, e que conta com uma "grande experiência" no estudo e aplicação de canábis medicinal.

Com o avanço deste projeto em terras alentejanas, autarca considerou que o solo da região poderá ser no futuro "rentabilizado de uma forma totalmente diferente" do habitual, tornando-se numa "janela de oportunidade".

A utilização de medicamentos, preparações e substâncias à base de canábis foi aprovada pelo parlamento em 15 de junho, na sequência da apresentação de projetos de lei do Bloco de Esquerda e do partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN).

A lei foi depois promulgada pelo Presidente da República em 10 de julho. 

O quadro legal para utilização de canábis na preparação de medicamentos foi aprovado no dia 13 deste mês em Conselho de Ministros.

O documento explica que a regulamentação teve por base os programas já existentes em países como Dinamarca, Holanda e Itália. 

De acordo com o comunicado do Conselho de Ministros, o Governo aprovou um decreto-lei que "estabelece o quadro legal para a utilização de medicamentos, preparações e substâncias à base da planta da canábis para fins medicinais, nomeadamente a sua prescrição e a sua dispensa em farmácia". 

A regulamentação, acrescenta, foi baseada numa "análise pormenorizada dos Programas de Canábis Medicinal já existentes em outros Estados-membros da União Europeia, nomeadamente na Dinamarca, Holanda e Itália, bem como a avaliação da sua exequibilidade na realidade nacional".

Alqueva vai ter unidades para transformar subprodutos agrícolas em fertilizante


A empresa do Alqueva vai criar uma rede de unidades para recolha e posterior transformação de subprodutos orgânicos que sobram de culturas agrícolas em fertilizante para aplicação nos solos na área do empreendimento, foi hoje anunciado.


Lusa
17 Dezembro 2018 — 13:26

A rede será criada no âmbito do projeto URSA - Unidades de Recirculação de Subprodutos de Alqueva, que já está em curso com a primeira unidade experimental, situada no concelho de Serpa, no distrito de Beja, explicou a Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA).

Segundo a EDIA, num comunicado enviado à agência Lusa, a criação da primeira unidade do projeto já tem financiamento aprovado pelo Fundo Ambiental Português, através do programa Apoiar a Transição para uma Economia Circular, e está a ser desenvolvida pela empresa em parceria com o Instituto de Soldadura e Qualidade.

As unidades da rede irão recolher subprodutos orgânicos de origem agrícola junto de agricultores da área de influência do Alqueva para os transformarem em fertilizante orgânico através do processo de compostagem.

O fertilizante orgânico produzido será depois entregue aos agricultores que doarem subprodutos orgânicos para ser aplicado no solo.

De acordo com a EDIA, a aplicação de fertilizante orgânico vai permitir reabilitar gradualmente as diversas funções ambientais do solo, aumentar a resiliência do território perante as alterações climáticas e promover a qualidade da água e a sustentabilidade económica e ambiental do regadio do Alqueva.

O projeto tem uma estrutura "assente" no uso eficiente de recursos, na proteção do solo e da água e na valorização de subprodutos, "contribuindo para acelerar a transição para a economia circular, através de uma agricultura em linha com os princípios deste novo paradigma", explicou a EDIA.

Segundo a empresa, o projeto URSA foi distinguido, no dia 07 deste mês, com o 1.º lugar do Prémio Economia Circular nas Empresas do Baixo Alentejo e Litoral.

O prémio é promovido pela Associação Empresarial do Baixo Alentejo e Litoral e pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo.

Mais de metade de Portugal em risco de desertificação extrema


Jéssica Sousa 18 Dezembro 2018, 17:36


Portugal foi um de oito países membros da União Europeia visitados por uma auditoria do Tribunal de Contas Europeu para avaliar a resposta da UE ao risco crescente de degradação e desertificação dos solos. Conclusão não é benéfica para o território nacional.

Mais de metade de Portugal continental corre o risco extremo de desertificação, mas a resposta a este risco "não está a ser eficaz e eficiente", segundo um relatório do Tribunal de Contas Europeu.

Num relatório especial para o Parlamento Europeu, o Tribunal de Contas aponta para os efeitos nefastos da agricultura intensiva e da insistência em políticas desajustadas para o país como a insistência no regadio num país onde a água vai ser cada vez mais escassa, explica o comunicado enviado às redações esta terça feira.

Segundo o estudo, Portugal foi um de oito países membros da União Europeia visitados por uma auditoria do Tribunal de Contas Europeu para avaliar a resposta da UE ao risco crescente de degradação e desertificação dos solos. A conclusão: "Embora a desertificação e a degradação dos solos representem uma ameaça crescente, as medidas tomadas para combater a desertificação carecem de coerência e não existe uma visão harmonizada".

No caso concreto de Portugal, o Tribunal de Contas Europeu critica a falta de sustentabilidade dos projetos.

O Tribunal refere ainda que o "Programa de Ação Nacional" de combate à desertificação, supostamente atualizado em 2014, ainda não foi publicado, e mesmo os projetos nacionais que apresentam resultados positivos não são replicados ou minimamente integrados numa visão estratégica para combater esta grave ameaça.

Este relatório reforça o que a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e outras organizações de ambiente têm vindo a dizer: "esta não é uma questão para a biodiversidade, é uma ameaça grave para o nosso futuro com implicações a todos os níveis: do desaparecimento de espécies e habitats à perda de solo, falta da água, e problemas de saúde pública", lê-se no documento.

"É preciso procurar verdadeiras soluções para evitar que grande parte do nosso país se torne num deserto – soluções que passam por práticas verdadeiramente responsáveis e sustentáveis, não pela insistência em medidas de curto prazo e desajustadas como o regadio e a agricultura intensiva." diz Joaquim Teodósio, Coordenador do Departamento Terrestre da SPEA.

Para a SPEA, Portugal tem de abandonar as monoculturas florestais e agrícolas intensivas. "Tem de abandonar igualmente os regadios intensivos, que geram receitas milionárias para os investidores nos primeiros anos, mas não trazem emprego, nem qualidade de vida, e geram destruição e um passivo ambiental que será pago pelas gerações futuras. O nosso país tem de investir na floresta nativa, na agricultura diversificada, no pastoreio extensivo, nas variedades de plantas e nas raças de gado nativas, e valorizar a biodiversidade e o carácter único da sua paisagem. Só assim será possível gerar emprego e rendimento económico no mundo rural nos anos próximos e no futuro", conclui.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Quando a pegada é grande, talvez o sapato esteja muito largo

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

António Cláudio Heitor
19/12/2018, 0:25243

Porque razão tratam o Mundo Rural com selvagem e fora da lei? Porque razão perseguem as actividades rurais e tudo fazem para terminar e extinguir modos de vida e desrespeitam os nossos valores?

Que a agricultura, a pecuária e a silvicultura têm uma pegada parece-me óbvio, o que não posso aceitar é que nos forcem a usar um sapato vários números acima das nossas necessidades.

Não sou daqueles que afirma que tudo está bem e que as alterações são uma invenção. Mas também não pertenço ao grupo dos que vaticinam a catástrofe se não regressarmos a modos de vida de outras eras. Muito menos pertenço ao grupo dos que, armados com varinhas mágicas, procuram na floresta escura e sombria os ogres, os basiliscos e os dragões que ameaçam a "Terra Média".

Que algo está em mudança parece-me claro. Mas os agricultores e proprietários florestais desde sempre conviveram com a incerteza climatérica e adaptaram-se. Fizeram-no porque assim teve de ser e não por imposição cega de alguns.

Aliás o simples facto de não reconhecer essa capacidade de adaptação dos agricultores e proprietários diz muito sobre os reais objectivos dessa "irmandade do anel" que procura salvar o mundo desses malvados que o estragam só para produzir alimentos.

E para perceber isso basta perguntar a um agricultor quantas vezes não atrasou a sementeira, com consequências severas na produção, por falta de chuva na altura certa. Ou a um produtor pecuário quantas vezes não teve de comprar feno devido aos maus anos de pastagem. A um proprietário florestal quantas árvores viu morrer repentinamente devido a secas severas. Ou mesmo a um gestor cinegético quantos ninhos perdeu nas trovoadas primaveris. Ou a um fruticultor quantas vezes viu a floração estragada por fenómenos climatéricos extremos.

E o que fizeram todos eles? Procuraram, procuram e continuarão a procurar formas de atenuar esses efeitos, mantendo a actividade e melhorando e eficiência da gestão dos diversos recursos. Ou seja, continuando a produzir alimentos de qualidade, seguros e gastando os recursos de forma mais eficiente. Será sempre um trabalho contínuo com avanços e recuos, mas será feito.

Poderia continuar a dar exemplos, mas infelizmente os advogados da "pegada" não estão interessados nesses bons exemplos. E a prova está na forma como ultimamente se referem aos agricultores, aos proprietários rurais e às suas actividades. Sempre como se estivessem perante "os bandidos" que vivem constantemente à margem da lei.

Começou com os animais e a necessidade urgente em assegurar um estatuto adequado, pois os animais estão em risco devido à forma como são criados e tratados. Tudo serviu para comprovar essa necessidade e é claro que, à cabeça desses relatos, surgiram centenas casos relacionados com a tauromaquia e a cinegética, demonstrando a necessidade de acabar com essas actividades e costumes.

Mas os autores desses relatos conhecem as actividades que acusam? Conhecem a fundo a forma como são geridas as explorações onde tais actividades se praticam? Reconhecem a evolução no maneio dos animais e dos seus habitats? Não me parece. É fácil reconhecer a culpa e os erros dos outros. Não custa tanto acabar com tradições e costumes que não conhecemos e que não são os nossos.

É claro que um Verão como o de 2017 deu a estes grupos ânimo para mais uma catadupa de intervenções a favor do "bem comum". O eucalipto precisa de ser erradicado a bem da nação e dos passeios de fim-de-semana dos defensores da nostalgia depressiva urbana. E na verdade a bola de neve cresceu tanto que até gente importante arregaçou as mangas e foi para o campo arrancar árvores. Seriam acácias? Não me pareceu até porque essas provavelmente não são tão perigosas, visto que poucos se queixam delas.

Pelo meio temos as famosas limpezas obrigatórias de milhares de hectares de faixas, feita quanto mais cedo melhor pois assim dá-se oportunidade para que cresça mais uma vez antes do fim da Primavera. E se não for feita há que "castigar e punir" esses infractores que tanto mal fazem à nação e ao Mundo.

Agora junta-se a tal pegada de carbono e a necessidade de reconverter o campo e o Mundo Rural para uma coisa que não "tenha tantas emissões". E para tal é fundamental diminuir a área agrícola e a quantidade de animais. O que será a seguir? Deixarmos de produzir para não emitir? Transformarmos o nosso campo nas paisagens pristinas dos contos de fadas, se possível sem gente a incomodar os passeios de Verão dos defensores do bem comum?

Recentemente por ocasião da apresentação de um livro e ao ouvir as palavras da jornalista que nos meus tempos de juventude me relatava ao domingo à noite as vitórias (e as derrotas) do meu clube, não pude deixar de notar no estranho país em que nos estamos a tornar.

Por um lado estava numa sala a ouvir falar de amizade, cumplicidade, civismo, respeito pelos outros, respeito pelos animais e prazer em desfrutar o os produtos e paisagens do nosso Mundo Rural. Por outro recordei tudo o que se disse sobre todos os agricultores, proprietários e gente do campo nos últimos anos. Até sugeriram que precisaríamos de ser mais "civilizados".

Ora algo não está certo. Se cada vez mais turistas no visitam e mais prémios recebemos o que vêm cá fazer? Serão os portugueses bandidos? Serão os nossos produtos maus e pouco seguros? Serão as nossas paisagens assim tão feias?

Não me parece. Se cada vez são mais os que atestam a excelência da nossa gastronomia, das nossas paisagens, dos nossos costumes e da nossa maneira pacata de viver a vida, porque razão insistem em nos apelidar de "pouco civilizados"? Porque razão nos tratam como bandidos que não respeitam a lei? Porque razão perseguem as actividades rurais e tudo fazem para terminar extinguir modos de vida e desrespeitam os nossos valores?

Talvez para satisfazer vontades de um eleitorado mais urbano. Ou para tentar que não reparemos noutras actividades extrativas, essas sim com um impacto bem visível. Talvez porque seja mais fácil castigar um sector que conta pouco para as contas políticas do orçamento de estado. Talvez por ser um sector que não dá tantas audiências.

Ou seja, tenho de concluir que é mais fácil arranjar um sapato excessivamente largo para o pé do Mundo Rural, pois assim compensamos o sapato apertado dos outros sectores e actividades.

Técnico florestal

Produtores querem que preço mínimo do leite ascenda a 37 cêntimos em 2019

Produtores de leite pretendem que o preço mínimo para o leite suba para 37 cêntimos por quilo em 2019, um valor que, dizem, se aproxima do custo de produção.
Produtores querem que preço mínimo do leite ascenda a 37 cêntimos em 2019
Reuters

27 de dezembro de 2018 às 15:27
A Associação dos Produtores de Leite de Portugal (Aprolep) defendeu esta quinta-feira que o preço mínimo do leite pago aos produtores deve ascender a 37 cêntimos em 2019, aproximando-se do custo de produção, para colmatar as dificuldades do sector. 

"Desafiámos a indústria a transformar e a valorizar mais o leite para reduzir importações [...]. E desafiámos a distribuição a seguir o exemplo que adoptou na França e negociar com a indústria transformadora para assegurar aos produtores um preço mínimo de 37 cêntimos", disse, em comunicado, a direção da Aprolep. 

De acordo com os dados do Observatório Europeu do Leite, avançados pela associação, em Outubro, o preço médio do leite fixou-se em 31,1 cêntimos por quilo, cinco cêntimos abaixo do preço médio na União Europeia, enquanto o custo de produção mantém-se superior a 37 cêntimos. 

Os produtores desafiaram também o Governo a "avaliar o resultado da rotulagem da origem do leite para verificar porque não chegou ainda valor acrescentado aos produtores e a bater-se a nível europeu por um mercado responsável que impeça futuras crises de excesso de produção". 

Em causa está o aumento da procura do leite, as ajudas da Política Agrícola Comum (PAC) que não compensam a diferença entre o preço e custo de produção, a perda de produtores e a "falta de visão e falta de ambição" no sector. 

"Assistimos [em 2018] à implementação da rotulagem da origem do leite, mas ainda não vimos o resultado dessa opção no rendimento dos agricultores. Sentimos um aumento da procura de leite por parte das grandes superfícies comerciais que procuram garantir o abastecimento regular das suas lojas com leite nacional, respondendo assim à preferência dos consumidores, mas continuámos durante todo o ano com preços abaixo dos custos de produção e da média europeia", afirmou. 

A Aprolep indicou ainda que, face às dificuldades do sector, os agricultores têm adiado investimentos e não retiram "um salário digno e compensador do trabalho necessário para o cultivo dos campos" e para o cuidado dos animais. 

"A cada ano que passa Portugal perde produtores. Em Agosto já só éramos 4.578, menos 200 que [no período homólogo]. O abandono é mais significativo no continente, onde o número de produtores passou a ser inferior ao número de produtores açorianos desde Fevereiro", acrescentou. 

Segundo a Aprolep, as famílias que resistem têm "cada vez mais dificuldade" em encontrar mão-de-obra para trabalhar no sector e "a situação irá agravar-se à medida que os salários sobem, muito justamente, enquanto o preço do leite ao produtor continua injustamente congelado". 

Em 12 de Dezembro, o ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Capoulas Santos, vincou, no parlamento, que o preço do leite pago ao produtor manteve-se estável até Outubro, podendo aumentar com a abertura de novos mercados.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

A agricultura biológica é pior para o planeta


Por ZAP - 20 Dezembro, 2018
Yen Strandqvist / Chalmers University of Technology


Os alimentos cultivados organicamente têm um impacto climático maior do que os alimentos cultivados convencionalmente, devido à necessidade de maiores áreas de terra para cultivar.

A agricultura biológica, ou agricultura orgânica, tem como principal objetivo maximizar o "natural" e minimizar a interferência química quando os alimentos são produzidos, mas será mesmo a melhor opção para o meio ambiente?

Uma equipa internacional de cientistas defende agora que, como as culturas orgânicas produzem muito menos, porque não são usados fertilizantes para impulsionar as colheitas, é necessária muita mais terra para produzir a mesma quantidade de alimentos biológicos que as culturas convencionais.

A equipa de especialistas concluiu ainda que os alimentos biológicos têm um impacto maior no clima do que os alimentos convencionais devido às emissões extras de dióxido de carbono produzidas pelo desmatamento exigido como resultado de uma produção orgânica menos eficiente.

Stefan Wirsenius, um dos autores do estudo publicado recentemente na Nature, afirmou que "o maior uso da terra na agricultura biológica leva indiretamente a maiores emissões de dióxido de carbono, graças ao desmatamento".

Para o estudo, os cientistas concentraram-se na produção de ervilhas e trigo orgânicos na Suécia. A equipa descobriu que as ervilhas cultivadas de forma biológica têm um impacto 50% maior no clima do que as cultivadas através de métodos convencionais. Para outros alimentos, depararam-se com uma diferença ainda maior, com o trigo a ter um impacto de 70%.

"Este é um grande descuido", afirma o cientista, adiantando que, "como mostra o nosso estudo, este efeito pode ser muito maior do que os efeitos dos gases com efeito de estufa".

Os cientistas salvaguardam que é também provável que haja um efeito indireto para a carne orgânica e produtos lácteos, dado que esses animais são alimentados com alimentos orgânicos, cultivados em fazendas que ocupam mais espaço. Mas, como não foi estudado, ainda não passa de uma hipótese.

Com este estudo, os cientistas não estão a sugerir que a agricultura biológica deva ser posta de lado. Em vez disso, acreditam que o seu uso deve ser cuidadosamente considerado.

"Alimentos orgânicos tem várias vantagens em comparação com os alimentos produzidos por métodos convencionais. Mas quando se trata do impacto climático, o nosso estudo mostra que a comida orgânica é uma alternativa muito pior", adianta Wirsenius.

ZAP // ScienceAlert

O bacon provoca cancro? Chefe de agência da ONU defende os seus estudos


Conclusões de Christopher Wild têm merecido críticas por ligar a carne processada e o glifosato ao cancro. O diretor da agência de pesquisa sobre o cancro diz que tem havido mal-entendidos e aponta o dedo aos críticos.

DN
26 Dezembro 2018 — 10:19

O chefe da agência da ONU que provocou protestos, e foi mesmo ridicularizado por alguns setores, quando declarou que o bacon, a carne vermelha e o herbicida glifosato provocam o cancro, veio defender o seu trabalho, negando que essas conclusões sejam desajustadas e insistindo na independência do seu trabalho.

De saída do cargo, Christopher Wild defendeu afincadamente as decisões e a transparência da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Cancro (IARC), e passou ao ataque - falou nos interesses dos seus críticos, muitos dos quais são de corporações multinacionais.

Wild, um cientista britânico que está no comando da IARC há dez anos, admitiu agora numa entrevista ao Guardian que pode haver necessidade de explicar melhor ao público o que tem procurado com os seus estudos: evidências científicas sobre o que, de telemóveis (provavelmente) a café (sem provas), causa cancro. Reconheceu que o seu trabalho às vezes é mal compreendido.


"O público mudou. Se recuar 10 a 15 anos, a audiência dos estudos era profissional - agências reguladoras, cientistas, legisladores de diferentes tipos. Agora há tanto interesse no cancro e nas suas causas que há um público mais geral", disse.

Em reação à notícia de que carne processada era cancerígena, Wild diz que "não houve especulação". "O nosso papel é sintetizar as evidências. Analisamos se algo tem potencial para causar cancro em algumas circunstâncias ". O cientista confessa que ficou surpreendido com a polémica causada pelas suas conclusões desde 2015. "A ciência era cristalina. Colocamos um pouco de ênfase na relação entre quantidades ingeridas e efeito."

"A ciência era cristalina. Colocamos um pouco de ênfase na relação entre quantidades ingeridas e efeito"

A IARC trabalhou com a Organização Mundial de Saúde no desenho de uma estratégia de comunicação. "No entanto, não estávamos preparados para a escala de resposta e de interesse nisso", disse Wild. "Isso levou a muitas discussões internas e com nossos colegas da OMS sobre como podemos coordenar melhor a avaliação científica e depois os conselhos sobre saúde pública".

Mas há um mal-entendido geral do sistema de classificação da IARC, reconhece. O tabaco, a radiação ultravioleta e o álcool são todos cancerígenos de grau 1, o que não surpreende ninguém, porque se ligam respetivamente a cancros de pulmão, pele e fígado (e outros). Assim é o bacon processado e outras carnes processadas. Isso não significa que todos sejam igualmente perigosos.

A IARC diz que 50 gramas de carne processada por dia aumenta o risco de cancro colorretal em 18%. Isso ainda não é alto se a pessoa tiver um risco inicial muito baixo. Fumar, por outro lado, mata metade daqueles que o fazem.

Sobre a carne vermelha e a processada, Wild diz que "muitas das agências de notícias disseram que é sobre moderação de consumo e não dizem para não comer carne vermelha ou carne processada. Mas a parte que falta e que temos de ser nós a fazer, junto com a OMS, é uma diretriz sobre o que isso significa para o público. Foi aí que sentimos que precisávamos de trabalhar juntos, muito mais de perto, no processo de planeamento. "

No caso do glifosato, houve reações muito negativas aos estudos de Wild. Desde a avaliação, divulgada em março de 2015, Wild aponta que "a agência tem estado sujeita a esforços coordenados e sem precedentes para minar a avaliação, o programa e a organização. Esses esforços têm deliberadamente e repetidamente deturpado o trabalho da agência. Os ataques foram em grande parte da indústria agroquímica e dos meios de comunicação associados ".

Emirados Árabes Unidos investem 174 MEuro em centros tecnológicos agrários em Angola


Os Emirados Árabes Unidos (EAU) vão investir 200 milhões de dólares (174 milhões de euros) em 18 centros tecnológicos agrários em Angola, indicou hoje o Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDA) angolano.


Lusa
21 Dezembro 2018 — 19:48

Segundo o diretor do IDA, David Tunga, a decisão consta de um memorando de entendimento assinado hoje em Luanda, entre a instituição tutelada pelo Ministério da Agricultura e Florestas angolano, e o diretor de gabinete do Governo dos EAU, xeque Ahmed Dalmjook Al Maktoum.

O investimento, a ser executado em cerca de cinco a sete anos nas 18 províncias angolanas, visa capacitar quadros do setor da Agricultura e Florestas e camponeses em técnicas de produção, processamento e comercialização dos bens agrícolas.

Numa primeira fase, sublinhou David Tunga, será implementado nas províncias do Bié, Huambo, Luanda e Bengo, avançando posteriormente para as restantes.


Todos os centros tecnológicos vão ter laboratórios para análises aos solos das diferentes províncias, a fim de aferir a necessidade ou não de nutrientes, uma vez que vai existir uma estrutura de processamento de mistura de fertilizantes para satisfazer cada região.

Segundo David Tunga, cada província terá um centro principal e, em função disso, surgirão centros pequenos, a nível municipal.

Na primeira fase da implementação do projeto, acrescentou, a gestão ficará sob responsabilidade dos investidores, "de forma a recuperar o investimento feito", disse.

Depois da consolidação, prosseguiu David Tunga, o projeto será entregue ao Governo de Angola para gestão autónoma.

David Tunga explicou que, com o projeto, se pretende alcançar o máximo de famílias em cada província, com base no número de camponeses nelas existentes.

Por sua vez, Ahmed Dalmjook Al Maktoum disse que quer avançar com os projectos "rapidamente", de forma a aumentar a produção e dar apoio ao setor agrícola de Angola.

"Congratulamo-nos com o Governo de Angola e perspetivamos outras oportunidades de investimentos internacionais, uma vez que há maior credibilização no mercado angolano", manifestou o governante dos EAU.

Valor da produção agrícola em Portugal sobe acima da média da UE


Segundo o gabinete estatístico da UE, as contas económicas da agricultura mostram que a produção nos 28 Estados-membros se fixou em 432,6 mil milhões de euros

LUSA 16 de Novembro de 2018, 12:17 Partilhar notícia

DANIEL ROCHA
O valor da produção agrícola em Portugal aumentou 7%, para os 7,5 mil milhões de euros em 2017 face ao ano anterior, acima da média da União Europeia (6,2%), segundo o Eurostat.

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Considerando as componentes da produção agrícola, a produção vegetal nacional aumentou 9% face a 2016, a produção animal 4,5%, os serviços agrícolas 2,2% e as actividades secundárias inseparáveis 4,4%.

O valor da produção agrícola aumentou em quase todos os Estados-membros, com especial relevo para a Estónia (18,2%), a Irlanda (13,6%), a Roménia (13,2%), o Reino Unido (12,6%) e a Polónia (11,1%).

A Eslovénia (com um decréscimo de 4,7%) e Malta (com uma diminuição de 3,1%) viram o valor da produção agrícola recuar de 2016 para 2017 e na Croácia e Eslováquia manteve-se estável.

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Entre os Estados-membros com maior produção agrícola total, o indicador progrediu 8,6% na Alemanha, 4,5% em Espanha, 3,2% em França e 2,2% em Itália.

Segundo o gabinete estatístico da UE, as contas económicas da agricultura mostram que a produção nos 28 Estados-membros se fixou em 432,6 mil milhões de euros a preços de base de 2017, um aumento de 6,2% face a 2016.

A França é o país com maior peso na produção agrícola (72,6 mil milhões de euros, 17% do total da UE), seguindo-se a Alemanha (56,2 mil milhões de euros, 13%), a Itália (55,1 mil milhões de euros, 13%), a Espanha (50,6 mil milhões de euros, 12%), o Reino Unido (31,8 mil milhões de euros, 7%), a Holanda (28,9 mil milhões de euros, 7%), a Polónia (24,9 mil milhões de euros, 6%) e a Roménia (17,7 mil milhões de euros, 4% da UE).

Agricultura. Solos em Portugal já não são o que eram


CAROLINA BRÁS
27/10/2018 14:47

Picos de calor e seca extrema, chuva repentina e fora de época e rajadas de vento que destroem tudo por onde passam. O clima em Portugal está a mudar o setor agrícola é um dos que mais sofre com esta alteração. O i falou com responsáveis de algumas associações de produtores e com o secretário geral da Confederação dos Agricultores de Portugal para perceber quais as consequências destas mudanças  

O clima em Portugal já não é o que era e as mudanças estão à vista. Este ano assistimos ao setembro mais quente desde 1931, depois de junho ter sido o segundo mais chuvoso do século e de julho ter sido o mais frio. Em outubro, Portugal recebeu a visita da tempestade Leslie com chuvas e rajadas de ventos fortes. A instabilidade, variabilidade e imprevisibilidade do clima é agora um dos maiores desafios para os agricultores que pretendem continuar competitivos e com capacidade para responder a ameaças nas diversas culturas. 

Para Luís Mira, secretário geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), uma das soluções para contornar as alterações climatéricas terá de passar por um mudança de culturas e de hábitos agrícolas em Portugal. "A questão vai afetar todo o país. Obviamente mais o centro, que neste momento já tem menos chuva, mas no norte também vai aumentar muito a temperatura", explica ao i que, no entanto, recusa alarmismos porque, como explicou, a falta de condições para algumas culturas é o suficiente para serem criadas outras, como o amendoal que se produz cada vez mais no Alentejo. 

"Nós fazíamos culturas que não era possível fazer em Inglaterra, mas daqui a 50 anos vai ser possível fazer as culturas em Inglaterra que nós fazíamos aqui e nós passaremos a fazer outras. É isto que as alterações também vem dar", explica. 

Uma realidade que para o presidente da Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais (ANPOC), José Palha está muito presente nos agricultores de cereais uma vez que já existem trabalhos em conjunto com o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) para estudar quais as culturas mais produtivas no norte de África que possam ser adaptadas às nossas condições que "são cada vez mais parecidas

O que é certo é que os dados meteorológicos já são conhecidos: além do calor, aquele que foi o setembro mais quente desde que há memória levou também ao aumento da área em seca meteorológica em todo o país. No final do mês, 91,6% encontrava-se em seca fraca e 6,8% em seca moderada. Uma situação que pode afetar mais produções agrícolas do que outras. Uma das zonas que poderá ser mais penalizada será a região Oeste. "A zona oeste corre o risco de, no futuro, não ter baixas temperatura no inverno e isso impede a fruta de frutificar, o que é complicado porque água ainda se consegue arranjar, temperaturas baixas não" explicou ao i o secretário geral da CAP. 

"Em janeiro tivemos recordes de temperaturas mínimas, em setembro recordes de temperaturas mais altas e em outubro rajadas de ventos fortíssimas. É uma situação complicada para a agricultura", diz Domingos dos Santos, presidente da Associação Nacional de Produtores de Pera Rocha que conta também que já "a seca do ano passado, depois as chuvas tardias, alteraram os ciclos das estruturas".

Os agricultores de vários setores contactados pelo i estão preocupados com estas alterações, até porque os picos climáticos sentidos em Portugal são o que mais prejudicam as produções. "Temos anos com muita chuva e outros com pouca. Os períodos de seca são gravíssimos porque quando chove nunca é suficiente" e "há zonas do país que não estão preparadas para este tipo de alteração", confessou João Coimbra diretor da Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sogro (ANPROMIS). 

Segundo Jorge Soares, presidente da Associação de Produtores de Maça de Alcobaça, "as culturas mais afetadas foram a macieira e a pereira" e as consequências foram significativas. "Um percentual de frutos queimados pelo sol, um percentual de frutos cozidos pelo excesso de temperatura e um percentual de perdas em crescimento e em quantidade". 

Produtos beneficiados Mas esta instabilidade no clima não é má para todas as produções. Há algumas culturas que beneficiaram do clima que se fez sentir este ano. "Para os cereais foi um ano extraordinário porque [...] as culturas tiveram um desenvolvimento ótimo e a maior vantagem foram as temperaturas baixas na primavera como aquelas chuvas. Tivemos um ano de produção muito bom, ao contrário do que aconteceu o ano passado", contou José Palha, presidente da ANPOC. Ainda assim, admite que "a enorme variabilidade do tempo" é uma preocupação.

José Palha destacou o abandono de terrenos como uma das consequências do clima, uma preocupação que não é partilhada por Luís Mira ao explicar que "a terra que é boa não se abandona", mas acrescenta "o que acontece é que as terras não são todas iguais e que as abandonadas não têm é mais capacidade produtiva".

 Além da seca, a passagem do furacão Leslie trouxe também algumas dores de cabeça a alguns agricultores uma vez que "é uma atividade ao ar livre e está sempre sujeita ao impacto positivo ou negativo das condições climáticas" como referiu Mariana Matos, secretária geral da Associação do Azeite de Portugal.

"O que é facto é que ainda agora assistimos a um furacão que destruiu as culturas todas no vale do Mondego, destruiu tudo por onde passou e deixou um rasto de destruição. Estas alterações climáticas deixam de estar num campo de impossibilidade ou de inexistência e é aí que está o problema", afirmou Luís Mira.

Portugal terá de devolver quase 2 milhões de euros em ajudas agrícolas


6/12/2018, 11:09

Bruxelas considerou indevidas ajudas a agricultores nos Açores no valor de quase 2 milhões de euros por não cumprirem regras da UE, tendo identificado falhas em controlos administrativos.

Portugal declarou despesas na medida "Desenvolvimento Rural, investimentos FEADER -- beneficiários privados", as quais Bruxelas considerou indevidas
ANTONIO JOSE/LUSA

Portugal vai ter de reaver quase dois milhões de euros de ajudas a agricultores nos Açores que Bruxelas considerou indevidas, segundo um acórdão esta quinta-feira proferido pelo Tribunal Geral da União Europeia (TGUE).

O TGUE negou esta quinta-feira provimento ao recurso de Portugal de uma decisão da Comissão Europeia que identificou falhas em controlos administrativos e considerou ter havido financiamento de despesas agrícolas que não cumpriram as regras da UE.


A Comissão Europeia tinha notificado as autoridades portuguesas, em 2013, sobre deficiências verificadas nos controlos feitos a despesas declaradas por Portugal na medida "Desenvolvimento Rural, investimentos FEADER — beneficiários privados" nos exercícios contabilísticos de 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014, no âmbito do Prorural — Programa de Desenvolvimento Rural da Região Autónoma dos Açores 2007-2013.

Em novembro de 2016, Bruxelas decidiu que Portugal teria que reaver 1.990.810,3 euros de despesas declaradas por ter considerado não ter sido possível "avaliar devidamente a razoabilidade dos custos apresentados por três beneficiários do apoio relativo à competitividade dos setores agrícola e florestal que diz respeito a medidas destinadas a reestruturar e desenvolver o potencial físico e a promover a inovação através do aumento do valor dos produtos agrícolas e florestais".

Portugal recorreu desta decisão e, esta quinta-feira, o TGUE negou provimento ao recurso, considerando que "a Comissão verificou, corretamente, que os pagamentos anteriores a 12 de setembro de 2011 que tinha identificado numa carta de setembro de 2014 eram suscetíveis de serem excluídos do financiamento da União". Por outro lado, o acórdão salientou que Bruxelas "apresentou provas de dúvida séria e razoável" sobre os controlos feitos pelas autoridades portuguesas.

domingo, 2 de dezembro de 2018

Alterações climáticas e esgotamento dos solos enfraquecem sistemas alimentares


SOCIEDADE 28.11.2018 às 10h11

 
Nuno Botelho

De acordo com um relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura a segurança alimentar está igualmente ameaçada por conflitos civis e outro tipo de disputas
As Nações Unidas consideram que alimentar um planeta faminto é cada vez mais difícil, porque as mudanças climáticas e o esgotamento dos solos e outros recursos estão a enfraquecer os sistemas alimentares.

Um relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) divulgado hoje diz que são necessárias melhores políticas para alcançar a "fome zero", acrescentando que o aumento da população exige o fornecimento de alimentos mais nutritivos a preços acessíveis.

Mas, prossegue o documento, o aumento da produção agrícola é difícil, tendo em conta o "estado frágil da base de recursos naturais", uma vez que os seres humanos ultrapassaram a capacidade de carga da Terra em termos de solos, água e alterações climáticas.

Cerca de 820 milhões de pessoas estão desnutridas, refere o relatório, divulgado pela FAO e o Instituto Internacional de Pesquisas sobre Políticas Alimentares no início de uma conferência global destinada a acelerar os esforços para alcançar a fome zero em todo o mundo.

A segurança alimentar continua fraca para muitos milhões de pessoas que não têm acesso a dietas acessíveis e adequadamente nutritivas por uma variedade de razões, sendo a mais comum a pobreza.

De acordo com o relatório, a segurança alimentar está igualmente ameaçada por conflitos civis e outro tipo de disputas.

No Iémen, onde milhares de civis morreram em ataques aéreos perpetrados por uma coligação liderada pela Arábia Saudita, o grupo de ajuda 'Save the Children' diz que 85 mil crianças menores de cinco anos podem ter morrido de fome ou de doenças durante a guerra.

No Afeganistão, as secas severas e os conflitos desalojaram mais de 250 mil pessoas, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

O diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva, observou que o número de pessoas famintas e subnutridas no mundo subiu para níveis de há uma década.

"Depois de décadas de ganhos no combate à fome, este é um sério revés e a FAO e as agências irmãs da ONU, juntamente com governos membros e outros parceiros, estão muito preocupadas", disse Graziano da Silva, numa mensagem de vídeo transmitida durante a conferência.

A fome ainda é mais severa na África, mas o maior número de pessoas subnutridas vive na região da Ásia-Pacífico, segundo o relatório, que defende que melhores políticas públicas e a tecnologia são as chaves para melhorar a situação.

A FAO estima que a procura global por alimentos crescerá 50% entre 2013 e 2050. Os agricultores podem expandir o uso da terra para ajudar a compensar parte da diferença, mas essa opção é restrita em lugares como a Ásia e o Pacífico e a urbanização está a consumir ainda mais terras do que aquelas que poderiam ter sido usadas para agricultura.

Aumentar a produção agrícola além dos níveis sustentáveis pode causar danos permanentes aos ecossistemas, segundo o relatório, que sublinha a erosão do solo, a poluição com cobertura de plástico, os pesticidas e fertilizantes e a perda de biodiversidade.

De acordo com o documento, a China destrói 12 milhões de toneladas de sementes contaminadas por ano, com uma perda de quase 2,6 biliões de dólares.

Lusa

O Porto é o “rato” que come o queijo do Douro


A desgraça do Douro reside nos preços miseráveis que são pagos pelas uvas e pelos vinhos. Os durienses vivem, essencialmente, das uvas e do vinho e, se o que recebem não dá para pagar as despesas, é normal que emigrem em busca de uma vida melhor.

1 de Dezembro de 2018, 2:54 Partilhar notícia

Álvaro Domingues publicou no passado domingo, no PÚBLICO, um extraordinário ensaio: "Desemparados- Para uma geografia emocional do interior". Um zoom hiper-realista sobre os chamados "territórios de baixa densidade". Devia ser de leitura obrigatória, para se perceber como chegámos até aqui, com uma grande parte do país a penar por ter calhado "no lado errado do mapa".

Apenas uma citação: "O ciclo vicioso — emigração, envelhecimento, quebra da natalidade, despovoamento, escassez de oferta de emprego —, deixou a maioria do país em estado de coma. A rapidez do processo provocou um certo atordoamento. Chega a haver escolas novas para alunos que não há; sem os serviços de apoio aos idosos que são cada vez mais, e mais fragilizados e ainda mais idosos. O paradoxo é que mesmo onde há investimentos agrícolas fortes — Douro Vinhateiro, perímetros de rega do Mira e do Alqueva —, a saída de população continua e o emprego não aparece."

Miss Inês pega no que tem dentro do coração e desenha pontos e linhas que são histórias
O paradoxo do Douro, sempre o paradoxo, o mesmo que durante muito tempo se explicava com a figura do rato e do queijo, como lembrava num debate recente António Magalhães, o responsável pela viticultura da Taylor's e das outras empresas do grupo Fladgate Partnership. O queijo era a riqueza do Douro, o seu vinho; o rato era o "inglês", o comerciante que comprava e vendia o vinho e só ia ao Douro na vindima.

Ainda há quem insista que a culpa de o Douro ser uma região rica habitada por pobres e velhos continua a ser do papão "inglês". Não faço parte desse grupo. Houve um tempo, quando a região vivia só do vinho do Porto e o negócio era dominado por famílias britânicas, em que esse chavão podia fazer algum sentido. Eram elas que tinham o poder de definir os preços. Foi, basicamente, para combater esse poder que nasceu a Casa do Douro. Ao intervir no mercado, comprando os vinhos que não se vendiam, evitava assim uma maior degradação dos preços. Mas um dia a Casa do Douro quis ser ela própria o "rato" e passar também a produzir e a vender vinho, através da Real Companha Velha. Comprou 40% da empresa, pelos quais pagou 9,6 milhões de contos, nunca retirou qualquer dividendo e acabou com a língua de fora, asfixiada em dívidas. A gula dá nisto. A propósito: o que é feito desses 40% da Real Companhia Velha?

Há uns 30 anos, a região passou a fazer vinho tranquilo. O negócio diversificou-se, entraram novos operadores e deu-se o boom do turismo. Mesmo assim, o paradoxo continua imutável. Mas, agora, já não podemos culpar só o "inglês". Dos cinco grandes colossos do negócio do vinho no Douro, dois são ingleses (Symington e Fladgate Partnership), um é francês (Gran Cruz), outro é venezuelano (Sogevinus) e outro é português (Sogrape). 

Tenho uma tese sobre o paradoxo do Douro. Na minha opinião, o "rato" morou sempre no Porto e falou sempre várias línguas, português incluído. Para o Douro (como para Trás-os-Montes), o centralismo do Porto é muito pior do que o centralismo de Lisboa. A tutela dos vinhos do Douro e Porto nunca esteve verdadeiramente em Lisboa. Na capital ninguém percebe nada de vinho. O negócio foi sempre tutelado a partir do Porto. Ainda hoje. É o eixo Porto-Gaia, com o seu directório, que decide os destinos do Douro e que avaliza as escolhas políticas. O "rato" anda entre a Ribeira (um pouco mais acima, na verdade) e o cais de Gaia.

A desgraça do Douro reside nos preços miseráveis que são pagos pelas uvas e pelos vinhos. Os durienses vivem, essencialmente, das uvas e do vinho e, se o que recebem não dá para pagar as despesas, é normal que emigrem em busca de uma vida melhor. Não há explicação possível para se continuar a pagar 30 ou 40 cêntimos por cada quilo de uvas produzidas na região, quando, por exemplo, se paga mais de um euro por cada quilo de uvas de Alvarinho em Monção-Melgaço. O custo real de produção de um quilo de uvas no Douro, que é uma região de montanha, anda entre os 70 e os 90 cêntimos. Para não terem prejuízo, era este o valor que os agricultores deviam receber. Mas deviam receber mais, porque não basta trabalhar para não ter prejuízo. Quem tem uma vinha, herdada ou comprada, devia poder ganhar dinheiro com ela e, dessa forma, ter uma vida digna e poder pagar justamente aos assalariados. As grandes empresas não vendem vinho apenas para pagar as despesas. Vendem para ganhar dinheiro. Um agricultor que ganha dinheiro é um emigrante a menos e mais uma fonte de mão-de-obra para a região.


De quem é a culpa dos preços baixos? Do mercado, respondem sempre as grandes empresas, como se o mercado fosse uma coisa abstracta, como se elas próprias não influenciassem o mercado. Se há um desfasamento entre a oferta e a procura, então resolva-se esse desfasamento. Não é possível impor preços administrativos, mas pode-se introduzir mecanismos que ajudem a corrigir os preços. E é sempre possível ser-se mais justo e generoso e, com o exemplo, influenciar o mercado.


O mercado tem as costas largas, mas não foi o mercado que, por exemplo, levou o IVDP, há uns anos, a diminuir a quantidade de "benefício" por hectare (autorização para produzir vinho do Porto) às vinhas com as letras mais baixas. A medida, tomada em nome da qualidade e sem qualquer contrapartida para os atingidos, beneficiou sobretudo os proprietários das quintas maiores, situadas junto ao rio, e acelerou ainda mais a desertificação e a pobreza das aldeias dos altos, que foram sempre as principais fornecedoras de mão-de-obra da região.

Foi o "rato" do Porto. O mesmo "rato" que colocou Manuel Cabral como presidente do IVDP e que, através dele, foi revertendo a regionalização deste instituto, centralizando-o de novo no Porto. É admissível que não haja uma feirinha, um Wine Day, uma coisinha chique tipo sunset party no Douro, o local onde se produz o vinho, e se continue a investir fortunas apenas no Porto? (Ah, este ano fizeram uma regata!) Os turistas estão no Porto e, se os turistas comprarem vinho, quem ganha, são os durienses, contra-argumenta o directório do Porto-Gaia. É um patusco, este "rato". Sempre a zombar.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Agricultura só é competitiva em regadio


O vale do Tejo tem cerca de 120 mil hectares em regadio que está dependente do caudal do rio Tejo, que fornece os aquíferos onde os agricultores se vão abastecer de água. Mas a região precisa de resolver os problemas de escassez, salinização e qualidade da água.
Agricultura só é competitiva em regadio

Para João Lima, administrador do INIAV, considera que a gestão da água tem várias dimensões e é estratégica.Inês Gomes Lourenço

Filipe S. Fernandes
06 de novembro de 2018 às 15:15

"Hoje em dia a agricultura profissional tem de ser feita em regadio para ser competitiva, porque se não é muito difícil sobreviver. Em Portugal temos o handicap dos custos energéticos porque no Norte da Europa chove… com as alterações climáticas isto também está a mudar", refere Jorge Neves, director-geral da Agromais. O vale do Tejo tem cerca de 120 mil hectares em regadio, que está dependente do caudal do rio Tejo. É este que abastece os aquíferos a que os agricultores recorrem para as regas. Jorge Neves alerta para os riscos a longo prazo. 

"A Espanha tem grandes necessidades de água para a produção agrícola de hortícolas e frutícolas. Os transvases são fundamentais para a sua agricultura e são feitos, sobretudo a partir da bacia do Tejo. Em Portugal tem de se pensar numa forma de fazer a retenção dessa água. Criar novos regadios é importante mas não cuidar de um regadio existente, que é o Vale do Tejo, é imprudente". Até porque pode dar argumentos aos espanhóis para reterem mais água, pois Portugal deixa que "a água vá regar o mar", como diz José Potes, presidente do Politécnico de Santarém.

No Vale do Tejo, segundo João Lima, no regadio é preciso encontrar soluções para as próximas décadas. Além disso, a região de Vale do Tejo precisa de resolver os problemas de escassez, salinização e qualidade da água.

Eficiência e retenção

Mas há mais aspectos a considerar na gestão da água, salienta João Lima. A eficiência no uso da água na exploração é um caminho que o sector tem feito de uma forma transformadora. Este uso eficiente de água reflecte-se nos custos da energia, que tem um peso muito elevado nos custos de produção. 

Com as alterações climáticas e os eventos extremos, tem de se pensar na retenção das águas nas explorações agrícolas, o que implica que os agricultores façam investimentos para reter a água e garantir uma estabilidade de água ao longo do ciclo produtivo. José Potes assinala que se tem de recuperar o solo, que é a peça fundamental para o armazenamento de água. Disse que "aumentar em 3% a matéria orgânica dos solos significa aumentar a capacidade de armazenamento de 5 mil milhões de metros cúbicos de água, é quase o dobro do armazenamento da água do Alqueva. Aumenta também a eficiência de todos os sistemas de agricultura e um equilíbrio entre a intensificação, que gera mais valor, e a extensão".

Uma espécie de plano Alqueva para o Tejo
"O Alqueva é o sistema que mais tem contribuído para o crescimento da agricultura em Portugal", salientou João Lima. Defende que o Plano para o Vale do Tejo está numa fase inicial mas teve o mérito de lançar a discussão sobre o impacto em termos de produção, área regada, impacto ambiental. Ricardo Gonçalves, presidente da Câmara Municipal de Santarém, pretende que pelo menos parte do plano entre no programa de investimentos 2030. Salienta que "hoje os grandes decisores políticos já têm a percepção da importância para a região e o país do plano Tejo, que é um projecto estrutural para o país a médio prazo".

O Projecto Tejo pretende regar cerca de 300 mil hectares, dos quais 260 mil hectares, no Vale do Tejo, e 40 mil hectares na região Oeste. O investimento global rondará aproximadamente 4500 milhões de euros. Na génese da ideia estiveram os irmãos Manuel e Miguel Campilho, da Quinta da Lagoalva, assessorados tecnicamente por Jorge Froes, um especialista na área da engenharia hidráulica.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Exportações do agroalimentar nacional cresceram 6% até agosto


Nuno Miguel Silva 22 Outubro 2018, 07:45

O setor agroalimentar nacional gerou exportações de 6,6 mil milhões de euros em 2017

As exportações do setor agroalimentar nacional cresceram 6% nos primeiros oito meses deste ano fsace ao período homólogo de 2017, revelou hoje Luís Medeiros Vieira, secretário de Estado da Agricultura e Alimentação, na cerimónia de inauguração da feira SIAL Paris 2018.


No entanto, Luís Medeiros Vieira não revelou o valor das exportações.

De referir que no ano passado, o setor agroalimentar nacional gerou exportações de 6,6 mil milhões de euros.

A SIAL é a maior do setor alimentar a nível mundial.

Nesta edição, Portugal via estar representado através de 117 empresas, que marcam presença, na sua maioria, sob a marca-chapéu Portugal Foods ou enquadradas no InovCluster da Região Centro.

A visita do secretário de Estado às empresas nacionais na SIAL está a prosseguir durante esta tarde, tendo Luís Medeiros Vieira sublinhado que "a crescente participação de empresas nacionais neste tipo de eventos contribui para o aumento das exportações dos nossos produtos agroalimentares, uma relação que tenho vindo a comprovar ao longo do tempo".

"O Governo tem vindo a acentuar a aposta na internacionalização e nas exportações, acelerando o processo de abertura de novos mercados", destaca um comunicado do Ministério da Agricultura.

Segundo Luís Medeiros Vieira, esta é "uma dinâmica que é fruto, em primeiro lugar, do empenho e determinação dos nossos empresários, que apostam cada vez mais na inovação e na internacionalização", acrescentando que "para estes objetivos contribuem também as políticas públicas, nomeadamente através da diplomacia económica, tendo este Governo já aberto mais de 50 mercados para Países Terceiros, estando a trabalhar ativamente para a abertura de mais 53 novos mercados, bem como o apoio ao investimento privado nas empresas".

Fazendo um balanço na área do investimento, o secretário de Estado lembrou que "foram já aprovados mais de 20.000 projetos no PDR 2020, que correspondem a um investimento de 3,1 mil milhões de euros, aos quais foram concedidos incentivos a fundo perdido de 1,5 mil milhões de euros".

O Melhor Jovem Agricultor Europeu de 2018 é português


Projecto de um amendoal superintensivo em Portel, Évora, valeu a Manuel Grave, de 29 anos, o prémio Melhor Jovem Agricultor Europeu 2018.

P3/LUSA 19 de Outubro de 2018, 15:47 Partilhar notícia

O promotor do amendoal superintensivo em Portel (Évora) que ganhou esta quinta-feira, 18 de Outubro, o prémio Melhor Jovem Agricultor Europeu 2018, em Bruxelas, mostrou-se "feliz" com a distinção. "Estou muito feliz com a atribuição deste prémio e significa, principalmente, que as escolhas que fizemos são bem vistas pelo comité de júri do congresso, o que indica que esta exploração estará no bom caminho para ser sustentável, inovadora e do maior sucesso", afirmou Manuel Grave, contactado pela agência Lusa.

O prémio Melhor Jovem Agricultor Europeu 2018 foi atribuído, em Bruxelas (Bélgica), ao projecto de Manuel Grave, que investiu na instalação de um amendoal em regime superintensivo numa exploração no concelho de Portel, segundo divulgou a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP).

Segundo a CAP, o jovem agricultor alentejano viu o seu projecto, numa área de cerca de 70 hectares, premiado no Congresso Europeu de Jovens Agricultores, que decorreu na sede do Parlamento Europeu, em Bruxelas. O investimento envolve a instalação de um amendoal com uma densidade de 2.469 árvores por hectare, das variedades Soleta e Lauranne, ambas com boa aceitação de mercado e ajustadas ao modelo superintensivo.

O projecto vencedor foi ainda escolhido pelas suas preocupações ambientais e de gestão dos recursos hídricos e pela criação de postos de trabalho.


1,5 milhões de euros de investimento

O jovem agricultor alentejano, de 29 anos, explicou à Lusa que o projecto está situado na freguesia de Portel, em terrenos arrendados, e envolve um investimento de 1,5 milhões de euros, com apoios do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR) 2020.

"Isto só foi possível devido ao apoio da Europa e também do projecto Alqueva", porque, "sem o perímetro de rega, não teria havido possibilidade nenhuma de fazer este projecto", já que é a água disponibilizada pelo empreendimento que permite "dinamizar uma zona que era muito pobre" e com terras "secas", afiançou Manuel Grave.

As árvores foram plantadas no ano passado, entre Outubro e o início de Novembro, num "regime de alta densidade ou em sebe", que "tem várias vantagens", como "a entrada em produção mais rápida, a facilidade na colheita" e "nas podas" e o facto de acompanhar os outros regimes "na produção cruzeiro", precisou. Trata-se de um moelo "muito inovador", sublinhou o agricultor, assinalando que as suas árvores ainda não entraram em produção, o que está previsto apenas "para o Verão de 2020".


As nossas escolhas alimentares: as acções são o nosso futuro
No tipo de pomar, existem "muitas árvores por hectare", as quais "criam uma sebe, como se fosse uma vinha", mas com preocupações ambientais e de poupança de água, segundo a CAP e o agricultor. "Apesar de ter mais árvores por hectare, o consumo de água acaba por ser menor, porque a área de folhas da árvore é menor e são as folhas que respiram e bebem água", destacou, acrescentando que "a rega é da mais alta tecnologia", com "gotejadores de última geração que deitam a água de que a árvore necessita".

Num concelho como o de Portel, que tem terras "boas, mas maioritariamente secas", e, por isso, tem "pouco dinamismo agrícola, com a possibilidade da criação destes projetos, houve criação de postos de trabalho, tanto sazonais, como fixos", e atração de empresas prestadoras de serviços, congratulou-se ainda o agricultor. Já este ano, Manuel Grave, que possui mestrado em Engenharia Agronómica, tinha conquistado em Portugal o prémio de Jovem Agricultor do Ano, com o mesmo projecto.

Autarcas confiantes na construção da Barragem do Pisão no Alto Alentejo

A Barragem do Pisão já foi anunciada por três primeiros-ministros, Mário Soares, António Guterres e Durão Barroso, mas continua por construir.


A aldeia de Pisão será submersa pela barragem ANTONIO CARRAPATO

Os autarcas do distrito de Portalegre afirmaram-se nesta terça-feira confiantes na construção da Barragem do Pisão, no Crato, num investimento de 100 milhões de euros, depois de uma reunião com os ministros do Ambiente e da Agricultura.

A concretização do projecto hidroagrícola, reivindicado há dezenas de anos por diversos sectores regionais, foi discutida, na segunda-feira, em Lisboa, numa reunião solicitada ao Governo pela Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo (CIMAA).

"Estamos confiantes que a barragem vai avançar. Só o perímetro de rega é de 9.500 hectares, que serviria uma série de concelhos", disse nesta terça-feira à agência Lusa o presidente da CIMAA, Ricardo Pinheiro, referindo que o projecto constitui também como um "reforço" à Barragem de Póvoa e Meadas, em Castelo de Vide, que abastece oito dos 15 municípios do distrito.

Além dos ministros do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes, e da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Luís Capoulas Santos, participaram na reunião os presidentes dos municípios do Crato, Campo Maior (também líder da CIMAA), Portalegre, Avis, Fronteira, Sousel, Alter do Chão e Castelo de Vide e os deputados eleitos por Portalegre, Luís Moreira Testa (PS) e Cristóvão Crespo (PSD).

Segundo o presidente da Câmara do Crato, Joaquim Diogo, o Ministério da Agricultura "assume o valor da rede de rega na totalidade".

"Os autarcas assumiram o contributo, até ao limite, para a transferência das pessoas que vivem na aldeia do Pisão e parcelamento do terreno e o Ministério do Ambiente compromete-se em liderar todo este processo e o valor do investimento público quanto à água", disse à Lusa o autarca do Crato, concelho para onde está projectada a barragem.

Pisão espera há 50 anos por uma barragem

O projecto hidroagrícola de fins múltiplos, que prevê à submersão da pequena aldeia do Pisão, com 60 habitantes, foi recentemente alvo de um estudo da Associação de Produtores Agrícolas de Precisão e que foi apresentado ao Governo.

Segundo o estudo, a que a Lusa teve acesso, a obra deverá ter um custo total de 100 milhões de euros, cinco milhões dos quais para o projecto de execução e 10 milhões para o realojamento dos habitantes da aldeia de Pisão.

O estudo prevê ainda 35 milhões de euros para a construção da barragem e 50 milhões para a rede de rega.

Já a CIMAA prevê que a barragem possa ter uma capacidade para 114 milhões de metros cúbicos de água, podendo, além de "reforçar" a Barragem de Póvoa e Meadas, "garantir" o subsistema do Caia, que abastece os concelhos de Arronches, Elvas, Campo Maior e Monforte.

Os 9.500 hectares de regadio serviriam os campos agrícolas dos concelhos de Alter do Chão, Avis, Crato e Fronteira, podendo, neste sector, serem criados "500 postos de trabalho" directos, segundo os autarcas.

"Neste bolo todo [100 milhões de euros] faltam cerca de 25 milhões de euros, que têm de entrar através do Orçamento do Estado", referiu o presidente da Câmara do Crato, realçando que, na reunião de segunda-feira, "o ministro do Ambiente chamou o processo a ele, em coordenação com a Secretaria de Estado da Energia".


Joaquim Diogo considerou ainda que "o mais importante" da reunião foi o sentimento por parte dos autarcas de um "compromisso" dos ministros, situação que não se verificava anteriormente.

A Barragem do Pisão já foi anunciada por três primeiros-ministros, Mário Soares, António Guterres e Durão Barroso, mas continua por construir, sendo considerada por diferentes entidades da região como um projecto "estruturante" para o desenvolvimento do distrito de Portalegre.

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Agroglobal começa quarta-feira em Valada com perto de 400 expositores


A Agroglobal, que se reclama como "a maior feira agrícola da Europa a céu aberto", começa na quarta-feira em Valada, Cartaxo (Santarém), com perto de 400 expositores e mais de 100 máquinas agrícolas a trabalhar plantações de diferentes culturas.

Realizando-se nos cerca de 200 hectares de terreno do mouchão da Fonte Boa, propriedade do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), junto ao rio Tejo, a Agroglobal -- Feira das Grandes Culturas "valoriza o saber de experiência feito de gerações de agricultores, mas, ao mesmo tempo, exibe os meios tecnológicos e científicos que um enorme conjunto de empresas coloca à disposição do setor de forma permanentemente renovada", afirma a organização.

Ao longo de três dias, o certame permite aos profissionais do setor assistirem ao vivo ao trabalho de mais de uma centena de conjuntos de tratores e alfaias, alguns deles a serem apresentados pela primeira vez ao mercado português, refere.

Promovida pela Valinvest, Investimentos e Gestão Agrícola, em colaboração com a Agroterra, a feira, que se realiza de dois em dois anos, começou em 2009 focada então na cultura do milho e com a presença de uma centena de expositores, envolvendo atualmente "toda a agricultura portuguesa", com o número de produtores e empresas de toda a fileira a crescer em cada edição.

Este ano com a presença de perto de 400 expositores "e mais de 35.000 profissionais", a maior participação de sempre, a Agroglobal alargou as culturas na parte dos pomares, "acompanhando o que se passa na atividade agrícola portuguesa -- o olival, as amêndoas, as nogueiras, mas também o melhor que se faz no Oeste - a pera e a maçã -, que estão a ter uma importância cada vez mais significativa", realça.

O vasto programa de seminários inclui, quinta-feira de manhã, uma palestra de Paulo Portas, ex-vice-primeiro ministro e ex-líder do CDS-PP, para falar sobre "Tendências, Riscos e Oportunidades para a Agricultura Portuguesa no Mundo Atual", integrando o programa dos colóquios que vão decorrer no auditório Armando Sevinate Pinto.

Os debates, que vão decorrer também no auditório Companhia das Lezírias, concluem-se na sexta-feira à tarde com uma sessão sobre "Revisão da PAC 2020 -- que Valor Acrescentado para os Agricultores Europeus", que será encerrada pelos ministros da Agricultura de Portugal, Capoulas Santos, e de Espanha, Luis Puchades.

O certame volta a ter em destaque o espaço para apresentação de projetos inovadores, o AgroInov, e este ano disponibiliza um 'Business Center', para facilitar a realização de negócios, contando ainda com dois espaços de restauração, com vista para o rio, também eles requisitados para eventos de entidades e empresas dirigidos a potenciais clientes.

Sob o slogan "Nós Semeamos... Negócio!", a Agroglobal convida os visitantes a "pôr os pés na terra" e assistir às numerosas demonstrações e ensaios nos mais de 160 hectares de terrenos ocupados com culturas de milho (grão e silagem), tomate, vinha, girassol, olival, sobreiro, pinheiro, eucalipto, amêndoa, batata, mirtilo, pera rocha, laranja, pistáchio, noz, pimento, framboesa.

Aos campos de ensaios -- fertilização, sementes, agroquímicos, rega --, juntam-se áreas de trabalho de máquinas, pistas para as diversas marcas de tratores e alfaias e zonas específicas para pulverização aérea em pomares, vinha e culturas anuais.

“Cultura de canábis pode gerar uma mais-valia por hectare completamente inédita”

José Pedro Salema, presidente da EDIA - Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva. 

02.09.2018 / 07:25 

A canábis medicinal pode ser a próxima aposta agrícola no Alqueva, depois do olival e da amêndoa. O presidente da EDIA explica o que está a mudar. A seguir Alqueva vai crescer em 2018 para garantir mais regadio e abastecimento público 

José Pedro Salema tem a cargo a economia da água e a promoção do regadio na região do Alqueva. É, desde 2013, o presidente do conselho de administração da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA), uma empresa pública com contas no vermelho e pressionada pelos custos da energia que usa para fazer chegar a água a novas zonas do Alentejo. Não vai haver margem para voltar a baixar tarifas aos agricultores, mas estão em marcha os primeiros concursos públicos que representam novo investimento na infraestrutura: mais 50 mil hectares de regadio e a construção de uma central de energia solar. 

O perfil de culturas da região já está a mudar. "A diferença é entre o dia e a noite", diz. E há novidades "picantes", como projetos de canábis medicinal em estufa – alguns dos interessados são emigrantes portugueses. À semelhança de 2017, houve um período de seca neste ano. A EDIA conseguiu responder a todos os pedidos de água da primeira metade do ano? Este ano foi completamente diferente do de 2017, no qual tivemos muitos dias de onda de calor, desde muito cedo e durante muito tempo. O consumo de água foi muito grande. Também tivemos pedidos dos nossos vizinhos que têm áreas de regadio. Tivemos uma subida muito grande desses pedidos. 

Estivemos no fio da navalha para conseguir responder, mas conseguimos. Neste ano, pusemos todas as cautelas e caldos de galinha no máximo, preparámos a campanha com muito mais cuidado. Garantimos o abastecimento a estes clientes grandes que têm barragens antes do pico da campanha. Estamos muito mais descontraídos. Fomos ajudados também com o clima. O verão quase só começou em agosto. A satisfação dos pedidos é integral. Acreditamos que vamos continuar assim até ao final do ano. Houve redução de pedidos? Houve uma redução em volume, mas em termos de área servida houve uma subida. Temos assistido nos últimos anos a um crescimento continuado da área à qual entregamos água para regar. Em 2018 subiu outra vez. 

A taxa de adesão, que é a nossa métrica de velocidade de adesão dos agricultores ao regadio, está a atingir os 80%, que era a nossa meta de longo prazo. Era de 76% no ano passado. E neste ano devemos chegar muito perto dos 80%. Reduziram o tarifário de água no ano passado, mas há ainda produtores que a consideram muito cara. A EDIA tem vindo a manifestar que a estrutura de custos é muito influenciada pela questão da energia. Há margem para abater tarifas? A decisão é política. O que fixa o preço da água em Alqueva é um despacho do ministro da Agricultura, do ministro do Ambiente e do ministro das Finanças. O processo de redução do preço foi complicado. Há interesses conflitantes. Por um lado, a Agricultura quer dar melhores condições aos agricultores. Mas há também a salvaguarda dos recursos hídricos do lado do Ambiente, e as Finanças, com a questão das contas públicas. A EDIA está integrada no perímetro de consolidação e, portanto, receitas da EDIA são também receitas do Orçamento do Estado, assim como custos são custos do Orçamento. Não é muito fácil descobrir outra solução. A proposta de redução que partiu da EDIA teve que ver com as poupanças que conseguimos antecipar em resultado do projeto fotovoltaico e em resultado da expansão. Antecipámos essas poupanças já em 2017. Houve uma decisão política de baixar o preço pensando nas conquistas que se vão obter. Em 2023? Há projetos que já estão a começar. O projeto fotovoltaico tem concursos na rua hoje. Está a avançar. Não é futurologia, não é só Powerpoint. Mas é preciso ir com cautela. 

Objetivamente, se formos analisar a estrutura de custos de cada uma das atividades que beneficiam da água, vemos que o peso da água não é muito relevante, não é determinante. É óbvio que quem compra diz sempre que é cara. Quando os agricultores percebem que quando a sua voz atinge determinado volume o decisor político reage, tentam fazer pressão. Na EDIA temos de ser imunes a essas coisas, ouvir e apresentar os números. É uma empresa do Estado. E há também as restrições legais. Os estados da UE não podem subsidiar o preço da água. Todos os custos têm de ser refletidos na tarifa. É um equilíbrio muito difícil. E baixar o custo? Aí já estamos a entrar no campo das possibilidades. É possível baixar custos, mas já descemos o preço a contar com algumas coisas. Agora temos de verificar se essas poupanças vão concretizar-se, e se conseguimos poupar ainda um bocadinho mais. Não há bons indicadores. Se olhar para o preço do mercado grossista da eletricidade, estamos a bater recordes históricos. Não vamos conseguir produzir com o nosso projeto fotovoltaico toda a energia de que precisamos, vamos estar sempre dependentes da energia da rede. A energia está com tendência de subida, o que não é bom sinal. A água vai ter de acompanhar o preço da energia. É o custo principal, 80% do custo variável é energia. Há também um contrato com um produtor de energia hidroelétrica, a EDP, de 2007, que a EDIA reconhece que tem um impacto muito negativo na sua atividade. O contrato com a EDP para a subconcessão [da barragem do Alqueva] foi fixado em 2007 e ficará fixo. São muitos anos em que a renda é garantida. Podia ser maior? Podia. Mas é uma decisão tomada há mais de dez anos e que não temos posto em causa. Nem vamos pôr. Os atuais inquéritos em curso às rendas da energia podem determinar alguma mudança? Não. O Tribunal de Contas publicou um relatório sobre a adjudicação da central de Alqueva em 2016. As recomendações à EDIA foram implementadas no dia seguinte. Eram publicar os contratos no site. Da nossa parte, esse processo está encerrado. Se há ilações a tirar, são ilações políticas. Não são ilações técnicas nem jurídicas. O processo para o início de construção do vosso projeto fotovoltaico está em que passo? Está a decorrer o primeiro concurso para 1 MW em terra. Vamos lançar em breve uma outra unidade de 1 MW na água. 

Depois, há algumas pequenas unidades também já em construção. Estamos a preparar um grande concurso, de cerca de 50 MW, no final do verão. Penso que em setembro, outubro, o concurso sairá para que o mercado responda. O objetivo é conseguimos boas propostas para baixar a nossa fatura energética. Já há muitas manifestações de interesse? Muitas. Nos primeiros concursos apareceram logo uma dezena ou mais de empresas, até a pedir a prorrogação de prazos por estarmos em agosto. Nacionais e internacionais? Sim, ambas. Quando vão ser lançados os primeiros concursos da expansão do regadio? Temos concursos já encerrados e em fase de análise. Temos já dois concursos em análise: a ligação a Sines e o [bloco de rega] Cuba-Odivelas. Temos concurso em execução para reforço das bombas numa estação elevatória muito grande, dos Álamos. Estamos a preparar mais concursos muito em breve, para a área de Évora e para a área de Viana do Alentejo, que serão os próximos, e depois também, no final do verão, Reguengos e Póvoa-Moura-Amareleja. O concurso de Reguengos está atrasado? Sim, houve algum atraso. Tivemos problemas no projeto e a emissão da Declaração de Impacto Ambiental (DIA) também leva sempre mais tempo do que planeámos inicialmente. Já temos a proposta da DIA. 

Estamos agora a preparar o concurso. Não tardará muito. A falta de bombas nos Alámos tem sido um fator limitador da capacidade em períodos de pico. Quanto tempo vai demorar o projeto a ser terminado? Só no verão de 2020 teremos mais duas bombas. Temos de enfrentar estes dois anos com tranquilidade. Porquê? Porque o sistema que está dependente das bombas tem uma grande albufeira de reserva, o Alvito, que tem 50 a 55 milhões de metros cúbicos úteis. Mesmo que ambas as bombas dos Álamos avariassem, ainda tínhamos o Alvito cheio e conseguíamos assegurar o resto da campanha. Em 2019, vamos ter uma gestão semelhante. Vamos garantir que a reserva está no máximo, encher o Alvito antes da campanha de verão. Temos ali dezenas de milhões de metros cúbicos que asseguram um mês ou dois de fornecimento. Que novos investimentos agrícolas têm surgido no Alqueva? Continua a haver muito interesse em amêndoa e olival. São as duas culturas que geram mais investimento e transações. Mais o amendoal do que o olival, hoje. Mas o olival tem ainda muitos projetos novos. Depois, têm surgido alguns investidores com coisas mais giras, e mais picantes. A canábis medicinal? Como está a evoluir o interesse? Mesmo agora, no princípio de agosto, tivemos três contactos de seguida de investidores à procura de terra para fazer canábis medicinal. Não sei se avançam ou não, mas é interessante. Segundo eles, é uma cultura que pode gerar uma mais-valia por hectare completamente inédita. São valores com mais alguns zeros do que a melhor cultura agrícola que conseguimos imaginar. Mas a ocupação de área não é significativa. Os modelos de que nos falaram são produções em estufa que ocupam 5,10, 20 hectares. Há projetos de amendoal de dois mil hectares. Há projetos nacionais? São projetos por investidores estrangeiros, alguns de emigrantes portugueses que estão a voltar. Portanto, as novidades são em olival, amêndoa e canábis. Depois temos as hortícolas, as frutícolas. Há projetos de frutas de caroço: pêssegos, nectarinas, ameixas, alperces. Temos algumas hortícolas de alguma relevância, como as curbitáceas: melão, melancia, abóboras, já com alguma expressão. A cebola também está a aparecer. Há muita cebola a ser entregue a Espanha para o McDonald's. O perfil de culturas mudou muito? Se vamos comparar o Alentejo de há dez anos com o de hoje, a diferença é entre o dia e a noite. Mudou completamente o perfil. Se se pensava também que era só olival e mais nada – e se fosse só olival já era muito bom –, vamos ter muitas outras coisas. Na última campanha, Portugal bateu recorde de produção de azeite. Três quartos daqui. Três quartos daqui. Mas isso não vai parar. Nós temos muitos olivais que ainda nem sequer entraram em produção porque as árvores são pequenas. Quando todos os projetos que já conhecemos estiverem em plena produção, vamos ter mais não sei quantas mil toneladas de produção nacional de azeite. Vamos continuar nessa senda. E a seguir, muito rapidamente, vamos começar a ouvir falar de recordes de produção de amêndoa. Temos aqui sete ou oito mil hectares de amendoal moderno e muito produtivo. Produzem 20 vezes mais do que um amendoal tradicional. Vamos bater muitos recordes e espero que apareçam outras culturas. Os produtores do Alqueva estão a integrar bem a agricultura de precisão e outras novas ferramentas de eficiência? Temos uma sorte extraordinária porque no Alqueva é tudo novo. Não há ninguém que se lance a fazer um projeto em 2018 e que vá usar tecnologia de 1990. Vai buscar o melhor que há. Tem todas essas preocupações de eficiência energética, eficiência hidráulica, agricultura de precisão, modos de produção sustentáveis. Tudo isso é a regra. Há sempre algumas pessoas ou jornalistas mais alarmistas que gostam de ir à procura do que correu mal. E, com certeza, nos muitos milhares de hectares que temos há alguns agricultores com más práticas agrícolas. Mas essa não é a norma. A regra é que os projetos são muito cuidados, muito apoiados em tecnologia e em conhecimento. Os próprios fornecedores dos agricultores já são muito mais sofisticados e estão cá baseados. As empresas de rega, que antes só tinham sede em Santarém, todas têm uma delegação em Beja. Todo esse ecossistema é muito mais sofisticado. A segunda fase de expansão do regadio do Alqueva ainda não é o limite? É muito perto disso. A água não estica. Estamos a trabalhar com base na concessão que temos. É de 75 anos para extrair do Guadiana 600 milhões de metros cúbicos por ano. É com essa água, face aos consumos que temos observado nos últimos dez anos, que conseguimos aumentar a área beneficiada em mais cerca de 50 mil hectares. Estamos a fazer render o peixe. Vamos distribuir a água que temos por mais, e garantir que a água que temos é de facto toda utilizada. Nunca chegámos nem perto disso. Mesmo em 2017, verão excecional de consumos, retirámos apenas cerca de 400 milhões de metros cúbicos. Acreditamos que conseguimos servir mais 50 mil hectares, mantendo todas as garantias de fornecimento que já temos: a possibilidade de poder atravessar períodos de seca de três anos com abastecimento a toda a gente. Há ainda áreas que gostariam de ser servidas e que não vão ter infraestruturas nesta segunda fase. O que é que a EDIA lhes pode dizer? O que posso dizer é que quando o mapa da expansão que está em cima da mesa estiver concluído vamos estar muito perto da nossa capacidade máxima. Vamos ter de ir vendo, na medida dos recursos e dos consumos verificados, se é possível ou não algum alargamento adicional. Mas nunca nesta escala. Em 2023, nunca estaremos a falar de mais dezenas de milhares de hectares. Poderão ser mais mil, mais dois mil. Isso conseguimos enquadrar. Em 2015 afirmou numa entrevista que a EDIA ganharia em ser privatizada. Porquê? Acho que nunca disse isso. Julgo que sim. Ou, pelo menos, assim foi interpretado. Algum jornalista deve ter posto isso em destaque, mas não é essa a ideia. Da nossa parte não há nenhum preconceito, relativamente a ser privatizada ou não, desde que seja mantido o conceito. Se mantivermos a ideia de ter uma empresa cujo fim não é o lucro, mas o desenvolvimento regional, é complicado pensar numa estrutura privada que queira fazer isso. Só as fundações têm esse objetivo. As infraestruturas de distribuição de água são monopólios naturais. E em todos os monopólios existe a tentação monopolista, que é quando o operador do mercado exerce o seu poder e extrai mais vantagem dos clientes. Para combater a tentação monopolista, o que é que se faz no regadio? Ou se entrega a uma entidade que é um conjunto de beneficiários que não quererão ir contra os próprios interesses, ou então a uma entidade pública que tem uma finalidade muito controlada. Foi o que foi feito na EDIA. Tem o objetivo de desenvolver a região por via da gestão e da construção de infraestruturas e não vai extrair mais valor dos seus clientes porque não é essa a sua missão. Não vai dar tiros no pé. Se cobrássemos o dobro pela água tínhamos menos clientes, não promovíamos tanto o desenvolvimento regional. É muito difícil pensar em concessões. A não ser que um privado consiga fazer este trabalho melhor do que a EDIA, ganhando dinheiro e ainda poupando aos clientes, o que acho muito difícil. Foi mal interpretado? Se calhar falei nisso como uma possibilidade. E, do meu ponto de vista, não há qualquer impedimento. O cenário de hoje é que não é atrativo. Qualquer analista vê nas nossas contas que esta empresa não é privatizável. Não é privatizável uma empresa que tem capitais próprios negativos [299,4 milhões de euros]- isto é, que está tecnicamente falida – se não tiver um ativo extraordinário. O ativo que nós temos é o nosso contrato de concessão, a capacidade de gerar cash-flows futuros, porque se acredita que a base de clientes não vai embora. Os agricultores não vão embora e vão continuar a comprar a água. Mas, se os preços são limitados por decreto-lei, nunca vamos conseguir gerar lucros muito interessantes. Mas esta missão pública está melhor no quadro em que está? Sim. Agora, qual é a minha visão? É tentar limpar as contas da EDIA o melhor possível. Se eu conseguisse que o Estado liquidasse toda a dívida, seria fantástico. Gostava muito mais de terminar o mandato com umas contas muito mais sanadas do que aquelas que tive quando peguei na empresa. Se puser a empresa num ponto em que o dono, o Estado, possa tomar a decisão de privatizar ou não, tanto melhor. É o ponto em que devemos querer todas as empresas.