sábado, 27 de janeiro de 2018

Rede de Rega vai chegar aos agricultores de Óbidos em setembro


CONFAGRI 25 JAN 2018

A Rede de Rega das Baixas de Óbidos, um investimento de 28 milhões de euros, deverá começar a funcionar em setembro deste ano, 40 anos depois de iniciado o projeto que irá servir cerca de 900 agricultores.

«O Bloco de Óbidos está em condições para começar a regar em setembro de 2018», disse à Lusa o presidente da Câmara de Óbidos, Humberto Marques, durante uma visita à obra da Rede de Rega das Baixas de Óbidos.

De acordo com o autarca, nessa data estarão «prontos a funcionar as condutas e os hidrantes, que integram a rede com mais de 50 quilómetros, bem como a estação elevatória e o título habilitante da utilização da água em relação ao qual só falta uma vistoria ao talude», após o que será possível «abrir as torneiras e começar a regar».

A rede de regadio das baixas de Óbidos representa um investimento de 28 milhões de euros, dos quais 22,2 milhões comparticipados pelo Programa de Desenvolvimento Regional (PRODER).

O projeto servirá cerca 900 agricultores das freguesias da Amoreira e do Olho Marinho, no concelho de Óbidos, e do Pó e da Roliça, no concelho do Bombarral.

A obra desenvolveu-se em duas fases, a primeira das quais a construção de uma estação elevatória que filtrará a água para a rega, e que se encontra já em construção.

A segunda fase respeita à construção de 50 quilómetros de tubagem por onde passarão 5,5 milhões de metros cúbicos de água, que irrigarão 750 hectares de parcelas agrícolas do concelho de Óbidos e 450 hectares do concelho do Bombarral.

Com o bloco de Óbidos prestes a ser concluído, seguir-se-á o Bloco da Amoreira, atualmente em «fase de análise de propostas» estimando o autarca que «em meados deste ano se esteja em condições de fazer a consignação da obra», que só em 2019 estará pronta a regar.

A entrada em funcionamento da rede de rega vai conduzir a «mais do que uma duplicação» da capacidade produtiva dos terrenos, estimou Humberto Marques, explicando que «um terreno hoje que não é regado e que em média produz cerca de 12 toneladas por hectare com rega facilmente vai acima das 30 toneladas».

Uma subida que não se refletirá «na duplicação dos rendimentos dos agricultores, porque na passagem de um sequeiro para um regadio há também um aumento de custos», mas, ainda assim, a expetativa de Humberto Marques é que o regadio traga um crescimento de ganhos «na ordem dos 50 a 60 por cento».

A rede de rega irá sobretudo beneficiar pomares e culturas hortícolas, mas, segundo Humberto Marques, poderá resultar «numa diversificação de culturas», especialmente em «nichos de mercado que podem ir do figo da índia, romã» ou até «no setor da vinha, mais ligado a conceitos culturais e de ligação ao turismo e outros setores da atividade económica».

As vantagens do regadio foram também enaltecidas por José Diogo Albuquerque e Amândio Torres, ex-secretários de Estado que enquanto governantes negociaram fundos para a execução da rede, que começou a ser projetada em 1977.

Na década de 80 foram desenvolvidos estudos prévios e elaborados projetos para o aproveitamento hidroagrícola das baixas de Óbidos, terrenos agrícolas que se estendem desde a muralha do Castelo aos limites do concelho.

Em 1995 foi feito um estudo para o emparcelamento e um estudo de impacto ambiental do projeto e em 2000 é iniciada a Barragem do Arnoia, destinada à retenção de água para servir a rede de rega.

Porém, apesar de a barragem estar concluída desde 2005, o investimento de 6,5 milhões de euros está até agora desaproveitado, aguardando a conclusão da rede que só em 2014 foi candidatada ao PRODER e em 2016 consignada a obra.

Em outubro de 2016 foi finalmente adjudicada a rede de rega considerada pelos dois ex-governantes que hoje visitaram a obra, «um passo fundamental» na expansão do regadio em Portugal.

Fonte: Lusa

Governo altera pagamentos diretos aos agricultores, imobiliárias e aeroportos podem candidatar-se


25/1/2018, 15:59

O governo alterou o regime de pagamentos diretos aos agricultores e abriu o financiamento aos operadores dos serviços de caminho-de-ferro, aeroportos, distribuição de água ou empresas imobiliárias.

O governo alterou esta quinta-feira o regime de pagamentos diretos aos agricultores, abrindo o financiamento a quem não tem a agricultura como principal atividade e aos operadores dos serviços de caminho-de-ferro, aeroportos, distribuição de água ou empresas imobiliárias.

Em 2013, numa alteração dos Conselho e parlamento europeus a este regime, foram limitadas as ajudas diretas aos agricultores ativos, exigência reforçada numa outra alteração legislativa em 2015, e proibiram-se pagamentos diretos a empresas gestoras de aeroportos, de caminhos de ferro, sistemas de distribuição de água, empresas imobiliárias ou terrenos desportivos e recreativos permanentes, mas permitindo a cada Estado alterar essa regra.

Esta quinta-feira, naquela que é a sexta alteração ao regulamento comunitário dos regimes de pagamento base, pagamento por práticas agrícolas benéficas para o clima e para o ambiente, pagamento para os jovens agricultores, pagamento específico para o algodão e regime da pequena agricultura, é eliminada a distinção entre agricultores ativos e não ativos e deixa de ser aplicada em Portugal aquela proibição.

"No que respeita à condição de agricultor ativo, face à dificuldade verificada na aplicação da lista negativa de atividades e aos elevados custos administrativos daí decorrentes, superiores ao benefício resultante da exclusão de um número muito limitado de beneficiários, opta-se pela sua não aplicação a partir de 1 de janeiro de 2018", lê-se na portaria hoje publicada, com efeitos retroativos ao primeiro dia do ano.

Os agricultores com direito ao regime de pagamento base são também abrangidos pelo pagamento de ajudas diretas por práticas agrícolas benéficas para o clima e o ambiente (greening), como a diversificação das culturas, a manutenção dos prados permanentes e a superfície de interesse ecológico.

O diploma publicado altera a definição de prado permanente, que passa a incluir determinadas árvores que produzem alimentos para animais.

Também as parcelas de pousio a considerar superfícies de interesse ecológico passam a não poder ser mobilizadas, nem apresentar produção agrícola ou ser pastoreadas, no período entre 1 de fevereiro e 31 de julho, embora sejam permitidas ações destinadas a estabelecer uma cobertura do solo por coberto vegetal para efeitos de biodiversidade, incluindo a sementeira de misturas de flores silvestres.

O acesso às ajudas diretas pelos jovens agricultores é, segundo o diploma, "facilitado" durante o período de cinco anos subsequente à primeira data de solicitação do apoio, desde que este se tenha verificado até cinco anos após a primeira instalação na exploração agrícola.

Alteração na selagem do vinho de origem Porto é "positiva" para o setor - AEVP


A Associação das Empresas de Vinho do Porto (AEVP) considerou hoje "positiva" a decisão de tornar facultativa a selagem das garrafas com selo no gargalo, uma vez que "anula a disparidade entre Porto e Douro".

Em declarações à agência Lusa a Diretora Executiva da Associação das Empresas de Vinho do Porto (AEVP), Isabel Marrana explicou que a medida hoje aprovada pelo Governo "ratifica a decisão em 2017 do Conselho Interprofissional do Instituto do Vinho do Porto (IVDP)".

Na reunião de hoje do Conselho de Ministros (CM) foi aprovado o decreto-lei que torna facultativo o procedimento de selagem das garrafas de vinho com denominação de origem "Porto" por aposição de selo no gargalo, sendo retirada a "exigência especial quanto à forma de colocação do selo de garantia, podendo os engarrafadores optar por outras formas de selagem", indica comunicado do CM.

"Trata-se de algo que o setor entende como positivo e que anula a disparidade entre Porto e Douro", observou Isabel Marrana, explicando que, até hoje, a certificação que o Instituto do Vinho do Porto e Douro faz ao Vinho do Porto só podia ser "visualizada num selo de bandolete, colocado sobre a rolha da garrafa".


Em contraponto, "no Douro, o IVDP já tinha uma modalidade facultativa, onde essa certificação podia ser exibida ou sobre essa bandolete ou em contrarrótulo, ou num dístico autónomo ao lado do contrarrótulo", acrescentou, defendendo "não haver razão nenhuma para que no Porto não houvesse um regime similar ao vinho do Douro".

"Este sentimento foi transmitido pelo comércio e pela produção ao IVDP, que concordou e o aprovou em Conselho Interprofissional, seguindo depois os seus trâmites", elencou a responsável, garantindo que a novidade estética "não provocará nenhuma alteração ao nível do preço das garrafas".

A Lusa tentou também obter um comentário do IVDP mas, até ao momento, não foi possível.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Governo ajusta critérios de elegibilidade de pequenos investimentos agrícolas do PDR 2020


CONFAGRI 24 JAN 2018
partilhar
O Governo efetuou ajustamentos aos critérios de elegibilidade e seleção das candidaturas aos apoios para pequenos investimentos na exploração agrícola e na transformação e comercialização de produtos agrícolas para garantir «maior eficiência» na operacionalização do Programa de Desenvolvimento Rural 2020.

De acordo com a Portaria nº 34/2018 (https://www.confagri.pt/content/uploads/2018/01/Portaria_34_2018.pdf), publicada esta quarta-feira em Diário da República, a alteração «resulta da reprogramação efetuada ao PDR (Programa de Desenvolvimento Rural) 2020» e «visa assegurar os ajustamentos necessários a uma maior eficiência na operacionalização» da medida n.º 3 – "Valorização da produção agrícola".

Entre outras alterações à portaria, que entra em vigor na quinta-feira, para serem elegíveis os beneficiários devem ter «a situação tributária e contributiva regularizada perante a administração fiscal e a Segurança Social», sendo que os candidatos aos apoios a pequenos investimentos na exploração agrícola devem ainda ser titulares da exploração agrícola, efetuar o respetivo registo no Sistema de Identificação Parcelar e ter um volume de negócios ou de pagamentos diretos cuja soma seja igual ou inferior a 100 mil euros no ano anterior ao da apresentação de candidaturas.

Fonte: Lusa

Projeto do cadastro registou mais de 7.100 pedidos para georreferenciação de 16 mil terrenos


CONFAGRI 24 JAN 2018

O projeto-piloto do cadastro, a funcionar desde novembro em dez municípios, registou já «mais de 7.100 pedidos de agendamento», que se estima corresponderem a «cerca de 16 mil prédios», revelou esta quarta-feira fonte do Ministério da Justiça.

«A implementação do Sistema de Informação Cadastral Simplificada está dentro das expectativas e projeções criadas, na maioria dos concelhos, nomeadamente da região do Pinhal Interior, onde a procura está a ser muito elevada», informou a tutela, em resposta à agência Lusa, indicando que, neste momento, existem vários municípios com as agendas preenchidas até aos meses do verão.

Os municípios que integram o projeto-piloto do cadastro são Pedrógão Grande, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Góis, Pampilhosa da Serra, Penela, Sertã, Caminha, Alfândega da Fé e Proença-a-Nova.

«Até ao momento foram feitos 4.296 processos de representação gráfica georreferenciada que correspondem a um total de 4.386 matrizes», avançou fonte do Ministério da Justiça, no âmbito dos dois meses de implementação do projeto-piloto do cadastro.

Na fase inicial do projeto, cerca de 86,4 por cento do total da área física dos dez municípios não estava registada no Instituto dos Registos e do Notariado (IRN), já que foram contabilizados apenas 256.618 registos, representando um total de área registada de 337 quilómetros quadrados (Km2).

A área total dos dez concelhos é de 245.821 hectares, dispersos por 64 freguesias, onde vivem 73.981 habitantes, de acordo com os dados divulgados pelo gabinete do Ministério da Justiça.

Relativamente a matrizes fiscais, os dados da Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) indicaram, na fase inicial, a existência de 677.849 matrizes nos dez municípios, sendo que cerca de 470 mil não tinham correspondência em termos de registo.

Neste âmbito, a tutela destacou a importância do Balcão Único do Prédio (BUPi), um balcão físico e virtual criado para reunir toda a informação registal, matricial e georreferenciada relacionada com os prédios.

Para o Ministério da Justiça, o cadastro é «um projeto ambicioso, inovador que apela à capacidade das administrações públicas, central e local, de resolverem um problema que se arrasta há mais de 40 anos».

«A dimensão do desafio é grande mas a razão de termos chegado a este ponto é consequência da desvalorização do território e da floresta e de um modelo económico de exploração da floresta desadequado. É isto que o Governo pretende alterar. Sendo que o BUPi é um elemento de identificação dos proprietários do território que ajudará a inverter a situação», afirmou fonte da tutela, referindo que o projeto-piloto tem contado com informação de dados de 15 entidades públicas, designadamente os dez municípios abrangidos, o Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP), o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), a Direção Geral do Território (DGT), o Instituto dos Registos e do Notariado (IRN) e a Autoridade Tributária e Aduaneira (AT).

No âmbito dos dois meses do projeto-piloto, o Governo considera que já foram alcançados «alguns dos objetivos essenciais que se colocavam nesta fase», nomeadamente a implementação correta no terreno do cadastro, «sem problemas ou sobressaltos tecnológicos, com formação a todos os funcionários do IRN e autarquias que acompanham o BUPi».

«Podemos hoje afirmar que estamos com um número crescente de registos bem como de agendamentos futuros, cerca de 7.100, que nos cria, conjuntamente com outras medidas, boas expectativas para ainda este ano apresentarmos a seu tempo os resultados desejados», advogou a tutela, acrescentando que já foram identificadas «algumas oportunidades para ganhar escala» no âmbito do crescimento do projeto-piloto.

Neste sentido, o Ministério da Justiça está a trabalhar num «aumento da capacidade instalada de técnicos, mas também em formas alternativas e paralelas de realizar este trabalho que hoje apenas está a ser feito tendo por base as declarações da localização e limites efetuadas pelos próprios interessados».

Fonte: Lusa

CNA considera que projeto do estatuto da agricultura familiar é "bastante redutor"

A Confederação Nacional de Agricultura (CNA) considerou hoje que o projeto de lei do estatuto da agricultura familiar "é bastante redutor", ao não contemplar parte do setor visado.

"Este projeto, no nosso entender, é bastante redutor, porque não contempla uma vasta camada de pequenos agricultores, nomeadamente, aqueles que querem investir, assim como não contempla a população idosa que continua a ser o sustentáculo de algumas povoações", disse um dos membros da direção da CNA à Lusa, após ser recebido, em audiência, pelo ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural.

Conforme indica Alfredo Campos, a CNA defendeu ainda que os efeitos da seca e dos incêndios continuam a refletir-se na população e nos produtores.

"Os produtores florestais têm agora muita dificuldade em escoar a madeira queimada e necessitam também de apoio para a reposição do material produtivo", destacou.

Para o responsável da CNA, é importante "dinamizar" a agricultura familiar, recorrendo a medidas que permitam a fixação da população, pois, sem preços "justos e compensadores", ninguém fará agricultura.

"O ministro [Capoulas Santos] demonstrou acolhimento face às nossas propostas sobre o estatuto. Em relação ao que aconteceu no verão, deu-nos a entender que o Governo já investiu muito na recuperação dos prejuízos e nas indemnizações, mas está, no nosso entender, muito aquém das necessidades", concluiu.

Produção das barragens da EDP afundou 55% em 2017 devido à seca


A seca registada em Portugal provocou uma forte queda na produção hídrica. Para compensar, a eléctrica aumentou a produção de electricidade a partir de gás e de carvão.
Produção das barragens da EDP afundou 55% em 2017 devido à seca

24 de janeiro de 2018 às 17:37

A produção de electricidade da EDP manteve-se relativamente estável em 2017 face a 2016, com um acréscimo de 0,1%. Apesar da eléctrica contar com mais potência derivado a novas centrais eólicas, a seca registada em Portugal afectou negativamente o resultado.

Segundo a empresa, este resultado é reflexo da "maior produção eólica resultando do aumento de capacidade", mas que foi "parcialmente mitigado pelos recursos hídricos" na Península Ibérica.

Portugal registou volumes hidricos 53% abaixo da média histórica em 2017, face aos volumes 33% acima da média registados em 2016, destaca a EDP no comunicado divulgado esta quarta-feira, 24 de Janeiro.

Em Portugal e Espanha, a produção hídrica recuou assim 55% para 7.200 gigawatts hora (GWh) em 2017. Ao mesmo tempo, a produção de electricidade a partir de gás natural subiu 53% (8.029 GWh) e a produção a partir de carvão aumentou 27% para 16.847 GWh. Já a produção de energia nuclear, na central espanhola de Trillo, recuou 0,3% para 1.236 GWh, enquanto a produção nas mini-hídricas, cogeração e resíduos recuou 38% para 503 GWh.

Olhando para o fornecimento de electricidade a clientes, o número de clientes de electricidade em Portugal subiu 4% para 4,1 milhões, enquanto em Espanha aumentou 6% para 1,1 milhões. Em relação ao gás, o número de clientes subiu 11% em Portugal para 658 mil, enquanto em Espanha avançou 3,8% para 883 mil.

Por volumes vendidos, a venda de electricidade em Portugal recuou 0,2%, e em Espanha recuou 16%. Já o volume de gás vendido recuou 17% em Portugal e 22% em Espanha.

Analisando a potência total da EDP, a capacidade instalada aumentou 6,4% em 2017 para um total de 26,8 gigawatts. O crescimento deve-se a nova capacidade eólica (624 MW), duas novas barragens em Portugal (1.000 MW), Venda Nova III e Foz Tua.

Municípios rejeitam diploma do Governo que os obriga a limpar a floresta


23 jan 2018 16:51

A Associação Nacional de Municípios Portugueses anunciou hoje que rejeita a legislação que responsabiliza as autarquias pela limpeza das florestas, caso os proprietários não a façam, e garantiu que vai pedir uma reunião com urgência ao Governo.
 
O Conselho Diretivo (CD) da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) aprovou hoje, "por unanimidade", uma posição contra o projeto de diploma do Governo sobre a gestão de combustível nas matas, no âmbito do Sistema Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios, disse o presidente da associação, Manuel Machado, que falava aos jornalistas depois de ter participado numa reunião daquele órgão, em Coimbra.

A posição contra o projeto de Regime Excecional das Redes Secundárias de Faixas de Gestão de Combustível, preconizado no artigo 153.º do Orçamento do Estado para 2018 (Lei 114/2017), foi aprovada por "todos os membros do CD", que são autarcas eleitos pelo PS, pelo PSD e pela CDU, e vai ser transmitida a todos os municípios e ao Governo, ao qual a ANMP solicitará "uma reunião com caráter de urgência".

A Associação "não pode aceitar que o Estado central legisle numa perspetiva de colocar o ónus de resolver tudo aquilo que não foi feito em décadas, nos municípios, tendo estes, segundo o legislador, que realizar esta tarefa em menos de três meses", afirma Manuel Machado.

O poder central "tem de assumir -- tal como os municípios têm feito através dos seus orçamentos e sem apoios externos --, de uma vez por todas, as suas responsabilidades no âmbito da proteção civil", sustentou o presidente da ANMP, salientando que "a segurança de pessoas e bens é uma função de soberania constitucionalmente consagrada", que "compete ao Estado central".

O Estado "não realizou, até ao presente", apesar das "sucessivas solicitações" da Associação, "o cadastro da propriedade rústica e não conseguiu impor", ao longo de décadas, a limpeza das florestas aos privados", sublinha Manuel Machado, que também é presidente da Câmara de Coimbra.

A administração central "nem tão pouco cuidou das matas sob sua jurisdição", mas quer, agora, que "os municípios, em menos de três meses, façam aquilo que não foi realizado em décadas", destaca o autarca, afirmando que aquilo que é determinado na Lei do Orçamento do Estado para 2018, "não é exequível".

O legislador desconhece, "notoriamente, a realidade do território nacional" e "as condições em que [esse território] está identificado e cadastrado", acrescenta.

A prioridade do regime excecional deveria ser, para a ANMP, "enfatizar, de forma inequívoca, a responsabilização dos proprietários, em sentido amplo", em relação à execução das faixas de gestão de combustível e não "fazer transparecer para a opinião pública a ideia de que a obrigação imediata está na esfera dos municípios, quase desobrigando os proprietários" das suas responsabilidades.

"Parece que a preocupação do Estado central mais não foi do que passar responsabilidades" para as autarquias, sem verificar se "as condições para o êxito das medidas estavam asseguradas na prática e não apenas na letra da lei", critica o presidente da ANMP, que "repudia" igualmente a sanção prevista para os municípios que "eventualmente não consigam cumprir com o regime".

Para conseguirem executar "a tarefa imposta de limpeza das faixas de gestão de combustível", os municípios terão de recorrer a empresas, cuja contratação, apesar de, na circunstância, poder ser feita por ajuste direto, não dispensa o cumprimento de prazos mínimos, refere ainda Manuel Machado.

Além disso, o mercado pode não estar preparado para responder de imediato à "procura que se vai verificar de empresas especializadas nestes trabalhos de limpeza", provocando uma subida exponencial dos preços, sublinha.

Mas a ANMP reconhece que "os trágicos incêndios florestais registados nos últimos meses" exigem dos municípios, do Estado central e das "demais entidades com responsabilidades nesta área", capacidade de adoção, "com celeridade", de "alterações estruturais" e medidas que minimizem "a possibilidade de ocorrência destes flagelos" e que "é fundamental a implementação de um conjunto de reformas" do sistema de proteção civil e do ordenamento da floresta.

Os municípios "estão conscientes das suas responsabilidades", assumem-nas e reafirmam a sua disponibilidade e empenho em cooperarem na resolução dos problemas, mas o Estado central também tem de assumir as suas responsabilidades, advertem.

JEF // SSS

Lusa/Fim

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Agrobio quer calendário para estratégia nacional e financiamento para agricultura biológica


PUB

A Associação de Agricultura Biológica alertou hoje para a necessidade de financiamento de novas áreas produtivas e novos produtores biológicos e para a falta de um calendário para aplicar a estratégia nacional, com ações programadas no tempo.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Associação Portuguesa de Agricultura Biológica (Agrobio), Jaime Ferreira, destacou a importância de um calendário e do respetivo financiamento para que possam ser cumpridas as medidas previstas no plano de ação que acompanha a Estratégia Nacional para a Agricultura Biológica, aprovada no ano passado.

"Há coisas que não percebemos como vão ser executadas. Por exemplo, está previsto um portal de informação para a agricultura biológica, mas para isso é preciso haver verba disponível", afirmou.

Quanto à falta de um calendário que defina os períodos temporais dentro dos quais cada medida deve ser concretizada, Jaime Ferreira explicou que, aquando da preparação da estratégia nacional, "a Agrobio apresentou no grupo de trabalho uma proposta com calendário, com orçamento para cada ação, mas isso foi retirado na versão final".

"E não vimos nada a este nível... foi criado um observatório para acompanhar a execução da estratégia nacional, mas sem calendário e orçamento adequado para determinadas tarefas como é que se monitoriza?", questiona.

O responsável da Agrobio, que esteve reunido com o secretário de Estado na semana passada, chamou igualmente a atenção da tutela para a necessidade de apoio a novos agricultores e novas áreas produtivas.

"Este apoio é essencial para a existência de novos agricultores e absolutamente crucial. Hoje temos um mercado a querer mais produtos biológicos e nós não temos produção biológica nacional que responda. Existe alguma, mas não é suficiente para o mercado e, então, recorre-se a importações".

Jaime Ferreira sublinha que, "a agricultura biológica não pode ser feita à base de importações" e que "é preciso um verdadeiro fomento a novos agricultores, novas áreas de produção".

"Houve uma medida de apoio à agricultura biológica em 2015, mas abriu nesse ano e fechou. Desde essa altura não houve mais apoio", acrescentou

A Estratégia Nacional para a Agricultura Biológica, aprovada no ano passado, vigora até 2027, com uma avaliação prevista a meio caminho.

Jaime Ferreira mostra-se também preocupado com a área da divulgação e promoção da agricultura biológica, frisando que abriu uma medida de apoio relacionada as ações de divulgação, mas as regras não permitem a candidatura de associações como a Agrobio.

"Abriu para as confederações nacionais de agricultura. É uma medida feita à medida dessas confederações (...) e essas confederações nem sequer falam de agricultura biológica", afirmou.

Outro lado -- acrescentou -- "é muito importante promover a existência de organizações de produtores", por causa da comercialização de produtos biológicos.

"A legislação atual não favorece a criação dessas organizações porque exige critérios difíceis de atingir na agricultura biológica, como, por exemplo, os níveis de faturação obrigatórios para os membros, que normalmente não existem" neste tipo de agricultura.

Na reunião com a tutela, a Agrobio apresentou uma proposta para rever esta legislação.

"Organizar os produtores para se poder vender os produtos de forma agrupada é absolutamente essencial na agricultura biológica", explicou Jaime Ferreira.

Sobre o financiamento atual e futuro da agricultura biológica, da tutela a Agrobio não obteve avanços: "Foi tudo muito para o próximo quadro comunitário, que é só em 2021".

"Sabemos que alguns países estão cada vez mais interessados em promover apoios para a agricultura biológica, mas em Portugal está tudo muito difícil", lamenta o presidente da Agrobio, acrescentando: "Este é o setor da agricultura em Portugal que mais cresce e que mais tem potencialidade para crescer. Este é o setor que fala de produtos de grande qualidade que era onde Portugal se devia centrar".

"A agricultura portuguesa devia centrar-se não na produção em quantidade, mas na qualidade. Nós nunca seremos competitivos do ponto de vista externo ou interno na quantidade, só na qualidade", afirma Jaime Ferreira, que defende ainda uma aposta em culturas mais resistentes às alterações climáticas.

"Portugal continua a apoiar culturas que não têm futuro, pois usam em excesso os recursos que temos e isso não é sustentável. A agricultura biológica é a que tem melhores características para resistir às alterações climáticas", concluiu.

Recuperar o país é trabalho “para uma década”, acredita Costa


O primeiro-ministro apresentou esta tarde a estratégia para a recuperação das matas nacionais que foram atingidas pelos incêndios. Uma tragédia "que não foi obra do acaso".

 Liliana Valente
LILIANA VALENTE 22 de Janeiro de 2018, 19:15 Partilhar notícia


Por estas terras do Pinhal de Leiria e do total das sete matas nacionais não vão nascer só pinheiros. "Mas só é pinhal se tiver pinheiros", lembrou o primeiro-ministro, que esta segunda-feira, em Vieira de Leiria e na Marinha Grande, apresentou o Programa de Recuperação de Matas Nacionais. Um plano que vai demorar seis meses a sair do papel e pelo menos mais cinco anos a ser implementado no terreno. Mas a recuperação do território é, para o primeiro-ministro, um trabalho muito mais demorado.

"O que aconteceu [em Outubro] não foi obra do acaso, foi obra de profundas transformações que o país sofreu ao longo de décadas, que desvitalizou toda uma região interior e que abandonou a floresta, além do impacto profundo que estamos a sofrer, directa ou indirectamente, das alterações climáticas (…). São realidades estruturais que temos de enfrentar e temos de ter a consciência que não resolveremos num ano, nem em dois anos. É certamente para uma década", disse na cerimónia de apresentação do plano de recuperação das matas nacionais, o que incluiu o Pinhal do Rei.

Grandes incêndios de 2017 afectaram mais de dez mil postos de trabalho


Nas sete matas nacionais, a área ardida superou os 24 mil hectares (entre área gerida pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas e perímetros geridos por outras entidades), o que representa um total de um milhão de toneladas de madeira ardida, que pode, numa previsão a valores de mercado, render cerca de 33 milhões de euros quando for vendida. O Pinhal de Leiria, que tem 11 mil hectares, ardeu quase na sua totalidade (86%).

Para recuperar estas áreas, foi constituída uma comissão científica, com o contributo de várias universidades, para apresentar um programa de recuperação e gestão das matas nacionais no prazo de seis meses. Um programa que levará cinco anos a ser implementado, mas que precisará ainda de mais tempo, uma vez que o ciclo de recuperação destas árvores demora décadas.

Para já, não há números para este investimento. "É impossível dar um valor do investimento que é preciso fazer nas próximas décadas", disse o presidente do ICNF, Rogério Rodrigues.

O que o fogo destruiu num dia vai demorar anos a renascer. Durante parte do processo de recuperação do Pinhal de Leiria e das restantes matas nacionais do litoral, o Governo vai parquear madeira, para controlar os preços que são praticados no mercado.

O executivo espera conseguir realizar os cortes prioritários de árvores durante os próximos seis meses, dando um ano e meio até que todo o processo esteja concluído. Durante um período de nove meses a três anos, o Estado vai guardando a madeira que for cortando e vai realizando hastas públicas de tempo a tempo. "O parqueamento desta madeira vai permitir que a indústria não tenha uma quebra", garantiu o secretário de Estado das Florestas, Miguel Freitas.

"Não há memória de um volume de madeira ardida desta natureza", disse Rogério Rodrigues, do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas. Contabilizados estão 1,7 milhões de metros cúbicos, mas o total pode ser um pouco diferente. "Até ao dia 14 de Outubro não tínhamos sido atingidos na mata por nenhum incêndio", disse, lembrando aquele dia que destruiu o Pinhal de Leiria.

Ao mesmo tempo que este trabalho de corte das árvores decorrer, a comissão científica apresentará o plano de recuperação que assentará em alguns pilares para melhorar o pinhal. Desde logo, a diversificação da composição florestal. Ou, como disse o primeiro-ministro, que plantou um sobreiro em Vieira de Leiria, "não quer dizer que não tenha pinheiros - porque só é pinhal se tiver pinheiros -, mas para que resista ao fogo não pode ser só de pinheiros". Além disso, a intenção é aumentar as zonas húmidas e aplicar modelos avançados de silvicultura.


"Temos aqui a oportunidade de, ao fazer, fazer diferente e melhor", defendeu António Costa, que insistiu nesta ideia várias vezes no discurso que fez na Marinha Grande. "Um dos grandes desafios é, ao mesmo tempo que plantamos, plantarmos melhor, termos a coragem de cortar o que tem de ser cortado para podermos ter um território mais seguro". Ideia seguida pelo secretário de Estado das Florestas: "Vamos ter uma floresta que vai ser bem pensada", acredita o governante. "Queremos dar a garantia que é mesmo para fazer. É mesmo para fazer", repetiu.

Este trabalho terá, contudo, de ser coordenado com a reforma da floresta, que está a ser implementada. Aproveitando um auditório que é favorável a esta intervenção, o primeiro-ministro lembrou que a reforma que iniciou em 2016 não é tarefa fácil: "Sei bem das resistências que vamos ter. O cadastro parou a Sul do Tejo e só esporadicamente foi feito a Norte. O cadastro tem mesmo de se fazer", insistiu. Porque o país, directa ou indirectamente, será afectado pelas alterações climáticas. "Pode não ser para o ano, esperemos que não seja, nem daqui a quatro ou cinco anos, mas seguramente vamos ter fenómenos climatéricos anómalos mais exigentes", disse.


Reflorestação do Pinhal de Leiria será exemplo para “fazer diferente e melhor” na floresta, diz Costa


22.01.2018 às 19h22
 
RUI MIGUEL PEDROSA/LUSA

Primeiro-ministro plantou esta segunda-feira simbolicamente, com alunos das escolas de Vieira de Leiria, as primeiras árvores para a reflorestação do Pinhal que perdeu 86% da sua área total. Estratégia de reflorestação apresentada na Marinha Grande fica concluída em seis meses e será aplicada em cinco anos

A reflorestação do Pinhal de Leiria vai ser um processo de "extraordinária importância" e uma "oportunidade de fazer diferente e fazer melhor" na gestão, ordenamento e preservação das florestas portuguesas. A ideia foi esta segunda-feira defendida pelo primeiro-ministro, notando que as "realidades estruturais" que o país terá de enfrentar "serão pelo menos o desafio para uma década".

"O que aconteceu [no pinhal de Leiria] não foi obra do acaso. Foi obra de profundas transformações que o nosso território sofreu ao longo de décadas", defendeu António Costa, elencando a desvitalização do interior, o desordenamento da floresta e as alterações climáticas como um triângulo de fatores que obrigam a repensar a gestão florestal.

As palavras de António Costa foram proferidas na Marinha Grande, no final da cerimónia de apresentação da estratégia de recuperação do Pinhal do Rei, em Leiria, que no dia 15 de outubro foi atingido por um incêndio que destruiu cerca de 86% da sua área total, o que representa quase 9,5 mil dos mais de 11 mil hectares de árvores que o pinhal tinha até então.

As principais ações planeadas nesta estratégia incluem um plano de corte plurianual faseado com duração até 18 meses e um plano de reflorestação a concluir até julho de 2018 e cuja aplicação terá a duração de cinco anos.

ORDENAMENTO MAIS RESILIENTE
Antes da cerimónia, num momento simbólico, o primeiro-ministro plantou, acompanhado do ministro da Agricultura e do secretário do Estado das Florestas, alguns sobreiros com alunos das escolas de Vieira de Leiria num dos primeiros talhões preparados para a recuperação do pinhal de Leiria.

"Temos de ter este território preparado para resistir a estes fenómenos. Temos de ter casas mais resilientes e ordenamento florestal mais resiliente. Não podemos ter monoculturas ou culturas extensivas de espécies altamente combustíveis. Temos de ter mais presença na floresta, é necessário fazer um esforço muito grande de reordenamento e ter também um sistema de prevenção e combate diferente do que tínhamos", insistiu Costa.

Num discurso em que recordou que a reforma da floresta que "estava inscrita no programa do governo em 2015 tem mesmo de ser levada para a frente", Costa assumiu as "resistências" que o Governo terá de enfrentar. Nomeadamente no caso do cadastro florestal que se terá "mesmo de fazer".

Dividindo o plano de ação do Governo entre "tarefas de médio e longo prazo" e "tarefas imediatas", Costa defendeu que "é preciso reflorestar já este pinhal" e lembrou que a primeira resposta do Governo às tragédias dos incêndios de 2017 foi "ajudar as vitimas afetadas pelos incêndios".

"Daí os apoios de emergência a agricultores, empresários e famílias. Até ao momento já foram despendidos 46 milhões de euros no apoio a agricultores, 26 milhões no apoio a empresários, já estão a ser pagas as primeiras indemnizações pela irreparável perda de vítimas mortais e passo a passo têm sido reconstruídas as primeiras habitações", sintetizou.

COMISSÃO CIENTÍFICA AVALIA PLANO DE REFLORESTAÇÃO
Na cerimónia de apresentação da estratégia para a recuperação deste pinhal foram também assinados um acordo de cooperação para a criação de uma comissão científica do programa de recuperação de matas litorais e um protocolo de criação do observatório local do Pinhal do Rei.

A comissão científica terá como principais objetivos a recolha, compilação e sistematização da informação técnica e científica sobre gestão das matas litorais. A seu cargo estará também a avaliação dos planos de gestão florestal, a execução de ações de divulgação de boas práticas para a recuperação de áreas ardidas na zona litoral e o treino e formação de técnicos e equipas especialistas no planeamento e implementação de todas as ações necessárias à gestão e recuperação das matas litorais.

O Observatório Local do Pinhal do Rei fará a avaliação do plano de recuperação daquele pinhal, apresentará propostas de ordenamento e fará também a articulação com instituições, organismos, empresas e particulares que apoiem ou financiem atividades de recuperação do pinhal.

UM MILHÃO DE TONELADAS DE PINHO PARQUEADO
Na mesma cerimónia, o secretário de Estado das Florestas, Miguel Freitas, defendeu que a estratégia agora lançada é "um primeiro e decisivo passo e na estratégia para as matas públicas e perímetros florestais do litoral", que permitirá "iniciar um caminho para ter um pinhal diferente daquele que existia até aqui".

Recordando que até ao dia 14 de outubro, véspera do incêndio no pinhal de Leiria, o país não tinha sido atingido "em matas nacionais por nenhum incêndio, Miguel Freitas lembrou também as condições extraordinárias que conduziram à perda de 86% da área deste pinhal. Nomeadamente "os recordes de temperaturas máximas e severidade extrema sentidas" a 15 de outubro e as "450 ingnições no mesmo dia, que tiraram a capacidade operacional a quem combate incêndios".

Sobre os cerca de "um milhão de toneladas de pinho ardido" naquele pinhal, Miguel Freitas constatou também que é "essencial para estabilizar o mercado do pinho em Portugal". Por isso, o Governo decidiu o "parqueamento entre 9 meses e três anos" desse pinho ardido. "A indústria do pinho vai ter um momento muito complicado. Este parqueamento vai ser importante para que não tenha uma quebra", defendeu.

No final da cerimónia, em declarações aos jornalistas, Rogério Rodrigues, presidente do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, estimou que a madeira ardida nas matas nacionais em 2017 poderá ter um valor de mercado na ordem dos 33 milhões de euros.

Cinco anos para replantar o pinhal de Leiria

Estado investe dez milhões de euros já este ano. 

Por José Durão|22.01.18

Incêndios transformaram o pinhal de Leiria num enorme manto preto. Chegou a hora de investir na sua reflorestação 

Cinco anos para replantar o pinhal de Leiria Estado investe dez milhões de euros já este ano. O plano de reflorestação do pinhal de Leiria, brutalmente devastado pelos incêndios de 15 de outubro, deverá estar pronto em julho e terá um prazo de implementação de cinco anos. 

O anúncio foi feito ao CM pelo ministro da Agricultura, Capoulas Santos, que pretende que a reflorestação da mata nacional seja "muito fundada no conhecimento científico e nas populações". O plano - que vai contar com a participação de universidades e politécnicos de todo o País - é a prazo, mas o Governo está preparado para apoiar o processo com dez milhões de euros, este ano. 

A primeira intervenção no terreno será para garantir a segurança nas vias de comunicação e remover a madeira queimada. "Em quatro meses, queremos retirar todas as madeiras nobres [como o pinho] do pinhal", disse. "Em 18 meses, queremos que toda a madeira tenha sido removida", acrescentou. 

Para evitar quedas drásticas no preço da madeira, que poderia ter um efeito catastrófico para as empresas do setor, Capoulas Santos explica a solução encontrada: criar parques de madeira, que a armazenarão durante, pelo menos, nove meses. "Foi uma solução que agradou a todos os envolvidos", refere o ministro. 

Hoje, Capoulas Santos acompanha António Costa na visita ao pinhal de Leiria, onde será apresentada a estratégia de recuperação e o plano de corte para o pinhal e onde será criada a comissão científica responsável pela implementação do Programa de Recuperação das Matas Litorais.

Corrida para evitar lei esgota eucaliptos nos viveiros


23 DE JANEIRO DE 2018 - 07:30

Semente recomendada pelas celuloses esgotou nos viveiros. Corrida para evitar a nova lei que trava novas plantações de eucaliptos começou depois dos fogos e tem-se agravado nos últimos meses.

Os mais ricos e poderosos do mundo estão reunidos nas montanhas suíças

A Federação Nacional das Associações de Proprietários Florestais e a Associação Nacional de Empresas Florestais, Agrícolas e do Ambiente (ANEFA) dizem à TSF que está a existir uma verdadeira corrida à plantação de eucaliptos.

A ANEFA (que representa os viveiros) adianta mesmo que a planta de eucalipto recomendada pela indústria das celuloses (sementes geneticamente melhoradas que em princípio crescem mais rápido) está esgotada com tanta procura nos últimos meses, havendo listas de espera, algo que não acontece nos viveiros que têm outro tipo de sementes.

A associação afirma ainda que neste momento faltam 1 milhão de plantas para responder a uma procura que teve um aumento exponencial nos últimos meses.


A causa desta corrida aos eucaliptos é a lei aprovada no Parlamento, em agosto, depois dos fogos de Pedrógão Grande, proibindo as novas plantações de eucaliptos em áreas onde estes não existiam.

As primeiras denúncias dessa corrida aconteceram pouco depois da publicação da lei com o governo a avançar com um decreto-lei transitório, enquanto a lei não entra em vigor em fevereiro, para evitar que sejam plantados eucaliptos em áreas ardidas anteriormente ocupadas por outras espécies.

A medida foi na altura promulgada pelo Presidente da República com avisos que era preciso garantir a "sua efetiva aplicação".

Ouça o resumo das conversas do jornalista Nuno Guedes com quem trabalha na floresta.
O regime transitório foi publicado no início de dezembro, depois de alertas do próprio ministro da Agricultura que temia uma corrida aos eucaliptos, mas quem trabalha na floresta diz que a legislação serviu de pouco, alertando para a falta de fiscalização.

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

BE questiona Governo sobre perda de financiamento para Estação Suinícola de Leiria

 
Os deputados do Bloco de Esquerda questionaram o ministro da Agricultura sobre a perda de financiamento para a construção da Estação de Tratamento de Efluentes Suinícolas de Leiria, foi hoje anunciado.

Na pergunta enviada, os deputados Heitor de Sousa, Carlos Matias e Pedro Soares questionam o Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural se tem conhecimento de "informações avançadas pelo semanário 'Jornal de Leiria'", que refere que "o contrato, que previa o financiamento de 9,1 milhões de euros a fundo perdido, encontra-se rescindido, por, após sucessivas prorrogações, a entidade beneficiária não ter cumprido os requisitos exigíveis".

Para o BE, a perda dos fundos comunitários não é "apenas significativa pela quantia em si mesma, mas sobretudo porque se trata de um investimento da maior relevância e impactos, especialmente ambientais, para a região".

"O nível absolutamente anormal de poluição dos solos e dos recursos hídricos da bacia hidrográfica do Lis, tanto ao nível dos vários cursos de água existentes (nomeadamente da Ribeira dos Milagres), como da crescente contaminação dos lençóis freáticos e a infestação do ambiente rural e urbano, induzido pelo cheiro nauseabundo resultante do espalhamento de toneladas e toneladas de resíduos nos campos do Lis, tornou este investimento uma questão estratégica crucial para a região", sublinham os deputados.


Heitor de Sousa, Carlos Matias e Pedro Soares perguntam se "está o Governo disponível para fornecer a informação completa, bem como a respetiva fundamentação, da decisão da Autoridade de Gestão do PDR2020 [Programa de Desenvolvimento Rural] relativa à rescisão do contrato de cofinanciamento da construção da ETES?".

O BE questiona ainda se, "considerando que a Autoridade de Gestão do PDR invoca a violação do contrato de concessão, está o Governo disponível para fornecer cópia do contrato de concessão entre o Estado e a Recilis, com referência às cláusulas que foram violadas ou incumpridas pelos promotores privados".

Apontando para a "urgência da construção de uma ETES [Estação de Tratamento de Efluentes Suinícolas] para garantir a sustentabilidade da gestão dos resíduos suinícolas na região", os deputados pretendem ainda saber se "o Governo está disponível para rever o projeto de construção da ETES e apresentar uma candidatura pública a fundos comunitários, possivelmente no âmbito do POSEUR e/ou do FEDER, para um novo projeto de ETES, mas desta vez da responsabilidade direta de entidades públicas, em regime de parceria pública, envolvendo Águas de Portugal-Câmaras Municipais da região-Estado".

Governo de Moçambique mobiliza recursos contra praga que ameaça culturas de milho


O Governo moçambicano está a mobilizar recursos contra uma praga de lagarta de funil que está a destruir as plantações de milho. A espécie já afetou 5.664 hectares de produção de milho em todo o país.


O Governo de Moçambique está a mobilizar recursos contra uma praga da lagarta de funil que está a dizimar culturas de milho pelo segundo ano consecutivo em Moçambique.

A espécie já afetou 5.664 hectares de produção em todo o país na época agrícola iniciada em outubro, anunciou esta terça-feira Ana Comoana, porta-voz do Conselho de Ministros que analisou a situação na reunião de hoje.


Para combate à lagarta, "o Governo necessita de 108 milhões de meticais (cerca de 1,5 milhões de euros)", referiu.

As autoridades vão "intensificar a mobilização de recursos contra esta praga e outras doenças de modo a assegurar a produtividade", acrescentou a porta-voz.

Segundo referiu, 400 técnicos agrícolas já receberam treino para atuarem nos campos afetados.

O Fundo da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO) classifica a lagarta de funil do milho (comum nos países da América do Sul) como uma ameaça à segurança alimentar.

A Nigéria foi o primeiro país africano a detetar a praga em janeiro de 2016, que no final do ano atingiu a África Austral, incluindo Moçambique.

"A praga tem potencial para causar prejuízos económicos consideráveis nas culturas em alguns países da região, ameaçando reduzir as perspetivas de produção", alerta a FAO.

Governo avisa que limpeza de terrenos tem de ser feita até março


O ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita

Foto: CARLOS BARROSO/LUSA


As limpezas de vegetação em redor de casas e povoações devem ser realizadas até março, recordou, esta terça-feira, o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, apelando à prevenção para evitar os incêndios florestais.

Em Vila Nova de Poiares, um dos concelhos afetados pelos fogos de 15 e 16 de outubro de 2017, Eduardo Cabrita fez "um apelo a todos os portugueses", incluindo autarquias, empresas públicas e privadas e cidadãos em geral, para que esses trabalhos sejam concluídos dentro do prazo.

A aposta na prevenção permite "criar condições para que os incêndios possam ser combatidos adequadamente" no futuro, sublinhou, frisando que se trata de "uma indiscutível prioridade nacional".

O ministro da Administração Interna falava aos jornalistas, em Vila Nova de Poiares, no distrito de Coimbra, após ter presidido, nos Paços do Concelho, à cerimónia de assinatura de um protocolo para a constituição da equipa de intervenção permanente (EIP) local, envolvendo o município, a Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) e os Bombeiros Voluntários.

O MELHOR DO JORNAL DE NOTÍCIAS NO SEU EMAIL

Agora pode subscrever gratuitamente as nossas newsletters e receber o melhor da atualidade com a qualidade Jornal de Notícias.

SUBSCREVER
"Vamos ter de reforçar a profissionalização", disse, ao retomar ideias que assumiu no discurso, embora tenha considerado que o voluntariado, com mais de 450 corpos de bombeiros no Continente e nas regiões autónomas dos Açores e Madeira, "é essencial no sistema de Proteção Civil" em Portugal.

Atualmente, existem 166 EIP no país, mas o Governo pretende criar "pelo menos mais 40 até junho", referiu.

Os planos para 2020 passam por dotar os 308 municípios portugueses de "uma componente profissional", mas articulada com as associações humanitárias de bombeiros voluntários.

"Temos de mobilizar todos os portugueses para a prevenção", reiterou.

Eduardo Cabrita, que estava acompanhado do presidente da ANPC, Mourato Nunes, apelou ao cumprimento da lei por parte dos proprietários, empresas e autarquias, aos quais cabe limpar a vegetação junto às habitações e aos aglomerados populacionais, a fim de criar faixas de proteção contra incêndios de 50 e 100 metros de largura, respetivamente.

Na sequência dos fogos de 2017, que causaram mais de 110 mortos e centenas de feridos, foram criadas "novas condições" para facilitar esses trabalhos às autarquias e demais entidades públicas, "sem concurso e sem visto" prévio do Tribunal de Contas, salientou.

"Esta segurança coletiva é prioridade de todos nós", sublinhou o ministro da Administração Interna.

No seu discurso, o presidente da Câmara de Vila Nova de Poiares, João Miguel Henriques, realçou a importância da criação da equipa de intervenção permanente no concelho, após recordar os danos materiais e humanos originados pelos fogos de 2017, sobretudo em outubro.

"Não queremos voltar a viver tal inferno. Temos todos, em conjunto, de trabalhar para garantir as melhores condições possíveis não só em termos de operacionalidade como também em termos de prevenção", defendeu.

Intervieram ainda na sessão o presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito de Coimbra e representante da Liga Portuguesa dos Bombeiros, António Simões, e o presidente dos Bombeiros Voluntários de Poiares, Carlos Henriques.


INE: Redução da área de cereais de inverno e aumento global da azeitona para azeite


CONFAGRI 23 JAN 2018
partilhar
As previsões agrícolas avançadas pelo Instituto Nacional de Estatística apontam para uma redução das áreas semeadas de cereais de inverno, de -5% no centeio e aveia, -10% no trigo mole e no triticale e -15% no trigo duro, sobretudo devido à falta de humidade do solo.

Em relação à azeitona para azeite, segundo o Boletim do Instituto Nacional de Estatística (INE), os efeitos da seca prolongada apenas tiveram consequências nos olivais tradicionais de sequeiro. Nos intensivos foi possível conduzir à plena maturação a elevada carga de frutos, prevendo-se um aumento da produção global na ordem dos 25 por cento, com as azeitonas a apresentarem um maior rendimento em azeite.

Registou-se um menor volume de abate de suínos, de -1,0 por cento e de ovinos, de -13,7 por cento, sendo que o peso limpo de gado abatido e aprovado para consumo em novembro de 0217 foi de 40.676 toneladas, correspondendo a um decréscimo de 0,1 por cento, mais 5,8 por cento no mês de outubro.

O volume de produção de frango registou um aumento de 1,8 por cento, -10,1 por cento em outubro, com 27.971 toneladas produzidas, acompanhado de uma redução do número e cabeças em 3,9 por cento, o que traduz um maior peso médio de abate. A produção de ovos de galinha para consumo passou por uma descida de 1,5 por cento, com um total de 9.391 toneladas produzidas.

No que diz respeito à produção de leite e produtos lácteos, o INE indica que a recolha de leite de vaca foi de 142,3 mil toneladas, o que significa um aumento de 4,6 por cento. A produção total de lacticínios apresentou um acréscimo, à semelhança do mês anterior, de 13,4 por cento, tendo em conta a maior produção de lacticínios frescos, como é o caso do leite para consumo, com mais 14,9 por cento e dos leites acidificados, de mais 15,8 por cento.

Em dezembro de 2017, as maiores variações no índice de preços de produtos agrícolas no produtor verificou-se nos ovos, com mais 32,8 por cento, nas aves de capoeiras, com mais 13,8 por cento, nos hortícolas frescos, de mais 11,4 por cento e nada batata, -60,6 por cento, de acordo com o Boletim Mensal de Agricultura e Pescas do INE, de 31 de dezembro, disponente em anexo.

Anexo:  Boletim Mensal de Agricultura e Pescas,  em 31 de dezembro

 

Fonte: Instituto Nacional de Estatística 

UE destaca governação e desenvolvimento rural como áreas a apoiar em Timor-Leste


A chefe da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, salientou que a UE "continua a apoiar a democracia" e a prestar assistência à "boa governação" e ao "desenvolvimento rural".

A chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Federica Mogherini, destacou esta terça-feira, em Bruxelas, a governação e o desenvolvimento rural como áreas a apoiar em Timor-Leste, depois de uma reunião com o ministro de Estado timorense Ramos-Horta.

Em comunicado, Mogherini salientou que a UE "continua a apoiar a democracia, a paz e a estabilidade no país e a prestar assistência em dois setores fundamentais: a boa governação e o desenvolvimento rural".

Federica Mogherini reuniu-se com José Ramos-Horta à margem do diálogo político entre a UE e Timor-Leste.

Durante o diálogo foi salientado o compromisso de Timor-Leste em ratificar em breve os instrumentos internacionais de direitos humanos.

A chefe da diplomacia europeia destacou, no comunicado, a necessidade de se prosseguirem os esforços para atingir os objetivos de desenvolvimento, tal como a diversificação da economia timorense.

Cabo Verde quer usar água dessalinizada para não depender sempre das chuvas para agricultura

Cabo Verde quer passar a usar água dessalinizada na agricultura para deixar de depender sempre das chuvas para o setor e evitar secas com a que enfrenta este ano, disse hoje fonte oficial.

A intenção foi manifestada à imprensa, na cidade da Praia, pela presidente do Instituto Nacional de Investigação e Desenvolvimento Agrário (INIDA), Ângela Moreno, durante um encontro para recolha de subsídios e informações para a intenção do país de inovar o setor agropecuário.

"Cabo Verde é um país que está condenado a ter uma agricultura inovadora. Não temos muitos recursos naturais, não temos muita chuva, mas temos um grande oceano e, no futuro, se calhar, vamos ter que pensar em usar a água dessalinizada na agricultura", projetou Ângela Moreno.

Cabo Verde tem apostado na dessalinização da água, mas apenas para o consumo, mas no caso da agricultura não quer depender sempre das chuvas, que, por exemplo, praticamente não caíram este ano, provocando uma seca severa e mau ano agrícola.

Da água dessalinizada para consumo, a presidente do INIDA disse que boa parte perde-se e volta novamente ao mar, pelo que avançou que outra ideia é tratar e aproveitar as águas residuais para regar grandes parcelas agrícolas em diversas ilhas.

A presidente do INIDA notou que Cabo Verde não tem muita terra para regar, pelo que tem de apostar também na hidroponia ou culturas fora de solo e aumentar a rega gota-a-gota.

"Essas ideias já estão assumidas no Ministério da Agricultura, temos isso traçado como prioridade", referiu, dizendo que o fórum tem como objetivo obter experiências e contributos externos para a intenção de inovar o setor da agricultura, da floresta e da pecuária.

O encontro realizou-se no âmbito do projeto da área GLOBAL, para partilha de conhecimento e tecnologia entre Europa, África e América Latina no setor agrícola, que conta com apoio da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e do Instituto Camões -- Instituto da Cooperação e da Língua.

Depois do encontro na cidade da Praia, com presença de investigadores, agricultores, empresários e estruturas associativas com ligação aos setores agrícola, o presidente do INIDA indicou que o próximo passo será a procura de parceiros internacionais e financiadores para inovar e desenvolver o setor da agricultura.

Um dos países-parceiros que Cabo Verde quer ter é Israel, que Ângela Moreno considerou que tem uma "experiência enorme" e está "tremendamente avançado", mesmo não tendo a metade dos recursos naturais de Cabo Verde.

A presidente do INIDA disse que Cabo Verde não quer continuar a passar a ideia que a agricultura no país é de subsistência e que não tem futuro.

"A agricultura em Cabo Verde tem futuro, o que falta são ideias inovadoras, apostar em novas experiências e de outras paragens e tentar adaptar o quanto possível à nossa realidade e melhorar a agricultura", reforçou, indicando que muitos jovens já apostam "a sério" no setor.

Na partilha de conhecimento e tecnologia, Cabo Verde conta com parceria da INOVISA, uma rede criada pelo Instituto Superior de Agronomia (ISA), da Universidade de Lisboa, com o intuito de apoiar docentes, investigadores e alunos a criarem o seu projeto empresarial.

Luís Mira da Silva, da INOVISA, disse que Cabo Verde não tem vocação para produzir agricultura em extensão, mas poderá usar vários projetos inovadores para "produzir mais com menos água", como frescos, hortícolas, frutas e fazer agricultura protegida.

Relativamente à dessalinização da água do mar, o consultor disse que é a "única alternativa", tendo em conta que o custo baixou e há vários países que utilizam água dessalinizada para regar.

Entretanto, alertou que para isso é preciso utilizar essa água de forma "muito eficiente" e também em produtos que depois a valorizem, como os frescos, e não em grandes extensões.

Operário morre em acidente na corticeira Amorim & Irmãos na Feira


Um operário morreu ao início da tarde desta segunda-feira na corticeira Amorim & Irmãos, em Santa Maria de Lamas, na Feira, após ter sofrido uma queda.

O acidente vitimou um homem de 45 anos. Segundo conseguimos apurar, o trabalhador estaria a colocar placas no teto de um armazém, quando uma delas cedeu.

O operário, que trabalhava para uma empresa subcontratada pela corticeira, caiu e não resistiu aos graves ferimentos que sofreu.


segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Leiria vai ter um “pinhal tão descontínuo quanto possível"


22 jan, 2018 - 11:15

Ministro da Agricultura explicou, na Manhã da Renascença, os planos do Governo para aquela mata nacional que viu arder mais 80% da área em Outubro.

No dia em que o Governo apresenta o plano de reflorestação para o Pinhal de Leiria, o ministro da Agricultura garante que o pinheiro vai ser a árvore dominante nesta mata pública, mas de forma descontinuada.

"Será fundamentalmente um pinhal, porque ali a mata tem de ter uma função de fixação das dunas, que esteve aliás na sua génese, mas iremos procurar que seja um pinhal tão descontínuo quanto possível, intercalando folhosas e espécies resistentes ao fogo", começou por explicar.

Capoulas Santos diz que poderá haver "espaços agrícolas intermédios para garantir a sua descontinuidade", sendo a "formatação final aquela que a comissão científica e o ICNF [Instituto da Conservação da Natureza e Florestas], na sequência do trabalho que estão a desenvolver, nos apresentarem até ao final de Junho, como está previsto".

Os incêndios de 15 e 16 de Outubro devastaram mais de 80% do Pinhal de Leiria, mandado construir por D. Afonso III no sec. XIII para travar o avanço e degradação das dunas.

Para reflorestar toda a área afectada nas matas nacionais, o Estado vai precisar de cinco anos, no máximo. São 18 mil hectares. No terreno, já começou o corte de árvores queimadas.

"A primeira preocupação é naturalmente retirar o material lenhoso: o nobre em primeiro lugar, e propomos fazer essa operação nos próximos quatro meses. O material lenhoso que não tem interesse para a indústria será retirado nos próximos 18 meses", avançou o ministro na Manhã da Renascença, esta segunda-feira.

"Entretanto, já iniciámos a elaboração do plano de reflorestação das matas nacionais – está neste momento em curso e é um projecto que ficará concluído até finais de Junho, por forma a que no próximo Outono possam iniciar-se já em grande escala as operações de reflorestação, que entretanto, pontualmente, vão já começar nesta Primavera, num ou outro talhão", adiantou ainda.

Capoulas Santos anunciou também a criação de 30 parques para receber a madeira queimada nos incêndios do ano passado. O principal objectivo "é garantir que os preços não se aviltam e que nos próximos dois, três, quatro anos a indústria nacional não necessita de recorrer a qualquer tipo de importação".

"O Ministério da Agricultura está neste momento a concluir negociações com as organizações de produtores florestais, as organizações da indústria, as autarquias, para criar cerca de 30 parques onde essa madeira será recepcionada. O Estado irá apoiar os produtores florestais e as e as entidades que vão gerir estes parques", avançou o ministro da Agricultura.

Esta segunda-feira à tarde, Capoulas Santos acompanha o primeiro-ministro, António Costa, na visita ao Pinhal de Leiria e assiste à apresentação do plano de reflorestação do "Pinhal do Rei", na Marinha Grande.

Madeira queimada pode render 1,5 milhões de euros ao Estado


22 jan, 2018 - 08:00

Em causa estão vários lotes de pinheiro bravo à venda pelo Instituto da Conservação da Natureza e Florestas.

Fotogaleria. "Devastador": 80% do Pinhal de Leiria virou manto negro
O Estado deverá encaixar um milhão e meio de euros com a madeira queimada proveniente dos incêndios do Verão passado. O valor é avançado na edição desta segunda-feira do "Jornal de Notícias", que cita fonte do Ministério da Agricultura.

A madeira em causa é proveniente vários lotes de pinheiro bravo provenientes dos distritos de Leiria, Coimbra, Guarda, Viseu e Castelo Branco e que estarão à venda.

Diz o jornal que, ao todo, já foram vendidos 61 lotes em hasta pública – o correspondente a mais de 1700 hectares e quase meio milhão de árvores. No Pinhal de Leiria (que perdeu mais de 80% para o fogo em Outubro), conta ainda o diário, "a azáfama é grande" para cortar a madeira a ser vendida.

Esta terça-feira, é apresentado na Marinha Grande o plano de reflorestação do pinhal de Leiria. A apresentação está a cargo do presidente do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), Rogério Rodrigues.

Segundo o "Correio da Manhã", o plano deverá estar concluído em Julho e estabelece um prazo de implementação de cinco anos. O Governo diz-se disponível para investir 10 milhões de euros neste processo, que começa com a remoção da madeira queimada e melhorar a segurança ao nível das comunicações.

O primeiro-ministro, António Costa, e o ministro da Agricultura, Capoulas Santos, também estarão presentes na cerimónia e irão deslocar-se ao Observatório Local do Pinhal de Leiria.

Na Internet, corre uma petição a pedir que o dinheiro da madeira queimada nesta histórica mata pública seja todo aplicado na sua reflorestação.

domingo, 21 de janeiro de 2018

Alentejo ainda precisa do dobro da chuva para sair da seca severa

Um dos braços do Alqueva, junto a Juromenha (Alandroal)

Especialista do IPMA dizem que a situação é de tal forma crítica que a precipitação teria de ser intensa durante várias semanas

Será necessário chover o dobro de um ano normal para que as barragens e os aquíferos do Alentejo possam recuperar recursos e atinjam a capacidade de armazenamento satisfatória. Quem é o diz é Vanda Pires, da divisão de clima do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), relembrando que a chuva que este inverno caiu no sul do país foi insuficiente para a região sair do estado de seca severa. E se o abastecimento de água para o consumo doméstico não está ameaçado, no campo os agricultores já estão a procurar alternativas viáveis às culturas de regadio, assumindo as limitações ao milho e arroz.

O impacto que a seca severa e extrema acarreta para o Alentejo mostra-se até ao nível de Alqueva. O maior lago artificial da Europa estaria, num ano normal, nos 80% de armazenamento, mas revela hoje 67%, chegando, ainda assim para abastecer represas vizinhas. Um dos braços da albufeira, junto a Juromenha (Alandroal) mostra as fragilidades. Já por ali se pescou, mas há dois meses que são as ovelhas de Maria Leonor que lá pastam, tentando comer o pouco musgo que vai nascendo. "A esta altura devia haver bom pasto para estarem gordas, mas continuam magrinhas. Parece verão", lamenta.

Já as barragens da bacia do Sado não vão além da média de 23.4% da capacidade de armazenamento, quando num ano normal estariam acima dos 55. O Monte da Rocha e o Pego do Altar (a barragem onde a seca destapou uma antiga ponte) são as reservas que atingiram os valores mais baixos, com 8.1 e 8.3, respetivamente.


"Os valores médios de chuva em Beja, em janeiro, são 70 milímetros por dia. Hoje eram precisos 140. Em fevereiro chovem 60 milímetros num ano normal, mas para minimizar a seca eram precisos 120", quantifica Vanda Pires, ressalvando que a situação é de tal forma crítica que a precipitação teria de ser intensa durante várias semanas. "Já não basta que chova durante dois ou três dias e depois pare uma semana ou duas para voltar a chover ao fim de mais um tempo. Isso não vai acabar com o problema", diz.

Carla Graça, da associação ambientalista Zero, que fez estudos sobre aquíferos no país, reconhece que o problema tem "dimensões preocupantes", alertando para a descida dos níveis de água subterrânea, que poderão estar secos em várias zonas. "Nas bacias a sul do Tejo não choveu praticamente nada e já no final do ano estava tudo muito crítico", refere, alertando para a "elevada quantidade" de habitantes de meios rurais que ainda usam água subterrânea para consumo direto, com recurso a furos. Dados que levam Carla Graça a aconselhar os produtores de arroz da bacia do Sado a reduzirem a produção drasticamente - na última campanha a redução já foi de 50% - para ajustarem a eficiência da rega.

Uma medida que já está prevista, segundo garante ao DN Joaquim Manuel Lopes, técnico agrícola da Associação de Agricultores do Distrito de Setúbal, avançando que a campanha de arroz deste verão só não vai ser "zero" porque na Comporta (Alcácer do Sal) continua a haver várias nascentes que garantem água em abundância à produção.

"O resto é paisagem negra. Haverá alguém que conseguirá bombar água do rio Sado, se for autorizado, mas este ano vai ser sempre mau", vaticina, recordando que Portugal é praticamente autossuficiente em arroz, mas esta campanha "não deverá atingir 40%", alegando que, tal como o Sado, também o Sorraia e o Caia (zona de Elvas) estão sem água.
Aristides Chinita, representante da Associação de Regantes da barragem do Caia, confirma os tempos de crise. Em 2017 houve a necessidade de antecipar o final da campanha de rega aos 250 associados, distribuídos por uma área de 7500 hectares. Nunca tal tinha acontecido. A albufeira tinha apenas 19% da sua capacidade de armazenamento, pelo que o fim do fornecimento de água para a agricultura visou assegurar que o abastecimento doméstico a Elvas, Campo Maior, Arronches e Monforte ficava garantido para, pelo menos, três anos.

"Entre 15 de outubro de 2017 e até há 15 dias, a barragem baixou 2 milhões de metros cúbicos com o fornecimento de água às populações, enquanto em dois períodos de chuva entraram cerca de 500 mil metros cúbicos, reduzindo as perdas para milhão e meio", revela o dirigente, assumindo a perspetiva de que o fornecimento de água para rega "é nula".

E que alternativas existem? Joaquim Manuel Lopes tem dificuldade em arranjar culturas que compensem a produção de arroz, rejeitando uma recente sugestão "pouco atrativa" do feijão-frade, preferindo reivindicar o transporte de água de Alqueva para a barragem de Vale do Gaio (Alcácer do Sal) através de condutas.

Já o agrónomo Rui Amante, que anualmente dá apoio técnico aos proprietário de cerca de 5 mil hectares de campos de milho do Ribatejo e Alentejo, tem ocupado as últimas semanas a planificar a campanha de primavera para tentar minimizar os prejuízos da perda de área de milho associados à seca. No ano passado o Ribatejo e o Alentejo alcançaram uma produção de 34 mil hectares, mas esta campanha deverá sofrer uma redução de 30%, segundo estima, uma vez que o Alentejo Central e Litoral estão impedidos de produzir milho. Apenas as margens de Alqueva e o Ribatejo têm disponibilidade de água para o fazer.

Este agrónomo está a fazer o levantamento das disponibilidades hídricas, a fim de tentar enquadrar espécies com baixo consumo, como girassol e sorgo, exibindo ao DN um dos campos nas imediações de Évora que durante anos a fio privilegiou a produção de milho, mas onde hoje já cresce trigo junto ao pivô. "É o exemplo de uma cultura flexível que precisa de pouca água, tal como a cevada, mas que agora ocupa uma zona de regadio para garantir que terá sucesso", diz, tendo ainda em equação a possibilidade de instalar noutros campos de regadio culturas como a ervilha que permitem fazer "segundas produções no mesmo ano.

Agricultura Digital: a revolução do ‘Big Data’ e da ‘Internet of Things’


Pedro Menezes Leitão, Senior Manager Advisory, EY Portugal

19 Jan 2018

A digitalização vai transformar radicalmente cada elemento da cadeia de valor da Agricultura, desafiando os papéis tradicionais das empresas.

A Digitalização da economia, em particular nas vertentes Big Data e Internet of Things, está a revolucionar várias indústrias – a Agricultura não irá ser uma exceção.

A maior parte das pessoas pensa que a Agricultura é um setor de baixa intensidade tecnológica. No entanto, muitos ficarão surpreendidos por saber que o primeiro drone comercial nos EUA foi licenciado para uma aplicação agrícola. A Agricultura moderna é um negócio sofisticado e em processo de digitalização – a recolha manual e análise e empírica da informação está a dar lugar à captura e processamento automático de dados pelos equipamentos, sensores e drones.

A utilização de dados e algoritmos avançados na Agricultura permite já a geração de instrumentos de apoio à decisão de elevada qualidade que permitem eficazmente otimizar a produtividade, sustentabilidade, fiabilidade, e até o custo da produção. Entramos numa era de agricultura de "precisão", na qual sabemos, para cada metro quadrado de terreno, qual a melhor semente, quantidade de fertilizante, nível de rega, e até qual é a distância ótima entre árvores, de forma a otimizar os mais variados parâmetros. Da mesma forma, a introdução de tecnologia blockchain introduziu a capacidade de certificação da origem dos produtos a um nível antes inimaginável.

Neste contexto, a digitalização vai transformar radicalmente cada elemento da cadeia de valor da Agricultura, desafiando os papéis tradicionais das empresas, as relações entre elas, os sistemas de definição de preço e contratos e, potencialmente, modelos de negócio completos. À medida que os dados da agricultura digital se vão tornando disponíveis, iremos observar grandes movimentos de concentração no setor. Tanto concentração horizontal – nos casos em que um produtor detém algoritmos mais "potentes", – seja vertical, por exemplo quando um operador agroindustrial necessitar de assegurar o acesso a matéria-prima com as especificações certas e a preços competitivos.
Investimentos massivos estão a ser feitos na Agricultura Digital, seguindo vários tipos de estratégia. Algumas empresas estão a investir intensamente na captura de dados e desenvolvimento de algoritmos proprietários. Outras têm seguido a via do outsourcing e licenciamento de software. A digitalização tem revolucionado indústrias inteiras, e a Agricultura não irá ser uma exceção. Os que "esperam para ver" correm o risco de ser irremediavelmente ultrapassados.

Fogo no Pinhal de Leiria foi criminoso

20.01.2018 às 22h00
 
NUNO BOTELHO

Engenho explosivo foi encontrado no pinhal que ardeu a 15 de outubro

A Polícia Judiciária de Leiria já identificou as causas dos dois incêndios que consumiram 86% do Pinhal de Leiria a 15 de outubro de 2017. "Ambos tiveram mão criminosa. Num deles foi usado um engenho artesanal para atear o fogo", avançou ao Expresso fonte da PJ. Contudo, os investigadores não conseguiram ainda identificar os autores.

Desse dia, o pior do ano em incêndios, em que morreram 45 pessoas, há já mais ocorrências com causa identificada. A PJ da Guarda confirma que os dois principais fogos registados no distrito foram iniciados por dois pastores locais que realizaram queimadas (proibidas naquela altura) para a renovação das pastagens. "Há vários pastores na região, são um grupo que se isola, fechado sobre si, e está a ser difícil identificar os autores concretos", avança fonte do processo.

A PJ de Coimbra também já determinou a causa de um dos mais graves incêndios de 15 de outubro, o da Lousã, que atingiu uma área de 43.941 hectares. "Uma árvore de grande porte caiu na linha de média tensão", garante um investigador, e projetou fagulhas em várias direções, com ajuda do vento forte.


Os sonhos de três jovens holandeses ganham raízes na serra da Estrela


Deirdre tem 25 anos. Jesse e Siegert, 24. Há um ano, trocaram os Países Baixos pela serra da Estrela, onde fundaram uma cooperativa agrícola. Na Faia Collective, o futuro rural constrói-se num equilíbrio entre o campo e as artes.

MARA GONÇALVES (Texto) e RICARDO LOPES (Fotografia) 20 de Janeiro de 2018, 6:32 

O que leva três holandeses de 24 e 25 anos a deixar o país natal para criar uma cooperativa agrícola (e não só) numa encosta remota da serra da Estrela? Sonhos. Muitos. Diferentes para cada um deles, mas próximos o suficiente para se unirem numa quinta em Faia, freguesia da Guarda com pouco mais de 200 habitantes, segundo os Censos de 2011.


Na lista de ambições de Deirdre Meursing, Jesse Schlechtriem e Siegert van den Berg não existia propriamente um futuro agarrado à enxada, como aquele que afugentou tantos daqui, mas antes desejos simples, quase universais. Como ser "o próprio patrão" e "ter uma empresa", com "liberdade" e "independência" para "construir alguma coisa sem a pressão de mais eficiência e produção". Ou o "bom tempo" e a "qualidade de vida" que acreditam existir em Portugal. E a vontade de pôr em prática, localmente e em pequena escala, as teorias demasiado abstractas que os tinham desiludido na universidade, em Utrecht, onde estudaram Filosofia (Deirdre), Políticas Ambientais (Siegert) e Psicologia Aplicada (Jesse).

Para Deirdre e Jesse, a criação do projecto Faia Collective marca também o regresso a um lugar que conhecem desde a adolescência. Em 2007, a mãe e o padrasto de Deirdre trocaram uma "comunidade artística" nos arredores de Amesterdão pela quinta isolada sobre o vale do Mondego. Deirdre e a irmã mais nova vieram com eles, tinham então 14 e 15 anos. "Foi uma mudança grande, mas senti uma enorme liberdade aqui e tinha os meus cavalos, por isso, na verdade, até fiquei muito feliz", ri-se. Foram Karen e Eelco que iniciaram grande parte do trabalho que a nova cooperativa quer agora continuar e ampliar. Recuperaram a maioria dos edifícios, mudaram a produção para agricultura biológica e criaram um festival de Verão ligado às artes performativas. Para a família de Jesse, há muito que Portugal era destino de férias. "Quando soubemos que eles também eram holandeses e que tinham acabado de abrir uma área de campismo [ao público], decidimos vir", recorda. A partir daí, voltaram todos os anos.

PÚBLICO -Foto
Nos últimos tempos, no entanto, os pais de Deirdre começaram a dar sinais de querer passar o testemunho à geração seguinte. "O trabalho é muito árduo numa quinta e eles estão a ficar mais velhos e com vontade de fazer outras coisas", conta. Foi assim que Deirdre, Jesse e Siegert "entraram em cena". "É estranho porque não houve um momento em que dissemos: 'Agora vamos morar aqui com três ou quatro pessoas e fazer isto'. Mas todos nós acabámos por chegar aqui de uma forma natural, ficámos e fizemos um plano de negócios para três anos", recorda Deirdre. "É nisso que estamos empenhados agora."

Cânhamo, azeite e cultura
Não é fácil encontrar a quinta. O GPS indica estradas que não existem, levou-nos por caminhos empinados sem saída. Chegámos à terceira tentativa. Na fachada do edifício principal, ainda se lê o antigo nome da propriedade, Domínio Vale do Mondego. Mas desde Janeiro do ano passado que a cooperativa agrícola fundada por Deirdre, Jesse, Siegert e Jasper (que entretanto regressou aos Países Baixos) gere os desígnios da herdade. O objectivo é reforçar a parte agrícola e organizar mais eventos ao longo do Verão, agora "mais focados nos jovens". São tantos os planos que o cartão-de-visita da Faia Collective poderia cair em fole, numa lista de actividades. "Dava para desdobrar e ficava uma página de negócios com tipo meio metro", atira Siegert para gargalhada geral. "Jardim, azeite, festival, cultura, …", enumera, sentado num dos sofás gastos da sala, entre gatos dengosos.

PÚBLICO -Foto
Uma das novidades que introduziram foi a plantação de cânhamo, para produzir óleo à base de canabidiol (CBD). A substância, embalada em pequenos frascos com conta-gotas, traz alegados benefícios para a saúde, nomeadamente no combate à insónia e à ansiedade. Além disso, estão a plantar mais cerejeiras e amendoeiras. E a mudar a marca de azeite, feito com as azeitonas que acabam de apanhar com a ajuda de voluntários e prensado na cooperativa local de olivicultores, na outra margem do Mondego. "Queremos focar-nos em produtos de grande valor [comercial] e tentar ter aqui toda a linha de produção ou perto", indica Jesse. No final, exportam tudo para os Países Baixos, onde "existe mercado para produtos biodinâmicos". Só assim, acreditam, é possível viver da agricultura. Num pedaço de terreno, cultivam ainda boa parte dos produtos hortícolas que consomem e fazem multiplicação de sementes biológicas para uma empresa sediada em Idanha-a-Nova.

Para Siegert, a mudança de vida não podia ter sido mais radical. "Sempre vivi na cidade. Nunca tinha estado numa quinta", confessa. "Quando vim, uma das coisas que tinha mais curiosidade era ver o que de facto acontecia na natureza quando as estações mudam." Quando estava a terminar o curso, a vinda para Portugal já se desenhava no horizonte. "Escrevi a minha tese sobre a serra da Estrela", conta. Um estudo teórico sobre como atrair jovens agricultores à região e, dessa forma indirecta, contribuir para diminuir a propagação dos fogos florestais.

"Agora que trabalho aqui, sei o quanto custa produzir um litro de azeite e, por isso, dou-lhe muito mais valor", exemplifica, para a seguir falar sobre um dos sonhos que o trouxe até Faia. "Não quero aprender tudo isto só por mim, mas também para ensiná-lo a quem vem cá." É essa a ideia por trás dos eventos que organizam durante o Verão (festivais, semanas temáticas, campanhas de apanha de produtos, eventos privados). Além da programação artística — que continua a ser assegurada pela mãe de Deirdre —, querem reforçar a componente educacional, promovendo debates sobre temas como sustentabilidade, liderança ou comércio justo.

PÚBLICO -Foto
Na origem das diferentes actividades está sempre o mesmo "fundo ideológico". "A quinta é biodinâmica, todos os nossos produtos são certificados e, no caso dos eventos, tentamos que tenham conteúdo, para que as pessoas aprendam alguma coisa enquanto cá estão", enumera Jesse. "Fazemos sempre uma visita guiada pela quinta, para falar de agricultura e desta região", acrescenta Siegert. "Queremos mostrar que é possível manter estas tradições e lugares." Essa é uma das razões por que deixaram de abrir a quinta a estadias curtas, como estava inicialmente previsto. "As pessoas só passavam aqui a noite, por isso sentíamos que não nos conseguíamos relacionar verdadeiramente com elas e contar-lhes a nossa história", resume.

Foi um primeiro ano duro. Muitas mudanças e um Verão extremamente longo, quente e seco, que tratou de lhes recordar que a vida no campo não é fácil. A equipa perdeu entretanto um elemento, mas Deirdre, Jesse e Siegert não pensam em desistir. "Somos jovens e inexperientes, por isso há uma grande possibilidade de mudarmos muita coisa nos próximos anos, mas vejo um bom futuro", analisa Jesse. A longo prazo, os sonhos alargam-se. Querem encontrar "um equilíbrio entre a ligação à terra", contribuindo para a biodiversidade e para a conservação da flora original, e "tornar um sítio como este vivo outra vez", incentivando outros a escolher o mesmo caminho. Avança Deirdre: "Podemos ser um exemplo em Portugal de jovens que regressaram ao interior, com motivação e ambição de criar um negócio e viver numa região destinada a ser esquecida".

Venda de leite caiu 11% em 2016. Indústria fala em “demonização” do leite


Este mês deverá arrancar uma campanha com folhetos informativos nos supermercados.

PÚBLICO 19 de Janeiro de 2018, 8:41 Partilhar notícia


Na última década, o consumo de leite em Portugal baixou consideravelmente, tendo registado a maior queda em 2016. A tendência regista-se em toda a Europa, mas é em Portugal que a queda é mais acentuada, apontam os números da Associação Nacional da Indústria dos Lacticínios, citada esta sexta-feira pelo Jornal de Notícias.

Mostram os números apresentados, que, até 2003, o consumo de produtos lácteos aumentou todos os anos. No entanto, em 2008, o cenário alterou-se. Entre 2008 e 2012 o consumo caiu 4%. Depois disso, a queda foi ainda maior. Entre 2012 e 2016 o consumo destes produtos caiu 9,3%.

Industriais de lacticínios em "completa impotência" para resolver crise do sector


Em termos financeiros, a quebra de consumo representa uma perda nas vendas 11%, só de 2015 para 2016 (de 287,9 milhões de euros para 256,3 milhões de euros).

Paralelamente, o número de bebidas vegetais de soja, aveia, arroz, amêndoa, espelta e coco tem aumentado. Num só ano, a subida foi de 19%. De acordo com o Jornal de Notícias, a indústria dos lacticínios não quer que estes produtos vegetais estejam à venda na zona dos leites.

Além disso, a indústria pretende ainda avançar com uma campanha de alerta "para as campanhas de difamação do leite sem fundamentação científica". "Queremos recordar os consumidores de que o leite é um alimento rico em proteína, cálcio e vitaminas e que está a ser estigmatizado por causa das contradições que existem quanto ao seu consumo e que não devem alinhar em dietas alimentares que excluam os lacticínios", argumenta Paulo Leite, director da Associação Nacional da Indústria dos Lacticínios. "Há também várias modas que, talvez por uma questão de marketing, estão a demonizar os lacticínios", avalia Leite.

O argumento da "demonização dos lacticínios" é uma das objecções mais repetidas pela indústria dos lacticínios, e são frequentes as vezes em que, dos dois lados da discussão, são apresentados argumentos pouco fundamentados, como relata o documentário Leite: Factos, Números e Crenças.


Ao seu lado no combate à diminuição do consumo, a indústria dos produtos lácteos tem o apoio do Presidente da República, que em Agosto, em visita AgroSemana — Feira Agrícola do Norte, na Póvoa de Varzim, anunciou que iria participar numa "grande campanha" de apoio ao leite produzido em Portugal. A campanha deve arrancar este mês, com uma nova rotulagem que permite identificar o leite português.